Política

Bolsonaro nega isolamento na Itália e erra nome de político `Salvati´





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou hoje ter ficado isolado na Itália, onde esteve nos últimos cinco dias para participar de uma cúpula do G20, mas errou o nome e o cargo de quem o recebeu, o senador Matteo Salvini. Ao relatar o encontro com o político, Bolsonaro o chamou de "Salvati".

"Também teve lá, pessoal, o Salvati, acho que foi primeiro-ministro da Itália, é senador agora, ele estava lá", narrou o presidente a apoiadores mais cedo. Salvini foi vice-primeiro-ministro entre 2018 e 2019, mas não chegou a exercer o cargo.

Essa não foi a única troca de nomes feita pelo presidente. Ontem, ele confundiu o enviado especial dos Estados Unidos para questões climáticas, John Kerry, com o ator e humorista Jim Carrey.

Salvini é líder do partido italiano de ultradireita Liga Norte, e se posicionou como principal apoiador do presidente Jair Bolsonaro durante a visita ao país europeu. Eles se encontraram no último domingo em Pistoia, na região central da Itália, para homenagear os brasileiros mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a reunião, o italiano chegou a se desculpar pelos protestos contrários a Bolsonaro que aconteceram no país.

"Peço desculpas ao povo brasileiro representado por seu presidente pelas polêmicas, inclusive no momento de lembrança daqueles que perderam suas vidas defendendo nosso país e o libertando da ocupação nazista", lamentou Salvini em entrevista.

A aproximação de Salvini com Bolsonaro é vista como uma forma de o senador italiano recuperar sua popularidade entre os ultranacionalistas italianos. A Liga Norte de Salvini tem perdido espaço para o FdI, que se coloca como a mais tradicionalista das siglas.

- Jornalista denuncia na ONU agressão em comitiva de Bolsonaro

As relatorias da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos receberam nesta quarta-feira uma denúncia sobre as agressões sofridas por jornalistas brasileiros durante a viagem do presidente Jair Bolsonaro por Roma, no fim de semana.

Os documentos e vídeos foram entregues para Irene Kahn, relatora da ONU para liberdade de expressão, e seu homólogo na Comissão Interamericana, Pedro Vaca. Assinado por uma das vítimas, o jornalista Jamil Chade, colunista do UOL, e pelo jurista Paulo Lugon Arantes, a queixa relata o ocorrido no domingo, dia 31 de outubro, em Roma.

UOL apurou que ambos os relatores já consideram uma ação nos próximos dias.

No fim de semana, pelo menos três profissionais de imprensa — do UOL, da Folha de S.Paulo e da GloboNews — foram alvo de agressões durante a cobertura da visita de Bolsonaro à capital italiana. Até agora, não há esclarecimentos sobre quem são os agentes que cometeram os atos. 

Na denúncia apresentada aos órgãos internacionais, o documento fala em "violência gratuita perpetrada pelas forças de segurança que escoltavam o Presidente Bolsonaro contra os jornalistas". "Caso houvesse algum motivo, os jornalistas nem mesmo receberam qualquer advertência", indicou a denúncia, elaborada pelo Lugon Arantes.

Na petição, o jornalista e o jurista pedem que os relatores cobrem do Brasil respostas sobre a violência e sobre as medidas tomadas para investigar e punir os responsáveis pelos ataques contra os jornalistas mencionados nesta petição. O documento ainda solicita a publicação de uma declaração sobre os fatos e violações relatados.

Citando tratados internacionais, a queixa aponta que a jurisprudência internacional protege tanto o direito de receber e transmitir informações, através de vários meios, incluindo a mídia oficial, blogueiros, jornalistas voluntários e profissões similares.

O documento ainda aponta que "os Estados têm a obrigação de proteger a liberdade de expressão através de relações verticais e horizontais, ainda mais quando se trata de proteger os jornalistas, pois há uma obrigação positiva neste contexto, tendo em vista a importância fundamental do jornalismo nas sociedades democrática".

"A mídia desempenha um papel fundamental para o exercício da dimensão social da liberdade de expressão em uma sociedade democrática, razão pela qual é indispensável que a população tenha acesso às mais diversas opiniões", diz.

A queixa ainda aponta como Bolsonaro, ao ser questionado pelos jornalistas sobre temas relevantes, respondeu com "desdenho e agressividade".

"Como chefe do Estado e guardião da Constituição brasileira e dos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil, o próprio Presidente tinha a obrigação positiva de impedir os ataques e/ou ordenar que esses ataques cessassem", defende a queixa, elaborada por Lugon Arantes.

O texto ainda deixa claro que a imunidade diplomática concedida ao Estado brasileiro, no contexto da participação de Bolsonaro na Cúpula do G20, "não pode servir para tolerar violações cometidas pelo Brasil em solo estrangeiro, especialmente quando se trata do direito de liberdade de expressão", além da "obrigação correspondente de proteger os jornalistas".

O documento lembra que tanto o Brasil como a Itália foram copatrocinadores de uma resolução aprovada na ONU pedindo a proteção aos jornalistas.

"O peticionário teme fortemente que a violação sofrida permaneça impune", alerta o documento, numa referência ao jornalista. "A este respeito, a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, elaborou um relatório sobre a proteção dos jornalistas, no qual a impunidade é um elemento chave. O Brasil ocupa atualmente o 8º lugar no Índice Global de Impunidade de 2021, pelo Comitê de Proteção aos Jornalistas", destaca.

Segundo a Federação Nacional de Jornalistas do Brasil, desde que Bolsonaro tomou posse, ele próprio foi responsável por 121 dos 208 ataques contra jornalistas e entidades da mídia (58% do total de atos), entre 2019 e 2020.

O texto afirma também que, mesmo durante a pandemia, "o presidente brasileiro vem atacando os profissionais da imprensa e da mídia, inclusive selecionando aqueles que, por sua afinidade com o governo, merecem um tratamento especial de sua parte - o que restringe não só a liberdade de expressão, mas também deturpou o direito à informação".

Confira outras notícias:

- China faz exercício com munição real enquanto Taiwan recebe apoio europeu

Tensão entre ditadura e ilha que Pequim considera sua está no maior nível em anos

A China iniciou nesta quarta-feira (3) uma rodada de exercícios militares com munição real no mar ao norte de Taiwan, aplicando pressão ao governo de Taipé no momento em que a ilha obtém o apoio mais explícito do Ocidente em décadas de disputa com Pequim.

A ação, que envolverá navios e aviões chineses durante uma semana no mar do Leste da China, visa pressionar não só Taiwan, mas Japão, EUA e aliados ocidentais.

Nesta quarta, uma delegação inédita com sete deputados do Parlamento Europeu desembarcou para uma visita de três dias à ilha, que a ditadura comunista considera uma província rebelde a ser reincorporada. 

"Estamos felizes de poder oferecer o apoio a nossos amigos", disse o líder do grupo, o francês Raphael Glucksmann, a repórteres no aeroporto. Eles irão se encontrar com políticos, empresários e com a presidente Tsai Ing-wen, que já havia causado comoção no continente ao confirmar, pela primeira vez, que militares americanos estavam em solo taiwanês participando de exercícios com soldados locais.

Além disso, a mídia da ilha confirmou que forças especiais de Taipei estão sendo treinados por fuzileiros navais americanos em Guam (possessão dos EUA no Pacífico), um passo muito além dos usuais exercícios militares em águas que Pequim clama para si, como os ocorridos no fim de semana no mar do Sul da China com um porta-aviões americano e uma fragata japonesa. Foi a nona vez no ano que os principais navios de ataque americanos se exercitam na região, segundo o instituto Iniciativa de Investigação de Situação Estratégica do Mar do Sul da China, da Universidade de Pequim.

​O novo governo japonês, que assumiu no mês passado, acentuou a retórica belicista dos antecessores e assumiu publicamente pela primeira vez que poderá ter de agir para conter a China em Taiwan.

O exercício no mar do Leste da China também mira o Japão, que tem ilhas com reservas petrolíferas disputadas por Pequim. Há duas semanas, chineses e russos fizeram manobras com o mesmo objetivo

A tensão já vinha subindo neste ano, chegando ao paroxismo quando Pequim enviou 149 aviões durante quatro dias em outubro para testar as defesas aéreas de Taiwan, maior ação do tipo na história. Ao longo de todo o mês, foram quase 200 aeronaves, metade de tudo o que havia sido empregado no ano.

Enquanto os taiwaneses tocam tambores de guerra, alertando que Pequimpode se sentir segura para invadir a ilha até 2025, especialistas no geral vêm riscos grandes para as forças comunistas —a começar pelo fato de que apenas 10% do litoral taiwanês é de fácil acesso, sendo assim fortemente defensável.

Seja como for, Taiwan é vista como ponto nevrálgico e passível de incidência de acidentes militares na região. A Guerra Fria 2.0 entre EUA e China, que vai da política ao comércio, tem ganhado contornos bélicos mais nítidos com a saída americana do Afeganistão e o reforço de alianças no Indo-Pacífico.

O rufar de tambores da guerra começou a reverberar no mundo das fake news. Na terça, o Exército de Libertação Popular da China teve de desmentir boatos em redes sociais chinesas de que uma mobilização estava em curso. Ao mesmo tempo, o Ministério do Comércio emitiu um alerta para que moradores de algumas regiões estocassem alimentos não perecíveis, o que foi lido como um prenúncio de conflito.

Novamente, o governo teve de explicar que o pedido tinha a ver com algumas safras quebrando devido a mudanças climáticas.

Fonte: UOL