Cotidiano

COP26: Brasil deve ter 50% da matriz energética limpa em 2030, diz Bento Albuquerque





Em reunião na COP26, ministro de Minas e Energia fez avaliação da emissão de gases do transporte e destacou papel dos biocombustíveis para meta brasileira

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o Brasil deve ter 50% de sua matriz energética limpa até 2030 – uma evolução dos atuais 48%, classificados pelo ministro como “já impressionantes”.

A declaração foi feita em uma participação do ministro no painel da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e da Raízen na COP26, em Glasgow, Reino Unido, nesta quarta-feira (3).

Albuquerque não citou especificamente quais seriam as estratégias para alcançar o objetivo, mas destacou o papel dos biocombustíveis no setor do transporte.

“Os biocombustíveis, em particular o etanol e biogás, cuja principal fonte também é a cana-de-açúcar, têm desempenhado e desempenharão um papel ainda mais significativo nos esforços de descarbonização do setor de transporte”, declarou.

“Os produtos da cana-de-açúcar respondem atualmente por 19% da matriz energética brasileira, com participação do etanol, do bagaço, da bioeletricidade e do biogás”, complementou.

Para o ministro, as discussões na COP26 estão mais “amadurecidas” em relação à COP25, que ocorreu em 2019 em Madri, na Espanha. “O mundo teve oportunidade de refletir nesses dois anos e se organizar melhor, mesmo com a pandemia, para esse evento de importância para o mundo”.

Após o início da COP26, o Brasil atualizou sua ambição climática para um corte de 50% na emissão de gases em relação a 2005 em 2030. O país também foi signatário, junto a outras nações, de acordos envolvendo o fim do desmatamento ilegal até 2030 e a redução de 30% na emissão de metano também até o fim desta década.

Albuquerque ainda argumentou que cada país precisa buscar “seus recursos naturais e suas vantagens competitivas” a fim de alcançar metas de descarbonização.

“Eu tenho dito que cada país, cada região tem que considerar os seus recursos naturais, suas vantagens competitivas e fazer frutos delas para que possa alcançar as suas metas de descarbonização, principalmente desse processo de transição energética, onde não há tecnologia única, não uma única saída”, afirmou.

Albuquerque é um dos ministros que compõem a comitiva do governo federal na COP26. Nesta quarta, o ministro tem na agenda uma reunião com o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Dr. Fatih Birol, e encontros com acionistas “verdes”.

Confira outras notícias:

- Brasil cortou 93% da verba para pesquisa em mudanças climáticas

Gado em area desmatada

Reuters

Dados levantados pela BBC News Brasil mostram corte em pesquisas sobre mudanças climáticas no Brasil

O governo do presidente Jair Bolsonaro cortou em 93% os gastos para estudos e projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nos três primeiros anos da sua gestão quando comparado com os três anos anteriores.

Os dados foram levantados pela BBC News Brasil por meio do Sistema Integrado de Orçamento do Governo Federal (Siop). Entre janeiro de 2016 e dezembro de 2018, os investimentos nessa área foram de R$ 31,1 milhões. Na gestão Bolsonaro, porém, os gastos foram de apenas R$ 2,1 milhões.

Procurados, os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência, Tecnologia e Inovações, e a Presidência da República não se pronunciaram.

As mudanças climáticas são um conjunto de alterações no clima do planeta causadas pela ação humana. Entre os principais fatores está a emissão de gases causadores do efeito estufa como o gás carbônico e metano.

Estudos indicam que países altamente dependentes da exportação de commodities agrícolas como o Brasil estão particularmente vulneráveis ao fenômeno porque ele pode causar, por exemplo, alterações no regime de chuvas e ventos e resultar em eventos climáticos extremos como secas prolongadas, ondas de frio e de calor mais frequentes. 

Pressionado por altas taxas de desmatamento nos últimos anos, o governo Bolsonaro participa da COP26, Conferência do Clima da ONU, que acontece em Glasgow, no Reino Unido. O próprio presidente não viajou para a Escócia.

Um dos principais objetivos da delegação brasileira é convencer a comunidade internacional do seu compromisso com a agenda ambiental.

Na terça-feira (2/11), representantes de mais de cem países, entre eles China e Brasil, assinaram um acordo para proteção de florestas que tem como meta zerar o desmatamento no mundo até 2030. O Brasil também aumentou a meta de redução de gases poluentes de 43% para 50% até 2030 e se comprometeu em antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028.

Na semana passada, a BBC News Brasil antecipou que o Brasil decidiu assinar um importante acordo sobre proteção de florestas conhecido como "Forest Deal".

 

Mais promessas, menos verba

 

O levantamento feito pela BBC News Brasil, porém, mostra uma redução drástica do investimento do governo federal em estudos para preparar o país para os efeitos da crise no clima.

Os dados consideram duas ações orçamentárias do governo federal destinadas, especificamente, a produzir estudos e projetos com essa temática: 20G4 — Fomento a Estudos e Projetos para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima (sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente) e 20VA — Apoio a Estudos e Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento à Mudança do Clima (a cargo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações).

O levantamento aponta que o ritmo de investimento entre 2016 e 2018 era de redução. Em 2016, por exemplo, o governo gastou R$ 20,7 milhões. No ano seguinte, esse valor caiu para R$ 8,4 milhões. Em 2018, chegou a R$ 2 milhões.

Jair Bolsonaro

EPA/Joedson Alves

Governo Bolsonaro reduziu drasticamente recursos para estudos sobre efeitos de mudanças climáticas, apontam dados

A queda prosseguiu no governo Bolsonaro. Em 2019, o governo investiu R$ 1 milhão. Em 2020, foram gastos R$ 659 mil. Neste ano, até outubro, foram gastos R$ 426 mil.

Os dados mostram ainda que no Ministério do Meio Ambiente os investimentos em estudos sobre mudanças climáticas foram zerados a partir de 2019.

 

Política climática

 

A política ambiental do governo Bolsonaro é alvo de críticas domésticas e internacionais. Por outro lado, ele é apoiado por diversos setores do agronegócio e da mineração. Em sua campanha, em 2018, ele prometeu acabar com o que chamava de "indústria das multas" ambientais.

Em 2019 e 2020, o Brasil registrou as piores taxas anuais de desmatamento desde 2008. No período, foram desmatados mais de 20 mil quilômetros quadrados, uma área equivalente a 13 cidades de São Paulo. O avanço do desmatamento e dos incêndios florestais nesses dois anos despertaram reações de organizações não-governamentais e de chefes de estado estrangeiros como o presidente da França, Emmanuel Macron.

A posição de Bolsonaro em relação às mudanças climáticas também é fruto de críticas de ambientalistas e cientistas. Em 2019, após a COP25, por exemplo, Bolsonaro chegou a afirmar que a pressão internacional em torno do assunto seria parte de um "jogo comercial" com o objetivo de prejudicar países em desenvolvimento como o Brasil.

"Eu quero saber... alguma resolução para a Europa começar a ser reflorestada? Alguma decisão? Ou só ficam perturbando o Brasil? É um jogo comercial, eu não sei como o pessoal não consegue entender que é um jogo comercial", disse o presidente.

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que ficou no cargo janeiro de 2019 a março de 2021, chegou a colocar em dúvida que as mudanças climáticas seriam causadas pela ação humana, na contramão do consenso da comunidade científica.

"Há mudanças climáticas? Sim, certamente, sempre teve. É causada pelo homem? Muitas pessoas dizem que sim, não sabemos com certeza", disse o ex-chanceler em um evento nos EUA, em setembro de 2019.

Gado em meio à queimada

REUTERS/RICARDO MORAES

Política ambiental do governo Bolsonaro é alvo de críticas domésticas e internacionais

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que ficou na pasta de janeiro de 2019 a junho de 2021, admitia a responsabilidade do ser humano nas mudanças climáticas. Mesmo assim, foi na sua gestão que a pasta extinguiu, no início do governo Bolsonaro, a secretaria responsável por elaborar políticas públicas sobre o assunto.

Foi apenas em 2020, em meio a críticas internacionais, que Salles determinou a recriação de uma secretaria dedicada às mudanças climáticas dentro do ministério. Salles deixou o cargo em junho deste ano em meio a investigações sobre seu suposto envolvimento com um grupo de empresários que faria contrabando de madeira da Amazônia.

 

Críticas

 

Especialistas ouvidas pela BBC News Brasil criticaram os cortes nos investimentos do governo em estudos sobre as mudanças climáticas. Segundo elas, o governo Bolsonaro prejudicou a política climática do país.

Para Natalie Unterstell, presidente do think tank Talanoa, os números mostram os investimentos aquém da necessidade do Brasil para lidar com a crise climática.

"Estudos recentes mostram que o mundo deveria investir pesado em estudos e projetos para mitigar os efeitos da mudança climática. Esses cortes comprometem a forma como o Brasil se prepara. Isso mostra que ela não é prioridade para um órgão que deveria ser um importante formulador de políticas públicas. Isso é um reflexo da paralisação da agenda ambiental o governo que se deu dentro do MMA e a partir dele", diz Natalie.

"Um olhar para o esvaziamento da ação orçamentária referente ao fomento a projetos para mitigação e adaptação à mudança do clima mostra bem isso. Em 2021, foram empenhados na ação orçamentária 20G4 míseros R$ 110 mil reais até agora. Para 2022, estão previstos pouco mais de 500 mil reais. Nesses números fica patente a desatenção ao tema", afirmou a ex-presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pesquisadora sênior do Observatório do Clima, Suely Araújo.

A BBC News Brasil enviou questionamentos para o Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e para a Presidência da República sobre os cortes. Nenhum dos três se pronunciou sobre o assunto.

 

- China e Rússia rebatem críticas de Biden por ausência na COP

Xi Jinping e Vladimir PutinO presidente dos EUA, Joe Biden, criticou a ausência do presidente da China, Xi Jinping (esquerda) e da Rússia, Vladimir Putin (direita) na COP26Presidência da Rússia

 

A China e a Rússia rebateram as críticas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre a ausência na COP26 (26ª Conferência das Partes).

Biden afirmou na 3ª feira (2.nov.2021) que os 2 países “viraram as costas” para a questão climática, citando as ausências dos líderes Xi Jinping e Vladimir Putin na conferência realizada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

“Acredito ter sido um grande erro, francamente, a China não estar presente. É um tema gigantesco e eles viraram as costas. Como podem fazer isso e argumentar terem alguma posição de liderança?”, disse o chefe do Executivo norte-americano.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse que “as ações falam mais alto que as palavras”. “O que precisamos para lidar com a mudança climática é uma ação concreta, em vez de palavras vazias”, afirmou. “As ações da China em resposta às mudanças climáticas são reais.”

“Como o maior emissor de gases de efeito estufa em termos cumulativos, os EUA devem enfrentar suas responsabilidades históricas, manter a consistência de suas políticas, mostrar maior ambição e ações, assumir a liderança no cumprimento de obrigações de redução substancial de emissões e fornecer recursos financeiros, tecnológicos e de capacitação e apoio para ajudar os países em 

desenvolvimento a aumentar sua capacidade de responder aos desafios climáticos”, disse o diplomata chinês, completando que “a retórica não pode substituir as ações”. 

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também comentou as declarações de Joe Biden. “Nós discordamos”, disse. “Certamente não estamos minimizando a importância do evento em Glasgow, mas as ações da Rússia são consistentes, ponderadas e sérias”, disse ele.

- Brasil terá que se adaptar para reduzir emissão de metano, diz Mourão

MourãoHamilton Mourão diz que produtores brasileiros já trabalham no manejo adequado dos dejetos do gado para reduzir a emissão de metano Sérgio Lima/Poder360 - 22.jul.2021

 

O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta 4ª feira (3.nov.2021) que a agropecuária brasileira precisará se adaptar para que o país cumpra o compromisso firmado na COP26, quando se comprometeu a reduzir 30% da emissão de metano até 2030. 

Segundo Mourão, grande parte dos produtores brasileiros já trabalham no manejo adequado dos desejos do gado bovino. O gás é expelido via fermentação entérica, isto é, o arroto do gado, ou através do manejo dos dejetos dos animais. 

“É uma questão de Estado isso aí, não é só o nosso governo. Qualquer governo vai ter que encarar esse problema de frente. Está de acordo com a visão de todos os países do mundo no sentido de impedir que a temperatura na Terra suba além do 1,5 ºC”, disse ao chegar no Palácio de Planalto. 

Os ministérios de Agricultura, Meio Ambiente, Relações Exteriores, Energia e Ciência, Tecnologia e Inovações se reuniram em setembro para discutir a adesão ou não do Brasil ao acordo que seria firmado na COP26. Na época, as pastas se colocaram contra a aliança, mas mudaram de ideia depois de pressão dos Estados Unidos. 

O metano é dos gases do efeito estufa. Embora presente em menor proporção na atmosfera terrestre, ele retém mais calor do que o gás carbônico (CO2). 

G20

Mourão também falou sobre o desempenho de Bolsonaro (sem partido) no G20, que aconteceu neste fim de semana (30 e 31 de outubro) na Itália. O presidente teve apenas 2 reuniões bilaterais durante o evento. Ele se reuniu com presidente italiano, Sergio Mattarella, e com presidente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Mathias Cormann.

“O presidente participou, ele fez um discurso que eu considerei muito bom, no sábado de manhã. Colocando de forma muito clara quais são os nossos objetivos. Essa questão de reuniões bilaterais acho que ali, naquele momento, não foi previsto”, afirmou.

- Enviado dos EUA para clima vê 60% de chance de limitar aquecimento

 

John Kerry falou a prefeitos do mundo inteiro na COP26

 

Cop26 - Glasgow

 

O enviado dos Estados Unidos (EUA) para questões climáticas, John Kerry, disse nesta quarta-feira (3) que os compromissos atuais de redução das emissões de carbono significam que o mundo tem 60% de chance de limitar um aumento médio da temperatura a 1,5 grau Celsius.

 

Falando em um café da manhã a prefeitos de todo o mundo, durante a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima em Glasgow, na Escócia, Kerry afirmou que, com os compromissos recentemente assumidos durante a COP26, cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) global estão agora cobertos por planos de mudança climática implementáveis.

 

"Mas isso significa que 35% não estão. E não podemos fazer isso sem esses 35%", observou Kerry. "Você não consegue fazer isso a menos que todos nós estejamos dentro."

 

Ele também destacou a importância de o mundo atingir seu objetivo de reduzir pela metade as emissões globais até 2030 se quiser chegar à emissão líquida zero até meados do século.

 

"2050 também já era se você não chegar a 2030", acrescentou.

 

Fonte: CNN Brasil - BBC News Brasil - Poder360 - Agência Brasil