Política

Processo técnico impede Bolsonaro de deixar Enem com "a cara do governo"





Para uma questão ser incluída no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ela tem que fazer parte do BNI (Banco Nacional de Itens). Para entrar nesta lista, as perguntas passam por um longo processo. Primeiro são elaboradas e depois, testadas —os testes acontecem com alunos do Ensino Médio.

Por causa deste processo técnico —que dura cerca de um ano—, não é simples alguém decidir, sozinho, incluir ou excluir uma questão ou conteúdo específico no exame.

"O BNI define-se, portanto, como uma coleção de itens de testes de natureza específica —organizada segundo determinados critérios— disponíveis para a construção de instrumentos de avaliação", diz material do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pelo Enem.

Na semana passada, além de denúncias de supostas interferências no Enem veiculadas na imprensa, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disse que a prova começa a ter "a cara do governo".

Um dia depois da aplicação, ele criticou o que considera "questões de ideologia" —mas sem citar especificamente a quais perguntas se referia.

Tão acusando o Milton [Ribeiro, ministro da Educação] de ter interferido na elaboração das provas. Se ele tiver essa capacidade e eu, não teria nenhuma questão de ideologia nesse Enem agora, que teve ainda. Você é obrigado a aproveitar banco de dados de anos anteriores. Você e obrigado a aproveitar isso aí. Dá para mudar? Já está mudando."
Jair Bolsonaro (sem partido), presidente da República

Chamada técnica e capacitação de profissionais

Antes do processo de inclusão das questões no BNI, há a escolha dos responsáveis pela elaboração das perguntas do Enem —são eles que ajudam a manter o critério técnico da prova.

Para escolher esses profissionais, o Inep abre uma chamada pública destinada a educadores e pesquisadores —normalmente, no início do ano. Os selecionados participam de capacitações e, depois, constroem as questões.

"A participação da comunidade educacional e acadêmica de todo o Brasil amplia a diversidade e melhora a adequação dos instrumentos para a avaliação da educação do país", destaca o documento do Inep.

Para João Marcelo Borges, pesquisador do DGPE (Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais), da Fundação Getúlio Vargas, o BNI é um dos instrumentos mais importantes para uma política pública de educação funcionar.

"Não podemos perder a perspectiva de que as políticas públicas dependem de instituições, de processos sistemáticos profundos e servidores. Não dá para achar que só um desses elementos dê conta de políticas complexas", avalia Borges.

Retirar questões não é o caminho "mais fácil", explica Claudia Costin, diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

A nota do Enem é calculada pela metodologia da TRI (Teoria da Resposta ao Item), que indica peso diferente de acordo com a dificuldade de cada questão.

Com a escassez de questões prontas, retirar uma pergunta pode desequilibrar a prova. Não se sabe quantos itens compõem o BNI, porque o número é sigiloso. Servidores do Inep, no entanto, já falavam da falta de itens no banco antes desta edição do Enem.

"Na minha visão, [as questões do Enem] foram uma certa vitória do profissionalismo dos servidores do Inep. E isso é importante, porque, se o Enem perde a credibilidade, as universidades, que são autônomas, podem decidir se vão usar ou não a nota da prova para entrada de novos alunos", afirma Costin.

A especialista alerta, porém, para a preocupação que se deve ter nos próximos exames com a falta de servidores técnicos, por exemplo, na linha de frente do processo.

"Se essas tentativas, como as falas do Bolsonaro de que não deu tempo de interferir, persistirem, estamos olhando para o Enem como um instrumento de governo e não de Estado como deve ser", pontua.

O BNI também oferece questões para outras avaliações nacionais como o Saeb, que avalia a educação básica; Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes); Encceja (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos); entre outros.

O máximo que o governo conseguiria --e isso já é preocupante--, seria censurar perguntas que compõem o BNI. Mas não daria para aparecer um item do tipo "o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985 foi um regime democrático". Esse tipo de pergunta não compõe o BNI."
João Marcelo Borges, pesquisador

Possível terceirização e comissão para "avaliar" BNI

Considerado um forte instrumento técnico pelos servidores do Inep, o BNI está na mira de Bolsonaro desde o início de seu governo. Em 2019, por exemplo, foi criada uma comissão para decidir as questões que entrariam ou não na edição seguinte do Enem.

Na época, o Inep, informou que o grupo faria uma "leitura transversal". Um ano depois, no entanto, foi noticiado que a comissão sugeriu a troca de "ditadura" por "regime militar". Além disso, barrou 66 itens do Enem 2019.

Em junho deste ano, reportagem da Folha de S. Paulo revelou que o MEC (Ministério da Educação), comandado pelo pastor Milton Ribeiro, queria criar uma espécie de tribunal ideológico. No documento interno, falava-se em não permitir "questões subjetivas" e em dar atenção a "valores morais".

O BNI também foi alvo de uma tentativa de terceirização, a pedido do próprio presidente do Inep, Danilo Dupas. Documento da Daeb (Diretoria de Avaliação da Educação Básica) solicitava aos coordenadores um estudo sobre a possibilidade de terceirizar a elaboração e revisão do BNI.

Servidores alertaram, no entanto, que a terceirização do banco tornaria mais fácil uma possível interferência nas provas. Além das últimas declarações, o ministro da Educação revelou no início do ano seu desejo em ter acesso prévio ao Enem.

Depois da repercussão, ele voltou atrás. Os últimos chefes do MEC, durante o governo Bolsonaro, também faziam declarações nesse sentido.


Confira outras notícias:

Enem: estudantes com covid-19 podem pedir reaplicação da prova

 

A medida também vale para o segundo dia de prova, no próximo domingo

 

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, assim como o Enem 2020, tem uma série de medidas de segurança contra a covid-19. As provas começaram a ser aplicadas no último domingo (21) e quem apresentou algum sintoma poderá pedir a para participar da reaplicação do exame. O mesmo vale para quem apresentar sintomas da doença até o segundo dia de prova, no próximo domingo (28).

 

A reaplicação será nos dias 9 e 16 de janeiro de 2022, mesma data da aplicação do exame para Pessoas Privadas de Liberdade ou sob medida socioeducativa que inclua privação de liberdade (Enem PPL) 2021 e para os participantes isentos da taxa de inscrição em 2020, que por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)  tiveram nova oportunidade de inscrição no Enem.

 

A reaplicação deverá ser solicitada na Página do Participante, entre 29 de novembro e 3 de dezembro, junto com a documentação que comprove a condição de saúde do inscrito.

 

A documentação deve apresentar o nome completo do participante, o diagnóstico com a descrição da condição de saúde do inscrito e o código correspondente à Classificação Internacional de Doença (CID 10). O documento deve estar legível e constar a assinatura e a identificação do profissional competente, com respectivo registro do Conselho Regional de Medicina (CRM), do Ministério da Saúde (RMS) ou de órgão competente.

 

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), tem direito a reaplicação o participante que apresentar sintoma de covid-19 na semana que antecede o primeiro ou o segundo dia do exame. A mesma orientação serve para quem estiver com alguma das outras doenças infectocontagiosas listadas nos editais do Enem impresso e Digital: tuberculose, coqueluche, difteria, doença invasiva por Haemophilus influenza, doença meningocócica e outras meningites, varíola, Influenza humana A e B, poliomielite por poliovírus selvagem, sarampo, rubéola e varicela.

 

O Inep analisará a documentação comprobatória das condições dos participantes. Quem tiver a documentação aprovada terá a participação garantida na reaplicação.

 

Uso de máscara

 

O Enem ocorre em um momento em que a vacinação avança no Brasil e há redução nos casos e no número de mortes por covid-19. Mesmo assim, segundo especialistas a orientação é manter as medidas de segurança, ainda mais em um exame de grandes proporções como o Enem. O exame prevê o distanciamento entre as carteiras e a disponibilização de álcool em gel.

 

O uso de máscara de proteção, cobrindo totalmente nariz e boca, é obrigatório durante todo o período em que o participante permanecer no local de aplicação da prova, sendo permitido retirá-la apenas no momento da identificação, antes de acessar a sala de prova, para beber água e para comer. Quem descumprir a regra, poderá ser eliminado.

 

Problemas logísticos

 

Os candidatos que foram afetados por problemas logísticos durante a aplicação das provas também devem estar atentos ao prazo de 29 de novembro a 3 de dezembro para pedir a reaplicação do exame. São considerados problemas logísticos falta de energia elétrica, infiltrações por conta de chuvas, falhas no computador - no caso do Enem digital, entre outros que prejudiquem a realização das provas.

 

Enem 2021

 

O Enem 2021 começou a ser aplicado no dia 21 e segue no dia 28 de novembro, tanto na versão impressa quanto na versão digital. No primeiro dia do Enem, os candidatos fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. Ao todo, dos 3,1 milhões de inscritos, 74% compareceram ao exame. No segundo dia, participantes farão as provas de matemática e ciências da natureza. Por conta da pandemia, o exame adotou uma série de medidas de segurança.

 

O Enem seleciona estudantes para vagas do ensino superior públicas, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para bolsas em instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), e serve de parâmetro para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep.

 

Questões do Enem

 

Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem uma programação intensa de cobertura do Enem, com dicas e correção de provas. Mais informações estão disponíveis aqui. Para testar os conhecimentos, os estudantes podem acessar gratuitamente o Questões Enem, um banco que reúne todas as questões do Enem de 2009 a 2020. No sistema, é possível escolher quais áreas do conhecimento se quer estudar. O banco seleciona as questões de maneira aleatória.

 

 

- Google oferece conteúdo gratuito voltado para mulheres pretas

A autoestima da mulher preta está entre os temas abordados

O Google lançou o programa Cresça com o Google para Mulheres Pretas, uma edição dedicada à discussão de temas relacionados ao desenvolvimento profissional e pessoal das mulheres pretas no Brasil. As pessoas interessadas têm acesso gratuito aos conteúdos pela plataforma online.

“O Cresça com o Google para Mulheres Pretas se soma a outras edições que realizamos do Cresça com o Google em 2021. Desde março, realizamos edições voltadas a mulheres que querem empreender, àquelas que buscam desenvolver suas carreiras, retornar ao mercado de trabalho ou se iniciar no mercado de tecnologia”, disse Susana Ayarza, diretora de Marketing do Google Brasil.

Segundo a diretora, o Cresça com o Google é uma iniciativa global que oferece treinamento gratuito e ferramentas para quem busca oportunidades no mercado de trabalho, desenvolver suas carreiras ou crescer seus próprios negócios. 

Na programação da edição para Mulheres Pretas, a apresentação de Ana Minuto, que desenvolveu uma metodologia de processo de coaching que atenda as especificidades dos afrodescendentes e afroempreendedores, trata da síndrome da impostora. O conteúdo mostra métodos de identificação de autossabotagem e apresenta dicas para o fortalecimento pessoal diante de desafios profissionais. 

A  Auto Estima da Mulher Preta é o tema liderado por Caroline Moreira, diretora e criadora da startup Negras Plurais, facilitadora afrolab da Feira Preta e gerente de projeto dos Canais Pretos do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas (ONU).

Karen Santos, diretora-executiva e Fundadora da UX para Minas Pretas, trata do lugar da mulher na tecnologia. “As questões abordadas [por Karen] destacam os principais desafios de uma carreira formada majoritariamente por homens e pessoas brancas. O protagonismo das mulheres pretas neste ramo também está na pauta do conteúdo. Em outra frente, diretamente relacionada à construção de imagem junto ao mercado de trabalho e aos projetos individuais, a marca pessoal está no centro das reflexões da executiva”, disse Ayarza.

Outras apresentações disponíveis no programa mostram formas de melhorar a própria apresentação, tratam de criatividade, geração de conteúdo e relevância na carreira, além de discutir organização e administração dos papéis da mulher preta nos espaços de atuação cotidianos.

Fonte: UOL - Agência Brasil