1ª Leitura Dn 7,13-14 | Salmo 92| 2ª Leitura: Ap 1,5-8| Evangelho: Jo 18,33b-37
| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
Farid, místico muçulmano, foi persuadido pelos vizinhos a ir à corte em Delhi pedir ao imperador Akbar um favor para a aldeia. Farid caminhou até a corte e encontrou Akbar fazendo suas orações. Quando finalmente o imperador se dispôs a atendê-lo, Farid perguntou: – Que espécie de oração o senhor fez? A resposta foi: – Rezei para que o Todo-misericordioso conceda-me sucesso, riqueza e vida longa. Imediatamente, Farid voltou as costas ao imperador e foi embora, afirmando: ” Vim ver um imperador e o que encontro aqui é mais um pedinte igual aos outros!”
Chegamos ao último domingo do ano litúrgico e celebramos a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. São palavras bonitas e grandiosas que, porém, não podem ser mal entendidas. Com efeito, se pensássemos num “reino” deste mundo as consequências seriam, no mínimo, desastrosas. Talvez, em outros tempos, a tentação de um “império” cristão fascinou e foi imaginada até possível. Hoje, graças a Deus, não mais. No trecho do evangelho de João que a liturgia nos propõe, Jesus responde claramente a Pilatos que é rei, sim, mas diz que o seu reino “não é deste mundo”. O “reinado” de Jesus não funciona e nem se sustenta com a força das armas ou de qualquer outro meio sobre o qual possam apoiar-se os poderosos deste mundo. É algo totalmente diferente pela própria origem e finalidade. A origem está no próprio Jesus. Ele nasceu e veio ao mundo para ser “rei” deste reino e isto consiste em dar “testemunho da verdade”. A consequência, ou motivação, desse reino é que todos aqueles que buscam a verdade possam escutar, acolher e praticar, a palavra dele. Como outrora Deus tinha dito ao povo “Escuta, Israel” (Dt 6,4), agora é Jesus, a Palavra feita pessoa humana, que nos convida a escutar a sua voz, a vivenciar o que ele ensinou e exemplificou com sua própria vida.
A troca de palavras entre Pilatos e Jesus não é, evidentemente, a gravação daquele diálogo; é a profissão de fé em Jesus do evangelho de João. A cena é paradoxal. De um lado, temos Pilatos que, por representar o imperador romano, considera-se o dono da vida e da morte daquele homem que deve julgar. Talvez pense conhecer o suficiente sobre Jesus. Na realidade, ele depende daquilo que outros – o Sinédrio e os sumos sacerdotes – disseram-lhe. Tem também a pressão do povo que, aos gritos, pede a vida de Barrabás e a morte do Nazareno. À sua frente, está Jesus, despojado de todo poder e força e cujo destino está nas mãos do governador. No entanto, aquele condenado, o surpreende. Ele afirma que veio para dar “testemunho da verdade” e Pilatos é obrigado a reconhecer que não sabe o que é a verdade e pergunta (Jo 18,38). Em seguida, Jesus será revestido com um manto de púrpura e uma coroa de espinhos, tristes sinais de um reino desprezado, perseguido e, muitas vezes, manipulado, como o seu rei: o “reino” da verdade.
Apesar de todos os esforços e as mentiras bem servidas, a verdade nos precede, não pode ser criada e nem construída. A verdade só pode ser encontrada lá onde já estava, e nós não sabíamos. A sua busca deve ser incansável, honesta humilde e, sobretudo, sem nenhuma outra finalidade que não seja a alegria de quem experimenta a luz após as incertezas da escuridão (1Cor 13,12). Por isso, a “verdade” grande, plena, sem máscara e subterfúgios, estará sempre à frente de todos aqueles e aquelas que a buscam para dar um sentido profundo às suas vidas. O poder-verdade de Pilatos era tão passageiro quanto ele. Não assim com a vida doada de Jesus porque o poder da verdade-amor é mais forte do que a morte. Ele nos revelou o verdadeiro rosto de Deus capaz de doar o seu próprio Filho para que nós o conhecêssemos e o amássemos como Pai amigo amoroso. Essa é a verdade luminosa da cruz do “rei” Jesus, única força de quem procura escutar a sua voz. Por ser total, esse amor sempre será um incômodo para aqueles que fabricam as suas próprias verdades para adaptá-las aos seus interesses. Quantas vezes, em nossas orações, pedimos a Deus sucesso, riqueza e vida longa. Não tenhamos medo de ser pedintes da Verdade àquele que a quer nos doar. Ele mesmo é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).
Fonte: Diocese de Macapá