Cotidiano

COP26: Brasil promete reduzir emissões pela metade até 2030 e zerar desmatamento 2 anos antes





O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou nesta segunda-feira (1º/11) que o Brasil vai aumentar a meta de redução de gases poluentes de 43% para 50% até 2030 e que esse novo compromisso será oficializado na COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que ocorre em Glasgow, na Escócia.

O anúncio foi feito em evento em Brasília, transmitido ao vivo pela internet. O Brasil havia apresentado inicialmente uma meta de redução das emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, usando como base o ano de 2005. 

O governo brasileiro anunciou ainda antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028, e alcançar uma redução de 50% até 2027. 

Joaquim Leite também confirmou que vai oficializar durante a COP26 a meta de alcançar a neutralidade de carbono até 2050 — quando as emissões são reduzidas ao máximo e as restantes são integralmente compensadas, por exemplo, com tecnologia de captura de carbono da atmosfera. 

"As contribuições do Brasil para superar o desafio estão postas. Não faltará empenho do governo federal para chegar a um resultado positivo. Apresentamos hoje uma nova meta climática mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030 e a neutralidade de carbono até 2050, que será formalizada durante a COP 26", disse. 

Um dos poucos líderes mundiais ausentes na COP26, que teve início neste domingo (31), o presidente Jair Bolsonaro disse, em mensagem gravada e transmitida nesta segunda, que há espaço para "mais ambição" no controle climático e garantiu que o Brasil é "parte da solução" do problema. 

REUTERS/Adriano Machado

Brasil subiu meta de redução de emissões de gases do efeito estufa de 43% até 2030 para 50%

O discurso e a promessa de "ambição" contrastam com postura e política ambiental dos três primeiros anos de governo Bolsonaro. A dificuldade da delegação brasileira será convencer os demais países sobre a seriedade de seus compromissos ambientais, diante de dois anos consecutivos de aumento no desmatamento da Amazônia.

Dados mostram que, no governo Bolsonaro, em 2020, o número de focos de incêndios em todo o território foi o maior em 10 anos; o volume de emissões de carbono em 2019 foi o maior em 13 anos, e o desmatamento da Amazônia atingiu o maior patamar desde 2008. 

"O Brasil é parte da solução para superar esse desafio global. Os resultados alcançados até 2020 demonstram que podemos ser mais ambiciosos. Autorizei o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, a apresentar durante a COP26 novas metas climáticas", declarou Bolsonaro em mensagem curta transmitida durante o evento. 

A COP26 acontece entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro e reúne representantes de mais de 100 países para negociar novos compromissos para alcançar a meta do Acordo de Paris, de manter o aquecimento global em 1,5°C até 2100.

Confira outras notícias:

- Boris Johnson abre COP26 e compara crise climática a bomba relógio

Primeiro-ministro do Reino Unido abriu os trabalhos nesta segunda; ele pediu que negociações sejam feitas com 'criatividade, imaginação e boa vontade'

Líderes mundiais já estão reunidos em Glasgow, na Escócia, nesta segunda-feira (1º) para o evento de abertura da COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima. O primeiro a discursar foi premiê britânico, Boris Johnson, anfitrião do evento. Ele comparou a crise climática com uma bomba relógio que precisa ser desarmada.

Ao mencionar as mudanças climáticas, Johnson lembrou do fictício agente secreto britânico, James Bond, ao pedir aos líderes globais ações concretas pelo clima. Ele fez uma analogia sobre “desarmar uma bomba relógio”, que é a crise climática que o mundo enfrenta.

“Podemos não nos sentirmos muito como James Bond, nem todos nos parecemos com James Bond, mas temos a oportunidade e o dever de fazer desta cúpula o momento em que a humanidade finalmente começou a desarmar esta bomba”, disse.

Johnson ainda evocou a jovem ativista Greta Thunberg em seu discurso afirmando que se os líderes mundiais não levarem a sério suas ações contra a mudança climática, as promessas de zerar emissões serão “nada além de blá, blá, blá”.

“A raiva e a impaciência do mundo não serão possíveis de controlar, a menos que façamos desta COP26, em Glasgow, o momento em que caímos na real sobre a mudança climática”, disse.

Recentemente, Thunberg fez um discurso na conferência Youth for Climate, no qual zombou de Johnson, bem como do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e do líder francês, Emmanuel Macron, sugerindo que suas conversas sobre o clima equivaliam a “blá, blá, blá”.

“Se não levarmos a sério a mudança climática hoje, será tarde demais para nossos filhos o fazerem amanhã”, disse Johnson aos líderes reunidos em Glasgow. “Temos que passar de conversa, debate e discussão para ação”, completou.

“Estamos cavando nossa própria cova”, diz secretário-geral da ONU na COP26 

Após a fala de Johnson, o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, disse aos líderes mundiais que “estamos cavando nossa própria cova” e que o mundo deve tomar medidas imediatas.

Segundo ele, o “nosso vício em combustíveis fósseis” está levando a humanidade ao limite. Guterres também destacou o que pode ser feito para manter viva a meta de 1,5 graus Celsius.

À medida que os países progridem nestas ações, Guterres disse que o setor privado deve contribuir para isso também.

“Vou estabelecer um grupo de especialistas para propor padrões claros para medir e analisar os compromissos de líquido zero de atores não-estatais”, que irão além dos mecanismos já estabelecidos no Acordo de Paris, disse Guterres em seu discurso.

“Enfrentamos uma escolha difícil: ou paramos [de emitir gases do efeito estufa] ou isso nos impedirá”, disse ele.

“É hora de dizer ‘chega’. Chega de brutalizar a biodiversidade. Chega de nos matarmos com carbono. Chega de tratar a natureza como um banheiro. Chega de queimar, perfurar e minerar cada vez mais fundo. Estamos cavando nossas próprias covas”, disse.

Guterres também pediu “ambição máxima” dos líderes mundiais para que os compromissos estabelecidos na cúpula sejam cumpridos. “Precisamos de ambição máxima de todos os países em todas as frentes para fazer de Glasgow um sucesso.”

- De ônibus elétrico até água gelada em banheiros: a COP26 tem baixo teor de carbono

Evento adaptou estrutura para se tornar ainda mais sustentável; diesel usado em geradores de energia foi substituído por óleo vegetal hidratado

O tamanho da conferência COP26 significa que o evento requer uma grande quantidade de recursos. Portanto, os organizadores do evento estão tentando torná-lo o mais sustentável possível, além de incluir alimentos locais no menu das autoridades de todo o mundo que participam da conferência.

A COP26 é um evento com baixo teor de carbono.

Na conferência, os participantes são transportados em ônibus elétricos e incentivados a caminhar ou usar o transporte público sempre que possível.

O café – que está sendo amplamente consumido – é servido em xícaras reutilizáveis. O menu deste domingo incluía uma sopa de caldo de cevada escocesa de origem local e salada de salmão e beterraba.

Semáforos temporários, que foram instalados em Glasgow para controlar o tráfego e garantir a segurança, são movidos a energia solar e óleo vegetal hidratado, conhecido como HVO, está sendo usado em geradores – ao invés do diesel.

E, de acordo com o tema da sustentabilidade, as torneiras dos banheiros são apenas de água fria.

- Estas são as metas da COP26, segundo o presidente do evento

COP26, na Escócia, tem metas ambiciosas, que demandam grandes negociações entre os líderes das naçõs.

Alok Sharma – advogado britânico e presidente da COP26 – disse que ele quer que a conferência alcance acordos em uma série de metas. São elas:

  • Manter a meta do 1,5ºC viva, o que pode envolver qualquer coisa para zerar a emissão de dióxido de carbono até metade do século e cortar as emissões de gases de efeito estufa de forma mais agressiva nessa década.
  • Estabelecer uma data para o fim do uso de carvão, algo que os líderes do G20 não conseguiram concordar em Roma. Líderes falam em acabar com o carvão “incessante”, o que significa que algum carvão ainda poderá ser empregado se conseguirem utilizá-lo sem emitir gases de efeito estufa.
  • Oferecer US$ 100 bilhões em financiamento climático anualmente —  o que as nações ricas haviam concordado em fazer a partir de 2020 para ajudar países em desenvolvimento fazerem a transição para economias de baixo-carbono e se adaptarem para os impactos da crise.
  • Fazer todos os carros vendidos serem zero poluentes em 14 a 19 anos.
  • Finalizar e reverter o desmatamento até o fim da década, já que florestas fazem parte essencial para remover o carbono da atmosfera.
  • Reduzir emissões de metano, um potente gás com capacidade 80 vezes maior de aquecimento do que o dióxido de carbono. Os EUA e a Europa prometem reduzir 30% das emissões de metano.

- Doria anuncia investimento de R$ 100 milhões na Amazônia

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse nesta 2ª feira (1º.nov.2021) que o Estado fará um investimento de R$ 100 milhões para a Amazônia Legal. O anúncio foi feito durante a visita do tucano a Glasgow para a COP26 (Conferência sobre as Mudanças Climáticas).

Doria afirmou que o investimento faz parte do maior programa de pesquisa e desenvolvimento para o bioma. O aporte inicial do governo paulista vai para um fundo que pode chegar a R$ 500 milhões, de acordo com Doria.

O repasse do Estado será intermediado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

“Exemplo de união e integração pelo meio ambiente que o Brasil tanto precisa nesse momento”, disse o governador no Twitter.

Além de Doria, outros 9 chefes de governos estaduais estão presentes em Glasgow para participar da COP26. Eles contrapõem a ausência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na cúpula do clima.

O chamado Consórcio Brasil Verde, representado pelos 10 governadores, adotou um posicionamento desligado do Executivo federal. O grupo apresentará projetos voltados para a preservação da Amazônia. No total, 22 governadores fazem parte do consórcio.

Já o governo federal é representado pelo ministro Joaquim Leite (Meio Ambiente), que discursa nesta 2ª feira (1º.nov) na cidade escocesa.

Fonte: BBC News Brasil - CNN Brasil - Poder360