Política

Bolsonaro diz que COP26 levou índia para atacar o Brasil em Glasgow





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta 4ª feira (3.nov.2021) que sofreu críticas por não ir à cerimônia de abertura da COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em Glasgow, na Escócia.

“Tão reclamando que eu não fui pra Glasgow. Levaram uma índia pra lá pra substituir o Raoni [Metuktire, líder indígena], né? Para atacar o Brasil”, disse a apoiadores no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro se referiu ao discurso da indígena brasileira Txai Suruí, de 24 anos, que representou os indígenas na conferência. Ela é ativista em Rondônia e defende o povo Paiter Suruí no Estado. O líder indígena Raoni Metuktire, da etnia caiapó, é conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia.

O chefe do Executivo completou: “Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém já viu americano criticando aí as queimadas lá no estado da Califórnia? É só aqui, só aqui.”

Enquanto líderes mundiais como Joe Biden, dos EUA, Angela Merkel, da Alemanha, e Boris Johnson, do Reino Unido, estavam em Glasgow, Bolsonaro estava no norte da Itália. Visitou Anguillara Veneta e Pádua, cidade onde seu bisavô paterno nasceu.

No fim de semana, Bolsonaro esteve em Roma, onde aconteceu a Cúpula do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo. O presidente também rebateu as críticas em relação à sua agenda em Roma:

“Falaram que eu estava isolado lá na Itália. Teve uma passagem lá no sábado, num salão grande, pisei no peito do pé da Angela Merkel. Ela falou: só podia ser você. À noite, nos encontramos sem querer e conversamos meia hora”, disse. E continuou:

“Na Itália, andei na rua o tempo todo, não vi chefe de Estado andando na rua, muito turista lá, muito turista, encontrei um português, umas russas. Se eu não fosse presidente, não iria, nunca fui em Pádua, igreja de Santo Antônio é uma coisa inimaginável. Só fui porque sou presidente, senão não iria, deixo bem claro. Estou convidando ninguém, sei que é difícil e caro.”

- Bolsonaro ironiza crítica de brasileiro na Itália que o acusou de assassino

"Um cara de 40 anos de idade chegou para mim no meio de um monte de gente: 'A história vai te condenar'. Por qual motivo? 'Você matou o meu avô'. Pô, cara, eu não sabia. Desculpa aqui. O que foi? Bala perdida? 'Não, covid'. Parece que só no Brasil que morreu gente", ironizou presidente

O presidente Jair Bolsonaro relatou a apoiadores nesta quarta-feira (3/11) protestos aos quais foi alvo durante estadia na Itália. O chefe do Executivo apontou que foi chamado de "assassino" por um homem, que alegou que o avô morreu em decorrência da covid-19.

"Lá na Itália eu fui muito bem recebido lá. Mas teve uma passagem lá, um cara de 40 anos de idade chegou para mim no meio de um monte de gente: 'A história vai te condenar'. Por qual motivo? 'Você matou o meu avô'. Pô, cara, eu não sabia. Desculpa aqui. O que foi? Bala perdida? 'Não, covid'. Parece que só no Brasil que morreu gente", ironizou.

"Se ele tinha uns 40 anos de idade, o avô dele tem uns 80. Grupo de risco", justificou.

"Lá na beira do hotel, também, tinha duas pessoas gritando igual louco. Tinha mais de mil falando comigo, duas gritando feito louca. Falei: 'Quer conversar? Vem conversar'. 'Não, não quero ficar perto de você, fascista!'. Nós fomos à Itália em 1943 combater o fascismo", riu.

Bolsonaro voltou a repetir a tese de que o número de mortes por covid-19 no país pode ter sido inflado e, desta vez, citou um estudo que teria sido feito na Itália a respeito.

"Eu vou pegar um estudo deles, confirmar a veracidade. E eles têm lá dizendo quantos morreram com covid e de covid. Tem coisas que precisam ser discutidas, não pode discutir nada", acrescentou.

O presidente ainda criticou a participação da índia Txai Suruí, que discursou ontem na abertura da 26ª da Cúpula do Clima, a COP26, em Glasgow, na Escócia. "Levaram uma índia para substituir o Raoni e atacar o Brasil", disse o chefe do Executivo. O presidente decidiu não comparecer ao evento, que vai até 12 de novembro.

Confira outras notícias:

- Nobel da Paz de 2019, presidente da Etiópia agora lidera massacre étnico no país

Quando o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2019, ele foi premiado por ser considerado um pacificador da região. Agora, ele está liderando uma prolongada guerra civil que, segundo muitos relatos, carrega as marcas do genocídio e tem o potencial de desestabilizar a região do Chifre da África.

Em novembro de 2020, Abiy ordenou uma ofensiva militar na região norte de Tigré e prometeu que o conflito seria resolvido rapidamente. A região é assim chamada por ser ocupada pela etnia tigré, responsável pela criação da Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), partido que assumiu o poder em 1991 e foi sucedido por Abiy, em 2018.

Um ano depois do início da ofensiva do governo etíope sobre a região e sua etnia dominante, o conflito deixou milhares de mortos, desalojou mais de 2 milhões de pessoas, aumentou a fome e deu origem a uma onda de atrocidades.

A Etiópia já estava lutando contra significativos desafios econômicos, étnicos e políticos muito antes de explodir o conflito entre Abiy e a FLPT. Mas agora, com a escalada das hostilidades em outras áreas da Etiópia, crescem os temores de que os combates em Tigré possam desencadear uma crise mais ampla com o potencial de separar o segundo país mais populoso da África.

Entenda, em detalhes, a propagação do conflito na Etiópia.

Como o conflito começou?

O conflito de Tigré tem suas raízes em tensões que permeiam o país há gerações.

A Etiópia é composta por dez regiões e duas cidades que têm uma autonomia substancial. Os governos regionais estão amplamente divididos em linhas étnicas distintas e têm suas próprias polícias regionais e milícias. Na região de Tigré, além das forças locais, há ainda muitas tropas federais, que foram deslocadas para a região pelo governo central por conta de um conflito anterior com a vizinha Eritreia.

Antes de Abiy Ahmed chegar ao poder, a FLPT governou a Etiópia por décadas, liderando um período de estabilidade e crescimento econômico, apesar das denúncias de ataque a direitos civis e políticos básicos. Uma revolta popular acabou forçando Hailemariam Desalegn, o antecessor de Abiy, a renunciar.

Em 2018, Abiy foi nomeado com a missão de reduzir as tensões, mas sem derrubar a ordem política anterior. Mas, assim que se tornou primeiro-ministro, Abiy alterou a ordem política no país, mudando a correlação de forças dentro da Frente Revolucionária do Povo Etíope (FDRPE), fundada durante o governo da FLPT e sob sua liderança.

Com as mudanças dentro da frente, que abrangia quatro legendas, além da FLPT, o partido que governou a Etiópia durante quase três décadas foi colocado no ostracismo pelo atual presidente.

Abiy apostou em uma campanha pela construção de um novo partido político que integrasse toda a Etiópia, o que causou temores entre os membros da etnia tigré de que o sistema de autonomia dos estados estivesse sob ameaça. Os líderes políticos de Tigré retiraram-se para a região montanhosa, no norte do País, onde continuaram exercendo o poder local.

Mas, em setembro de 2020, as tensões aumentaram quando os tigrés contrariaram Abiy ao seguir com as eleições parlamentares regionais, adiadas pelo governo central devido à pandemia de Covid-19. Abiy chamou a votação de ilegal e os membros do congresso etíope cortaram o financiamento para as atividades políticas da região de Tigré, desencadeando a escalada das tensões entre o governo federal e o governo regional.

Em 4 de novembro de 2020, depois de acusar a FLPT de atacar uma base do exército federal nos arredores da capital regional de Tigré, Mekelle, e tentar roubar suas armas, Abiy ordenou um ataque militar contra o grupo, enviando tropas nacionais e combatentes da região vizinha de Amhara, junto com soldados da Eritreia.

Abiy declarou a ofensiva um sucesso depois de três semanas, quando as forças do governo assumiram o controle de Mekelle e instalaram um governo interino leal a Abiy. Mas, um ano depois, o conflito está longe de terminar.

Que atrocidades foram cometidas?

Durante meses, no início do conflito, Abiy negou que civis estivessem sendo feridos ou que soldados da Eritreia tivessem se juntado à luta. Mas relatórios de observadores internacionais, grupos de direitos humanos e apurações da CNN mostraram o contrário.

Milhares de pessoas morreram nos combates, segundo muitas estimativas, com relatos de campos de refugiados arrasados, saques, violência sexual, massacres e execuções extrajudiciais. Muitos outros fugiram para o Sudão, no que as Nações Unidas consideram o pior êxodo de refugiados da Etiópia em duas décadas. Eles descrevem um conflito desastroso que deu origem à violência étnica.

O governo da Etiópia restringiu severamente o acesso a jornalistas e um apagão de comunicações imposto pelo estado ocultou eventos na região, tornando difícil avaliar a extensão da crise ou verificar os relatos dos sobreviventes.

Mas evidências de atrocidades começaram a vazar no início deste ano.

Investigações separadas da CNN e da Anistia Internacional em fevereiro descobriram evidências de massacres realizados pelas forças da Eritreia nas cidades de Dengelat e Axum, na região de Tigré, no final do ano passado.

Outra investigação da CNN, publicada em junho, revelou novos detalhes de um massacre cometido por soldados etíopes na cidade de Mahibere Dego, em Tigré, em janeiro. A reportagem identificou um dos autores do massacre e restos humanos no local.

Em uma reportagem exclusiva na região do Tigré, feita em abril, a CNN capturou tropas da Eritreia – algumas se disfarçando em velhos uniformes militares etíopes – operando com total impunidade no centro de Tigré, operando postos de controle e bloqueando a ajuda humanitária vital para populações famintas mais de um mês depois que Abiy prometeu para a comunidade internacional que eles sairiam do país.

Todos os grupos participantes do conflito foram acusados ​​de cometer atrocidades, mas as forças da Eritreia foram ligadas a algumas das mais horríveis. Além de perpetrar assassinatos em massa e estupros, soldados eritreus também foram encontrados bloqueando e saqueando alimentos em várias partes de Tigré.

O governo da Eritreia negou qualquer envolvimento nas atrocidades. O governo da Etiópia prometeu investigações sobre qualquer delito.

Não bastasse o conflito, os saques e a interrupção de ajuda humanitária por interferência dos grupos inimigos, os tigrés sofreram, em outubro, a pior invasão em décadas de gafanhotos do deserto durante o período de  colheita. O empilhamento de tragédias mergulhou a região de Tigré em uma ainda mais em grave insegurança alimentar.

Em setembro, a ONU disse que, um bloqueio estava limitando sua capacidade de acessar mais de 5 milhões de pessoas em Tigré (ou 90% da população), que precisam de ajuda humanitária, incluindo 400 mil pessoas em condições de fome.

Ainda naquele mês, o chefe da ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, declarou que, partes da região devastada pela guerra estavam passando por uma fome “causada pelo homem”, e pediu ao governo etíope que facilitasse o acesso de mantimentos para a população tigré.

O governo etíope rejeitou repetidamente as alegações de que está bloqueando a ajuda. Poucos dias após os comentários de Griffiths, a Etiópia ordenou que sete altos funcionários da ONU fossem expulsos do país, incluindo organizações que coordenam esforços humanitários.

Como Abiy ganhou o Prêmio Nobel da Paz?

Menos de um ano antes de Abiy lançar um ataque contra seu próprio povo, ele descreveu a guerra como “a representação do inferno” durante seu discurso de recebimento do Prêmio Nobel da Paz. Ele recebeu a homenagem por seu papel no fim de um conflito de longa data com a vizinha Eritreia, e por promover reformas significativas na Etiópia.

A Eritreia já fez parte da Etiópia, mas conquistou a independência em 1993, após uma luta armada de 30 anos. De 1998 a 2000, a Etiópia e a Eritreia travaram uma guerra que matou milhares de pessoas de ambos os lados, o que conduziu a um longo e perigoso impasse, e ao congelamento total da cooperação entre os países.

Uma vez no poder, Abiy agiu rapidamente para normalizar as relações com a Eritreia, em parte aceitando a decisão para a formação de uma comissão internacional que definisse as fronteiras entre os dois estados.

Abiy também fez movimentos significativos em direção às reformas internas, aumentando as esperanças de que traria mudanças duradouras. Além de forjar uma trégua com a Eritreia, ele revogou uma severa lei de segurança, libertou milhares de presos políticos, agiu para abrir a indústria de telecomunicações e expandir o investimento privado.

Mas sua reputação como um líder que poderia unir a Etiópia deteriorou-se rapidamente, e seu muito elogiado acordo de paz com a Eritreia parece ter pavimentado o caminho para os dois países entrarem em guerra com seu inimigo em comum, a FLPT.

Desde o início do conflito, a violência de origem étnica estourou em outras partes do país, incluindo a região natal de Abiy, Oromia, a região mais populosa do país. Em maio, o Exército de Libertação Oromo (OLA), um grupo armado, prometeu travar uma “guerra total” contra o governo de Abiy.

Apesar das promessas de amenizar divisões étnicas e preparar o caminho para uma transição pacífica e democrática, Abiy cada vez mais invoca o manual de regimes repressivos: encerrar serviços de internet e telefone, prender jornalistas e matar críticos. Abiy também foi criticado por descrever como “ervas daninhas” e “câncer” as forças de oposição no Tigré e alimentar uma retórica inflamada no país.

Em julho deste ano, no meio da guerra, Abiy e seu partido obtiveram uma vitória esmagadora em uma eleição geral, que foi boicotada por partidos de oposição, marcada por problemas logísticos e exclusão de muitos eleitores, incluindo toda a população de Tigré.

Tudo isso tornou-se uma decepção esmagadora para muitos que tinham grande esperança de que a transição democrática que Abiy prometeu há três anos seria realizada.

O que está acontecendo agora?

O governo da Etiópia declarou um cessar-fogo unilateral em junho, quando as forças de Tigré retomaram a capital regional, Mekelle. Mas a FLPT descartou categoricamente uma trégua, e a luta se espalhou para além das fronteiras de Tigré, atingindo as regiões vizinhas de Amhara e Afar.

A Etiópia anunciou um estado de emergência nacional em 2 de novembro, dias depois que a FLPT alegou ter ocupado duas cidades importantes em Ahmara, Dessie e Kombolcha, na estrada principal que dá acesso a Adis Abeba, a capital do país.

As forças de Tigré disseram que se uniram ao Exército de Libertação Oromo contra o governo, que representaria uma aliança histórica de antigos inimigos. Se confirmada a aliança entre essas forças, seria mais uma grande virada na batalha contra as forças do governo central depois da tomada de Ahmara e Afar pela FLPT.

Um porta-voz do governo de Abiy contestou a captura das cidades em Ahmara. Depois, divulgou um comunicado acusando Tigré de executar 100 jovens em Kombolcha, o que foi negado pela FLPT.

À medida que as forças de Tigré deslocam suas tropas para o sul, o governo intensificou os ataques aéreos a Mekelle e outras cidades de Tigré, em uma tentativa de destruir as bases do exército inimigo.

O rápido avanço da FLPT gerou temores entre os membros do governo etíope de que as forças tigré possam ameaçar a própria capital em breve. O primeiro-ministro Abiy pediu aos cidadãos que pegassem em armas e lutassem contra a FLPT. “Nosso povo deve marchar(…) com todas as armas e recursos de que dispõe para defender, repelir e enterrar os terroristas da FLPT”, disse Abiy em um post no Facebook, informou a Reuters.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que condenou o massacre étnico em Tigré, disse que Washington ficou alarmado com os relatos da tomada das cidades pela FLPT. “Todas as partes devem interromper as operações militares e iniciar negociações de cessar-fogo sem pré-condições”, disse ele no Twitter.

Qual é a resposta internacional?

À medida que a guerra e seu impacto sobre os civis se aprofundam, os líderes mundiais expressam preocupação com a restrição do governo da Etiópia à ajuda a Tigré e o papel das forças da Eritreia no agravamento da crise.

Altos funcionários do governo Biden advertiram que a Etiópia perderá acesso a um lucrativo programa de comércio dos EUA devido a violações dos direitos humanos, a menos que tome medidas significativas para encerrar o conflito em curso e aliviar a crise humanitária até o início de 2022.

O presidente Joe Biden disse que a Etiópia não está cumprindo os requisitos de elegibilidade da Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA), que prevê flexibilização de taxas para que países da África exportem para os Estados Unidos. Segundo o presidente americano, a Etiópia incorre em “violações graves dos direitos humanos internacionalmente reconhecidos”, disse Biden em uma mensagem ao congresso americano na segunda-feira (1º).

O governo da Etiópia deve tomar uma “ação urgente” até 1º de janeiro para permanecer no programa, que concede às nações da África subsaariana acesso livre de impostos ao mercado dos EUA para milhares de produtos, completou Biden.

Segundo autoridades americanas, o governo dos Estados Unidos também está se preparando para emitir sanções contra as partes no conflito. A medida teria sido determinada em uma ordem assinada por Biden, em setembro.

O enviado especial dos Estados Unidos para o Chifre da África, Jeffrey Feltman, disse que “à medida que a guerra se aproxima de seu primeiro aniversário, os Estados Unidos e outros não podem continuar com as relações ‘normais de negócio’ com o governo da Etiópia”.

O Departamento de Estado já havia anunciado restrições de visto para funcionários do governo da Etiópia e da Eritreia, e o governo Biden impôs restrições abrangentes à assistência econômica ao país.

Fonte: Correio Braziliense - Poder360 - CNN Brasil