Economia

Dólar emenda 3ª alta, a R$ 5,524; Bolsa cai ao menor nível em mais de 1 ano





O dólar comercial fechou a quarta-feira (17) em alta de 0,45%, cotado a R$ 5,524 na venda. É o terceiro dia seguido de ganhos para a moeda americana, que ontem já havia registrado valorização de 0,78% frente ao real.

O Ibovespa, em contrapartida, chegou a sua terceira baixa consecutiva, todas acima de 1%. Hoje, o tombo foi de 1,39%, levando o principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3) aos 102.948,45 pontos — menor patamar em mais de um ano, desde 12 de novembro de 2020 (102.507,01 pontos).

Mesmo com o resultado da sessão, o dólar ainda registra perdas de 2,16% frente ao real em novembro, enquanto o Ibovespa acumula queda de 0,53%. No ano, porém, a moeda americana tem valorização de 6,47% e o indicador, baixa de 13,5%.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

EUA e incertezas desafiam câmbio

À Reuters, Alexandre Almeida, economista da CM Capital Markets, disse haver um cenário cada vez mais desafiador para o mercado de câmbio local, tanto por fatores internacionais quanto por ruídos domésticos.

De um lado, ele citou os dados positivos sobre as vendas no varejo dos Estados Unidos, divulgados ontem, que alimentaram expectativas de alta dos juros pelo Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) já em 2022, principalmente diante da inflação alta. Este cenário tornaria investimentos em dólar mais atrativos, o que também beneficiaria a moeda globalmente.

De outro, no Brasil, há uma preocupação cada vez maior com a saúde das contas públicas, em meio à tramitação da PEC dos Precatórios no Congresso. Almeida explicou que, embora muitos participantes do mercado enxerguem a proposta como possível alívio para as incertezas fiscais, "o fato é que a questão fica mais sensível com [a inclusão dos] servidores na conta pelo presidente Jair Bolsonaro [sem partido]".

Ontem, Bolsonaro disse que a aprovação da PEC abriria espaço para conceder reajuste aos servidores públicos federais — uma resposta ao congelamento dos salários e à inflação. Mas o próprio relator do Orçamento de 2022, deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ), disse não haver dinheiro para um aumento deste porte no ano que vem.

"Não sei de onde ele [Bolsonaro] tirou isso. Não está no nosso cálculo", afirmou Leal em entrevista a O Estado de S. Paulo.

O que é a PEC dos Precatórios?

A PEC dos Precatórios é vista por alguns participantes do mercado como a alternativa menos danosa à saúde fiscal do país em meio à pressão do governo Bolsonaro por mais gastos com benefícios sociais em 2022, ano em que o presidente deve tentar a reeleição.

Além de adiar o pagamento de precatórios — dívidas judiciais da União —, a PEC também muda a dinâmica do teto de gastos. O texto prevê que o limite seja determinado não mais pela inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior, como é hoje, mas pela taxa apurada nos 12 meses até dezembro do ano anterior.

Na prática, as mudanças trazidas pela PEC abrem espaço de R$ 91,6 bilhões para gastos em 2022, segundo o governo federal. Essa "folga" no Orçamento do ano que vem viabilizaria o pagamento do Auxilio Brasil, substituto do Bolsa Família. O novo programa prevê pagar R$ 400 a famílias vulneráveis até o fim de 2022 — ano de eleição —, e, por isso, é considerado como "eleitoreiro" pela oposição.

A proposta já passou por duas votações na Câmara. Na primeira, teve 312 votos favoráveis e 144 contrários; na segunda, o placar foi de 323 a 172. O mínimo necessário era 308.

Agora, o texto vai para o Senado, onde precisa de pelo menos 49 votos favoráveis, também em dois turnos, para entrar em vigor.

Fonte: UOL com Reuters