Cultura

O Papa: o trabalho infantil é roubar das crianças o seu futuro





O trabalho infantil “é a exploração das crianças nos processos de produção da economia globalizada para o lucro e ganho de outros. É a negação do direito das crianças à saúde, à educação e ao crescimento harmonioso, incluindo a possibilidade de brincar e sonhar. É roubar das crianças o seu futuro e, portanto, da própria humanidade. É uma violação da dignidade humana”, disse o Papa Francisco aos participantes da Conferência Internacional “Erradicar o trabalho infantil, construir um futuro melhor”

Raimundo de Lima – Vatican News

“A pobreza extrema, a falta de trabalho e o desespero resultante nas famílias são os fatores que mais expõem as crianças à exploração no trabalho. Se quisermos erradicar a chaga do trabalho infantil, temos que trabalhar juntos para erradicar a pobreza, para corrigir as distorções do sistema econômico atual, que centraliza a riqueza nas mãos de uns poucos.” “Todos os atores sociais são chamados em causa no combate ao trabalho infantil e às causas que o determinam.”

Foi o que disse o Papa Francisco ao receber em audiência na manhã desta sexta-feira (19/11) na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes, na parte da tarde desta sexta-feira, da Conferência Internacional “Erradicar o trabalho infantil, construir um futuro melhor”, promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Chaga do trabalho infantil

“A chaga do trabalho infantil, sobre o qual vocês hoje se encontram refletindo juntos, é de particular importância para o presente e o futuro da nossa humanidade. A forma como nos relacionamos com as crianças, a medida em que respeitamos sua dignidade humana inata e seus direitos fundamentais, expressa que tipo de adultos somos e queremos ser e que tipo de sociedade queremos construir”, disse o Papa.

O Pontífice foi enfático ao afirmar que “é chocante e perturbador que nas economias atuais, cujas atividades de produção são baseadas em inovações tecnológicas, tanto que falamos da ‘quarta revolução industrial’, o emprego de crianças em atividades de trabalho persista em todas as partes do globo.

“Isto coloca em risco a saúde delas, seu bem-estar mental e físico e as priva do direito à educação e de viver sua infância com alegria e serenidade. A pandemia agravou ainda mais a situação.”

Pequenas tarefas domésticas, trabalho infantil é outra coisa

A este ponto de seu discurso, o Santo Padre fez uma nítida e oportuna distinção. “O trabalho infantil não deve ser confundido com as pequenas tarefas domésticas que as crianças, em seu tempo livre e de acordo com sua idade, podem realizar no âmbito da vida familiar, para ajudar os pais, irmãos e avós ou outros membros da comunidade. Estas atividades são geralmente benéficas para o desenvolvimento delas, pois permitem que elas testem suas habilidades e cresçam em consciência e responsabilidade.

Dito isso, o Papa Francisco especificou que o trabalho infantil é uma questão totalmente diferente!

Uma violação da dignidade humana

“É a exploração das crianças nos processos de produção da economia globalizada para o lucro e ganho de outros. É a negação do direito das crianças à saúde, à educação e ao crescimento harmonioso, incluindo a possibilidade de brincar e sonhar. É roubar das crianças o seu futuro e, portanto, da própria humanidade. É uma violação da dignidade humana.”

Francisco afirmou que “precisamos encorajar os Estados e os atores do mundo empresarial a criar oportunidades de trabalho decente com salários justos que permitam às famílias satisfazer suas necessidades sem que seus filhos sejam forçados a trabalhar.”

“Devemos unir nossos esforços - prosseguiu o Papa - para favorecer uma educação de qualidade, gratuita para todos, em cada país, bem como um sistema de saúde que seja acessível a todos sem distinção.”

Um grande sinal de esperança

O Pontífice disse ainda que a participação nesta Conferência de representantes de organizações internacionais, da sociedade civil, das empresas e da Igreja é um sinal de grande esperança, fazendo em seguida uma premente exortação:

“Exorto o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que também é responsável pela promoção do desenvolvimento das crianças, a continuar neste trabalho de estímulo, de facilitação e de coordenação das iniciativas e dos esforços já em andamento em todos os níveis para combater o trabalho infantil.”

O Santo Padre concluiu agradecendo aos participantes e expressando-lhes seu reconhecimento pelo compromisso em favor desta causa “que é uma verdadeira questão de civilização”, encorajando-os a seguirem adiante, tendo sempre presente as palavras de Jesus no Evangelho: “Tudo aquilo que fizestes a um só destes pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40).

 

- O Papa: encontro e diálogo, estilo de vida que ajuda a crescer na amizade social

Depois de sublinhar a palavra diálogo, no centro da saudação do presidente da Academia Sueca, o Pontífice ressaltou que "a longa crise da pandemia está prejudicando a capacidade de dialogar com os outros".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (19/11), no Vaticano, os membros da Academia Sueca que anualmente premia os vencedores do Prêmio Nobel de Literatura.

Depois de sublinhar a palavra diálogo, no centro da saudação do presidente do organismo, o Pontífice ressaltou que "a longa crise da pandemia está prejudicando a capacidade de dialogar com os outros".

Isto certamente se deve tanto aos períodos de confinamento quanto ao fato de toda essa situação ter afetado as pessoas, muitas vezes de forma inconsciente. Cada um se encontra um pouco mais distante do outro, um pouco mais fechado, talvez mais desconfiado; ou simplesmente estamos menos inclinados a nos encontrar, a trabalhar lado a lado, com a alegria e o esforço de construir algo juntos. Portanto, a primeira coisa é tomar consciência desta realidade, que ameaça cada um de nós como pessoas, enfraquecendo a nossa capacidade de relacionamento e empobrecendo a sociedade e o mundo. Mesmo não intencionalmente, esta tendência pode levar à cultura da indiferença.

Segundo o Papa, "a prática cotidiana do encontro e do diálogo" é "um estilo de vida que não vira notícia, mas ajuda a comunidade humana a ir adiante, a crescer na amizade social", conforme indicado no sexto capítulo da Encíclica Fratelli tutti, "Diálogo e amizade social".

Aos acadêmicos, que atribuem os prestigiosos Prêmios Nobel, o Papa partilhou "esta escolha do diálogo social como via principal para uma nova cultura".

O desenvolvimento penetrante das redes sociais corre o risco de substituir o diálogo com uma multiplicidade de monólogos, muitas vezes com tons agressivos. Em vez disso, o diálogo social "pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro", com sinceridade e sem dissimulação.

"Diálogo não é sinônimo de relativismo, ao contrário, uma sociedade é tanto mais nobre quanto mais cultiva a busca da verdade e está enraizada em verdades fundamentais, quando reconhece que «todo ser humano possui uma dignidade inalienável». Este princípio pode ser compartilhado por todos", disse ainda Francisco.

"Com base nisso, somos chamados a promover a cultura do encontro", disse ainda o Papa, concluindo com um trecho da Encíclica Fratelli tutti: «Armemos os nossos filhos com as armas do diálogo! Ensinemos-lhes a boa batalha do encontro!»

 

- Dia da Pesca, Turkson: agir juntos para deter as violações dos direitos humanos

Numa mensagem em vista do domingo, 21 de novembro, o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral recorda com preocupação e urgência a dramática situação de abusos sofridos pelos pescadores em todo o mundo. Insegurança, prisão e exploração: este setor fornece alimento para uma grande parte do mundo, não pode ser abandonado.

Gabriella Ceraso – Vatican News

Ainda há muitas violações dos direitos humanos no mar. Outro apelo aos organismos internacionais, aos governos e empresas para detê-las: se não intervirmos, poderá ser mais difícil erradicar os abusos que ocorrem e o custo humano e econômico seria muito elevado para a indústria.

É este o centro da mensagem que o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral escreve em vista do Dia Mundial da Pesca celebrado no domingo, 21 de novembro. A sua atenção, em particular este ano, se dirige ao campo comercial e industrial. Recorda as palavras do Papa Francisco dirigidas, em julho de 2019, aos participantes do Encontro Europeu de Stella Maris: “... sem os pescadores, muitas partes do mundo morreriam de fome”.

O cardeal Peter Turkson, em linha com o propósito do Dia desde a sua criação em 1998, chama fortemente a atenção para o modo de viver do setor que emprega o maior número de trabalhadores e gera um dos produtos alimentícios mais processados ​​do mundo: o peixe.

"Entrar no mundo destes trabalhadores", observa o cardeal, "é aventurar-se 'num mar vasto e profundo', constituído por diferentes etnias e nacionalidades, por pessoas que navegam sem descanso para responder às 'necessidades insaciáveis ​​do nosso mundo'. Hoje, a pesca comercial e industrial está 'envolvida numa teia de dificuldades e desafios' ligados tanto à violação de direitos quanto à pandemia".

Uma vida de solidão e exploração do trabalho

Mas é nos direitos que o prefeito se detém, porque "apesar das convenções e dos esforços internacionais, quando os pescadores saem das águas do porto, a quilômetros e quilômetros da terra firme, sem poder desembarcar às vezes há anos, tornam-se reféns de circunstâncias extremamente difíceis de fiscalização". São elas: "turnos intermináveis ​​de dia e de noite para pescar o máximo possível, em qualquer condição climática", de cansaço e lesões, basta pensar que há mais de 24 mil mortes em um ano, uma "indústria de pesca mortal", pela qual as famílias não recebem nenhuma indenização, sem falar no fato de que os corpos muitas vezes são sepultados no mar sem afeto ou cuidado.

Segurança ausente a bordo e fora

O capítulo da segurança no mar, também pelo fato de as tripulações das frotas ultrapassarem os 20 anos, deveria estar no topo das preocupações dos proprietários e dos governos, mas não é assim, explica o cardeal, citando "condições desumanas a bordo", "cozinhas e despensas sujas", "reservatórios de água enferrujados", "água potável limitada e alimento de má qualidade e inadequado". Soma-se a isso o risco de “confrontos armados com os militares que patrulham as fronteiras nacionais” quando, por falta de estoques pesqueiros, os barcos pesqueiros têm de ir além do confim. Nesses casos, eles enfrentam desde prisões e sequestros, salários atrasados ​​e dificuldades de repatriação.

Silêncio imposto e salários retidos

Outro grave problema no setor pesqueiro que o cardeal Turkson chama a atenção do mundo nesta mensagem é a remuneração: salários não proporcionais ao número de horas trabalhadas; horas extras não pagas, parte dos salários retidos pelo mediador até o vencimento do contrato trienal. "Desta forma", escreve o prefeito do Dicastério, "os pescadores são obrigados a se calar e a não reclamar às autoridades, se não querem perder o dinheiro que a agência retém".

Pesca ilegal e tráfico para atender às necessidades do mundo

"Quanto mais cresce a demanda mundial, mais crescem os abusos e as injustiças porque", continua o cardeal, "para compensar o lucro da pesca, reduzido por causa da intensa concorrência de muitas frotas que pescam cada vez menos peixes, os donos de barcos de pesca sem escrúpulos praticam a pesca ilegal" e outras "atividades criminosas transnacionais, como tráfico de pessoas, escravidão, bem como contrabando de drogas e armas".

Precisamos agir juntos e rápido

Eis o apelo sincero da Igreja católica: embora reconhecendo "algumas melhorias nas condições humanas e de trabalho dos pescadores", ainda existem muitas violações dos direitos humanos no mar. É necessário detê-las agora através de uma rede de colaboração internacional. Trata-se de problemas interligados, mas se não agirmos juntos "para criar uma indústria pesqueira em que os direitos humanos e trabalhistas dos pescadores sejam garantidos e apoiados, poderá ser mais difícil erradicá-los e o custo humano e econômico seria muito elevado para a indústria".

A este respeito, o purpurado recorda não só do Evangelho e do Magistério da Igreja católica que "o respeito por estes direitos é condição preliminar para o desenvolvimento social e econômico de um país, mas também que, como está escrito na Encíclica Fratelli tutti, "Viver indiferente à dor não é uma escolha possível". Por fim, o purpurado deseja que da indignação passemos à ação, para que "no centro da indústria da pesca haja o respeito pelos direitos humanos e trabalhistas" e para que no caminho da vida dessas pessoas haja sempre o acompanhamento espiritual e material dos capelães e voluntários de Stella Maris que encontram em seus rostos o rosto de Jesus Cristo sofredor.

Fonte: Vatican News