Cotidiano

Opas: Não vacinados na Europa podem acelerar transmissão de novas variantes





Diretor-assistente de organização ligada à OMS, Jarbas Barbosa alertou para o risco do surgimento de novas cepas por causa de baixa vacinação no continente 

Em entrevista à CNN, o médico sanitarista e diretor-assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, alertou para o risco do surgimento e transmissão de novas variantes do coronavírus entre os não vacinados da Europa.

Países europeus endurecem cada vez mais as restrições contra a Covid-19 por causa do aumento do número de novos casos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já sinalizou que a chegada do inverno ao continente pode levar meio milhão de pessoas a morrer em decorrência da doença.

Para Barbosa, a dúvida sobre a vacinação é um fenômeno que atingiu com força a Europa e, segundo ele, por causa de dois fatores.

“Em parte, é pelo desconhecimento das pessoas [sobre os benefícios da vacina] e, também, porque tanto a pandemia quanto a vacinação foram muito politizadas, no mau sentido da palavra. Determinados grupos políticos tomaram a oposição à vacina como defesa de liberdade e outros argumentos”, disse.

Por isso, o médico afirmou que foi criado um “paradoxo” nos países desenvolvidos, que têm grandes quantidades de imunizantes disponíveis, mas muitos não conseguem ultrapassar os 65% da população vacinadas há meses.

“O pior é que nesses países não há homogeneidade na distribuição. Na Alemanha, por exemplo, a região da Bavária sempre se opôs fortemente às vacinações e às medidas de saúde publica”, apontou Barbosa.

“Ou seja, esse grupo de não vacinados está muito concentrado e facilita deles serem um acelerador de transmissão quando surge uma nova variante, como a Delta, que já é predominante no mundo inteiro.”

Em resposta a esse movimento, o médico afirmou que é muito importante que os países tenham estratégias de comunicação de saúde pública para aumentar a cobertura vacinal de forma igualitária entre todas as regiões da Europa.

 

- Covid-19: Europa retoma medidas restritivas em meio a protestos

Manifestações foram violentas em alguns países

Governos de vários países da Europa retomaram hoje (22) medidas restritivas e confinamentos, numa altura em que a pandemia de covid-19 está, mais uma vez, descontrolada. Áustria, Países Baixos, Bélgica e Croácia são apenas alguns dos países onde o fim de semana foi marcado por protestos, muitas vezes violentos, contra as restrições.

Entre as novas medidas está a imposição de certificado digital, a vacinação obrigatória ou o encerramento de setores e atividades.

A Áustria foi a primeira a voltar a impor, com início nesta segunda-feira, o confinamento de toda a população para travar o aumento de infecções pelo novo coronavírus. O chanceler Alexander Schallenberg decidiu, ainda, tornar a vacinação obrigatória a partir de 1º de fevereiro.

O governo austríaco estabeleceu uma duração inicial de dez dias para o novo confinamento, período durante o qual a maioria das lojas terá de fechar, os eventos culturais serão cancelados e os alunos voltarão a ter aulas online. Este período poderá ser renovado para um máximo de 20 dias, caso dez dias não sejam suficientes para diminuir os novos casos de infeção.

O confinamento na Áustria implica que as pessoas apenas saiam de casa por um número limitado de razões, como ir trabalhar ou comprar bens essenciais. Os encontros entre pessoas de agregados familiares diferentes estão limitados a dois participantes.

O ministro da Saúde austríaco, Wolfgang Mueckstein, explicou que as escolas permanecerão abertas para aqueles que precisarem  ir, mas apelou a todos os pais para, se possível, manterem os seus filhos em casa.

Temos de “enfrentar a realidade”, afirmou o chanceler Schallenberg numa entrevista. “Apesar de meses de persuasão, não conseguimos convencer um número suficiente de pessoas a se vacinar”, disse ele.

Protestos em Viena

As notícias não foram bem recebidas pela população. Nas vésperas do regresso daquele que é o quarto confinamento no país, milhares de manifestantes, incluindo membros de grupos de extrema-direita, marcharam em Viena contra o confinamento nacional.

Segundo as autoridades, foram 35 mil os participantes em diferentes marchas pela capital, sendo que a maioria não usava máscara.

Num país onde menos de 66% da população está vacinada - uma das taxas mais baixas da Europa Ocidental -, o número de mortes diárias triplicou nas últimas semanas e os hospitais dos estados mais atingidos estão atingindo o limite da capacidade.

Países Baixos sob tensão

Os protestos do fim de semana não se restringem à Áustria. Também nos Países Baixos, onde o governo decretou um confinamento parcial durante três semanas, o encerramento da restauração às 20h e a proibição da entrada de pessoas não vacinadas em espaços públicos, milhares de habitantes caminharam pela terceira noite consecutiva contra as medidas.

Nas ruas de Amsterdã os protestos decorreram sem incidentes, mas isso não se verificou em outras cidades holandesas. Depois de, na sexta-feira, a polícia de Roterdã ter disparado para acabar com motins e sete pessoas terem ficado feridas, o fim de semana em Haia foi marcado por momentos de grande tensão nas ruas.

Manifestantes atacaram as autoridades com pedras e fogos de artifício e incendiaram bicicletas. Cinco agentes ficaram feridos e dezenas de pessoas foram detidas.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, denunciou hoje a “violência pura” por parte de pessoas “idiotas”.

Algumas centenas de pessoas também se manifestaram nas ruas da cidade de Breda, no sul dos Países Baixos, contra as restrições. Em Rosendaal, perto da fronteira com a Bélgica, 15 pessoas foram presas depois de terem iniciado um incêndio numa escola primária.

Bruxelas impõe máscara

Na Bélgica, o uso de máscara passou a ser obrigatório a partir dos dez anos de idade e o teletrabalho voltou. A vacina contra a covid-19 poderá, muito em breve, tornar-se também obrigatória no país.

As medidas foram contestadas em Bruxelas, onde 35 mil pessoas se reuniram. Os protestos começaram pacificamente, mas rapidamente deram lugar a confrontos com a polícia, que usou canhões de água e gás lacrimogêneo contra os manifestantes que atiravam pedras, foguetes e bombas de fumo, segundo várias testemunhas.

“Liberdade” foi a palavra de ordem entre os participantes, com um deles segurando um cartaz onde se lia: “Quando a tirania se transforma em lei, a rebelião torna-se um dever”.

França

Na França, o ministro do Interior, Gerald Darmanin, condenou os violentos protestos na ilha caribenha de Guadalupe, um dos territórios ultramarinos do país, onde 29 pessoas foram detidas pela polícia quando protestavam contra a decisão de impor um recolher noturno (das 18h às 5h) a partir desta terça-feira (23).

Naquela que foi a terceira noite consecutiva de motins, com lojas  vandalizadas e carros incendiados, a polícia prendeu pelo menos 38 pessoas. Segundo a imprensa local, houve tiros disparados contra as autoridades.

O governo francês decidiu, no domingo, enviar para Guadalupe  50 membros das forças de elite para restaurar a ordem. O primeiro-ministro Jean Castex irá se reunir hoje, em Paris, com os líderes da ilha para discutir a situação.

Os sindicatos guadalupenses começaram esta manhã uma greve por tempo indefinido para protestar contra a imposição de passes sanitários e a vacinação obrigatória dos trabalhadores de saúde contra a covid-19.

Croácia

Na Croácia, milhares de pessoas ergueram a voz contra a vacinação obrigatória dos cidadãos para trabalhar. Com quatro milhões de habitantes, apenas 47% da população do país dos Balcãs completou a vacinação.

Apesar de números recordes de infecções e da morte de meia centena de pessoas todos os dias, milhares de pessoas juntaram-se na capital, Zagreb, carregando bandeiras croatas e símbolos nacionalistas e religiosos, com bandeiras contra a vacinação e o que descrevem como restrições às liberdades.

Suíços, italianos e irlandeses

Na Suíça, duas mil pessoas protestaram contra um referendo sobre a aprovação da lei que permite a imposição de restrições, alegando que é discriminatória.

Na Itália, três mil habitantes se reuniram em torno do Circo Maximus, em Roma, para protestar contra a exigência do certificado que garante que se está vacinado ou livre da covid-19 para ter acesso aos locais de trabalho, restaurantes, cinemas, teatros, recintos desportivos e ginásios, bem como para viagens de longa distância de trem, carro ou ferry.

Na Irlanda do Norte, várias centenas de pessoas que se opõem ao certificado de covid-19 protestaram à porta da Câmara Municipal de Belfast, depois de o governo ter decidido restringir horários e tornar o documento obrigatório para admissão em clubes noturnos, bares e restaurantes.

OMS teme mais mortes

A Organização Mundial de Saúde já manifestou preocupação com o aumento de casos de covid-19 na Europa e advertiu que cerca de 500 mil pessoas podem morrer até março de 2022 se não forem tomadas medidas urgentes para conter o avanço da pandemia.

 

Confira outras notícias:

- EUA: cinco pessoas morrem e mais de 40 ficam feridas em atropelamento

 

Veículo atropelou público que assistia a um desfile de Natal

 

Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas, entre as quais crianças, quando um veículo atravessou um desfile de Natal em Waukesha, no estado norte-americano do Wisconsin, no domingo (21) à tarde.

 

Até o momento, as autoridades dos Estados Unidos não classificaram o atropelamento como um ato de terrorismo. O atropelamento ocorreu às 16h39, no horário local.

 

“Neste momento, podemos confirmar que cinco pessoas morreram e mais de 40 estão feridas”, informou uma publicação na conta da câmara da cidade, na qual se ressalva que os números “podem mudar” à medida em que mais informações são recolhidas.

 

O veículo utilizado no ataque, um SUV de cor vermelha, foi recuperado e uma pessoa foi detida.

 

Vários vídeos publicados nas redes sociais mostram um carro atravessando o local do desfile em alta velocidade.

 

O chefe da polícia local, Daniel P. Thompson, afirmou que os seus investigadores ainda trabalham para identificar as vítimas. De acordo com Thompson, há neste momento "uma pessoa de interesse sob custódia”. Todavia, não foi confirmado se se trata do condutor do veículo.

 

“Esta é ainda uma investigação em curso”, acrescentou, em declarações a jornalistas.

 

Disparos da polícia

 

Um policial de Waukesha disparou contra o veículo, numa tentativa de detê-lo, mas ninguém teria sido atingido, ainda segundo as autoridades norte-americanas.

 

O local “encontra-se agora a salvo e seguro”, afirmou o chefe da polícia.

 

Escolas fechadas

 

A polícia indicou que todas as estradas no local do atropelamento vão permanecer fechadas durante 24 horas, pelo menos, assim como o comércio.

 

O Distrito Escolar de Waukesha mandou fechar nesta segunda-feira (22) todas as a escolas.

 

No Twitter, o governador do Wisconsin, Tony Evers escreveu que rezaria por Waukesha “e todas as crianças, famílias e membros da comunidade atingidos por este ato sem sentido”.

 

- Partido governista vence eleições em 20 estados da Venezuela

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) concedeu a vitória ao Partido Socialista governista em 20 estados e a políticos da oposição em três em um anúncio inicial desta segunda-feira (22) sobre as eleições municipais e estaduais.

Pouco depois de os primeiros resultados serem publicados, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, comemorou o triunfo do governo. "A vitória é impressionante", disse Maduro, cercado por apoiadores, acrescentando que "boas vitórias precisam ser comemoradas".

Os resultados são um contratempo para os líderes oposicionistas que voltaram às cédulas depois de boicotarem a eleição presidencial de 2018 e as eleições parlamentares de 2020, argumentando que uma votação justa era impossível devido às fraudes e à intimidação de gangues violentas leais a Maduro.

Neste ano, políticos da oposição decidiram concorrer por estarem frustrados com a incapacidade das sanções dos Estados Unidos de depor Maduro, além de estarem estimulados com a presença de observadores eleitorais da União Europeia.

Só 41,8% dos eleitores registrados compareceram para depositar seus votos no domingo (21), o equivalente a cerca de 8,1 milhões de pessoas, informou a principal autoridade eleitoral do país sul-americano.

"Problemas pequenos e isolados" foram registrados no decorrer da votação, disse o CNE no início do dia.

Nas eleições estaduais de 2017, o partido governista conquistou 19 governos, e políticos da oposição outros quatro.

O único resultado municipal anunciado no primeiro boletim do CNE foi da capital Caracas, onde os socialistas também foram declarados vencedores.

Os cidadãos votaram para escolher mais de três mil governadores, prefeitos e conselhos municipais em todo o país, e 21 milhões de venezuelanos estavam registrados para votar.

O resultado ruim dos opositores pode prejudicar sua capacidade de disputar a eleição presidencial de 2024.

"Este resultado é lamentável para a oposição", opinou Luis Vicente Leon, diretor da consultoria local Datanálisis, em uma postagem no Twitter.

 

- Equador e Colômbia abrirão fronteira comum a partir de dezembro

O Equador e a Colômbia concordaram no domingo (21) com a reabertura bilateral da fronteira comum no início de dezembro, após ter sido fechada em meio à pandemia da covid-19, e se comprometeram a trabalhar juntos para combater o tráfico de drogas.

A fronteira entre os dois países foi fechada em março de 2020, conforme ambos os governos procuravam conter a disseminação do novo coronavírus. A reabertura controlada, acompanhada de medidas epidemiológicas, trará maior segurança e atividade econômica à zona.

"A abertura das fronteiras significa que nenhuma família equatoriana ou colombiana terá que pagar grupos criminosos que cobram para cruzar por rotas alternativas, em vez das oficiais, que serão abertas em 1º de dezembro", disse o presidente do Equador, Guillermo Lasso, em Quito, após um encontro com o presidente colombiano, Iván Duque.

Durante a reunião, a Colômbia ofereceu apoio ao Equador na luta contra o narcotráfico.

O Equador tem sido assolado por uma onda de crimes que aumentou os homicídios, e que as autoridades do país vinculam ao tráfico e consumo de drogas.

"O Equador receberá da Colômbia tudo o que precisa para lutar contra o crime organizado", disse Iván Duque.

 

- Chile vai para segundo turno polarizado na eleição presidencial

O Chile vai para um segundo turno polarizado da eleição presidencial no mês que vem, já que o ex-congressista de extrema-direita José Antonio Kast liderou o primeiro turno no domingo (21), ficando à frente do parlamentar de esquerda e ex-líder de protestos Gabriel Boric.

Com 97,52% das urnas apuradas, Kast tinha 27,93% dos votos e Boric 25,76%, e havia uma distância considerável entre eles e o resto dos candidatos, mas ambos ficaram bem longe da maioria necessária para vencer no primeiro turno.

Os candidatos mais moderados e de centro-direita se saíram bem, um possível estímulo para Kast, que parece estar na liderança para a votação decisiva, em 19 de dezembro.

“Foi uma noite melhor para a direita do que qualquer um esperava”, disse Gonzalo Cordero, um consultor e colunista político.

“Hoje, a probabilidade de Kast vencer a eleição presidencial é muito alta. Kast teria que cometer erros muito significativos nas próximas três semanas para perder.”, avaliou Cordero.

A eleição, a mais polarizada do país andino produtor de cobre desde sua volta à democracia em 1990, divide o eleitorado entre aqueles que desejam uma reformulação do modelo de livre mercado do Chile e aqueles que exigem mais rigor contra o crime e a imigração.

O pleito ocorre dois anos após protestos de chilenos, alguns violentos, exigindo melhorias da qualidade de vida. As manifestações ajudaram a dar ensejo à atual reescrita da Constituição da era Pinochet e impulsionaram a candidatura de Boric, que manteve uma dianteira confortável durante a maior parte da disputa.

Mas a exasperação crescente entre chilenos exaustos da violência política, combinada a uma percepção cada vez maior de que o crime está aumentando, ajuda Kast.

"Hoje, o povo do Chile falou", disse Kast em um discurso longo a apoiadores depois da divulgação do resultados, visando o crime e a desordem como fez durante a maior parte da campanha, o que o ajudou a capitalizar os temores da violência dos protestos e da imigração.

Ele disse que a eleição é uma escolha entre "liberdade e comunismo", uma alfinetada na ampla aliança de esquerda de Boric, que inclui o Partido Comunista.

Na luta para encurtar a distância de Kast ao longo do próximo mês, Boric falou do crime e do tráfico de drogas em seu discurso, algo que raramente fez antes da votação, e admitiu a necessidade de ampliar sua base de apoio.

"A cruzada é que a esperança vença o medo", disse. "Temos que olhar para mais além do nosso campo e ir até lá e trazer pessoas de fora de nossas fronteiras."

 

- EUA falam em risco iminente de invasão da Ucrânia pela Rússia

 

Moscou nega intenção e ambos os lados parecem estar blefando, mas há risco de confronto

 

Subindo mais um degrau da crise entre o Ocidente e a Rússia, os Estados Unidos disseram a seus aliados europeus que o presidente Vladimir Putin está pronto para mandar invadir a Ucrânia, se assim o desejar.

 

Tal operação poderia ocorrer em janeiro ou fevereiro, segundo um relato feito na semana passada pela inteligência americana e vazado à agência Bloomberg.

 

Ele coincide com as alegações do secretário de Estado americano, Antony Blinken, de que os EUA temem a repetição de 2014 —quando, reagindo ao golpe que derrubou o governo pró-Moscou em Kiev, Putin anexou a Crimeia e fomentou a guerra civil que fez do leste ucraniano uma terra regida por separatistas.

 

A nova leva de acusações joga água no moinho da crise, que tem outros aspectos em curso, como a disputa entre a Belarus, aliada de Putin, e a Polônia, membro da Otan (aliança militar ocidental) acerca de refugiados e a suspensão da certificação alemã do mais recente gasoduto russo.

 

O alarme tem fundamento na movimentação de tropas russas em regiões a cerca de 300 km das fronteiras ucranianas, desde o começo do mês. Kiev diz que há cerca de 100 mil soldados mobilizados.

 

Lá fora

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O Kremlin não nega e diz que como posiciona suas forças é problema seu, mas nesta segunda voltou a negar que tenha intenção de atacar o vizinho. Repetindo o discurso linha-dura de Putin na semana passada, o porta-voz Dmitri Peskov acusou o Ocidente de estar tocando tambores de guerra ao fornecer armas como mísseis antitanque Javelin à Ucrânia.

 

Mais significativo do impacto do assunto, o serviço de inteligência internacional russo, o SVR, divulgou nesta segunda (22) uma raríssima nota pública negando a intenção. "Os americanos estão pintando um quadro assustador de hordas de tanques russos que irão começar a esmagar cidades ucranianas. Os burocratas americanos estão assustando a comunidade global", diz o texto.

 

De seu lado, o governo do impopular presidente Volodimir Zelenski realiza exercícios militares em torno de Kiev desde domingo (21), simulando ataques aerotransportados na área de Jitomir. Na semana passada, usou munição real em manobras perto da fronteira da Crimeia.

 

Toda essa movimentação está agitando os meios diplomáticos, pelo temor real de um confronto que possa testar o grau de comprometimento da Otan com Kiev. Os ucranianos querem fazer parte do clube militar, o que é inaceitável para a Rússia.

 

"Com ou sem a entrada na Otan, ver a Ucrânia como um porta-aviões inafundável controlado pelos EUA, estacionada a poucas centenas de quilômetros de Moscou, não é mais aceitável ao Kremlin do que foi Cuba [com mísseis soviéticos] para a Casa Branca quase 60 anos atrás", escreveu Dmitri Trenin.

 

Diretor do Centro Carnegie de Moscou, ele diz em artigo que "qualquer líder russo iria buscar impedir essa ancoragem, usando qualquer meio a seu dispor".

 

Trenin, contudo, é daqueles que não sabem se Putin está disposto a ir às vias de fato ou apenas blefando com seu poderio militar, que hoje enfrenta uma faixa de atrito com a Otan do mar Negro ao Báltico.

 

Outros, como Ekaterina Zolotova, da consultoria americana Geopolitical Futures, são mais assertivos. "A Rússia entende suas capacidades, limites e objetivos melhor que ninguém, e esses objetivos não incluem a desestabilização caótica da Ucrânia", disse.

 

"Moscou prefere uma desestabilização controlada, por meios econômicos ou usando os rebeldes no leste, que leve à implementação dos acordos de Minsk", completou, referindo-se aos acordos de 2015 que visam acabar com a guerra civil ora congelada.

 

O conflito já matou mais de 13 mil pessoas. Pelo texto de Minsk, Kiev voltaria a controlar o leste, mas na prática as áreas separatistas seriam autônomas, o que para o governo ucraniano é inaceitável por manter o país dividido.

 

Tanto Trenin quanto Zolotova concordam que uma invasão colocaria o arranjo, que está à mão e foi chancelado pelo Ocidente lá atrás, a perder. "Ação militar direta provavelmente nem está no radar do Kremlin", diz a consultora.

 

Já o diretor do Carnegie tem dúvidas, lembrando que Putin pode querer resolver de vez a situação com a Ucrânia de forma a colocar fim à viabilidade do vizinho como um Estado funcional. Da forma com que o status quo está colocado, a situação de todo modo favorece Putin, já que a Otan só aceita como membros países sem conflitos territoriais.

 

No começo deste ano, Zelenski testou Putin ao mover tropas para perto da fronteira e ao assinar contratos para receber armas americanas e drones de ataque turcosA resposta foram 100 mil homens se exercitando em torno de seu país, numa manobra que só acabou quando ficou claro que Kiev não atacaria as áreas separatistas.

 

O jogo agora é diferente, contudo. Não há exercícios militares anunciados, e especialistas veem na mobilização de divisões blindadas uma ameaça de invasão para os meses mais frios do ano, quando o terreno fica congelado e é mais facilmente transposto.

 

Há, é claro, o interesse ocidental em pintar Putin como vilão. "Em toda primavera ou outono desde os acordos de Minsk, Kiev vai à mídia e a seus aliados dizer que a Rússia está preparando a próxima guerra", afirma Zolotova.

 

Há outros fatores. Zelenski tem apoio de apenas um terço da população, segundo pesquisas, e pode buscar algum tipo de mobilização nacional. Em 2008, o então presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, fez algo semelhante ao tentar retomar o encrave russo étnico da Ossétia do Sul, e acabou derrotado por Moscou.

 

Tudo indica que ambos os lados estão gritando lobo, para ficar na metáfora da fábula. O problema é que o bicho já apareceu no passado recente e nada impede que um erro de cálculo o tire da toca novamente agora.

 

Fonte: CNN Brasil - Agência Brasil - Folha