Política

Jefferson diz que Bolsonaro e Flávio se viciaram em dinheiro público





Preso desde agosto por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) escreveu uma carta em que critica o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), pelo que classificou como "vício nas facilidades do dinheiro público". O teor da carta foi publicado pelo jornal O Globo e confirmado pelo UOL.

Aliado do chefe do Executivo federal, Jefferson disse que o presidente cercou-se de "viciados em êxtase com dinheiro público", citando nominalmente o líder do Centrão e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que convidou Bolsonaro e seus três filhos políticos a se filiarem à sigla para concorrerem às eleições em 2022 pela legenda. "Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio", escreveu o ex-deputado.

Bolsonaro precisava peitar. Se os filhos atrapalham, remova-os. Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira puxam para trás qualquer mudança de práticas, para uma nova vereda de austeridade e honra. Ruptura com a corrupção tem um peso, leva gente que nós gostamos. Mas é o que o povo espera Trecho de carta escrita pelo ex-deputado Roberto Jefferson

Na carta, Jefferson diz ainda que o PTB deve ter candidatura própria nas eleições de 2022 e orienta os líderes do partido a convidarem o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) para disputar a Presidência da República.

"Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno (...) Gustavo, leva a carta ao general Mourão. Convide-o para a disputa a Presidência, quem souber percorrer a terceira via vencerá a eleição."

Jefferson convidou o presidente a retornar ao PTB para disputar a reeleição. Bolsonaro foi filiado à legenda entre 2003 e 2005. Ontem, no entanto, o chefe do Executivo confirmou conversas com PP e PL para definir sua filiação. 

Atos de 7 de setembro: 'Bolsonaro fraquejou'

O ex-deputado fala ainda, na carta, sobre os atos de 7 de setembro, que tiveram manifestações golpistas, pedindo o fechamento do STF e contra o Congresso. Jefferson disse que Bolsonaro "fraquejou", mesmo após "todo o povo sair às ruas". No fim da mensagem, Jefferson diz ainda que "7 de setembro é dia inacabado".

Em discurso no dia em que se comemora a Independência do Brasil, o presidente, em um desafio explícito ao STF, declarou abertamente que não respeitaria "qualquer decisão" do ministro Alexandre de Moraes, incitando seus apoiadores contra a Corte. Dois dias depois, no entanto, ele divulgou uma carta em que recuou e declarou respeito às instituições brasileiras. 

7 de setembro ficou imaculado. Todo o povo saiu às ruas para dizer eu autorizo, não havia volta, não havia transigência com as velhas práticas. Mas por algum motivo, Bolsonaro fraquejou. Não teve como seguir. Escrevo isso insone. Não preguei meus olhos. Esse pensamento queimou minhas pestanas, não consegui fechar meus olhos e dormir Trecho de carta de Roberto Jefferson

UOL procurou o Palácio do Planalto a respeito das críticas feitas ao presidente e aguarda retorno.

Prisão

Jefferson está preso preventivamente no complexo Penal de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, desde 13 de agosto, por determinação do ministro Alexandre de Moraes. Ele é suspeito de envolvimento com uma milícia digital que atua contra a democracia.

Na última terça-feira (26), Moraes negou pedido da defesa do ex-deputado para transferência dele da unidade prisional para o Hospital Samaritano, no Rio. O presidente licenciado do PTB sentiu-se mal e precisou de atendimento médico no complexo.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou denúncia contra Jefferson por incitação ao crime e homofobia. Datado de 25 de agosto, o documento é assinado pela subprocuradora Lindôra Araújo e foi enviado ao STF na semana passada.

A denúncia foi motivada por entrevistas e publicações em que o ex-deputado estimulou a população a atacar o Congresso Nacional, o STF e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

No ofício, a PGR detalha publicações nas redes sociais e entrevistas concedidas pelo político a alguns veículos de comunicação. Há, também, a reprodução de uma entrevista em que o ex-deputado compara a população LGBTQI+ a drogados e traficantes.

Leia abaixo a carta na íntegra:

O Bolsonaro era a ruptura. Foi eleito para romper com uma velha política, que teve origem na redemocratização, toma lá dá cá, governo de coalização, cada partido recebe um naco da administração e se remunera. E o povo?

"O povo que se lasque".

O Bolsonaro deveria ter aprofundado a ruptura, os choques seriam intensos, como o rugido das ondas nas paredes rochosas dos litorais. Mas ressaqueado até que passasse esse ciclo da lua. Quando tudo, tudo, seguiria o retorno da nova liderança. Mas ele foi cercado pelas figuras do Centrão, que o fizeram capitular frente aos rosnados das bestas famintas de dinheiro público. E o povo? O povo gostaria de ver as bestas enjauladas ou abatidas a tiros pelos caçadores. Mas o presidente tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal. Acreditou nas facilidades do dinheiro público. Esse vício é pior que o vício em êxtase, quem faz sexo com êxtase tem o maior orgasmo ou ejaculação que o corpo humano de Deus pode proporcionar. Gozou com êxtase, para sempre dependente dele. Desfrutou do prazer decorrente do dinheiro público, ganho com facilidade, nunca mais se abdica desse gozo paroxístico que ele proporciona.

Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio.

Nosso caminho é outro. Queremos um governo dos justos, que felicite e orgulhe o povo. Um governo que não roube e não deixe roubar. Um governo que sirva o povo, não se sirva dele. Um governo que trabalhe com o poder do amor, jamais com o amor do poder.

Reparem, quando eu quis construir um partido com bases nas expectativas honradas do povo brasileiro, abri mão de lideranças viciadas em velhas práticas; Rondon, Albuquerque, Campos, Cristiane, Benito, Armando, Arnon Bezerra, etc...

Não é fácil fazer a mudança, ela machuca até a gente, pois temos que atingir gente que amamos, mas que se recusa a compreender os novos objetivos.

Bolsonaro precisava peitar.

se os filhos atrapalham, remova-os. Valdemar Costa neto e Ciro Nogueira puxam para trás qualquer mudança de práticas, para uma nova vereda de austeridade e honra.

Ruptura com a corrupção tem um peso, leva gente que nós gostamos. Mas é o que o povo espera.

7 de setembro ficou imaculado. Todo o povo saiu às ruas para dizer, eu autorizo, não havia volta, não havia transigência com as velhas práticas. Mas por algum motivo, Bolsonaro fraquejou. Não teve como seguir. Escrevo isso insone. Não preguei meus olhos. Esse pensamento queimou minhas pestanas, não consegui fechar meus olhos e dormir.

Vamos por nós mesmos.

Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno.

Não é fácil afastar um filho, sei a dor de afastar a Cristiane. Mas o projeto político está acima das concessões sentimentais.

Não se transige à tirania.

Não se transige à opressão.

Não se rende homenagens à ditadura, não se curva às ameaças dos arrogantes.

Nosso edital sinalizará um novo caminho." A candidatura própria tem precedência sobre as demais".

Gustavo, leva a carta ao general Mourão. Convide-o para a disputa a Presidência, quem souber percorrer a terceira via, vencerá a eleição.

São 5:30 horas, não preguei meus olhos. Minha cabeça está acesa e ligada. É o fogo do Espírito Santo mostrando o caminho a se seguir.

Não visitem mais a Carminha, ela é desembargadora, ele é da turma do Supremo. Nós somos políticos, nossa gente é outra. Somos de outra tribo.

Candidatura própria tem precedência.

7 de setembro é um dia inacabado, quem souber construir o sonho de nosso povo, virará vitorioso as páginas de nossa folhinha.

Deus abençoe nossa gente.

Deus proteja nosso Brasil.

Deus é nossa força e vitória.

Abração.

Roberto Jefferson.

7 de setembro é dia inacabado.

O povo foi ludibriado.

Sem saber que está ao vivo, Bolsonaro indaga: 'Quanto vale a vaga no STF?'

Durante o intervalo de uma entrevista, e sem saber que estava ao vivo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) questionou hoje qual seria o "preço" de uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), mas mudou de assunto ao ser alertado sobre a transmissão. No momento ele falava por videoconferência com a TV Jovem Pan News e transmitia ao mesmo tempo pelo seu perfil no Facebook.

"Presta atenção, pessoal. Quanto você acha que vale a vaga para o Supremo Tribu...?", começou a dizer o presidente, sem terminar o raciocínio e explicar ao que se referia.

live no perfil de Bolsonaro continuava a ser transmitida enquanto a Jovem Pan fazia um intervalo comercial. No meio da fala, alguém alertou Bolsonaro e ele, então, mudou de assunto.

"Tá gravando aí? Tá aqui na? Então, isso daí é o Brasil, a gente apanha pra c*, pô, o tempo todo. E tem gente que não dá valor. 'Ah, tem que resolver tudo'. Não dá pra resolver tudo, vamos devagar. Imagina se tivesse sentado no meu lugar o Haddad, como estaria o Brasil? Dá pra imaginar como estaria o Brasil? Estaria em lockdown", prosseguiu, mudando de assunto.

A declaração do presidente ocorre em um momento em que ele tem concentrado críticas à demora no agendamento no Senado Federal da sabatina de André Mendonça, indicado por ele para o Supremo.

Ontem, em entrevista para a TV Boas Novas, do Amazonas, Bolsonaro se queixou da postura do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Cabe a ele agendar a sabatina de Mendonça, indicado há mais de 100 dias por Bolsonaro.

"Alcolumbre foi excepcional comigo no Congresso, por que essa rejeição agora? Não votar é uma tortura, o que André fez de errado? Não vou desistir de André Mendonça", disse.

Leilão

O presidente também comentou, durante o intervalo, sobre o leilão da Via Dutra, que acontece na próxima sexta-feira (29). Bolsonaro falou, então, sobre supostos casos de corrupção em contratos de pedágios e de pessoas que recebiam "propinas em caixas de sapato".

"No passado, o cara que fazia contrato levava uma caixa de dinheiro embora, metia a caneta no contrato e passava para R$ 20 o pedágio. Assim que funcionava. Ou não era assim? Pedágio de moto no Paraná, R$ 9. Agora, o que eu apanho por causa disso. Para mim é fácil: manda um sapato número 43 para mim, meu número aqui, tá? Um beijo. Sem problema. Chega o sapato número 43 cheio de notinha de cem verdinha dentro", exemplificou.

Mais tarde, em outra entrevista para a Jovem Pan, Bolsonaro discutiu com o humorista André Marinho, do programa Pânico, ao ser questionado sobre 'rachadinha'. Depois de bater boca, o presidente deixou a entrevista quando, minutos depois, o humorista tentou retomar o assunto.

Fonte: UOL