Cotidiano

Pretos e pardos com curso universitário ganham 31% menos do que brancos, diz IBGE





Disparidade ocorre em todos os níveis educacionais e reflete a desigualdade

Pretos e pardos têm renda média do trabalho menor do que brancos mesmo com níveis de escolaridade iguais no Brasil. A conclusão é da Síntese de Indicadores Sociais de 2020, divulgada nesta sexta-feira (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o órgão, o resultado reflete o quadro de desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

A pesquisa do IBGE mostra que, em 2020, a população identificada como preta ou parda pelo instituto tinha rendimento menor do que a branca em qualquer um dos quatro níveis de instrução analisados.

Na faixa da população com ensino superior completo, pretos e pardos recebiam, em média, por hora, cerca de 30,8% a menos do que os brancos (R$ 23,40 e R$ 33,80, respectivamente).

O indicador analisado é o rendimento real do trabalho principal por hora de trabalho. Ou seja, tem o desconto da inflação.

Na parcela com menos estudo, que reúne pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, pretos e pardos recebiam em torno de 23,9% a menos, por hora, do que brancos (R$ 7 e R$ 9,20, respectivamente).

Na média das quatro faixas pesquisadas, pretos e pardos ganhavam 40,8% a menos do que os brancos (R$ 10,90 e R$ 18,40). ​

Com recorte anual, a Síntese de Indicadores Sociais avalia uma série de resultados nas áreas de economia, educação, habitação e saúde.

O IBGE também afirma que, em média, a população ocupada branca tinha um rendimento médio real do trabalho principal estimado em R$ 3.056, por mês, no ano passado. A quantia era 73,3% maior do que a da população preta ou parda (R$ 1.764). ​

A administradora Sônia Lesse, 36 anos, conhece de perto a realidade desigualque os números divulgados evidenciam. Com duas graduações, especialização, pós-graduação e MBA, relembra diversas experiências de trabalho em que ser negra e mulher significou disparidade de salário em relação aos colegas brancos e menor acesso a oportunidades.

Quando trabalhava numa empresa de telecomunicações, ouviu dos gestores que a justificativa para a diferença salarial era a falta de diploma. "Quando me formei, disseram que os colegas recebiam mais porque tinham sido contratados em outro momento da empresa ou tinham mais experiência. Mas, conversando, eu via, por exemplo, que a experiência deles era menor ou igual a minha", conta.

Como analista numa instituição financeira, soube que um colega, homem e branco com a mesma formação e experiência que a sua, recebia o dobro pela mesma função.

A empresa, então, prometeu a ela bônus e promoção, mas afirmou que a paciência em aguardar a reposição em sua renda era parte das habilidades esperadas da profissional.

"É como se buscassem justificativas para continuar dizendo não para quem é diferente. As exigências são maiores. A porta nunca está aberta por completo para nós", diz.

As experiências inspiraram Sônia a se capacitar para ajudar pretos e pardos a enfrentarem a desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Hoje ela atua como consultora na área. A maioria dos profissionais que a procuram são mulheres. Oito em cada dez afirmam que já passaram, ao menos uma vez, pela experiência de descobrir que ganhavam menos do que os colegas.

"Diferença salarial é um ponto gritante. Pedem ajuda para negociar com a chefia cargos e salários cujas responsabilidades já exercem. Ter que convencer a liderança de que devem ganhar o mesmo que colegas brancos é uma forma de violência", diz Sônia.

A assistente social, professora e consultora Verônica Vassalo, 39 anos, enfrentou dificuldades similares às de Sônia. "Diversas vezes me vi em situações em que, mesmo tendo uma formação extensa e um longo tempo de experiência, ganhava menos que pessoas brancas", diz ela, que tem especialização, mestrado e pós-graduação em andamento.

Verônica construiu a carreira em grandes empresas e multinacionais e também passou a atuar como consultora empresarial na área de diversidade e inclusão. Para ela, as diferenças de renda média e remuneração evidenciam que os gargalos para redução da desigualdade racial entre profissionais perpetuam-se para além da admissão.

Embora exista um movimento recente de maior inclusão de negros no mercado de trabalho —por meio de programas de trainees exclusivos para jovens pretos e pardos, por exemplo— é preciso pensar na retenção, remuneração e permanência desses profissionais, defende.

"Equidade racial não é só atrair para dentro da empresa. As empresas precisam pensar em estratégias para reduzir a desigualdade após essa inclusão."

Segundo a consultora, o racismo estrutural persistente na sociedade brasileira reflete-se desde processos seletivos em que candidatos negros e pardos com as mesmas qualificações são preteridos até o momento em que o salário ou uma promoção são definidos.

Verônica e Sônia afirmam que os profissionais frequentemente se culpam pelo salário menor que recebem, atribuindo-os exclusivamente à própria formação ou desempenho, e são penalizados quando denunciam disparidades dentro das empresas.

E elas não se restringem ao salário. Verônica relata ter passado por situações explícitas de racismo e machismo em organização de assistência social em que trabalhou. Também relembra o momento, em outra empresa, em que seu gestor perguntou em frente à equipe como a profissional lavava os cabelos trançados.

Capacitar a alta liderança é medida estratégica para viabilizar a igualdade racial no mercado de trabalho, diz. Para atenuar a diferença salarial, avalia que as empresas precisam rever processos internos. "Elas precisam entender em quais momentos essas diferenciações entre os profissionais ocorrem e alterá-los para retirar esse viés."

Sônia Lesse recomenda que os profissionais priorizem vagas em empresas que valorizem a competência profissional e equidade racial nos salários. "É importante também apontar os movimentos de exclusão que ocorrem e a responsabilidade das empresas em mudar esse cenário."

 

- Diferença cai, mas mulheres ainda ganham 78% da renda dos homens

Mesmo com a luta pela igualdade salarial, as mulheres ainda estão em desvantagem: elas recebem 78% do que os homens ganham. É o que mostra a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (3).

O levantamento foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) entre 2012 e 2020.

 

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A diferença entre o que ganha um homem e uma mulher é de mais de 20%. Os valores se referem ao rendimento médio real por mês, já considerada a inflação do período.

2012

  • Mulheres: R$ 1.806
  • Homens: R$ 2.468

Ou seja, mulheres ganhavam o equivalente a 73,18% do rendimento dos homens.

2019

  • Mulheres: R$ 1.951
  • Homens: R$ 2.531

Ou seja, mulheres ganhavam o equivalente a 77% do rendimento dos homens.

2020

  • Mulheres: R$ 2.037
  • Homens: R$ 2.608

Ou seja, mulheres ganhavam o equivalente a 78,1% do rendimento dos homens.

Áreas de atuação

A pesquisa também mostra as áreas da economia em que as mulheres mais ocupam postos de trabalho. A categoria "administração pública, educação, saúde e serviços sociais" é onde elas têm a maior presença: são 9,8 milhões de mulheres empregadas, contra 5,8 milhões de homens.

Na construção civil, por outro lado, eram apenas 263 mil mulheres empregadas em 2020, contra 6 milhões de homens.

População e idade ativa cai

Analisando toda a situação do emprego, a porcentagem de pessoas em idade ativa trabalhando caiu cinco pontos percentuais de 2019 para 2020, chegando a 51%.

É a primeira vez, segundo o IBGE, que essa taxa cai para perto dos 50%.

O número conta as pessoas desocupadas e subutilizadas (aqueles que podem trabalhar por mais horas do que realmente cumprem nas jornadas). Os jovens de 14 a 29 anos foram os mais afetados.

A desvantagem estrutural para esse grupo é conhecida, uma vez que a ocupação dos jovens tende a ser atingida com maior intensidade em contextos de crise e costuma ter o restabelecimento mais lento.
IBGE

Ano prejudicado pela pandemia

No geral, os dados mostram que a pandemia prejudicou todo o mercado de trabalho, desde a ocupação das vagas de emprego até saúde e habitação.

O consumo médio dos integrantes das famílias caiu 6,2% no ano passado, um resultado pior que o de 2019, que já foi ruim (-4,8%).

Na avaliação dos pesquisadores do IBGE, o cenário econômico desfavorável, que já havia trazido impactos negativos, "agravou-se excepcionalmente em 2020, o que foi percebido na maior parte dos indicadores analisados".

A taxa de ocupação de empregos caiu de 56,4% em 2019 para 51%, enquanto a taxa de subutilização (pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas que queriam e estariam disponíveis para exercer uma carga horária maior) subiu de 24,4% para 28,3%.

O número pode ser explicado pelo BEm (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda), que reduziu a jornada de trabalho em até duas horas no ano passado (e parte de 2021), com corte temporário nos salários para evitar demissões.

O percentual de desempregados aumentou de 11,8% para 13,8% em um ano.

Os pesquisadores do IBGE notaram uma tendência "contrária à esperada" quando esses dados são comparados com outros momentos adversos da economia, como em crises econômicas anteriores.

Os resultados mostram o particular efeito da pandemia, uma vez que, diferentemente de crises anteriores, o trabalho sem carteira e por conta própria não foram capazes de absorver a força de trabalho ociosa. Ao contrário, a natureza da crise atual fez com que essas categorias fossem relativamente mais prejudicadas.
IBGE

Sem benefícios sociais, renda seria 6% menor

Em 2020, em um cenário simulado pelo IBGE no qual não houvesse programas sociais de transferência de renda, o rendimento domiciliar médio per capita (ou seja, por integrante da família) do Brasil teria sido de R$ 1.269, uma diferença de cerca de 6% em relação à média paga com Auxílio Emergencial, Bolsa Família e outros programas, que foi de R$ 1.349.

O estudo mostra que esse percentual é superior às diferenças observadas em 2012 (1,6%) e em 2019 (1,7%).

 

- Pesquisa do IBGE mostra enfraquecimento do mercado de trabalho em 2020

A pandemia de covid-19, que começou em 2020, causou impacto negativo à economia brasileira e, especialmente, ao mercado de trabalho, piorando os resultados que já eram insuficientes para melhorar as condições de vida da população. É o que mostra a Síntese de Indicadores Sociais (SIS): uma análise das condições de vida da população brasileira, divulgada hoje (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no capítulo sobre estrutura econômica e mercado de trabalho.

A avaliação da evolução do Produto Interno Bruto (PIB) e da dinâmica do consumo das famílias, ambos per capita, isto é, por indivíduo, revela que os resultados positivos observados até metade da década passada, com taxas de crescimento acumulado entre 2010 e 2014 de 12,9% e 16,6%, deram lugar, nos seis anos finais da série, a quedas de 10,8% e 10,6%, respectivamente. Em 2020, as retrações foram de 4,8% do PIB e de 6,2% do consumo das famílias per capita.

A pandemia provocou forte retração no mercado de trabalho. As taxas de desocupação e de subutilização, que já vinham elevadas após a crise de 2015-2016, aumentaram mais em 2020, alcançando, respectivamente, 13,8% e 28,3%. O nível de ocupação ficou, pela primeira vez, em 51%, o menor da série. Segundo o IBGE, entre os jovens com 14 e 29 anos, esse indicador caiu de 49,4% em 2019 para 42,8% em 2020. Em 2012, era 53,7%. Entre 2019 e 2020, a taxa de informalidade da população ocupada do país caiu de 41,1% para 38,8%. Entre os pretos e pardos, essa taxa em 2020 foi 44,7%, ante 31,8% da população ocupada branca. Além disso, pretos e pardos representavam 53,5% da população ocupada e 64,5% dos subocupados por insuficiência de horas.

Os trabalhadores ocupados com vínculo, que englobam empregados com carteira, militares e funcionários públicos estatutários, tiveram aumento relativo em 2020 de 49,6%, enquanto os empregados sem carteira caíram de 20,2%, em 2019, para 18,1%, no ano passado. Os trabalhadores por conta própria mantiveram-se estáveis, com taxa de 25,4%.

A crise da covid-19 afetou, particularmente, os empregos na atividade de serviços, com destaque para alojamento e alimentação, com queda de 21,9%; serviços domésticos (-19,6%); e outros (-13,7%).

Desigualdades

A pesquisa do IBGE confirma a manutenção das desigualdades históricas no mercado de trabalho nacional. Enquanto a população ocupada total (PO) tem predomínio da cor preta ou parda (46,3 milhões), superando em 17% a PO branca (39,5 milhões), há diferença evidente na distribuição, uma vez que nas atividades de menor remuneração e maior informalidade predominam trabalhadores da cor ou raça preta ou parda. Exemplos, em 2020, foram serviços domésticos (+91%), construção (+83%) e agropecuária (+58%). Em média, o rendimento médio real da população ocupada branca (R$ 3.056) era 73,3% maior que o da população preta ou parda (R$ 1.764) em 2020.

O rendimento dos homens (R$ 2.608) era 28,1% maior que o das mulheres (R$ 2.037). Com a pandemia, 18,6% dos trabalhadores foram afastados do trabalho, com predomínio de mulheres (23,5%) em relação aos homens (15%).

Em termos do rendimento médio por hora de trabalho, a desigualdade entre brancos e pretos ou pardos alcançou +69,5% no ano passado e se manteve entre as raças, independentemente do nível de instrução. Com ensino superior completo, a diferença entre os rendimentos por hora atingiu 44,2% a mais para brancos.

No ano passado, os homens predominavam na população ocupada, com 58,3%, contra 41,7% de mulheres. Entre a população subocupada por insuficiência de horas, as mulheres foram maioria em 2020 (52,4%), o mesmo ocorrendo entre as pessoas de cor ou raça preta ou parda (64,5%). Os trabalhadores com ensino médio completo ou superior incompleto foram maioria (36,9%), seguidos das pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto (31,5%).

A análise sobre o trabalho remoto em função da pandemia mostra que o afastamento foi maior entre maio e agosto do ano passado, com ligeira queda até novembro. As mulheres foram maioria entre os trabalhadores em home office, o mesmo ocorrendo entre pessoas da cor ou raça branca e entre aquelas com ensino superior completo ou pós-graduação, que chegou a ser seis vezes maior do que os trabalhadores com ensino médio completo ou superior incompleto. O IBGE identificou também que não houve grandes diferenças por grupos etários.

Benefícios sociais

De acordo com a pesquisa, o peso dos benefícios sociais nos rendimentos das famílias, por causa dos auxílios emergenciais concedidos pelo governo, evoluiu de 1,7%, em 2019, para 5,9%, em 2020, com impactos mais fortes nas regiões Norte (aumento de 4,1% para 11,6%) e Nordeste (de 4,4% para 12,8%), onde existem maiores níveis de desigualdade e pobreza. Incluindo os benefícios de programas sociais, o rendimento domiciliar per capita caiu 4,3% no país entre 2019 e 2020. Na simulação sem os benefícios sociais, o IBGE apurou queda de 8,4% no rendimento domiciliar por indivíduo.

Considerando a insuficiência de rendimentos das famílias para provisão de seu bem-estar, excluindo outros fatores que caracterizam a pobreza, como acesso à moradia adequada, ensino básico de qualidade, proteção social, entre outros fatores importantes, a sondagem apurou que, em 2020, a incidência de extrema pobreza podia variar de 3,5% a 10,5% da população e a de pobreza entre 6,5% e 29,1% da população, dependendo da linha adotada.

O número de brasileiros na extrema pobreza caiu de 6,8%, em 2019, para 5,7%, em 2020, mas aumentou em relação a 2014 (4,7%), mantendo-se estável em comparação ao início da série, em 2012 (6%). Já a pobreza caiu para 24,1%, no ano passado, depois de atingir 25,9%, em 2019, mas subiu em relação a 2012 (27,3%) e permaneceu estável na comparação com 2014 (23,8%). O IBGE destacou, contudo, que sem os benefícios dos programas sociais, a proporção de pessoas em extrema pobreza teria aumentado de 9,7% para 12,9%, e a taxa de pessoas na pobreza subiria de 28,2% para 32,1%.

A proporção de pessoas com rendimento domiciliar per capita abaixo de US$ 1,90, linha recomendada pelo Banco Mundial para medir a pobreza nos países mais pobres, superou 11,3% em quatro unidades da Federação: Amazonas, Maranhão, Pernambuco e Sergipe. Em sete unidades, esse percentual ficou acima de 8,2% (Acre, Roraima, Amapá, Piauí, Ceará, Paraíba e Bahia). Para o Brasil, país considerado de renda média alta, a linha recomendada é de US$ 5,50/dia, lembrou o IBGE.

O rendimento médio domiciliar per capita em 2020 foi de R$ 1.349, queda de 4,3% ante 2019 (R$1.410). Se não houvesse programas sociais no ano passado, esse rendimento teria sido 6% menor (R$ 1.269). O décimo da população com a menor remuneração teria perdido 75,9% de seus rendimentos sem esses programas sociais, indicaram os pesquisadores do IBGE.

A pobreza foi maior entre as crianças, sendo de 38,6% para a faixa de 0 a 14 anos de idade, entre as pessoas com rendimento familiar per capita abaixo de US$ 5,50/dia, em 2020. Na análise combinada de sexo e cor ou raça, as mulheres pretas e pardas apresentaram as maiores incidências de pobreza (31,9%) e de extrema pobreza (7,5%), mostrou a Síntese de Indicadores Sociais.

 

- Um em cada quatro brasileiros viveu abaixo da linha da pobreza em 2020 - Congresso em Foco

 

Dados divulgados nesta sexta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, mesmo com programas de transferência de renda como o auxílio emergencial e outros  promovidos por estados e municípios, quase 51 milhões de pessoas viveram na linha abaixo da pobreza em 2020, primeiro ano da pandemia. Ou seja, um em cada quatro brasileiros sobreviveu com menos de R$ 450 mensais no ano passado.

 

Se foi ruim com os recursos públicos adicionais, pior seria sem esses programas sociais. Segundo o IBGE, sem eles, o total de pessoas abaixo da linha da pobreza teria saltado de 50,953 milhões (24,1% dos brasileiros) para 67,729 milhões (32,1% da população). Em 2019, antes da covid-19 e da concessão desses auxílios, 25,9% das pessoas viviam nessa condição no país.

 

Ainda de acordo com a pesquisa, sem os auxílios decorrentes da pandemia, os 21 milhões de brasileiros mais pobres teriam sobrevivido com R$ 13 por mês. Com os benefícios públicos, essa parcela da população ficou, em média, com R$ 128 por mês. Ou R$ 4,27 por dia. Esse grupo havia recebido, em média, R$ 111 mensais em 2019. 

 

O IBGE também mostra outro dado dramático da realidade brasileira: mesmo com os auxílios emergenciais, 12,046 milhões de pessoas (5,7% da população) viveram abaixo da linha de miséria em 2020. O número de miseráveis teria mais que dobrado sem os benefícios concedidos pelo poder público no ano passado, alcançando 27,313 milhões de pessoas, ou 12,9% dos brasileiros.

 

Para a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial, vive na miséria quem tem renda familiar per capita inferior a R$ 155 por pessoa.  Com a pandemia, o nível de ocupação no Brasil atingiu menor média histórica, apenas 51%. O indicador revela as desigualdades raciais e de gênero no Brasil.

 

Segundo o IBGE, a população ocupada branca teve, em média, rendimento de R$ 3.056 ano passado. Um valor 73,3% superior à média de R$ 1.764 de rendimentos da população preta ou parda.  Para os homens, o rendimento médio, de R$ 2.608, foi 28,1% maior do que o das mulheres, que ficou em R$ 2.037.

 

- Auxílio Emergencial diminuiu extrema pobreza em 2020, mostra IBGE

Os programas sociais de transferência de renda reduziram o número de pessoas na extrema pobreza em 2022. É o que mostra o relatório “Síntese de Indicadores Sociais: ​​Uma análise das condições de vida da população brasileira 2021”, publicado nesta 6ª feira (3.nov.2021) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Rendimento Mensal dos Brasileiros

Segundo o relatório, o rendimento médio domiciliar per capita de 2020 foi de R$ 1.349 para o total da população brasileira. Apesar de regiões como Sudeste e Centro-Oeste apresentarem média acima do padrão brasileiro, a média do Norte e Nordeste não chega a 1 salário mínimo, com R$ 896 e R$ 891, respectivamente.

Sem os programas sociais de transferência de renda, a média brasileira teria tido uma diferença de cerca de 6% para menos, atingindo R$ 1.269.

Em 2020, cerca de 22 milhões de brasileiros (10,4% da população) viveram com até o valor de ¼ de salário mínimo per capita mensal, cerca de R$ 261. Quase 30% da população viveu com rendimentos mensais de cerca de R$ 522, valor que representava metade do salário mínimo. Na outra ponta, 7,2 milhões (3,4%) de pessoas no Brasil tiveram, em 2020, rendimentos mensais equivalentes a 5 salários mínimos, cerca de R$ 5.225.

Extrema Pobreza

A partir do relatório da Pnad Contínua 2020, a extrema pobreza no Brasil diminuiu à medida que a política de transferência de renda mudou com a entrada do Auxílio Emergencial. Os Estados que lideram os índices de extrema pobreza são Amazonas, Maranhão, Alagoas e Pernambuco, com percentual de 11,3% a 14,4%. As regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste -com exceção do Rio de Janeiro e Espírito Santo- apresentaram de 1,9% a 5% da população em situação de extrema pobreza.

Apesar da diferença entre as regiões, “a proporção de pessoas em extrema pobreza caiu nas regiões Norte e Nordeste, aumentou na região Sul e se manteve estável nas regiões Sudeste e Centro-Oeste“, aponta o relatório.

Segundo o Banco Mundial, “a linha de extrema pobreza está fixada atualmente em US$ 1,90 por dia em termos de Poder de Paridade de Compra – PPC (ou, em inglês, PPP, purchasing power parity), a preços internacionais de 2011 e ancorada nas estimativas de pobreza dos países mais pobres do mundo”. Para se configurar pobreza, US$ 5,50 por dia.

Em recortes de raça e sexo, mulheres pretas e pardas foram a maioria nas estatísticas de pobreza (31,9%) e extrema pobreza (7,5%). Seguindo a ordem, homens pretos ou pardos ficam em 2º lugar, sendo 30% na pobreza e 7,2% na extrema pobreza.

 

Fonte: UOL - Folha - Agência Brasil - Congresso em Foco - Poder360