Política

Pacheco: Brasil deve reconhecer desmatamento ilegal e fazer mea-culpa





O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse hoje (9), em Glasgow, na Escócia, que o Brasil precisa fazer um “mea-culpa” e reconhecer que o desmatamento ilegal “alarma o mundo” e gera uma crise de imagem do país perante a comunidade internacional.

“O problema maior é o desmatamento ilegal, que alarma o mundo e constitui uma narrativa consistente e forte em relação ao Brasil, o que faz com que tenhamos uma crise de imagem”, avaliou Pacheco ao participar do evento “O futuro verde está no Brasil”, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-26).

Ainda segundo Pacheco, esse cenário deve impor ao Brasil o diagnóstico e a identificação da realidade a ser transformada. “Todos nós temos esse compromisso: identificar o problema e reconhecer que estamos em rota de sua solução”, acrescentou o senador.

Ao lado do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, do vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), e do presidente da CNI, Robson de Andrade, o senador disse que o Brasil também tem méritos no combate às mudanças climáticas. Nesse sentido, ressaltou a aprovação de matérias pelo Congresso Nacional como o Marco Legal do Saneamento Básico e o projeto de lei que antecipa para 2025 a meta de redução da emissão de gases de efeito estufa pelo Brasil em 43%, tendo como referência o ano de 2005 (PL 1.539/21). O texto foi votado pelo Senado em outubro e atualmente tramita na Câmara dos Deputados.

A proposta apresentada pelo governo brasileiro à convenção, em dezembro de 2020, era de redução de 37% das emissões até 2025, e de 43% até 2030 – tendo sempre como base as emissões de 2005.

No início deste mês, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou uma nova meta de redução de emissões de gases do efeito estufa.

"Apresentamos hoje uma nova meta climática, mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030; e de neutralidade de carbono até 2050, que será formalizada durante a COP26", disse. 

Sociedade atenta

Outro ponto positivo, ressaltado por Pacheco, é o de que há sensibilidade da sociedade brasileira em relação ao clima e ao meio ambiente. “Há um amadurecimento da sociedade brasileira sobre o tema ambiental. E, antes disso, havia uma conscientização da imprensa nessa toada de aliar interesses de desenvolvimento econômico ao cuidado com o meio ambiente. Isso tornou-se uma realidade inafastável: são temas que só podem andar para a frente, e não mais para trás”, afirmou.

Recursos de países desenvolvidos

O presidente do Senado também defendeu que os países desenvolvidos assumam a responsabilidade na contribuição para preservar as florestas, principalmente, para socorrer países em desenvolvimento.

“Essas florestas, para serem preservadas, precisam da contribuição de todos os países, sobretudo, dos desenvolvidos, que se valeram, antecipadamente, do proveito das suas atividades econômicas com algum sacrifício do meio ambiente”, justificou. “Deve haver uma compensação entre os países desenvolvidos com os países em desenvolvimento”, disse.

“Não é uma desculpa. Nós sabemos das nossas responsabilidades, devemos combater desmatamento com mecanismos de controle, mas esses investimentos são fundamentais e justos, porque tem uma lógica de compensação histórica e não de altruísmo filantrópico”, disse.

Mercado de carbono

Ainda em Glasgow, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos, fez um apelo para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dê prioridade à votação o projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. O PL 528/2021 é de autoria de Ramos. “Não chegamos ao texto ideal, mas chegamos ao texto possível”, destacou o deputado.

Rodrigo Pacheco, por sua vez, afirmou que assim que chegar ao Senado, a proposta terá “a urgência merecida na análise”.

 

Confira outras notícias:

- Governo quer aumentar ações de promoção do agro brasileiro no exterior

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse hoje (9) que o governo quer recuperar e aumentar o número de ações presenciais e híbridas para promoção do agronegócio brasileiro no exterior.

Com a perspectiva de melhora das condições sanitárias da pandemia de covid-19, segundo ele, será possível ampliar a participação de pequenas e médias empresas em feiras internacionais no ano que vem.

“Em muitas embaixadas e consulados, queremos reforçar o modelo híbrido de encontros, com sessões de exposição e degustação de produtos seguidas de participação virtual de empresários brasileiros atuantes no setor”, explicou. “Creio que nossa meta tem que ser intensificar a prospecção de oportunidades e desafios em segmentos específicos. Essa prospecção auxiliada por estudos de mercado”, disse.

França participou, nesta terça-feira, da abertura da terceira edição do curso O Brasil no Agronegócio Global, realizado pelo Insper em uma parceria com a Fundação Alexandre Gusmão, vinculada ao Itamaraty. A capacitação é oferecida a diplomatas do Itamaraty, funcionários da Apex-Brasil, servidores do Ministério da Agricultura (Mapa) e instituições vinculados e servidores do Ministério da Economia.

De acordo com França, será importante a atuação desses servidores na concepção de iniciativas de inteligência e promoção comercial do setor no exterior.

“Essa é uma busca que temos feito no Itamaraty, fortalecer as sinergias entre a política comercial que elaboramos no Brasil e a promoção comercial que é conduzida no exterior, ao mesmo tempo em que estendemos a atuação do Itamaraty a temas do setor agrícola, como por exemplo, a reputação do agronegócio brasileiro e a projeção, no exterior, dos compromissos da produção agropecuária em consonância com a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável”, disse o ministro.

Segundo ele, a intensificação da atuação conjunta dos ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura resultou na abertura de 167 novos mercados no exterior a produtos brasileiros, desde 2019. A meta é superar a marca de 200 mercados abertos antes do final deste ano.

Para isso, de acordo com França, desde o ano passado o Itamaraty criou setores agrícolas com funcionários exclusivos para a promoção dos interesses do agronegócio brasileiro em 46 embaixadas e consulados. Esses setores dedicados se somam aos 120 setores de promoção comercial já existentes nas principais cidades do mundo.

De janeiro a julho deste ano, segundo o ministro, as exportações da agropecuária superaram US$ 70 bilhões, o maior valor da série histórica para o período. Apenas em agosto de 2021, foram US$ 10,9 bilhões, acima do recorde registrado em agosto de 2013, de US$ 10,1 bilhões.

Capacitação

O objetivo do curso é apresentar uma visão ampla dos principais desafios que envolvem o agronegócio brasileiro em um contexto de transformações e novas exigências globais. Foram selecionados 45 participantes: 22 do Itamaraty, 19 do Mapa, 2 do Ministério da Economia e 2 da Apex Brasil.

Entre os desafios abordados, o ministro Carlos França destacou a dinâmica de inserção internacional do agronegócio, as “barreiras ilegítimas” ao comércio sob a forma de restrições técnicas, as estratégias de agregação de valor nas cadeias do agronegócio, a identificação das grandes macrorregiões do agro mundial, o tratamento de questões sanitárias, a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, os riscos que existem de imagem e reputação e, por fim, a urgência de uma boa comunicação do agro no exterior.

 

- COP26: estados buscam investimentos associados a compromisso ambiental

Quatro governadores debateram hoje (9) a realidade das agendas climáticas e de desenvolvimento econômico verde no Brasil. Eles destacaram os desafios e as oportunidades para parcerias no desenvolvimento verde e no financiamento climático que possam acelerar a transição rumo à neutralidade de carbono no país.

Eles participaram do evento Governadores pelo Clima, no Pavilhão Euroclima da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-26). Os quatro integram um movimento que atua de forma independente, em relação ao governo federal.

Da reunião de hoje participaram os governadores do Pará, Hélder Barbalho (MDB); do Piauí, Wellington Dias (PT); de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); e de Santa Catarina, Carlos Moisés (sem partido).

Hélder Barbalho disse que todos os integrantes do Governadores pelo Clima, que instituiu o Consórcio Brasil Verde com o objetivo de auxiliar os estados na busca por recursos internacionais, atuam em defesa de uma causa: construir soluções sustentáveis para o equilíbrio climático e para a geração de um "novo modelo de desenvolvimento" que permita a compatibilização entre pessoas e floresta.

“Quero reafirmar o compromisso dos estados da Amazônia para com essa agenda e construir caminhos que harmonizem o maior ativo de floresta tropical do mundo com cerca de 25 milhões de pessoas que nele habitam. A solução é fazer com que a floresta em pé se transforme em vocação econômica; em um novo ativo e em uma nova commodity global, para que ela possa se consorciar a vocações já estruturadas que sustentam a economia de nossa região”, disse.

Ele lembrou que a bioeconomia gerada a partir de fármacos e cosméticos, bem como as ações agroflorestais, ajudam pequenos produtores da agricultura familiar a manterem suas raízes no campo, e a atuarem na fiscalização contra os desmatamentos ilegais.

O governador do Piauí, Wellington Dias, disse que o Consórcio Brasil Verde deve, em breve, aumentar para 25 o número de estados integrantes – atualmente, o grupo é composto de 24 governadores. “Vamos vencer barreiras, com governadores de diferentes partidos e regiões, que vivem diferentes problemas. Isso dará segurança e estabilidade a uma política de longo prazo”, argumentou.

Dias acrescentou que o Piauí é considerado o “estado das energias limpas”, devido à crescente geração de energia obtida a partir de fontes eólica e solar. “Estamos com a perspectiva de chegarmos a [aumentar] 12 vezes nosso consumo de energia limpa”, disse.

Paulo Câmara, de Pernambuco, reafirmou os compromissos do estado com metas e com um futuro de carbono zero. “Ocorreram retrocessos no país, mas temos responsabilidade para garantir o que é necessário para o futuro. A questão climática tem de estar na pauta do governo. Com a unidade dos estados brasileiros poderemos avançar para onde queremos, colaborando e reafirmando compromissos”, disse.

Já o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, disse que a companhia estadual de eletrificação está criando um corredor para abastecimento de veículos elétricos. “Dessa forma, vamos diminuir o uso de veículos com combustível fóssil”, disse. Segundo Moisés, as usinas térmicas do estado estão em fase de transição para adotar o uso de gás natural para a geração de energia.

 

Fonte: Agência Brasil