Cotidiano

Área de alertas de desmatamento na Amazônia em outubro é a maior para o mês em cinco anos





Segundo o Inpe, o dado é recorde da série histórica; na COP26, Ministério do Meio Ambiente se empenha em destravar negociações sobre mercado global de carbono

A área de alertas de desmatamento em outubro foi a maior para o mês em cinco anos, como mostram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira (12), em meio às negociações finais da COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia.

Segundo o sistema Deter, que é o levantamento de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia feito pelo Inpe, 877 km² de floresta tombaram na Amazônia – um aumento de 5% em relação a outubro de 2020.

É o recorde de outubro na série histórica iniciada em 2016.

O governo brasileiro anunciou durante a COP26 que vai aumentar a meta de redução de gases poluentes de 43% para 50% até 2030, além da possibilidade de antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028, e alcançar uma redução de 50% até 2027.

A ideia, conforme anúncio do governo brasileiro, é que haja uma diminuição gradual da destruição da floresta em 15% ao ano entre 2022 e 2024, subindo para 40% de redução em 2025 e 2026, até alcançar desmatamento zero em 2028.

O governo ainda não divulgou o Prodes deste ano – que é o dado oficial do desmatamento, também medido pelo Inpe, que costuma estar disponível no começo de novembro.

O Observatório do Clima, uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira para discutir mudanças climáticas, não acredita nas promessas feitas nos últimos dias pelo governo brasileiro, na COP26, que será encerrada entre hoje e amanhã.

“As emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow. É o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP26”, contesta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

CNN entrou em contato com Ministério do Meio Ambiente para comentar esses dados, e a assessoria de imprensa mencionou que no momento “o ministro Joaquim Leite está empenhado em destravar as negociações sobre mercado global de carbono”.

 

Confira outras notícias: 

- COP26 entra em dia final com expectativa de prorrogação para últimas negociações

Cúpula do clima realizada em Glasgow deve resolver temas travados, como o fundo para países em desenvolvimento e o mercado de carbono

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) tem fim previsto oficialmente para esta sexta-feira (12), quando é esperado um texto que abranja quais foram os acordos consensualmente atingidos pelos países participantes.

No entanto, a expectativa de especialistas ouvidos pela CNN é que haja um alongamento dos debates para aparar as últimas arestas de temas ainda em debate, como o fundo de países desenvolvidos para ajudar nações em desenvolvimento a reduzir emissões, além da apresentação das linhas gerais de um mercado de carbono global.

CNN também procurou, para comentários sobre a conclusão da COP26, a cúpula do governo federal que chefia as negociações do Brasil em Glasgow, mas não recebeu retorno até o fechamento desta reportagem.

No calendário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), para hoje estão agendados apenas a plenária final da cúpula e debates paralelos entre membros da sociedade civil que compareceram à conferência. Segundo pessoas presentes na COP de Glasgow, na Escócia, o clima dos corredores já é de despedida.

Por outro lado, diversas reuniões “a portas fechadas” acontecem entre os negociadores dos grupos existentes na conferência – que debatem separadamente para, depois, enviarem seus textos para a mesa diretora da COP26.

Neste momento, os representantes dos países apontam possíveis inconsistências, expressões e termos que podem desagradar os respectivos interesses nacionais e quais são suas exigências para que se atinja o almejado consenso. Segundo as regras da COP, é preciso que todos os países concordem com a versão final.

“Esse é um momento decisivo. Alguns grupos de trabalho temáticos já foram concluídos e submeteram seus textos para o secretariado, e outros ainda não”, explica Márcio Astrini, diretor-executivo do Observatório do Clima que acompanha o momento final da COP.

“Existe a produção de um ‘draft [rascunho] final’, com todos os assuntos e o que os países concordam em colocar ali como um entendimento. Ainda assim, há países que vão discordar do que foi posto. Eles colocam as opções levantadas no texto entre colchetes”, diz.

“Os textos mostram o que é discutido, negociado e o que pode ou não ficar de entendimento, enquanto a quantidade de colchetes que eles têm demonstra o quanto o assunto está perto ou não de ser finalizado”, pontua.

Carlos Rittl, especialista sênior em política ambiental da Rainforest Foundation da Noruega, acredita que a COP26 seja alongada pela madrugada ou até a manhã de sábado. Essa não seria a primeira vez que isso acontece, recorda ele, e essa situação era esperada para uma reunião que foi o primeiro encontro presencial das nações sobre decisões climáticas depois de quase dois anos de pandemia de Covid-19.

“Acho muito difícil que a COP termine nesta sexta. Algumas COPs se estenderam na noite e madrugada de sexta para sábado, mas, como os assuntos são grandes e com repercussão por muito tempo, essa COP pode se estender por mais um dia”, disse Rittl.

Divergências

Apesar dos pontos ainda em aberto, a presidência da COP26 publicou uma versão preliminar do trabalho final da cúpula na quarta-feira (10). Entre os pontos de destaque, está o reconhecimento de que o mundo deveria ter como objetivo limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

Se aceito por todos os participantes, o texto seria o primeiro forte reconhecimento de que 1,5ºC é o limite que o mundo deve almejar, o que exigirá metas mais ambiciosas das nações. Isso porque, em 2015, o Acordo de Paris estabelecia que os países procurariam limitar o aquecimento a 2ºC, com a menção de que seria “preferível” se a meta fosse 1,5ºC.

Mas alguns países ainda levantam dúvidas sobre a discussão. A Bolívia, por exemplo, fez uma fala contra a tentativa da presidência da COP26 de “mudar o Acordo de Paris”. Para o representante do país latino, obrigar que todos os países alcancem metas como a emissão zero de carbono até 2050 seria ignorar “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”.

 

Essa visão se reflete em outro dos pontos ainda enroscados nas salas de negociação: o financiamento climático advindo dos países ricos. Há mais de 10 anos se fala de um fundo de US$ 100 bilhões para dispor recursos, às nações pobres e em desenvolvimento, que ajudassem na implementação de tecnologias que reduzissem a emissão de carbono na atmosfera.

O ministro do Meio Ambiente brasileiro, Joaquim Leite, abordou o tema em um discurso feito em Glasgow na quarta-feira.

De acordo com ele, são necessários volumes mais ambiciosos do que os US$ 100 bilhões, além de fácil acesso e execução ágil, para que a transformação ocorra de forma inclusiva em cada território ao redor do mundo.

Leite argumentou que não é possível que os países continuem a “postergar ainda mais um compromisso assumido em 2015 e até o momento não realizado em sua plenitude”, afirmou.

Além disso, também há expectativas para o que deve consolidar os entendimentos sobre o Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do mercado de carbono.

Esse artigo estabelece que países podem criar mecanismos para “negociar” emissões de carbono e, dessa forma, colaborar para que todos alcancem suas metas. Assim, nações que emitem mais poluentes por possuírem uma base energética de termelétricas, por exemplo, poderiam pagar “créditos” a outra nação para que o recurso seja investido na preservação de florestas, grandes captadoras de carbono na atmosfera.

Segundo Carlos Rittl, os principais pontos a serem discutidos são os chamados “mecanismos de mercado”, que devem estabelecer regras para que o mesmo carbono “sequestrado” da atmosfera não seja contabilizado nas metas dos dois países que o negociam. Além disso, deve ser determinado o que será feito com créditos de carbono negociados antes do Acordo de Paris.

Alguns países tinham a intenção de fazer com que o carbono compensado no passado valesse entre os esforços mais recentes de emissões de gases, mas Márcio Astrini afirma que a pauta, neste momento, deve ser destravada dessas antigas exigências – feitas, inclusive, pelo Brasil.

Segundo fontes ouvidas pela CNN, o clima na delegação brasileira é de otimismo com relação à aprovação do Artigo 6, que regulamenta o mercado de carbono, mas não em relação a outros artigos ligados à transparência, contabilidade das metas e financiamento para adaptação e mitigação

A discussão agora estaria apenas direcionada para transição de metodologias do Protocolo de Kyoto para o Acordo de Paris. E o Brasil está aberto a negociar considerando fazer concessões para aprovação do texto sobre créditos de carbono.

Vitórias e fracassos da COP26 até agora

Desde o dia 31 de outubro, a COP26 conseguiu articular alguns novos acordos ou compromissos vistos como promissores pela comunidade internacional. Outros, por sua vez, não avançaram em direção ao consenso necessário. Relembre os principais:

EUA e China 

A mais recente movimentação positiva foi um acordo “surpresa” entre a China e os Estados Unidos, os dois maiores poluidores do mundo, apresentado na quarta-feira (10) à noite.

Ele incluiu a intenção de ambos países apresentarem novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) em 2025, colaborarem abertamente na redução da emissão de metano na atmosfera e considerarem, em conjunto, que a década que se encerra em 2030 é o momento de ação para assuntos envolvendo as mudanças climáticas.

Em COPs passadas, a relação entre os chineses e os norte-americanos em relação a quem deveria “pagar a conta” das emissões de carbono gerou atrasos no estabelecimento de ambições em nível global.

Carros net-zero 

Também na quarta, a presidência da COP26 do Reino Unido queria que os governos, fabricantes e investidores prometessem “trabalhar para que todas as vendas de carros e vans novos tenham emissão zero em todo o mundo até 2040, e o mais tardar em 2035 nos principais mercados”.

No entanto, esse movimento foi frustrado de obter sucesso completo. Alemanha, China, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos não assinaram a declaração. Toyota, Volkswagen, BMW e Nissan também se abstiveram.

Empresas como a Ford e a General Motors concordaram, assim como a Jaguar Land Rover, Mercedes-Benz e Volvo. Entre os países, estados e cidades que se inscreveram estavam Reino Unido, Canadá, Polônia, Quênia, Índia, Território da Capital da Austrália, Catalunha, Atlanta, San Diego, Nova York, São Francisco e Seul.

Acordo sobre carvão

Ao menos 77 países concordaram em encerrar o financiamento de projetos de combustíveis fósseis no exterior em um acordo anunciado no 4º dia da COP26.

As nações já debatiam encerrar o financiamento internacional para o carvão, mas o acordo foi o primeiro do tipo a incluir também projetos de petróleo e gás.

Apesar de China, Índia e EUA serem os maiores emissores de carvão do mundo, os três países não entraram na aliança. Em um movimento paralelo, os EUA, Reino Unido, França, Alemanha e União Europeia anunciaram que ajudarão a financiar a transição da África do Sul contra o carvão.

União para diminuir emissão de metano

Cento e três nações assinaram uma promessa global de reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, um resultado anunciado logo no 2º dia da COP26. O Brasil é um dos signatários da resolução.

Aço (quase) verde

Nos primeiros dias de COP também foi anunciado que mais de 40 países, incluindo Reino Unido, Estados Unidos, Índia, China e União Europeia, apoiaram o primeiro compromisso internacional de atingir uma produção de aço com emissão “quase zero” até 2030.

Acordo sobre florestas 

Cento e dez países, incluindo o Brasil, se comprometeram com o fim do desmatamento até 2030. O acordo sela o comprometimento por ações coletivas para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo até o fim da década.

Novas metas

Alguns países aproveitaram a COP26 para atualizar suas metas internas de redução de carbono na atmosfera.

O Brasil, por exemplo, prometeu reduzir 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e neutralizar as emissões de carbono até 2050, segundo anunciado por Joaquim Leite no dia 1º de novembro. A meta anterior prometia 43% de redução em 2030.

No entanto, há controvérsias sobre o cálculo feito pelo governo – já que o ano-base considerado no cálculo, que é 2005, teve um reajuste recente que permitiria com que o Brasil emitisse proporcionalmente mais neste momento; entenda.

Além do Brasil, os Estados Unidos aumentaram de 26% para 50% a meta de redução de gases estufa até 2030, e a União Europeia prometeu um salto de 28% para 55%. Já o Reino Unido subiu as ambições de 68% para 78% de redução até o fim da década.

 

- COP 26: Novo rascunho de acordo mantém referência inédita a combustíveis fósseis

Texto foi atenuado, em comparação com primeiro esboço apresentado na quarta-feira (10), após pressão de produtores de carvão, petróleo e gás

Uma nova versão do rascunho do acordo COP26 foi publicada na manhã desta sexta-feira (12) e mantém uma referência sem precedentes aos combustíveis fósseis, apesar de uma ampla campanha dos principais produtores de carvão, petróleo e gás para sua remoção completa.

O conteúdo deste rascunho, no entanto, é mais fraco do que a anterior, usando uma linguagem mais atenuada que, em alguns casos, pode estar aberta a diferentes interpretações.

O rascunho foi divulgado no último dia da Cúpula do Clima em Glasgow, realizada ao longo de quase duas semanas, mas ainda não é o texto final – é necessário que todas as 197 partes presentes concordem com ele, e é possível que outros trechos sejam atenuados.

Manter alguma menção aos combustíveis fósseis, no entanto, aumenta a pressão sobre os principais produtores de carvão, petróleo e gás, como Arábia Saudita, China, Rússia e Austrália, que tentam enfraquecer ou remover esse ponto, de acordo com duas fontes familiarizadas com as conversas.

Funcionários dos quatro países não responderam ao pedido da CNN para comentar o assunto.

A pressão sobre os produtores de combustíveis fósseis, no entanto, para que o tom do documento nessa questão não seja alterado está aumentado.

O novo texto da COP26 pede a aceleração da “eliminação progressiva da energia a carvão sem emissões compensadas e de ineficientes subsídios para os combustíveis fósseis”.

O acréscimo do termo “sem emissões compensadas” significa essencialmente que os países podem continuar a usar carvão se forem capazes de capturar grandes quantidades do dióxido de carbono que emitem.

O conceito é controverso, pois a tecnologia para capturar totalmente os gases do efeito estufa ainda está em desenvolvimento. E “ineficiente” também foi adicionado, deixando essa parte do acordo bastante aberta a interpretação.

No entanto, se alguma linha sobre combustíveis fósseis for mantida, seria o primeiro acordo climático da Conferência das Partes a fazer qualquer menção ao papel do carvão, petróleo e gás, os maiores contribuintes para a crise climática de origem humana.

“É sempre uma espécie de troca, equilíbrio. O fato de incluirmos a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis e o carvão no texto é realmente novo e importante”, disse Helen Mountford, vice-presidente de clima e economia da World Resources Institute, em um briefing.

“O fato de eles terem adicionado ‘sem emissões compensadas’ na frente do carvão e ‘ineficiente’ na frente dos subsídios aos combustíveis fósseis, em comparação com o texto de alguns dias atrás, definitivamente leva o texto negociado para um tom confortável de outros fóruns. Portanto, eu esperaria que alguns países como a Arábia Saudita estivessem pressionando para adicionar o ineficiente antes dos subsídios aos combustíveis fósseis.”

Embora seja um progresso no nível político, o acordo é muito mais fraco do que o que os cientistas dizem ser necessário para que o mundo contenha o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.

O mais recente relatório de ciências climáticas da ONU mostrou que o mundo precisa reduzir quase pela metade as emissões nesta década para manter esse limite dentro do alcance.

Diminuição do tom

A linguagem do novo projeto de acordo é mais suave em comparação com a primeira iteração em várias seções. Isso normalmente é esperado nas negociações climáticas, e o acordo final pode ser ainda mais fraco.

Enquanto o primeiro rascunho do acordo “instava” os países a voltarem com metas mais rígidas de corte de emissões até o final do ano que vem, o novo apenas “pede” que o façam.

E enquanto o primeiro rascunho “observou com séria preocupação” que o dinheiro fornecido aos países em desenvolvimento para lidar com a crise climática era insuficiente, o último rascunho apenas omite a palavra “séria”. A questão de quem deve pagar pelos impactos da crise tornou-se o principal obstáculo das negociações.

Os apelos para que os países mais ricos do mundo forneçam mais dinheiro se fortaleceram um pouco na segunda versão preliminar, no entanto, estabelecendo prazos mais específicos e exortando os países desenvolvidos a pelo menos dobrar a quantia de dinheiro transferida para o mundo em desenvolvimento até 2025 para ajudá-los a se adaptar à crise.

O dinheiro para adaptação havia se tornado o principal obstáculo para as negociações.

O rascunho de acordo desta sexta, publicado pela presidência da COP26, também mantém no texto o trecho que diz que o mundo deveria ter como objetivo limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.

O documento “reconhece que os impactos das mudanças climáticas serão muito menores no aumento da temperatura de 1,5°C em comparação com 2°C e resolve buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C”.

Para fazer isso, “reduções rápidas, profundas e sustentadas nas emissões globais de gases de efeito estufa” são necessárias, diz o documento.

Esse tom está em linha com os últimos dados da ciência, que mostram que o mundo deve limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais para evitar que a crise climática se agrave e se aproxime de um cenário catastrófico.

Uma análise publicada na terça-feira indicou que o mundo está no caminho para um aquecimento de 2,4 graus Celsius. Isso significaria que os riscos de secas extremas, incêndios florestais, inundações, aumento catastrófico do nível do mar e escassez de alimentos aumentariam dramaticamente, dizem os cientistas.

Fonte: CNN Brasil