Política

Moro cita manobra, aliados de Lula comemoram e opositores criticam decisão





Ministério Público reconheceu prescrição do processo envolvendo o ex-presidente; veja repercussão no mundo político

Após o Ministério Público Federal (MPF) reconhecer a prescrição do processo envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso do tríplex do Guarujá, políticos se manifestaram sobre a decisão.

O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) afirmou que “manobras jurídicas enterraram de vez” o caso do tríplex do Guarujá.

“Manobras jurídicas enterraram de vez o caso do Tríplex de Lula, acusado na Lava Jato. Crimes de corrupção deveriam ser imprescritíveis, pois o dano causado à sociedade, que morre por falta de saúde adequada, que não avança na educação, jamais poderá ser reparado”, escreveu em uma rede social.

No Twitter, o ex-procurador Deltan Dallagnol disse que o pedido de arquivamento “não tem como fundamento um suposto conluio que jamais foi reconhecido por qualquer tribunal do país, mas sim a prescrição dos crimes em razão da demora da Justiça e da idade do ex-presidente”.

Ex-presidente do partido Novo, João Amoêdo classificou a decisão do MPF como uma “impunidade” que “venceu na Justiça”. “A impunidade venceu na Justiça. Não podemos deixar que também vença nas urnas em 2022”, disse.

Já o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) citou “impunidade” pelas redes sociais. “Infelizmente, a impunidade teve mais uma vitória no Brasil. O MPF reconheceu a prescrição do caso do tríplex do Lula. Isso não significa que foi inocentado, apenas que acabou o prazo para julgar esse crime”, afirmou.

Aliados do ex-presidente comemoraram a decisão que arquivou o caso, classificando o arquivamento como uma vitória do petista.

A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) classificou o caso como “fake do tríplex”. “E os danos morais contra o Lula com essa fake do triplex? E o que fizeram com Dona Marisa [ex-mulher de Lula, morta em fevereiro de 2017]? Quem apaga o sofrimento?”, concluiu.

Já o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou que “a mentira de Moro e Dallagnol (ex-procurador e chefe da Lava Jato) caiu por terra”.

“Lula vence mais uma na justiça e MPF reconhece prescrição do caso do triplex. A mentira de Moro e Dallagnol definitivamente cai por terra”.

Arquivamento do caso do tríplex

A Procuradoria da República no Distrito Federal se manifestou na segunda-feira (6) pelo arquivamento do caso do tríplex do Guarujá, que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 76 anos.

O Ministério Público apontou prescrição dos crimes que teriam sido cometidos pelo ex-presidente. A procuradora Marcia Brandão Zollinger apontou a extinção da punição do ex-presidente sobre os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Essa decisão inviabiliza a apresentação de uma nova denúncia.

“Quanto às imputações relacionadas ao pagamento de reforma, ocultação e dissimulação da titularidade do apartamento 164-A, triplex, e do beneficiário das reformas realizadas, verifica-se a ocorrência da extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva estatal relativamente aos investigados septuagenários, quais sejam Luiz Inácio Lula da Silva (nascido em 06/10/1945), José Adelmário Pinheiro Filho (nascido em 29/09/1951) e Agenor Franklin Magalhães Medeiros (nascido em 08/06/1948)”, afirma o documento do Ministério Público.

Confira outras notícias:

- Tribunal anula maior condenação contra Eduardo Cunha

Ex-presidente da Câmara ainda tem uma condenação criminal na Lava Jato do Paraná

O TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), no Distrito Federal, anulou o processo que condenou o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) à sua maior pena criminal, e enviou os autos à Justiça Eleitoral.

Cunha havia sido condenado em 2018 a 24 anos e dez meses de prisão pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara em Brasília, que o havia considerado culpado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional.

A acusação era de que houve desvios na Caixa Econômica Federal. A denúncia do Ministério Público Federal, baseada na Operação Sépsis, apontava um suposto esquema de pagamento de propinas milionárias ao grupo de Cunha, por parte de grupos empresariais, em troca da liberação de aportes do Fundo de Investimentos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), gerido pela Caixa.

Essas liberações, segundo a acusação, eram manipuladas por aliados de Cunha na Caixa, entre eles o ex-vice presidente do banco Fábio Cleto, primeiro a fechar acordo de delação premiada sobre o caso.

Por unanimidade, a terceira turma do TRF-1 acolheu pedido da defesa que afirmava que a Justiça Federal era incompetente para julgar o processo. Com isso, a ação foi anulada e os autos enviados à Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte. O relator é o juiz federal do TRF-1 Ney Bello.

Além de Cunha, também havia sido condenado no mesmo processo o ex-ministro e ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (MDB-RN).

Em nota, os advogados de Cunha afirmam que a decisão "reconhece, mais uma vez, as gravíssimas irregularidades praticadas no âmbito da Operação Lava Jato".

"Eduardo Cunha foi injustamente condenado, por um juiz absolutamente incompetente. Ficou quase quatro anos preso ilegalmente por conta deste processo agora anulado. Além da grave violação do devido processo, a defesa sustenta a inocência de Eduardo Cunha, acusado e condenado injustamente, com base apenas nas declarações não comprovadas de corréus delatores", dizem os advogados Aury Lopes Jr. e Délio Lins e Silva Jr.

"Espera a defesa que agora, anulado o processo e remetido para a justiça eleitoral competente, possa efetivamente demonstrar a inocência de Eduardo Cunha", acrescentam.

Cunha também foi condenado duas vezes em ações criminais pela Justiça Federal do Paraná, no âmbito da Operação Lava Jato. Uma delas, decidida pelo então juiz Sergio Moro e confirmada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), foi anulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em setembro.

Nesta ação, ele havia sido condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Os autos foram enviados à Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro.

Segundo o Ministério Público Federal, ele recebeu e movimentou US$ 1,5 milhão em contas secretas na Suíça —dinheiro, de acordo com a Lava Jato, oriundos do preço pago pela Petrobras pela compra de parte de um campo de petróleo em Benin, na África, em 2011. A pena aplicada pelo TRF-4 era de 14 anos e seis meses de prisão.

Ainda resta ao ex-deputado outra condenação, também no âmbito da Lava Jato do Paraná. O ex-deputado foi condenado em 2020 pelo juiz Luiz Antônio Bonat, sucessor de Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, a 15 anos e 11 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Segundo a decisão, ele havia recebido R$ 1,5 milhão em vantagens indevidas decorrentes dos contratos de fornecimento de navios-sonda.

Cunha teve o mandato cassado da Câmara dos Deputados em 2016, após ser o pivô do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), por quebra de decoro parlamentar. Ele tem os direitos políticos cassados até 2027 sob acusação de mentir sobre ter "qualquer tipo de conta" no exterior, mas tenta obter uma decisão judicial que derrube o impedimento.

Ele foi detido preventivamente ainda em 2016 e teve a prisão revogada este ano. Apoiador do presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente da Câmara e faz ofensiva para reverter a sua situação jurídica e tem afirmado que pretende se lançar candidato a deputado federal por São Paulo no ano que vem.

Sua filha, Danielle Cunha, deve ser candidata ao mesmo cargo no Rio de Janeiro, reduto eleitoral do ex-deputado.

Fonte: CNN Brasil - Folha