Cotidiano

Covid-19: Brasil registra 303 mortes e mais de 12 mil casos em 24 horas





Nesta quinta-feira (25), as médias móveis de óbitos e de infecções ficaram em 214 e 9.325, respectivamente

O Brasil registrou 303 mortes e 12.126 casos de Covid-19 nas últimas 24 horas. Nesta quinta-feira (25), as médias móveis de óbitos e de infecções ficaram em 214 e 9.325, respectivamente.

Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com a atualização, o país tem um total de 613.642 mortes e 22.055.238 infecções confirmadas desde o início da pandemia, em março de 2020.

 

Confira outras notícias:

-O que a ciência sabe sobre a variante B.1.1.529, identificada em Botsuana

A linhagem também foi encontrada na África do Sul e em Hong Kong. Até o momento, não há registros da variante no Brasil

A linhagem B.1.1.529 do novo coronavírus foi identificada pela primeira vez em Botsuana, no sul da África, tem preocupados cientistas por ter muitas mutações que dão vantagens ao vírus. A cepa também foi encontrada na África do Sul e em Hong Kong. Até o momento, não há registros da variante no Brasil.

O surgimento de uma nova variante do SARS-CoV-2, nome técnico do novo coronavírus, é motivo de preocupação entre a comunidade científica global.

A partir da identificação, realizada por meio do sequenciamento genômico do vírus, cientistas buscam responder diferentes questões como a capacidade de transmissão, o aumento da letalidade e se há algum tipo de redução da eficácia das vacinas desenvolvidas contra a Covid-19.

Entenda o que já se sabe e o que permanece incerto sobre a variante B.1.1.529.

Grande número de mutações

A variante B.1.1.529 apresenta uma ampla gama de mutações. De forma isolada, essas mutações podem tanto trazer vantagens ao vírus, como uma capacidade maior de transmissão ou do escape do sistema imunológico, como não representar qualquer tipo de ganho para o microrganismo.

“O que mais chama atenção é que a variante tem um número grande de mutações, são pelo menos 32. Ela tem várias mutações que nós já enxergamos em outras variantes que foram importantes ao longo do tempo, como a variante Alfa”, explica o virologista Fernando Spilki, pesquisador da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul.

Segundo o pesquisador, além das mutações, a nova variante apresenta uma característica chamada tecnicamente de deleção. Por serem estruturas muito simples, os vírus contam com uma grande capacidade de modificação. Em meio a essas alterações genéticas surgem as deleções, que são caracterizadas pela retirada de um ou mais nucleotídeos (que são os blocos que formam o RNA ou o DNA) de um gene.

O virologista explica que a variante apresenta pelo menos três deleções no material genético da proteína Spike, que é utilizada pelo vírus para invadir as células humanas, parte fundamental do processo de infecção pela Covid-19.

“Uma deleção que me chamou a atenção foi a da altura dos aminoácidos 69 e 70, que era encontrada na variante Alfa, identificada no Reino Unido. A variante também tem a mutação N501Y, muito característica da variante Gama, que também aconteceu nas linhagens da variante Beta. Ela também tem a mutação E484A, o que demonstra que a cepa está ‘mutando’ em vários ‘sítios’ que já tínhamos mapeado ao longo do tempo”, explica.

O que se sabe sobre a transmissibilidade

Uma das principais preocupações dos cientistas com o surgimento de uma nova variante é descobrir se existe maior capacidade de transmissibilidade, o que pode levar aos surtos da Covid-19.

Segundo o virologista da Universidade Feevale, Fernando Spilki, ainda são necessários estudos aprofundados que possam responder a questão em relação à variante B.1.1.529. No entanto, o especialista aponta que a linhagem tem apresentado uma ampla disseminação nas localidades onde foi detectada até o momento.

“Nos locais onde a variante ocorreu, de duas semanas pra cá, ela evoluiu para 90% das detecções, incluindo locais onde a variante Delta, altamente transmissível, já havia se disseminado e estava provocando aumento de casos. A variante B.1.1.529, mesmo assim, hoje predomina com 90% das detecções”, explica Fernando.

O que permanece incerto

O pesquisador Fernando Spilki pondera que o entendimento dos impactos das mutações em características como a transmissibilidade, letalidade e eficácia das vacinas contra a Covid-19 depende de estudos adicionais.

“Essas mutações não querem dizer que tenhamos uma situação crítica. Precisamos testar, tanto in vitro quanto in vivo quais os efeitos desse acúmulo de mutações, é algo que precisa ser investigado”, acrescenta.

Segundo o virologista, a África do Sul conta com um programa eficiente de sequenciamento genômico das amostras do novo coronavírus, o que permitiu a identificação da nova variante ainda com um número baixo de casos.

No entanto, o rápido aumento no número de casos, ao longo de novembro, na província de Gauteng, onde fica a cidade de Joanesburgo, tem chamado a atenção das autoridades de saúde locais.

O sequenciamento do genoma revelou que a variante B.1.1.529 foi responsável por todas as 77 amostras de vírus analisadas em Gauteng, coletadas entre 12 e 20 de novembro. Centenas de outras amostras estão sendo analisadas no momento.

Vigilância genômica

A Organização Mundial da Saúde (OMS) realiza o monitoramento global das variantes do novo coronavírus. As linhagens são classificadas em diferentes níveis, considerando aspectos de transmissibilidade e risco à saúde.

Na quarta-feira (24), a variante B.1.1.529 foi incluída pela OMS na classificação “sob monitoramento”, destinada às cepas com alterações genéticas suspeitas de afetar as características do vírus com alguma indicação de risco futuro, mas cuja evidência de impacto epidemiológico não está clara no momento. Para essas variantes, que são oito no momento, é exigido monitoramento aprimorado e avaliação contínua até novas evidências.

“Há menos de cem sequências completas do genoma disponíveis. Não sabemos muito sobre isso ainda. O que sabemos é que essa variante tem um grande número de mutações. E a preocupação é que quando você tem tantas mutações, isso pode ter um impacto sobre como o vírus se comporta ”, disse a pesquisadora Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS em Covid-19, em uma sessão de perguntas e respostas transmitida ao vivo pelos canais da OMS na internet.

Segundo Maria, a OMS realizará uma reunião especial nesta sexta-feira (26) para discutir os potenciais impactos da nova variante.

Além de variantes sob monitoramento, como essa nova, a OMS trabalha com outras duas: “variantes de preocupação” e “variantes de interesse”.

A classificação das “variantes de preocupação” reúne as linhagens do novo coronavírus que apresentam alterações que podem afetar as propriedades do vírus, com uma ou mais implicações, incluindo o aumento da capacidade de transmissão ou da gravidade da doença, além de impactos para a eficácia das vacinas, medicamentos e métodos de diagnóstico.

Atualmente, são consideradas variantes de preocupação a Alfa (B.1.1.7), do Reino Unido, a Beta (B.1.351), da África do Sul, a Delta (B.1.617.2), da Índia, e a Gama (P.1), do Brasil.

Uma cepa do SARS-CoV-2 é considerada uma variante de interesse quando apresenta mutações no material genético com implicações no comportamento do vírus estabelecidas ou suspeitas, como a alta incidência de transmissão em uma localidade, múltiplos casos relacionados à linhagem e a detecção em vários países, por exemplo. Por isso, elas são monitoradas e podem ser reclassificadas como “variantes de preocupação”.

São classificadas como variantes de interesse as linhagens Lambda (C.37), originária do Peru, e Mu (B.1.621), detectada na Colômbia.

 

- União Europeia estuda liberar a entrada de viajantes vacinados com a Coronavac

Comissão Europeia sugere permitir a entrada de visitantes com todas as vacinas aprovadas pela a OMS a partir de 2022

A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, sugeriu nesta quinta-feira (25) que os países do bloco liberem a entrada de viajantes imunizados contra a Covid-19 com as vacinas aprovadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – incluindo a Coronavac –  a partir do dia 10 de janeiro de 2022. A medida ainda precisa ser aprovada pelo Conselho do bloco

Segundo o comunicado da Comissão Europeia, os países da União Europeia devem reabrir sistematicamente para viajantes imunizados com as vacinas aprovadas pela a OMS, além das já aprovadas pelo bloco. Ainda será exigido o teste der PCR negativo para todos vacinados com imunizantes não utilizados na região, como a Coronavac.

Ainda segundo a comissão, os países da União Europeia terão liberdade para aceitar ou não a entrada de viajantes nestas condições, o que não garante que todos os países aceitarão a entrada de viajantes que receberam a Coronavac.

A recomendação também pede que sejam aceitas apenas pessoas com o esquema vacinal completo há menos de nove meses da data da viagem ou recebido uma dose adicional.

Atualmente, a OMS autoriza para uso emergencial as vacinas da Pfizer, Oxford/AstraZeneca, Moderna, Janssen, Oxford/Covishield, Covaxin, Sinopharm e a Coronavac. Ja a União Europeia aprovou o uso das vacinas da Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen.

Entrada de crianças

As regras previstas também propõe, que crianças os seis e os 17 anos poderão viajar para a União Europeia com um teste PCR negativo feito antes da partida, mesmo que não tenham sido vacinadas. s países do bloco podem exigir testes adicionais após a chegada, quarentena ou autoisolamento.

 

- Estudo mostra que pandemia intensificou uso das tecnologias digitais

 

Desigualdades de inclusão digital foram acentuadas

 

A pandemia de covid-19, declarada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020, intensificou o uso de tecnologias digitais no Brasil, passando de 71% dos domicílios com acesso à internet em 2019 para 83% no ano passado, o que corresponde a 61,8 milhões de domicílios com algum tipo de conexão à rede.

 

Os dados são da Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros (TIC Domicílios) 2020, divulgada hoje (25) pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), órgão do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

 

O coordenador do CGI.br, Márcio Migon, explica que a internet e os dispositivos móveis passaram a desempenhar papel central durante a pandemia, possibilitando a continuidade de atividades empresariais com o home office, do comércio com as vendas online, prestação de serviços públicos, atividades educacionais com o ensino remoto e de saúde com as teleconsultas. Porém, ele destaca que as desigualdades sociais foram agravadas pelas diferenças no acesso à tecnologia.

 

“As presentes publicações apresentam um cenário atualizado da adoção da internet no Brasil durante a pandemia de covid-19 e oferece um diagnóstico detalhado dos desafios para o avanço da inclusão digital. Ao mesmo tempo, a vida digital permitiu muitas possibilidades, inclusive abrindo fronteiras para uma parcela da sociedade, por um lado. Por outro lado, a diferenças e as dificuldades de acesso se mostraram ainda mais graves, agravando as fraturas sociais e as desigualdades. É preciso diagnóstico para que possamos implementar políticas públicas que venham ao encontro de reduzir essas diferenças”.

 

De acordo com o diretor-presidente do NIC.br, Demi Getschko, o núcleo detectou o grande aumento de tráfego na rede, levando São Paulo ao primeiro lugar no mundo.

 

“Nós passamos pela pandemia com um grande aumento de tráfego, principalmente nos pontos de troca de tráfego [PTTs]. A internet brasileira suportou essa demanda adicional, tivemos a boa informação de que o PTT de São Paulo atingiu o primeiro lugar do mundo, passando o PTT de Frankfurt, que era o líder. E estamos nos municiando para continuar atendendo as demandas com a qualidade esperada e esperando que, na verdade, o cenário seja mais promissor daqui para frente”.

 

Também foram lançadas hoje a TIC Educação 2020 e a TIC Kids Online Brasil 2020, além do Estudo Setorial “Educação e tecnologias digitais: desafios e estratégias para a continuidade da aprendizagem em tempos de covid-19”. Os principais dados foram apresentados no evento online Inclusão digital e desafios pós-pandemia, disponível no Youtube. Todas as pesquisas estão disponíveis no site do Cetic.br.

 

Uso da internet

 

O integrante do Cetic.br Fábio Storino destacou que a migração das atividades de ensino, trabalho, lazer e serviços públicos para o mundo online se refletiu no aumento da conectividade nos domicílios no ano passado.

 

“Esse aumento foi mais expressivo na classe C, onde em 2015 pouco mais da metade dos domicílios contavam com internet, passa dos 90% em 2020. Nas classes D e E, em que a diferença em relação às classes A e B era de 83 pontos percentuais, isso reduz em 2020 para 36 pontos percentuais, né? Então, mostrando ao mesmo tempo um cenário de redução das desigualdades, mas ainda em patamares desiguais entre as classes. Nós também identificamos uma redução das desigualdades entre as regiões do país, mas esse acesso nos domicílios ele ainda é desigual”.

 

De acordo com Storino, a pesquisa mostrou que a presença do computador se tornou uma questão relevante, com acesso muito desigual. Enquanto o equipamento está presente em 100% dos domicílios da classe A, ele está em apenas 13% das classes D e E.

 

Ao todo, 81% da população brasileira é usuária da internet, mas o acesso às diferentes tecnologias é muito desigual, segundo a TIC Domicílios. A presença da fibra ótica chegou a 56% das casas em 2020, sendo de 59% nos domicílios urbanos e 29% nos rurais. Por classe social, a fibra está em 83% da classe A e em 38% das classes D e E. Já o acesso exclusivamente pelo telefone celular foi de 11% na classe A e chegou a 90% nas D e E, ficando numa média geral de 58%.

 

Educação

 

A integrante do Cetic.br Daniela Costa apresentou hoje os dados da TIC Educação. Segundo a pesquisa, os gestores escolares disseram que enfrentaram diversas dificuldades durante a pandemia, como a mediação da aprendizagem realizada pelos pais e responsáveis no domicílio dos estudantes e a carga de trabalho dos professores, que aumentou com o uso de tecnologias e preparação de aulas remotas.

 

“Mas um dos principais desafios enfrentados pelas escolas durante este momento de aulas remotas foi justamente a falta de dispositivos e de acesso à internet nos domicílios dos estudantes, que apresentou proporções ainda maiores nas áreas rurais e nas escolas públicas estaduais e municipais”, explica Costa.

 

O uso de plataformas para atividades de ensino e aprendizagem nas escolas urbanas subiu de 22% em 2016 para 66% em 2020 e 82% das escolas brasileiras possuem acesso à internet, sendo de 98% nas áreas urbanas e de 52% nas rurais. Entre as regiões do país, o acesso nas escolas varia de 51% no Norte a 98% no Centro-Oeste. “A diferença também é verificada se a escola está em uma capital ou no interior e se é de maior ou de menor porte”, detalha a pesquisadora.

 

Para o pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV/DGPE) João Marcelo Borges, a pandemia mostrou que o acesso à internet deixou de ser um bem importante para ser um direito essencial. E as pesquisas demonstraram que o país está longe de diminuir as desigualdades sociais.

 

“O que a gente aprendeu com a pandemia e as desigualdades no acesso às tecnologias de informação e comunicação é que, se nós não enfrentamos desigualdades anteriores, novos desenvolvimentos da sociedade vão não só agravar aquelas, mas reproduzir-se em novos campos. Nós vimos que as desigualdades, que são a marca principal socioeconômica da sociedade brasileira, marcaram a resposta do país à pandemia e vão marcar, necessariamente, o desenrolar dos próximos passos tanto para estudantes como para o sistema de ensino”.

 

Já pesquisa TIC Kids Online Brasil buscou gerar evidências sobre oportunidades e riscos associados ao uso da Internet para crianças e adolescentes de 9 a 17 anos, trazendo um relatório de análises especial com cruzamento de dados e recorte específico para a faixa etária, incluindo a questão da privacidade. Outro levantamento apresentado, o Estudo Setorial Covid faz uma reflexão sobre a pandemia e os desafios para a pós-pandemia, com artigos de especialistas e acadêmicos.

 

 

- Brasil corre risco de nova onda de covid como a Europa?

Entidades alertam que, se nada for feito, Europa terá 700 mil mortes por covid-19 durante os próximos três meses

Será que o aumento recente de casos, hospitalizações e mortes por covid-19 na Europa vai se repetir no Brasil? E o que pode ser feito para evitar uma nova onda por aqui?

Essas são as perguntas que epidemiologistas, médicos e pesquisadores em saúde pública brasileiros mais ouviram nos últimos dias.

De forma geral, a resposta deles é que precisamos entender os momentos distintos da crise sanitária em cada lugar, mas podemos tomar alguns cuidados para que um cenário ruim no exterior não seja "importado" para cá — como, aliás, aconteceu com as ondas anteriores.

"Muita gente compara o que está acontecendo em partes da Europa com o que pode acontecer por aqui. Não é tão simples assim", avalia o estatístico e pesquisador em Saúde Pública Leonardo Bastos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

"Na minha opinião, não precisamos nos preocupar no curto prazo com essa onda europeia. Já no médio e longo prazo, a coisa pode mudar de figura." 

 

A situação na Europa

 

Após uma queda e uma estabilização de casos e mortes por covid-19 entre abril e setembro, a Europa começou a ver um novo aumento a partir de outubro.

Em novembro, essas estatísticas explodiram e confirmaram uma nova onda da pandemia por lá.

Isso tem a ver com uma série de fatores, como a circulação de variantes mais transmissíveis, como é o caso da Delta, e a resistência às vacinas por parte da população de alguns países. 

Alguns avaliam que também houve uma liberação prematura das restrições, especialmente o abandono do uso das máscaras.

Vale notar que a situação varia bastante de país para país. Nas nações com a campanha de vacinação mais avançada, caso de Portugal e Dinamarca, a taxa de mortalidade das últimas semanas segue bem mais baixa em comparação com os locais onde a cobertura segue muito abaixo do ideal, como Bulgária e Romênia.

Um gráfico feito pela Comissão Europeia ajuda a entender essas diferenças:

Em uma projeção divulgada na terça-feira (23/11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que, se nada for feito, a Europa pode contabilizar cerca de 700 mil mortes pela doença durante a temporada de inverno, que começa em dezembro. Até o momento, o continente tem cerca de 1,5 milhão de óbitos pela covid-19.

A OMS também afirmou que parte desses óbitos pode ser evitada com o reforço de algumas ações básicas: o avanço da vacinação, o uso de máscaras e a prevenção de aglomerações.

"Para convivermos com o vírus e continuarmos com nossas rotinas, precisamos de uma abordagem que envolva as vacinas e as demais medidas", discursou Hans Kluge, diretor regional da OMS na Europa.

"Todos nós temos a oportunidade e a responsabilidade de ajudar a evitar essa tragédia desnecessária e a perda de vidas, limitando os abalos à sociedade e à economia durante o inverno." 

Representantes do Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) fizeram um alerta parecido. 

Em um Num posicionamento oficial divulgado na quarta-feira (24/11), a entidade alertou para o alto risco de um impacto da covid-19 no continente ao longo dos próximos meses.

A diretora do ECDC, Andrea Ammon, afirmou categoricamente: os governos de cada país devem acelerar a vacinação, administrar doses de reforço nos adultos e reintroduzir as medidas restritivas. 

"Essas três ações devem acontecer já. Não é uma questão de escolher apenas uma delas", alertou.

A agência não entende, por ora, que há a necessidade de lockdowns nacionais, mas sugere a volta de políticas públicas, como o uso de máscaras, o incentivo a trabalhar de casa, a manutenção de uma distância segura entre as pessoas e a redução das interações sociais.

 

A situação no Brasil

Após um primeiro semestre bastante complicado, os números da pandemia entraram em queda em todo o país.

Nas últimas semanas de novembro, as médias de casos, hospitalizações e óbitos por covid no Brasil alcançaram os índices mais baixos desde que começaram a ser medidos, em abril de 2020.

De acordo com os especialistas, isso se deve em parte à onda devastadora do primeiro semestre, que infectou muita gente e, por consequência, gerou um nível de imunidade considerável entre os que sobreviveram.

O respeito ao uso de máscaras e a manutenção de algumas medidas e políticas públicas, que mantiveram estabelecimentos com operação reduzida por boa parte do ano, também contribuíram.

Por fim, foi crucial a adesão do povo à vacinação. No momento, 61% dos brasileiros já estão totalmente imunizados.

"Isso foi determinante para a gente ter um maior controle sobre a pandemia", considera a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo. 

Essa transformação no cenário pandêmico fez com que recentemente muitas cidades e Estados brasileiros aliviassem as restrições e chegassem a anunciar até a liberação do uso de máscaras, movimento parecido ao que foi feito na Europa meses atrás. 

E essa é justamente uma das ameaças ao futuro da pandemia no Brasil.

 

À deriva 

Na opinião de Bastos, da Fiocruz, a comparação entre o que acontece no Brasil e na Europa não é justa por causa de uma diferença fundamental entre os dois lugares: a realização de testes para detectar os casos leves de covid-19.

Nosso país não desenvolveu como outras partes do mundo um amplo programa de testagem, capaz de identificar os pacientes com sintomas iniciais ou menos graves, que não exigem uma avaliação médica.

Comparação casos Brasil x Europa

Our World In Data

A média móvel de casos diários de covid-19 na Europa (linha verde) atingiu seu maior índice desde o início da pandemia. A comparação com o Brasil (linha laranja) deve ser vista com cautela, pois aqui não realizamos a testagem em massa e o diagnóstico de casos leves e sem sintomas

"No Brasil, as estatísticas sobre os quadros de covid leves são pobres, ruins e subnotificadas", diz o pesquisador.

"Os dados mais confiáveis que temos são de hospitalização e mortes por SRAG [Síndrome Respiratória Aguda Grave]."

E aqui vale uma explicação breve sobre a evolução da doença: a infecção com o coronavírus demora até 14 dias para dar sintomas. 

Após os incômodos iniciais, o quadro pode se agravar e exigir uma visita ao hospital nas duas semanas seguintes. 

E, caso exista a necessidade de internação, o paciente pode ficar na enfermaria ou na UTI por cerca de duas a quatro semanas até se recuperar (ou morrer).

Ou seja: o período entre a infecção e o desfecho pode chegar a dois meses.

"Essa falta de dados sobre os casos leves faz com que o Brasil esteja sempre monitorando o que aconteceu no passado, com semanas de atraso", avalia o cientista da computação Jones de Albuquerque, do Departamento de Estatística e Informática da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Em outras palavras, a atual melhora nos índices reflete uma queda importante na transmissão do coronavírus ocorrida em outubro. E não temos a menor ideia de como está a situação de novos casos agora.

Monitorar casos leves é importante, porque são justamente essas infecções que fazem o vírus circular e geram toda uma sequência de eventos que cria as novas ondas da pandemia.

Aos poucos, a transmissão aumenta em escala geométrica e atinge os não vacinados ou os que foram imunizados há muitos meses. 

Isso eleva o risco para a parcela mais vulnerável às complicações da doença, que podem ter de ficar internados e correm risco de morrer. 

Em última análise, essa maior procura leva o sistema de saúde à saturação, com falta de leitos, profissionais e insumos.

É justamente o cenário que se desenrola na Europa com a nova onda — e que pode ser evitado (ou minimizado) no Brasil.

 

E a vacinação? 

Mas como explicar esse agravamento da pandemia num momento em que as campanhas de imunização avançam em muitos lugares, inclusive no continente europeu?

É importante lembrar que as vacinas em uso foram desenvolvidas com um objetivo principal: diminuir a taxa de hospitalizações e mortes.

Elas até reduzem um pouco a transmissão do coronavírus, mas esse não é seu principal foco.

"E foi justamente isso o que aconteceu: a vacinação freou os casos mais graves", esclarece o médico José Luiz de Lima Filho, do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami Lika, da Universidade Federal de Pernambuco.

E mesmo agora, com a Europa batendo recordes de novos casos por semana, as taxas de hospitalizações e óbitos pela doença por lá seguem num patamar mais baixo em comparação com as ondas anteriores. 

É um sinal claro de que as vacinas funcionam para aquilo que elas foram desenvolvidas, principalmente quando uma parcela maior da população recebeu as suas doses.

Comparação mortes por covid Europa x Brasil

Our World In Data

Mortes por covid-19 na Europa (linha verde) até subiram, mas estão em patamares mais baixos em relação às ondas anteriores. Brasil (linha laranja) teve pico no primeiro semestre de 2021, mas vive momento bem melhor agora

Mesmo assim, é esperado que ocorra esse aumento nas internações e nas mortes num período de agravamento: entre milhões de infectados, uma parcela deles, infelizmente, desenvolverá as complicações típicas da enfermidade. 

Essa parcela é reduzida com a vacinação, mas ela continua a existir (até porque nenhuma vacina é 100% eficaz).

O que o momento europeu ensina ao resto do mundo, acreditam os especialistas, é que não dá pra abandonar as demais medidas preventivas (máscaras, distanciamento físico, etc.) subitamente, enquanto uma parcela considerável da população ainda não foi imunizada.

Essa observação se aplica ao Brasil: cerca de 40% das pessoas ainda não estão devidamente vacinadas. Isso representa uma enorme massa de suscetíveis para uma infecção pelo coronavírus. 

Na Europa, países com uma taxa de vacinados similar ou até superior à nossa, como Alemanha e Áustria, se encontram atualmente em uma situação complicada.

Para Lima Filho, a comunicação feita sobre as vacinas contra a covid-19 foi equivocada. "As pessoas acreditam que estão totalmente protegidas após as duas doses, não precisam mais usar máscaras e podem se aglomerar", diz o médico.

"Esse comportamento faz aumentar a taxa de transmissão viral e coloca em risco toda a sociedade." 

 

O que pode ser feito agora?

 

Com as evidências disponíveis, não dá para afirmar categoricamente que a nova onda da Europa também avançará Brasil adentro. 

No entanto, os pesquisadores entendem que é possível tomar algumas precauções para diminuir o risco de que isso se concretize no início de 2022.

"E o primeiro passo é aumentar obrigatoriamente a fiscalização nas fronteiras, com testagem de todo mundo que entra no país por portos, aeroportos e países vizinhos", pontua Lima Filho.

Um programa amplo de testagem, que consiga detectar os casos leves e assintomáticos, também é essencial.

"Poderíamos ter unidades sentinela de casos suspeitos de covid-19, como acontece com o monitoramento da dengue, por exemplo. Quando a prefeitura percebe um aumento repentino numa região, ela pode enviar uma equipe ao local para investigar e fortalecer as ações preventivas ali para que o problema não se espalhe", sugere Bastos.

Como a experiência europeia reforça, também não é hora de abandonar completamente as máscaras ou promover aglomerações em locais fechados. 

A vacinação precisa avançar mais — inclusive com a aplicação de uma terceira dose em toda a população adulta ao longo dos próximos meses, como anunciado pelo Ministério da Saúde recentemente.

A antecipação da dose de reforço no Brasil, aliás, pode ser outra ferramenta importante para lidar com esse perigo de uma nova onda por aqui. 

"Será um desafio enorme convocar toda a população para a nova etapa da campanha, mas essa foi a primeira vez que o Ministério da Saúde agiu em vez de reagir [a um problema já instalado]", elogia Maciel. 

"Precisamos entender que todas essas medidas - vacinas, máscaras, distanciamento… - adicionam camadas extras de proteção e são essenciais para evitar novas ondas", resume Lima Filho.

 

E as festas?

Por fim, é preciso considerar os eventos e as datas comemorativas que ocorrem entre o final e o início do ano, como Natal, Ano Novo e Carnaval. 

Esses momentos são marcados por festas e encontros entre familiares e amigos, onde há maior risco de transmissão do coronavírus.

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que essas ocasiões representam uma ameaça, mas é difícil pedir que as pessoas continuem em completo isolamento após tantos meses de restrições. 

No entanto, é possível pensar em adaptações e cuidados. Entram aqui novamente as recomendações de uso de máscara e a realização de encontros em locais abertos ou com boa circulação do ar.

"E precisamos colocar cada data em contexto. Passar o Natal em família, num grupo reduzido, é muito diferente de comemorar o Réveillon na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, cercado de dezenas de milhares de outras pessoas", compara Bastos.

Embora um pouco mais distante, o Carnaval também já levanta discussões acaloradas, e não há muita certeza de como estará a situação no Brasil no final de fevereiro.

Ao menos 71 cidades localizadas no interior e no litoral de São Paulo decidiram cancelar as festas do ano que vem, como informa o portal G1. 

"É realmente muito incerto o que pode acontecer depois do Carnaval, e o ideal é a gente ter cautela", concorda Bastos. 

Considerando que a festa deve ocorrer em muitas partes do país, seria importante que os gestores pensassem em medidas para proteger os foliões e todos os cidadãos, como os comprovantes de vacinação, a realização de eventos em locais abertos, o controle de lotação, a criação de programas de testagem e o uso de máscaras de melhor qualidade.

Albuquerque entende que vivemos novos tempos e não haverá uma "volta ao normal", como conhecíamos o mundo antes de a covid-19 chegar.

"Através da educação, aprenderemos a conviver com o coronavírus e desenvolveremos uma consciência de acordo com a situação de casos, hospitalizações e mortes daquele momento", antevê o pesquisador.

Ou seja: em períodos mais tranquilos, será possível fazer as atividades com menos amarras. Agora, quando os números começarem a aumentar de novo (como ocorre agora na Europa), será preciso adotar medidas mais restritivas. 

"Vamos precisar desconstruir a noção de escritório, de ficar oito horas consecutivas numa sala fechada e lotada, de passar seis meses com aulas ininterruptas na escola...", exemplifica. 

"A covid mudou a noção de temporalidade do mundo e teremos que nos harmonizar com essa nova realidade."

 

Fonte: CNN Brasil - BBC News Brasil