Política

Acusado de rachadinha, Davi Alcolumbre "severiniza" o Senado





Seis ex-funcionárias do gabinete de Davi Alcolumbre (DEM) acusam o senador de ter embolsado 90% dos seus salários ao longo de cinco anos — prática que, graças à família Bolsonaro, o Brasil todo sabe que se chama "rachadinha".

A revelação foi feita hoje pela revista VEJA. Segundo a publicação, da ação na Justiça que as ex-funcionárias movem contra o senador constam extratos bancários comprovando que alguém zerava suas contas tão logo recebiam o pagamento. Os saques seriam feitos em dinheiro vivo, num caixa eletrônico próximo ao gabinete de Alcolumbre.

Se comprovadas as acusações, o parlamentar pode ter seu mandato cassado de forma célere.

Ao contrário do que aconteceu com Flávio Bolsonaro, a acusação que pesa sobre Alcolumbre se refere a um suposto delito cometido no exercício do seu atual mandato. Já Flávio, hoje senador, responde por crime que teria sido praticado na época em que era deputado estadual — do que resulta metade das discussões jurídicas que tem esticado o seu processo.

No caso de Alcolumbre, segundo a VEJA, a prática da rachadinha se estendeu de 2016 a março de 2021. Compreendeu, portanto, inclusive o período em que Alcolumbre foi presidente do Senado (2019-2021).

Davi Alcolumbre chegou ao cargo — o terceiro na linha sucessória da Presidência da República— catapultado pelo discurso do combate à velha política, na época entoado por Jair Bolsonaro.

A acusação de rachadinha, tido como crime de quinta categoria jamais registrado no Senado (onde quem quer pisar fora da linha se dedica a práticas bem mais rentáveis) cobre a Casa com as mesmas tintas grotescas que um dia o ex-deputado Severino Cavalcanti pintou a Câmara ao ser pego em flagrante, no exercício da presidência, extorquindo em 40 mil reais o dono da lanchonete da Casa para manter a concessão do negócio.

Alcolumbre, quando assumiu a presidência do Senado, era um ex-deputado estadual pelo Amapá transmutado no Davi que derrotou o Golias, então incorporado por Renan Calheiros (MDB) — que antes de ser beatificado pela CPI da Covid, era o símbolo da cacicagem política dizimada pela Lava Jato.

Era uma época em que Sergio Moro era ministro da Justiça, Augusto Heleno cantava "se ficar, pega Centrão" e o governo jurava jamais fazer toma lá dá cá — conversa, só com as bancadas temáticas. Davi Alcolumbre ainda tinha cabelos pretos e representava o novo, o bem.

Agora, a acusação de que chafurdou na rachadinha não apenas "severiniza" o senador. Se comprovada, faz lembrar que, ao final, nada tinha mesmo mudado.

Fonte: UOL