Cultura

Sem Atenas e sem a Grécia, a Europa e o mundo não seriam o que são: afirma o Papa





Da Grécia, afirmou o Papa, dilataram-se os horizontes da humanidade rumo ao Alto: do Monte Olimpo à Acrópole e ao Monte Athos, partiu o convite ao ser humano de cada tempo a orientar a viagem da vida para Deus.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

História, religião, política, ciência e filosofia: um denso discurso marcou a chegada do Papa Francisco à Grécia, na presença da presidente do país, Katerina Sakellaropoulou.

Depois da cerimônia de boas-vindas no Palácio Presidencial de Atenas, o Pontífice se dirigiu às Autoridades para manifestar sua alegria de visitar “estes lugares que superabundam de espiritualidade, cultura e civilização”.

“Sem Atenas e sem a Grécia, a Europa e o mundo não seriam o que são”, disse Francisco, citando autores clássicos, como Aristóteles, Sócrates e Homero.

Rumo ao Alto

Da Grécia, afirmou o Papa, dilataram-se os horizontes da humanidade rumo ao Alto: do Monte Olimpo à Acrópole e ao Monte Athos, partiu o convite ao ser humano de cada tempo a orientar a viagem da vida para Deus. Por ali passaram as vias do Evangelho, que foi escrito em grego, língua imortal usada pela Palavra – pelo Logos – para se expressar.

Do Alto, o homem foi impelido a olhar para o outro, nascendo ali o conceito de democracia, que hoje vive um retrocesso. Enquanto os populismos ganham terreno, Francisco exorta a passar do tomar partido ao participar; do empenho em apoiar apenas a própria parte ao envolvimento ativo em prol da promoção de todos. “Penso no clima, na pandemia, no mercado comum e, sobretudo, nas pobrezas generalizadas.”

Mudanças climáticas: que os compromissos não sejam de fechada

O Papa citou um dos símbolos do país, a oliveira, para falar dos incêndios que devastaram a ilha, consequência das mudanças climáticas. A mesma oliveira representa, todavia, a vontade de resgate, como simbolizava a pomba depois do dilúvio universal, que voltou para Noé trazendo no bico uma folha verde de oliveira. “Neste sentido, espero que os compromissos assumidos na luta contra as alterações climáticas apareçam cada vez mais compartilhados e não sejam de fachada.”

Na Escritura, a oliveira constitui também um convite à solidariedade, especialmente para com aqueles que não pertencem ao próprio povo. A este ponto, o Pontífice renovou seu apelo em favor dos migrantes, “protagonistas duma terrível odisseia moderna”.

“Transformemos em ousada oportunidade o que parece ser apenas uma infeliz adversidade”, acrescentou o Papa, pedindo o fim da morosidade na comunidade europeia, “dilacerada por egoísmos nacionalistas”.

Grécia, memória da Europa

Para Francisco, a grande adversidade é constituída pela pandemia e ressaltou a atualidade do juramento de Hipócrates e o direito à saúde e o compromisso a salvaguardar a vida em todos os momentos, particularmente no ventre materno.

“Queridos amigos, alguns exemplares de oliveira mediterrânica testemunham uma vida tão longa que antecede o aparecimento de Cristo. (…) Este país pode ser definido a memória da Europa.”

O Papa concluiu reiterando sua felicidade por visitar a Grécia 20 anos depois de São João Paulo II e no bicentenário da sua independência. E gratidão pelo reconhecimento público da comunidade católica.

“Desta cidade, deste berço da civilização, elevou-se e oxalá nunca cesse de se elevar uma mensagem que encaminha para o Alto e para o outro; que às seduções do autoritarismo responda com a democracia; que à indiferença individualista oponha a solicitude pelo outro, pelo pobre e pela criação.”

 

- Etapa ecumênica em Atenas: cristãos e ortodoxos vivam novo Pentecostes

Venho como peregrino, disse o Papa à Sua Beatitude Ieronymos II, “com grande respeito e humildade, para renovar a comunhão apostólica e alimentar a caridade fraterna”.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

“Graça e paz (…) da parte de Deus”! Com as palavras do apóstolo Paulo, o Papa Francisco saudou Sua Beatitude Ieronymos II, arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, no Arcebispado Ortodoxo da capital.

Trata-se da máxima autoridade religiosa do país, considerando que o país é de maioria ortodoxa e os católicos constituem cerca de 10% da população.

Não é a primeira vez que Francisco e Ieronymos se reúnem na Grécia: cinco anos atrás, o encontro foi realizado na ilha de Lesbos e o motivo foi a “emergência de um dos maiores dramas do nosso tempo”, isto é, a migração.

Hoje, o encontro se realiza “para partilhar a alegria da fraternidade e contemplar o Mediterrâneo que nos circunda não só como lugar que preocupa e divide, mas também como mar que une”. Venho como peregrino, disse o Papa, “com grande respeito e humildade, para renovar a comunhão apostólica e alimentar a caridade fraterna”.

O pedido de perdão

Com os passar dos séculos, a comunhão foi envenenada pelo mundanismo e pela cizânia, foi murchada por ações e opções que pouco ou nada têm a ver com Jesus e com o Evangelho.

“A história tem o seu peso e, hoje, sinto a necessidade de renovar aqui o pedido de perdão a Deus e aos irmãos pelos erros cometidos por tantos católicos.”

Como símbolo desta comunhão a ser alimentada, o Pontífice propõe o azeite, fruto final da oliveira, que abunda em solo grego. O azeite, explicou o Papa, faz pensar no Espírito Santo, que deu à luz a Igreja. “Só Ele, com o seu esplendor sem ocaso, pode dissipar as trevas e iluminar os passos do nosso caminho.”

A exortação de Francisco é para não ter medo uns dos outros, mas ajudar-se mutuamente a adorar a Deus e a servir o próximo, sem fazer proselitismo e respeitando plenamente a liberdade alheia.

O anúncio na divisão?

Aliás, questiona o Papa, como se pode testemunhar ao mundo a concórdia do Evangelho se nós, cristãos, estivermos ainda separados? Como se pode anunciar o amor de Cristo que congrega os povos, se não estivermos unidos entre nós?

Por isso, o Espírito é também azeite de sabedoria: ungiu Cristo e deseja inspirar os cristãos. Francisco agradeceu e encorajou o trabalho de todas as comissões conjuntas que unem católicos e ortodoxos.

Por fim, o Espírito é ainda azeite de consolação, que impele os cristãos dos mais frágeis, sobretudo neste tempo de pandemia:

“Desenvolvamos, juntos, formas de cooperação na caridade, abramo-nos e colaboremos em questões de caráter ético e social para servir as pessoas do nosso tempo e levar-lhes a consolação do Evangelho.”

Mas uma vez, a exortação do Papa é para não se deixar paralisar pelas coisas negativas e os preconceitos de outrora, mas a olhar a realidade com olhos novos.

“Que o Espírito Se derrame sobre nós num novo Pentecostes”, concluiu Francisco.

 

- Papa na Grécia: a expectativa da comunidade greco-católica

Na segunda etapa da 35º Viagem Apostólica, o Papa Francisco retornará à Grécia, onde esteve há 5 anos. Entre os vários compromissos, o Pontífice irá encontrar a minoria católica de rito bizantino. “Com emoção e entusiasmo esperamos o Santo Padre”, diz o exarca apostólico, bispo Manuel Nin Güell.

Giancarlo La Vella e Felipe Herrera – Cidade do Vaticano

No sábado, 4 de dezembro, o Papa partirá de Chipre para a Grécia, sendo a segunda etapa dessa Viagem Apostólica. O Santo Padre irá a Atenas e também a Lesbos, um dos pontos de passagem da chamada Rota dos Balcãs, que os migrantes percorrem para tentar chegar à Europa.

Há 5 anos, Francisco esteve em Lesbos visitando o campo de refugiados de Moria. Na capital grega, o Papa será acolhido entre outros, pela comunidade católica de rito bizantino. Uma pequena comunidade – afirma em entrevista à Rádio Vaticano-Vatican News – o exarca apostólico, Dom Manuel Nin Güell – mas muito ativa e animada.

Dom Nin, o senhor poderia traçar um perfil da comunidade grega de rito bizantino que se encontra em Atenas e também qual é a sua presença no povo de Deus?

O exarcado greco-católico é uma realidade que se formou em Atenas há quase 100 anos, pelos fiéis vindos como refugiados e que fugiam da guerra entre Grécia e Turquia. Somos uma realidade católica, vivemos em plena comunhão com a Igreja Católica e com o Bispo de Roma. Somos uma comunidade numericamente pequena, formada por três realidade eclesiais e étnicas também diferentes. Temos fiéis gregos, temos fiéis ucranianos - que formam a maior parte da nossa Igreja - e temos também fiéis caldeus, isto é, de tradição siríaca-católica do Iraque da Síria, que também tiveram que fugir. Também eles são refugiados, vítimas das guerras que atingiram a região do Oriente Médio. Portanto, somos uma pequena realidade eclesial, mas uma realidade, eu diria, muito viva com um bispo e oito sacerdotes.

O Papa Francisco olha com muito afeto para todas as pequenas realidades, para as minorias e também para todos aqueles que vivem nas periferias e, em particular, aos refugiados, aqueles que vocês acolhem em grande número. Para vocês, o que significa e como se preparam para acolher o Sucessor de Pedro em Atenas?

Estamos nos preparando com muito cuidado. Foram realizadas algumas palestras em nossas paróquias. Temos duas: uma em Atenas e outra ao norte da Grécia, a 450km de distância da capital. Foram encontros para preparar os fiéis para receber o Bispo de Roma. Portanto, será uma acolhida eclesial, não somente festiva. Sim, também haverá uma acolhida festiva, mas, sobretudo, sentir que o Bispo de Roma vem para confirmar a nossa fé, para confirmar as nossas Igrejas. Portanto, repito, somos uma comunidade numericamente pequena, que busca viver a própria fé na liturgia e na caridade. A Caritas do nosso Exarcado acolhe católicos, ortodoxos e muçulmanos, dando a eles comida, remédios e roupas. Isto é, quero sublinhar essa dimensão da caridade, que no fundo, é aquilo que nós recebemos quando, há 100 anos, chegamos em Atenas. Portanto, é dar continuidade a esta tradição da fé vivida na caridade.

Com qual emoção a comunidade greco-católica está esperando o Papa?

Digamos que os fiéis estão entusiasmados, embora saibam que, devido à Covid, muitos deles verão o Papa pelos telões e ou pela televisão. A entrada nos lugares onde o Pontífice presidirá as liturgias são controlados, muito limitados. Mas, apesar disso, os fiéis estão muito entusiasmados com essa visita do Papa.  

 

- Papa vai deixar semente da fraternidade na Grécia, diz Dom Hovsep Bezezian

Pouco antes de sua chegada à Grécia, segunda etapa da 35ª Viagem Apostólica do Pontificado de Francisco, o Ordinário da Igreja Armênia Católica, Dom Hovsep Bezezian, descreve a alegria e o entusiasmo da comunidade local: “Espero que a fraternidade entre nós seja fortalecida"

Robert Attarian - Cidade do Vaticano

Entusiasmo e alegria aguardam a chegada do Papa na Grécia na manhã deste sábado, 4, como afirma ao Vatican News o administrador apostólico dos Armênios Católicos da Grécia, Dom Hovsep Bezezian, ao descrever a preparação vivida pela Igreja Armênia Católica em vista deste importante evento como uma oportunidade para colocar o foco na fé. Particularmente envolvidos os jovens refugiados armênios provenientes da Síria e hospedados no Ordinariato armênio-católico.

As expectativas da viagem 

Detendo-se nas relações com a Igreja Greco-Ortodoxa, Dom Bezezian fala da experiência única vivida a cada ano pela Igreja Armênia Católica durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: um momento significativo que também vê o envolvimento da Igreja Greco-Ortodoxa. A esperança do administrador apostólico é que o fruto da visita do Papa seja um fortalecimento da fraternidade entre todos.

Como foram os preparativos para receber o Papa Francisco e quais as expectativas para esta visita?

A fase preparatória começou há poucos meses, quando a Igreja Católica na Grécia recebeu com grande alegria e entusiasmo a notícia desta visita. Falando da fase preparatória não gostaria de me referir à simples preparação que se faz para receber um grande personagem, mas é muito mais. Receberemos o Sucessor de Pedro, o Santo Padre, líder da Igreja Católica universal, o que significa que também houve uma preparação espiritual. O Papa, na sua mensagem dirigida a Chipre e à Grécia pelos meios de comunicação, recordou que vem como "peregrino às fontes da humanidade em magníficas terras abençoadas pela história, pela cultura e pelo Evangelho". Estas palavras são para nós um convite a ser meditado, a nos prepararmos para recebê-lo. Como está nossa fé? Que valores, que cultura e que história estamos deixando para nossos filhos? Além da oração que foi redigida pelo nosso Ordinariato e que é repetida continuamente pelos fiéis, os nossos jovens junto com outros jovens de Atenas tiveram um encontro espiritual preparatório, e o nosso Ordinariato organizou, separadamente, um encontro com os jovens para aprofundar e compreender o papel do Sucessor de São Pedro na Igreja universal. Por ocasião da Jornada da Juventude a nível diocesano, o Papa pediu aos jovens que estavam próximos a ele durante a oração do Angelus que dissessem algo criativo. Também nós somos convidados a dizer e viver coisas criativas.

Como a Igreja Católica em geral e a Igreja Armênia Católica em particular vivem essa expectativa e como os fiéis se envolverão nos encontros com o Santo Padre?

É uma honra para a nossa Igreja Armênia Católica e um grande consolo e encorajamento. Lembro-me das palavras de Isabel a Nossa Senhora "De onde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?" (Lucas 1,43). Nosso Ordinariato está colaborando diretamente com a Nunciatura Apostólica de Atenas para dar uma mão, tanto dentro do prédio da Nunciatura, como no acolhimento de várias delegações do Vaticano e da Santa Sé, especialmente jovens, refugiados armênios sírios alojados em nossa igreja. Alguns de nossos fiéis participarão da Santa Missa no dia 5 de dezembro e uma de nossas jovens estará entre as que irão fazer a oração dos fiéis em língua armênia. Enquanto na segunda-feira 6, durante o encontro do Papa com os jovens, um refugiado sírio armênio católico, atualmente hospedado em nossa igreja, dará um belo testemunho e 10 outros jovens armênios católicos estarão presentes nesse encontro.

Como são as relações com a Igreja Greco-Ortodoxa?

Tive a honra de ser recebido duas vezes pelo arcebispo de Atenas Ieronimos, em audiências privadas. Nosso Ordinariato todos os anos, e é a única igreja que o faz, por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, convida o arcebispo a participar dos encontros de oração e ele costuma enviar uma carta de agradecimento, nomeando um arquimandrita para representá-lo e geralmente é ele quem lê o Evangelho.

O que vocês esperam dessa viagem?

Gostaria de voltar à mensagem de vídeo do Papa que repetiu a palavra "fraternidade" nove vezes no espaço de cinco minutos. Eis o fruto que espero que seja fortalecido e encorajado, a fraternidade entre todos nós. Repito as palavras de Francisco "não somente os católicos, mas todos". "Fraternidade" significa que existe amor e como diz o canto, “Onde está Deus, existe amor”!

 

Fonte: Vatican News