Cotidiano

IBGE: pretos e pardos têm maior perda em qualidade de vida do que brancos





Famílias chefiadas por mulheres e negros são as que mais perdem em qualidade de vida. Instituto calcula a variação da qualidade de vida a partir de indicadores como moradia, serviços de utilidade pública, saúde e alimentação e educação

Famílias chefiadas por mulheres, pretos, pardos e pessoas com menos escolaridade e renda sofrem uma perda maior de qualidade de vida. É o que revela um novo indicador apresentado nesta sexta-feira (26/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) calcula a variação da qualidade de vida a partir de indicadores como moradia, serviços de utilidade pública, saúde e alimentação, educação, acesso a serviços financeiros, transporte e lazer. O valor varia de 0 a 1, sendo que quanto mais perto do zero, menor é a perda acumulada da pessoa e melhor é a qualidade de vida. Segundo o IBGE, a intenção do levantamento é construir uma forma de comparação que mostre as desigualdades entre os grupos.

O IPQV mostra que famílias cuja pessoa de referência era homem apresentaram menor perda de qualidade de vida, com um IPQV de 0,151, contra 0,169 nas famílias lideradas por mulheres. E nas famílias com a pessoa de referência preta ou parda (0,185), a perda de qualidade de vida era 17% maior do que naquelas com a pessoa de referência branca (0,123).

Dados do levantamento também mostram que em área rural há maior perda da qualidade de vida do que na urbana. “O IPQV no Brasil era de 0,158 entre 2017 e 2018. Na área rural (IPQV de 0,246), a perda era 1,5 vez maior do que a média nacional e 1,7 vez maior que na área urbana (IPQV de 0,143). Cerca de 15% dos brasileiros viviam em área rural e essa parcela da população contribuiu com quase um quarto do valor do IPQV Brasil”, detalha o estudo.

Regionalmente, Sul (0,115) e Sudeste (0,127) tiveram IPQV melhor que o nacional, enquanto Norte (0,225) e Nordeste (0,209) mostraram índices piores do que a média nacional. Já o Centro-Oeste (0,159) ficou muito próximo do geral do país.

Para o economista William Baghdassarian, professor de Economia do Ibmec Brasília, essa pesquisa é importante porque pode nortear a adoção de políticas públicas para tratar fatores específicos. “Se o governo quisesse fazer políticas públicas de qualidade, ele usaria esses dados e os recursos públicos para ajudar os estados que têm mais carência”, pontua.

Validação quantitativa

Além disso, ele aponta que os valores expostos eram esperados, mas que é importante ter a validação quantitativa de que “as especulações procedem”, conta. E continua: “Nós especulávamos que as pessoas que moram em meio urbano têm melhores condições do que aquelas que vivem no meio rural”.

Segundo a pesquisa, o índice rural é quase duas vezes pior que o urbano. “Isso significa que o pessoal da zona rural tem muito menos acesso à habitação de qualidade, saúde de qualidade, do que o pessoal da zona urbana. Isso é muito sério, principalmente quando pensamos em estados como o Amazonas, o Pará, o Acre, Roraima, porque são lugares nos quais quem mora na zona rural está bastante desamparado pelas políticas públicas”, acrescenta.

Sobre a desigualdade indicada pelo estudo, Baghdassarian afirma que o problema é na origem. “Se eu tenho uma criança que mora em uma casa que tem goteira, que tem rato, uma casa com baixa segurança, as condições iniciais para essa criança são completamente diferentes do que aquelas de uma criança que nasce em Santa Catarina, por exemplo”, destaca.

Ainda sobre o estudo, o professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal de São Paulo (USP), Eduardo Caldas, diz que os números sobre desigualdade entre o branco e o negro de 10 anos atrás, do ponto de vista da renda, e entre a mulher e o homem, nos mesmos postos de trabalho, eram enormes também. “Nesse período de pandemia, parece que isso se intensificou, e o estudo mostra isso”, acrescenta. 

 

Fonte: Correio Braziliense