Cotidiano

Percentual de brasileiros com renda do trabalho cai ao menor nível em quase 10 anos





Pandemia reduz parcela para 40,1% da população em 2020, diz IBGE

Sob efeito da crise gerada pela Covid-19, o percentual de brasileiros com renda do trabalho caiu em 2020 para o menor nível de uma série histórica iniciada em 2012.

O resultado foi divulgado nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Conforme o instituto, o número de pessoas que possuíam rendimento do trabalho recuou em 2020 para 84,7 milhões no país. A quantia foi equivalente a 40,1% da população residente.

O percentual é o mais baixo desde o começo da série com recorte anual. Em 2019, período pré-pandemia, a marca havia sido de 44,3% (ou 92,8 milhões).

Os dados integram a pesquisa Pnad Contínua 2020: Rendimento de todas as fontes.

O levantamento analisa recursos obtidos pela população a partir de diferentes meios —atividades profissionais, programas e benefícios sociais, entre outros.

Segundo o IBGE, o quadro de 2020 reflete os estragos da pandemia no mercado de trabalho. Isso ocorreu porque a chegada do coronavírus, no primeiro trimestre do ano passado, forçou restrições a atividades econômicasem estados e municípios.

A paralisação de negócios fez trabalhadores perderem renda com suas atividades, de caráter formal ou informal.

Diante das dificuldades impostas pela Covid-19, mais pessoas passaram a depender de programas de transferência de renda, como o auxílio emergencial.Os números do IBGE também ilustram esse quadro.

Em 2020, o percentual de brasileiros com rendimento de outras fontes subiu para 28,3% (59,7 milhões). É a maior taxa da série histórica. Em 2019, o percentual era de 23,6% (49,5 milhões).

O rendimento de outras fontes é caracterizado por contemplar diferentes tipos de recursos.

Em 2020, os principais foram aqueles descritos como outros rendimentos, que incluem os programas sociais como o auxílio emergencial, do governo federal, além de iniciativas lançadas por prefeituras ou municípios.

As outras fontes também englobam aposentadorias e pensões. Entre 2012 e 2019, elas tinham o maior peso entre os componentes das outras fontes, mas foram ultrapassadas pelos outros rendimentos em 2020. O auxílio emergencial ajuda a explicar isso.

"O mercado de trabalho teve problemas no ano passado. O colchão criado pelo auxílio emergencial segurou um pouco a renda. Aumentou o peso das outras fontes", explicou Alessandra Brito, analista do IBGE.

Nordeste tem maior percentual de outras fontes

A Pnad ainda traz o recorte das cinco grandes regiões brasileiras. O Nordeste é a única onde o percentual da população com rendimento de outras fontes superou o da renda do trabalho.

Segundo o IBGE, essa situação também reflete o grande peso que programas como o auxílio emergencial tiveram no ano passado.

No Nordeste, o percentual da população com rendimentos de outras fontes subiu para 32,8% em 2020. Trata-se do maior do país.

Enquanto isso, o percentual da população nordestina com renda do trabalho recuou para 32,3%. É o mais baixo do Brasil.

"O Nordeste foi a primeira grande região do país, em toda a série da Pnad Contínua, a registrar um percentual de pessoas com rendimento de trabalho (32,3%) inferior ao das pessoas que recebiam rendimento de outras fontes (32,8%)", afirma o IBGE.

O Sul, por outro lado, voltou a registrar, em 2020, a maior parcela da população com ganhos a partir de atividades profissionais.

O percentual de pessoas com renda do trabalho foi de 46% na região. Já o de outras fontes foi estimado no Sul em 26,8%.

No Sudeste, o percentual da população com renda do trabalho foi de 43,3%. Já o de outras fontes chegou a 27,2%.

O Centro-Oeste, por sua vez, teve percentual de 44,1% em relação à renda do trabalho. A porcentagem de outras fontes foi de 23,9%.

No Norte, esses percentuais foram estimados em 36,2% e 26%, respectivamente.

O IBGE afirma que a pesquisa divulgada nesta sexta já incorpora uma reponderação feita nos números da série histórica. Essa revisão foi necessária diante das mudanças impostas pela Covid-19 no processo de coleta de informações.

Durante o ano passado, o instituto teve de suspender entrevistas presenciais da Pnad e passar a apurar dados por telefone. A alteração reduziu a taxa de aproveitamento da amostra de entrevistados.

A reponderação, indica o instituto, garante a comparação das informações mais recentes com os resultados dos anos anteriores.

O estudo do IBGE ainda aponta que, em 2020, as pessoas que faziam parte da parcela de 1% da população com renda mais elevada no país tinham rendimento domiciliar per capita de R$ 15.816. Esse valor equivale a 34,9 vezes o rendimento da metade da população com os menores ganhos (R$ 453).

A diferença já foi até maior. Em 2019, houve o pico da série histórica (40 vezes).

O índice de Gini, que mede a concentração de renda e a desigualdade, recuou de 0,544, em 2019, para 0,524, em 2020. Foi a maior queda da série histórica do indicador.

Quanto mais próximo de zero, maior a igualdade de renda entre a população do país. O IBGE, contudo, sugere cautela na interpretação do resultado.

Com a chegada da pandemia, profissionais com rendimentos do trabalho menores foram atingidos em cheio e saíram do mercado. Recursos de programas como o auxílio emergencial compensaram a perda de quem ganhava menos, tornando a distribuição menos desigual.

Ou seja, por trás do resultado, não houve uma melhora nas condições do mercado de trabalho.

 

Concentração cai, mas 1% mais rico ganha 35 vezes renda dos 50% mais pobres

Apesar da pandemia, a concentração de renda no Brasil em 2020 caiu ao menor patamar dos últimos seis anos. No ano passado, o 1% mais rico da população recebeu, em média, 34,9 vezes a renda da metade mais pobre. Enquanto a parcela mais abastada ganhou uma média de R$ 15.816 por mês, per capita, os mais vulneráveis receberam R$ 453. Em 2019, a relação havia ficado em 40 vezes.

A redução da concentração se deve principalmente ao pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 (ou R$ 1.200, no caso de mulheres chefes de família) a trabalhadores informais que ficaram sem serviço na pandemia. Depois, o valor foi reduzido para R$ 300. Em muitos casos, o auxílio fez a renda do trabalhador superar a que ele tinha antes.

Com isso, o Índice de Gini no Brasil melhorou, caindo de 0,506 em 2019 para 0,500 em 2020. No índice, que vai de zero a um, usado para medir a desigualdade social, quanto mais perto de zero, maior a igualdade. Desde 2017, o Brasil não atingia esse patamar.

Os dados foram divulgados hoje e são parte da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o IBGE, "a desigualdade medida pelo Gini se reduziu em todas as grandes regiões, sobretudo no Norte e Nordeste, regiões onde o recebimento do auxílio emergencial atingiu maior proporção de domicílios."

Na comparação com 2019, houve queda de 9,4% (R$ 1.632) nos rendimentos médios do 1% mais rico da população. Conforme a pesquisa mostra fatias mais pobres, porém, há aumento nos rendimentos. O maior, percentualmente, foi para os brasileiros que estão entre os 5% e os 10% dos mais pobres. A renda deles subiu 17,6% em 2020, indo para R$ 200 por mês.

Com auxílio, programas sociais chegam a 23,7% das casas

A pesquisa mostra que 23,7% das casas brasileiras receberam recursos de programas sociais em 2020, como o auxílio emergencial. Em 2019, o índice era de 0,7% —não é especificado que benefício era ofertado nesse ano.

Os 23,7% desconsideram dois programas sociais: o Bolsa Família e o BPC(Benefício de Prestação Continuada). Na comparação com 2019, esses dois benefícios registraram queda no ano passado. No caso do Bolsa Família a redução pode ser explicada pela migração automática dos beneficiários para o auxílio emergencial, nos casos em que o auxílio era mais vantajoso.

No Bolsa Família, o percentual de casas que recebiam a quantia caiu de 14,3%, em 2019, para 7,2%, no ano passado. Já no BPC a queda foi menor: de 3,5% para 3,1%.

Renda média no Brasil é a menor desde 2012

Ainda que a concentração de renda tenha diminuído, o rendimento médio mensal da população brasileira, como um todo, também caiu, atingindo R$ 2.213 no ano passado, o menor patamar desde 2012. É 3,4% a menos que em 2019. O valor é referente a brasileiros com rendimentos, nos quais se considera todo tipo de fonte de renda.

A redução ocorreu no Distrito Federal e em 18 estados. O Distrito Federal foi onde houve a maior diminuição, de R$ 250, seguido de Roraima (R$ 207), Espírito Santo (R$ 176), Rio de Janeiro (R$ 166), Mato Grosso do Sul (R$ 132), Paraná (R$ 120) e São Paulo (R$ 113). Por outro lado, outros oito Estados apresentaram rendimento maior.

Coleta de dados passou por alteração

Devido à pandemia, o IBGE alterou a forma de coleta de dados — de presencial para exclusivamente por telefone — a partir do segundo semestre de 2020. Segundo nota técnica do órgão, a mudança ocorreu pela "segurança tanto dos entrevistados quanto dos entrevistadores".

Porém, o novo método provocou uma "redução considerável" na taxa de aproveitamento da pesquisa, ainda conforme o IBGE. Para o levantamento, há um esquema de rotação de domicílios consultados. Quando uma casa é consultada, fica dois meses seguidos de fora da amostra.

O problema é que não havia telefone de contato em parte dos endereços. Com isso, a amostra (número de pessoas entrevistadas) diminuiu.

O IBGE diz que investiu em "técnicas de pareamento de dados" e "esforço das equipes regionais" para obter os telefones das residências selecionadas.

Sem dados por sexo, raça e idade

Além da mudança na coleta de dados, a pesquisa também não apresenta detalhamento por sexo e faixa etária. Segundo o IBGE, a decisão de não apresentar os dados decorre da falta de um Censo Demográfico recente.

"A equipe técnica entendeu que era oportuno aguardar pelos totais populacionais do próximo Censo Demográfico, que seriam menos defasados do que a utilização dos resultados do Censo de 2010."

Os dados da Pnad Contínua serão recalculados após o próximo Censo.

A pesquisa também não tem dados por raça.

 

- Rendimento médio do brasileiro em 2020 é o menor desde 2012

 

Segundo IBGE, ganho médio mensal real de todas as fontes no país caiu de R$ 2.292, em 2019, para R$ 2.213 em 2020

 

O rendimento médio mensal real do brasileiro teve queda recorde de 3,4% em 2020, atingindo seu menor valor desde 2012. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (19/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

 

Com a pandemia, o rendimento mensal médio real de todas as fontes do país caiu de R$ 2.292 em 2019, para R$ 2.213 em 2020. Este é o menor valor registrado pela série histórica — iniciada em 2012 — desde 2013, quando ficou estimado em R$ 2.250.

 

A maior parte das fontes de renda registrou queda. A mais intensa foi notada entre as chamadas “outras fontes”, que englobam aposentadorias, pensão e aluguéis.

 

Já o rendimento médio mensal habitualmente recebido de todos registrou aumento em 2020, devido à saída de 8,1 milhões de pessoas do mercado de trabalho — a maioria delas recebia rendimentos mais baixos, assim com a elevação dessa média.

 

O total de pessoas com rendimento de trabalho recuou de 92,8 milhões para 84,7 milhões, representando redução de 44,3% para 40,1% da população. Já o número de pessoas que recebiam outros rendimentos subiu de 16,4 milhões, em 2019, para 30,2 milhões, em 2020, com um aumento de 6,5%.

 

Ainda segundo o IBGE, dos 211,1 milhões de brasileiros, 128,7 milhões (ou 61%) tinham algum tipo de rendimento.

 

Diferenças regionais

 

O maior valor do rendimento médio mensal real foi percebido no Sudeste (R$ 2.575). O menor, no Nordeste (R$ 1.554). Por outro lado, o Sudeste também foi o que registrou maior queda nesse quesito (-4,7%); já no Sul (-4,3%) o recuo foi mais intenso que a média nacional. O Centro-Oeste (-3,3%) acompanhou a média do país; a região Norte, por sua vez, registrou estabilidade do indicador, enquanto o Nordeste apresentou aumento de 1%.

 

 

 

Fonte: UOL - Folha - Correio Braziliense