Os navios em águas chinesas estão desaparecendo dos sistemas de rastreamento do setor, criando mais uma dor de cabeça para a cadeia de abastecimento global. O crescente isolamento da China em relação ao resto do mundo – junto com uma desconfiança cada vez maior da influência estrangeira – pode estar por trás desse fenômeno.
Os analistas dizem que começaram a notar uma queda no tráfego marítimo no final de outubro, quando a China se preparava para promulgar uma legislação que rege a privacidade de dados.
Normalmente, as empresas de dados de transporte são capazes de rastrear navios em todo o mundo porque eles são equipados com um sistema de identificação automática, ou AIS.
Esse sistema permite que os navios enviem informações – como posição, velocidade, curso e nome – para estações localizadas ao longo da costa de um país usando um rádio de alta frequência. Se um navio estiver fora do alcance dessas estações, as informações podem ser obtidas via satélite.
Mas isso não está acontecendo na segunda maior economia do mundo, um ator crítico no comércio global. Nas últimas três semanas, o número de navios enviando sinais do país caiu quase 90%, de acordo com dados do provedor global de dados de navegação VesselsValue.
“Atualmente, estamos vendo uma grande redução em todo o setor nos sinais terrestres de AIS na China”, disse Charlotte Cook, analista-chefe de comércio da VesselsValue.
Questionado sobre o assunto, o Ministério das Relações Exteriores da China se recusou a comentar. O Gabinete de Informação do Conselho de Estado, que atua como a assessoria de imprensa do governo do país, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o motivo da perda de acesso aos dados pelos transportadores.
Mas analistas acreditam ter encontrado a culpada: a Lei de Proteção de Informações Pessoais da China, que entrou em vigor em 1 de novembro.
Ela exige que as empresas que processam dados recebam a aprovação do governo chinês antes de permitir que informações pessoais deixem o território chinês – uma regra que reflete o medo em Pequim de que tais dados possam acabar nas mãos de governos estrangeiros.
A lei não menciona os dados de navios. Mas os provedores de dados chineses podem estar retendo informações por precaução, de acordo com Anastassis Touros, líder da equipe de rede AIS da Marine Traffic, um importante provedor de informações de rastreamento de navios.
“Sempre que você tem uma nova lei, temos um período de tempo em que todos precisam verificar se as coisas estão bem”, disse Touros.
Outros especialistas do setor têm mais pistas sobre a influência da lei. Cook disse que colegas na China lhe disseram que alguns transponders AIS foram removidos de estações localizadas ao longo da costa chinesa no início do mês, por instrução das autoridades de segurança nacional. Os únicos sistemas autorizados a permanecer precisam ser instalados por “partes qualificadas”.
Nem todos os dados se foram: os satélites ainda podem ser usados para capturar sinais de navios. Mas Touros disse que quando um navio está perto da costa, as informações coletadas no espaço não são tão boas quanto as que podem ser coletadas no solo.
“Precisamos de estações terrestres para termos uma imagem melhor, com mais qualidade”, acrescentou. Com o Natal se aproximando, a perda de informações da China continental – lar de seis dos dez portos de contêineres mais movimentados do mundo – poderia criar mais problemas para uma já afetada indústria de transporte marítimo global.
As cadeias de suprimentos estão sob pressão este ano, à medida que os portos congestionados lutam para acompanhar a rápida recuperação da demanda por produtos.
As empresas de navegação confiam nos dados do AIS para prever o movimento da embarcação, rastrear tendências sazonais e melhorar a eficiência do porto, de acordo com Cook, da VesselsValue.
Ela disse que a falta de dados chineses “poderia impactar significativamente a visibilidade da cadeia de abastecimento dos oceanos na China”. O país é um dos maiores importadores mundiais de carvão e minério de ferro, além de grande exportador de contêineres.
“À medida que avançamos para o período de Natal, isso terá um impacto realmente grande nas [cadeias de suprimentos], e este é o elemento mais importante no momento”, disse Georgios Hatzimanolis, estrategista de mídia da Marine Traffic.
Ele espera que a perda de dados de navios “minuto a minuto” da China tenha “um grande impacto na cadeia de abastecimento”, uma vez que as empresas podem perder informações cruciais sobre os tempos de atracação, descarga e saída de navios.
A cadeia de abastecimento global já está sob “grande estresse”, acrescentou. “Não é necessário outro fator para tornar a situação mais difícil”.
O desejo da China de manter o controle absoluto sobre todos os dados e informações dentro de suas fronteiras não é surpreendente, já que o presidente Xi Jinping continua a reafirmar o domínio do Partido Comunista em todos os aspectos da economia e da sociedade do país.
A nação tem pressionado pela autossuficiência econômica à medida que enfrenta ameaças externas, como as sanções dos Estados Unidos contra tecnologias essenciais.
Xi enfatizou seus objetivos de autossuficiência nos anos anteriores e durante uma amarga guerra comercial e tecnológica com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esse é o objetivo, por exemplo, do “Made in China 2025”, um plano ambicioso para empurrar o setor manufatureiro da China para campos tecnológicos mais avançados.
Algumas autoridades importantes em Pequim tentaram recentemente acalmar as preocupações dos investidores globais de que o país está se isolando do resto do mundo ao priorizar a segurança nacional.
O vice-presidente chinês Wang Qishan, considerado um aliado de confiança de Xi, disse ao Bloomberg New Economy Forum em Singapura que a China não se “desenvolveria isolada do mundo”. Ele também pediu aos países que mantenham as cadeias de abastecimento “estáveis e fluidas”.
Mas a China adotou políticas durante a pandemia do coronavírus que frequentemente parecem não fazer isso.
Por exemplo, durante a pandemia, Xi dobrou seu esforço por autossuficiência, enfatizando a necessidade de criar cadeias de abastecimento “independentes e controláveis” para garantir a segurança nacional.
E a forte repressão do país à tecnologia estendeu-se neste verão a ofertas públicas iniciais (IPOs) estrangeiras, quando a Administração do Ciberespaço da China propôs que grandes empresas com mais de um milhão de clientes procurassem aprovação antes de listar ações no exterior.
Tal como acontece com a recente lei de privacidade de dados, a agência citou preocupações sobre se os dados pessoais mantidos por essas empresas poderiam ser explorados por governos estrangeiros.
As ações da China neste ano podem ter um custo, no entanto, se o país for longe demais em sua tentativa de se proteger da percepção de interferência estrangeira.
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- Cinco anos após acordo de paz, Colômbia ainda luta por segurança e reparação
Uma guerra de cinco décadas, que deixou mais de 90 mil mortos, 21 mil sequestros investigados, 80 mil desaparecidos, 15 mil vítimas de violência sexual, e outros padecimentos diretos do conflito, como quase 9 milhões de migrações forçadas.
Na tentativa de colocar um ponto final neste cenário de terror, dor, ódio e medo, a Colômbia celebrou, em 24 de novembro de 2016, a assinatura de um Acordo de Paz entre o governo – naquele momento presidido por Juan Manuel Santos – e as ex-Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Apesar do plebiscito realizado em um contexto de forte polarização da sociedade colombiana, em outubro de 2016, e em que o pacto acabou rejeitado pela maioria (50,21% votaram contra, e 49,78% a favor), naquele 24 de novembro, o acordo foi assinado, após a negociação de alguns termos.
Cinco anos depois, o saldo do acordo não é um consenso no país. Há problemas de implementação, como a entrega de terras via uma reforma rural, combate ao narcotráfico, velocidade da aplicação da justiça, assassinato de defensores de direitos humanos e de ex-combatentes e dissidentes que voltam às armas.
A ativista Yolanda Perea Mosquera foi vítima de estupro aos 11 anos de idade por um guerrilheiro, em Riosucio, no departamento de Chocó, em uma zona que era dominada pelas Farc e outros grupos armados, no noroeste do país. A mãe, em uma tentativa de defendê-la, foi assassinada. Ainda assim, Yolada diz preferir “um acordo imperfeito à guerra permanente”.
“Graças ao acordo, já não farão com mais nenhuma menina o que fizeram comigo, com as armas apontadas no momento de me estuprar e para assassinar minha mãe”, diz ela, que combate a agressão sexual na organização “Arropame con tu esperanza” (“Vista-me com sua esperança”, em português). “Tenho filhas e filhos que não merecem passar pelo horror que eu passei”, completa.
Apesar da anistia a ex-combatentes, liberados da prisão após o acordo, crimes de lesa humanidade cometidos durante o conflito armado podem ser punidos e desde a assinatura do acordo, a Jurisdição Especial para a Paz (JEP) abriu 7 “macro casos”, dos que são considerados os mais graves cometidos durante os conflitos armados.
Entre eles estão a retenção ilegal de pessoas, recrutamento e utilização de menores nos conflitos, mortes ilegitimamente apresentadas por agentes do Estado como baixas em combate (chamados no país de “falsos positivos”), e o assassinato sistemático de partidários da União Patriótica, sigla fundada em 1985 após outro acordo de paz entre o Estado colombiano e as Farc.
“O problema não é o acordo de paz, é o seu não cumprimento”, diz Yolanda, mencionando pontos como a lentidão na entrega de terras e “o descuido do governo em setores deixados pelas Farc, onde outros grupos à margem da lei exercem violência contínua”. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) contabiliza 91 chacinas no país somente em 2020 e 88 em 2021.
Ela ressalta, no entanto, que mecanismos como a Comissão da Verdade são “muito importantes e permitiram que familiares de vítimas encontrassem fossas coletivas, e continuar o processo de busca de desaparecidos. “A JEP não me deu respostas, mas por minha conta eu já consegui identificar quem mandou assassinar minha mãe”, diz, pontuando no entanto, que ainda espera conhecer toda a verdade sobre o ocorrido.
A falta de respostas a que ela se refere é o fato de que não há um megaprocesso sobre crimes sexuais – 13% deles foram contra menores negras-, mesmo após organizações terem apresentado mais de 30 informes com registros de milhares de casos perpetrados tanto por atores ilegais como por forças de segurança no marco do conflito armado.
Jorge Restrepo, diretor do Centro de Investigação e Estudos sobre Conflitos Armados, Violência Armada e Desenvolvimento (Cerac) da Colômbia, ressalta que, apesar dos inúmeros problemas que persistem desde a assinatura do acordo de paz, a guerra civil colombiana terminou, com o desarmamento de mais de 9 mil homens, que entregaram mais de 12 mil armas.
“Construir a paz leva tempo”, ressalta Restrepo, explicando que a Colômbia conseguiu iniciar um processo de incorporação à sociedade civil de cerca de 13.400 ex-combatentes das Farc, incluindo os que estavam na prisão. “Nessa perspectiva, o acordo foi tremendamente exitoso”, diz.
Sobre a JEP, ele explica que é uma justiça transicional inédita no mundo e que, após passar por todas as reformas legais, com a eleição de juízes e o início de suas atividades, opera há pouco mais de dois anos para processar os responsáveis tanto das FARC como do Estado Colombiano.
“Também é muito importante destacar que as extintas Farc, hoje em dia organizadas no partido Comunes, adiantaram um processo de participação política que está longe de ser bem-sucedido, mas que mostra a aplicação do acordo de deixar a violência armada e passar para a ação política e participar da política institucional”, diz.
Restrepo afirma, no entanto, que os avanços em termos de infraestrutura rural ainda é insuficiente diante das necessidades desse setor, em um país que teve quase 90% do seu território afetado pela insegurança derivada do conflito armado.
“Apesar de a segurança ter melhorado, há muitas zonas do país onde novas formas de insegurança surgiram, com a disputa de grupos armados que impedem chegar a essa promessa de desenvolvimento e paz”, explica.
Dos cerca de 500 municípios do país antes afetados pela violência, hoje ao menos 110 têm conflitos entre grupos armados, o que representa um “enorme avanço” em direção à paz, diz o pesquisador.
Ele também ressalta a organização de cerimônias de reconciliação territorial – públicas e privadas – ao longo dos últimos anos, das quais vítimas e vitimadores do conflito armado se veem cara a cara e falam das suas experiências.
E muitas vítimas do conflito não se sentem amparadas pelos mecanismos de reparação. O general Luis Mendieta, então tenente coronel da Polícia Nacional, foi sequestrado em uma operação das ex-Farc em 1998 e só foi resgatado em 2010.
Ele afirma que os ex-guerrilheiros “obtiveram toda classe de benefícios e privilégios”, como as cotas no congresso do país, “e até o momento não contribuíram com a verdade, e a justiça não foi aplicada”.
Para Mendieta, muitas vítimas foram excluídas da comissão da verdade e da participação na Unidade de Busca de Desaparecidos, também criada após o acordo.
“O acordo foi benéfico somente para os vitimadores, em detrimento das vítimas que eles deixaram”, queixa-se. “Além disso, toda a ajuda internacional sempre foi direcionada para desarmamento e reinserção [dos ex-combatentes à sociedade civil], enquanto poderia haver programas de benefício das vítimas que essa organização terrorista ocasionou.”
Em 2008, Jacqueline Castillo começou uma busca desesperada pelo irmão Jaime, de 42 anos, que desapareceu em Bogotá. Ambos eram moradores de um setor de baixa renda da capital colombiana, e Jaime não tinha emprego fixo – fazia bicos lavando carros.
Dois meses depois, ela identificou o irmão entre vítimas de uma chacina em Soacha, município vizinho da capital, que não era frequentado por Jaime.
Na ocasião foi informada que ele estava registrado como um “guerrilheiro morto em combate”, quando na verdade, soube-se depois, que ele era um dos mais de 6 mil casos documentados como “falso positivos”: pessoas assassinadas pelas forças de segurança como se fossem guerrilheiros, durante a presidência de Álvaro Uribe.
“Pelo menos a Comissão da Verdade de Juan Manuel Santos, ex-ministro de Uribe, já reconheceu que esses jovens não eram guerrilheiros. Mas Uribe disse que foi enganado pelos soldados, e não aceita esses crimes cometidos pelo exército”, diz ela, explicando que mais tarde se soube que jovens eram iludidos com promessas de trabalho e acabavam assassinados para engrossar as cifras de guerrilheiros mortos.
Para Castillo, a Comissão da Verdade abriu caminhos para que os crimes do período fossem esclarecidos, mas o país não obteve o que se esperava do acordo de paz: a “verdade plena”.
Santos, que foi presidente da Colombia entre 2010 e 2018, e selou o acordo com o grupo guerrilheiro de ideologia comunista, em 2006, antes tinha sido ministro da defesa de Álvaro Uribe e candidato por sua sigla à presidência. Mas, quando no poder, divergências levaram à ruptura entre eles.
Ferrenho opositor ao acordo de paz, Uribe levantou bandeiras contra a negociação entre o governo de Santos e combatentes das Farc em Havana. Recentemente, na véspera da assinatura do acordo, ele afirmou que “não houve acordo de paz”.
Chefe da sigla Centro Democrático, o ex-presidente expressou, em uma carta dirigida ao secretário geral da ONU, Antonio Guterres, críticas à elegibilidade de ex-combatentes e, entre outros pontos, afirmou que há “impunidade total” a “responsáveis por crimes atrozes, por exemplo, sequestro e estupro de menores.”
Já Santos afirmou ver com satisfação que pessoas antes contrárias ao acordo mudem sua percepção quanto ao pacto, e afirmou que o próprio presidenrw Iván Duque – apadrinhado de Uribe – esteja “se transformando em um grande promotor da implementação dos acordos de paz”.
Apesar da polarização em torno do acordo durante as negociações e nos últimos anos, Restrepo acredita que o assunto “não será, como já foi, decisivo ou influente no resultado eleitoral” do pleito presidencial de maio do ano que vem. “Estamos virando, lentamente, a página do conflito”.
- Ucrânia corre para reforçar sua Marinha temendo nova ameaça da Rússia
O barco patrulha naval ucraniano “Kremenchuk” se lança nas águas cinzentas do Mar de Azov, uma metralhadora montada apontando para a popa e outra apontando para a proa.
O comandante Ivan Ovchar explica a missão de seu navio: “Defender e manter a soberania da Ucrânia.”
A ameaça, acreditam o oficial e muitos aliados da Ucrânia, vem da Rússia.
Durante semanas, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, expressou crescente preocupação com a atividade militar de Moscou na fronteira com a Ucrânia.
“Não sabemos quais são as intenções do presidente [Vladimir] Putin, mas sabemos o que aconteceu no passado”, disse Blinken no último sábado durante uma viagem ao Senegal, referindo-se às incursões militares russas, reconhecidas ou não, em países vizinhos.
“Conhecemos o manual de tentar citar alguma provocação ilusória da Ucrânia ou de qualquer outro país e então usar isso como desculpa para fazer o que a Rússia planejou fazer o tempo todo.”
O Kremlin respondeu acusando os países ocidentais de “histeria” sobre uma invasão da Ucrânia pela Rússia.
Com a alta tensão na região, a CNN juntou-se ao navio da marinha ucraniana que partia de Berdyansk na costa de Azov, na Ucrânia. Normalmente, a tripulação do comandante Ovchar encontra seis ou sete barcos-patrulha da guarda costeira russa, diz ele, mas nesta missão não havia nenhum.
O mar que ele patrulha faz fronteira com a Crimeia, península ucraniana anexada por Moscou após um polêmico referendo em 2014, em violação ao direito internacional.
Desde que tomou a Crimeia, a Rússia construiu uma ponte ligando-a ao seu próprio território. A ponte de Kerch sobre o estreito de Kerch serve como a única conexão direta entre a Rússia e a Crimeia – e dá a Moscou o controle de fato do acesso marítimo ao Mar Negro e ao Mediterrâneo em seguida.
Mas a Ucrânia tem um plano para tentar impedir que Moscou assuma o controle total do corpo de água que liga os dois maiores portos da Ucrânia, Berdyansk e Mariupol.
O novo ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, anunciou em 13 de novembro que o ritmo de construção de um novo porto naval em Berdyansk deveria ser aumentado.
Na terça-feira, a CNN ganhou acesso exclusivo à base “Sehid” ou “Leste” em construção.
Ficou imediatamente claro que muito trabalho ainda precisava ser feito para que essa base estivesse quase concluída.
O objetivo era concluir a primeira fase de construção – novos aposentos, edifícios administrativos e um pequeno centro médico no local de uma fábrica de estanho desativada – até o final do ano. No entanto, faltando menos de seis semanas, não havia nem mesmo um telhado no prédio principal.
Um destacamento especial de construtores militares trabalhava com alvenaria, batendo no cimento e assentando tijolos, uma bandeira ucraniana ondulando enquanto trabalhavam.
A escala da tarefa manual tornou-se ainda mais rígida à medida que descíamos para o porto, junto a um porto comercial.
“Esta será a posição das docas”, disse o capitão da 2ª classe Alexander Serdiyk, apontando para pilhas de metal empenado e pedras espalhadas ao acaso no mar. “Pretendemos concluir esta seção em dois anos.”
Mas a Ucrânia pode não ter dois anos para se preparar para o conflito.
O chefe da Agência de Inteligência de Defesa da Ucrânia, Brigadeiro General Kyrylo Budanov, disse ao jornal de defesa dos EUA Military Times que a Rússia estava aumentando os níveis de tropas e sistemas de armas na Crimeia para uma ofensiva que poderia ocorrer a qualquer momento.
O Kremlin disse repetidamente que não tem planos de invadir a Ucrânia.
“A mídia americana e ucraniana afirmam que a Rússia está se preparando para um ataque à Ucrânia, e estamos dizendo que a Ucrânia está planejando hostilidades contra Donbas, contra as repúblicas autoproclamadas de Luhansk e Donetsk”, disse Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, na terça-feira (23). “Estamos profundamente preocupados com as ações provocativas das forças armadas ucranianas na linha de frente e nos preparativos para uma tentativa de resolver a questão de Donbas pela força.”
Os aliados da Ucrânia começaram a responder ao que consideram uma nova ameaça de seu vizinho a leste.
Nestaa segunda-feira, a CNN noticiou que o governo Biden estava avaliando a possibilidade de enviar conselheiros militares e novos equipamentos , incluindo armamentos, para a Ucrânia. O pacote pode incluir mísseis anti-tanque Javelin, mísseis anti-blindados e morteiros.
Os EUA também estão considerando sanções com aliados europeus se a Rússia invadir a Ucrânia.
Na semana passada, o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, visitou a Ucrânia e assinou um acordo para “desenvolver as capacidades das forças navais ucranianas”. A CNN soube na terça-feira que parte do negócio se concentrará em Berdyansk.
No mesmo dia, a marinha ucraniana anunciou a chegada de dois barcos do tipo “Ilha” chamados “Fastiv” e “Sumy”, entregues de Baltimore, nos Estados Unidos, para Odessa, na Ucrânia.
“Em breve os barcos içarão a bandeira da marinha ucraniana e, sob o comando de tripulações ucranianas, começarão sua jornada de combate para garantir a segurança marítima nos mares Negro e Azov”, disse o almirante Alexey Neizhpapa.
A grande questão é se os novos navios e infraestrutura ucranianos, além dos avisos do Ocidente, serão suficientes para dissuasão.
- China: EUA erram ao convidar Taiwan para cúpula sobre democracia
O governo chinês acusou, nesta quarta-feira (24), o presidente norte-americano, Joe Biden, de cometer "um erro" ao convidar Taiwan para participar de uma cúpula sobre democracia, na qual estarão presentes representantes de 109 nações democráticas.
“Opomo-nos firmemente a qualquer interação oficial entre os Estados Unidos (EUA) e essa ilha. Essa é uma posição clara e consistente”, declarou Zhu Fenglian, porta-voz do Gabinete Chinês para Assuntos de Taiwan, passando a considerar “um erro” a inclusão dessa região no encontro.
Pequim apelou a Washington que “se mantenha leal ao princípio de ‘uma só China’”, política que reconhece que Pequim reclama Taiwan como sua província, e que “respeite os Três Comunicados”, conjunto de declarações assinadas pelos EUA e pela China para estabelecer as relações entre as duas nações. Apesar de Taiwan ser uma democracia com um governo independente, a China continua a reclamar o território como seu e acusa o Executivo taiwanês de separatismo.
A cúpula será um teste ao juramento de Joe Biden de que faria os Estados Unidos regressarem a uma posição assertiva de liderança global, capaz de desafiar as forças autoritárias da China e da Rússia – nações que não estão incluídas neste encontro virtual, marcado para os dias 9 e 10 de dezembro.
O jornal oficial do Partido Comunista Chinês, Global Times, escreveu hoje que “o ato de colocar a ilha entre nações soberanas revela que os EUA estão transformando esta suposta cúpula em um conluio ideológico, como parte de uma campanha para conter a China”.
“Ao excluir países como a China e a Rússia, mais pessoas irão entender como os políticos americanos usam os seus alegados valores para instigar o confronto”, acrescenta a publicação.
Desde que chegou à Casa Branca, o sucessor de Donald Trump tem reiterado o apoio de longa data dos EUA à política de “uma só China”, mas tem frisado também que Washington “se opõe fortemente aos esforços unilaterais para mudar o status quo ou atacar a paz e estabilidade no Estreito de Taiwan”.
Um porta-voz do presidente taiwanês agradeceu a Biden o convite para participar do encontro e garantiu que a região será “uma força positiva na sociedade internacional”.
“Taiwan irá cooperar firmemente com países que pensem da mesma forma para proteger valores universais como os da liberdade, democracia e direitos humanos”, assegurou o porta-voz, Xavier Chang. “Iremos também salvaguardar a paz regional, a estabilidade e o desenvolvimento”.
A decisão dos Estados Unidos de convidar Taiwan para a cúpula sobre democracia não só não foi bem recebida pela China, como poderá motivar ataques de Pequim.
Em reunião virtual com Joe Biden na passada semana, o presidente Xi Jinping informou que a China “não teria outra alternativa que não tomar medidas drásticas” se determinadas “linhas vermelhas” fossem ultrapassadas.
Em agosto deste ano, o jornal do Partido Comunista Chinês tinha alertado contra o convite do presidente taiwanês, Tsai Ing-wen, para a cúpula da democracia, pedindo a Washington que se referisse a Taiwan como “Taipé Chinesa”.
Não cumprir com esses pontos significaria uma “grave escalada” de tensão entre as duas nações e não seria tolerado por Pequim, avisou a publicação.
O encontro sobre democracia vai reunir, ao longo de dois dias, países democráticos como França ou Suécia, mas também nações onde ativistas consideram que a democracia está sob ameaça, como a Índia ou a Polônia.
-Câmara do Chile aprova casamento homoafetivo e projeto volta ao Senado
A Câmara dos Deputados do Chile aprovou nessa terça-feira (23) projeto de lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A medida foi enviada de volta ao Senado, onde parece ter o apoio necessário para se tornar lei.
Originário do Senado, o projeto foi aprovado pela Câmara com 97 votos a favor e 35 contra. Por causa de algumas alterações no projeto na Casa, a medida agora deve ser votada novamente no Senado antes de ser sancionada pelo presidente Sebastián Piñera, que já anunciou seu apoio.
O Chile é considerado um país conservador, mesmo se comparado aos demais países latino-americanos, profundamente religiosos. No primeiro turno da eleição presidencial no país, um candidato de extrema-direita, que faz elogios ao legado do ditador Augusto Pinochet, saiu em primeiro lugar, e parece ter a vantagem para a eleição de segundo turno em dezembro.
O Chile já deu sinais de que está se deslocando para a esquerda em questões sociais e culturais nos últimos anos, e uma maioria grande de chilenos hoje apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
As uniões civis homoafetivas são permitidas no Chile desde 2015. Parceiros do mesmo sexo podem ter muitos benefícios, mas não todos aos quais têm direito os casais unidos em matrimônio, como a adoção.
Entre as alterações feitas pela Câmara dos Deputados está a adoção de terminologias de gênero neutro.
Se o Senado aprovar a versão da Câmara sem mudanças, o projeto então irá para Piñera. Se sancionado, como é esperado, ele se tornará lei 90 dias depois de sua publicação no Diário Oficial do Governo.
- O que se sabe sobre imigrantes que morreram em barco tentando entrar no Reino Unido
Um barco com imigrantes que tentava chegar ao Reino Unido naufragou no Canal da Mancha, próximo à cidade de Calais, informou o governo francês.
A polícia disse que mais de 20 pessoas morreram, segundo a agência de notícias France Presse.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse que o caso é uma "tragédia" e afirmou que os mortos foram vítimas de "contrabandistas criminosos".
Autoridades francesas e britânicas realizam operações de busca na área do Canal da Mancha pelo mar e também com aeronaves.
Um barco de pesca deu um alerta no começo da quarta-feira (24/11) após avistar várias pessoas no mar perto da costa francesa.
"Meus pensamentos estão com os muitos desaparecidos e feridos, vítimas de contrabandistas criminosos que se valem do sofrimento e da miséria deles", afirmou o premiê francês.
Franck Dhersin, vice-presidente de mobilidade, infraestrutura dos transportes e portos da região Altos da França e prefeito de Téteghem, disse que 24 corpos foram retirados do mar nas proximidades de Dunkirk, mas informou que também foram resgatados sobreviventes.
O ministro do Interior da França, Gerald Darmanin, declarou no Twitter que muitas pessoas morreram, mas não especificou um número.
Natalie Elphicke, membro do Parlamento britânico pela região Dover and Deal, disse que o evento é uma "tragédia absoluta" que reforça a ideia de impedir que os barcos entrem na água.
"Com a proximidade do inverno, os mares vão se tornar mais agitados, a água, mais fria, e o risco de perder ainda mais vidas de forma trágica será maior", disse a parlamentar conservadora. "É por isso que impedir essa perigosa travessia é algo humanitário e a coisa certa a fazer."
Diversas pessoas podem ter chegado à costa britânica em barcos pequenos na quarta. Elas foram vistas sendo levadas para terra por autoridades de imigração.
Lewis Goodall, do programa BBC Newsnight, disse que recebeu a informação de que 25 barcos tentaram fazer a travessia até o momento nesta quarta.
A Guarda Costeira francesa disparou um alerta de emergência para 15 pessoas avistadas no mar, diz o correspondente.
Ele acrescenta que uma agência de assistência humanitária adverte para o risco de o Canal da Mancha se tornar um "cemitério".
Estão sendo registrados números recordes de tentativas de travessia entre a França e o Reino Unido. Até segunda-feira (22/11), o número de imigrantes que chegaram de barco ao território britânico em 2021 já era o triplo do total do ano passado.
Neste mês, mais de mil imigrantes chegaram em apenas um dia - um novo recorde.
O Estreito de Dover é a via marítima mais movimentada do mundo, onde várias pessoas morreram tentando fazer a travessia em botes infláveis. A estimativa é de que ocorreram 10 mortes nas últimas semanas ao fazer o percurso.
No começo da semana, a ministra do Interior britânica, Priti Patel, descreveu o número de imigrantes ilegais que partem da França como "inaceitável".
Ela disse que o projeto de lei do governo sobre nacionalidades e fronteiras é uma "solução de longo prazo" para abordar a questão "à frente de uma série de trabalhos operacionais e diplomáticos".
Fonte: CNN Brasil - Agência Brasil - BBC News Brasil