Política

Geração covid: Brasil tem 35,9% de jovens que nem estudam nem trabalham





Falta de oportunidades, desemprego em alta e abandono escolar fazem do Brasil o vice-campeão entre os países com a maior proporção de jovens que nem estudam nem trabalham. Em 2020, eram 35,9% dos jovens brasileiros de 18 aos 24 anos nessa situação.

Esse percentual só não é maior do que o da África do Sul. E está muito longe da média dos países, que é de 15,1%. Especialistas ouvidos pelo Poder360 indicam que essa situação tem consequências graves para a economia brasileira, além de representar a falta de políticas públicas por parte do governo e uma oportunidade perdida.

Os dados sobre cada país são da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Eis a íntegra do Education at a Glance (6 MB).

Um dos pontos que o relatório da OCDE destaca sobre o Brasil é como a pandemia de covid-19 impactou as perspectivas de emprego para os jovens adultos. Segundo Enid Rocha, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a entrada no mercado de trabalho já é algo difícil no Brasil. Agora, está ainda pior.

É o que nós já estamos chamando de ‘geração covid’”, afirma Rocha. “A pandemia afetou diretamente a educação e o mercado de trabalho. E quanto mais tempo esses jovens ficam nessa situação, mais profundas serão as marcas que os acompanharam por toda a vida.

E essa situação vem antes mesmo da pandemia. Rocha cita a crise econômica que atingiu o Brasil em 2015, que já aumentou a vulnerabilidade dos mais jovens. O mercado de trabalho mais frágil limita oportunidades, sejam na educação ou na carreira.

Nos últimos anos, o desemprego voltou a crescer no país. Para Marcus Barão, presidente do Conjuve (Conselho Nacional da Juventude), o cenário de piora econômica cria um grande risco: a desilusão juvenil.

O que você tem na prática é uma desesperança em relação ao futuro, por impactos significativos no processo educacional e ao emprego. O jovem estuda e não consegue trabalhar, mas quando não estuda a chance é ainda menor”.

E o problema só piorou com a falta de políticas públicas. Durante a pandemia o Brasil foi um dos poucos países que não aumentaram o investimento em educação, segundo a OCDE. Os repasses representavam 4% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018. O percentual não se alterou em 2020 ou em 2021.

Rocha chama a atenção também para a falta de programas de profissionalização e os efeitos da desigualdade, que impede que muitos estudantes acompanhem a educação a distância.

Nesse sentido, o Conjuve lançou em outubro o “Pacote de Medidas para a Inclusão produtiva das Juventudes no Brasil”. O relatório ouviu diferentes especialistas para propor políticas públicas para que jovens avancem em seus estudos e consigam entrar no mercado de trabalho. Eis a íntegra das propostas (9 MB).

Barão afirmou ao Poder360 que irá à Brasília de 19 a 21 de outubro para conversar com integrantes do Congresso Nacional sobre o tema. A Conjuve também tenta diálogo com o Poder Executivo para uma política na área.

RELAÇÃO TRABALHO-EDUCAÇÃO

Nos últimos anos, a evasão escolar caiu. Em 2018, os que abandonavam o ensino fundamental era 1,5%, enquanto que em 2020 foi de 1%. Já no ensino médio a queda foi de 6,1% para 2,3%.

Clique nas abas para ver os valores para cada etapa de ensino:

Mas o desemprego na faixa de 18 a 24 anos cresceu de 28,1% para 29,8% no mesmo período.

Passe o cursor nas linhas para ver os valores:

Para os jovens que não continuam seus estudos, seja os abandonando ou não indo além do nível básico (conclusão do ensino médio), a situação é ainda pior. A exigência de conhecimento técnico acaba barrando muitos jovens no mercado de trabalho.

E mesmo quando conseguem inserção no mercado de trabalho, jovens que não tem a oportunidade de continuar seus estudos são mais propensos a terem empregos informais, com menores remunerações e sem acesso à seguridade social.

Segundo Barão, para aqueles que precisam sair do ensino básico para trabalhar e acabam abandonando a escola, a situação é ainda pior.

Quando a gente olha par ao impacto na vida dos jovens, além da informalidade e da baixa remuneração a gente percebe que há uma redução na própria expectativa de vida. Eles ficam ainda mais suscetíveis a vulnerabilidades sociais que causam muitos danos no presente e no futuro.”

Para Rocha, o Brasil está perdendo uma oportunidade. “Todos os países aproveitaram esse momento em que a maior parte da sua população é jovem. O Brasil não conseguiu. Nossa população começa a envelhecer e, a curto e médio prazo, não há perspectiva de melhora para a situação dos jovens e para o futuro dessa geração.”

Apesar de otimismo aparente, ressaca de 2020 na economia está longe de acabar

Cadeia de abastecimento global está um desastre, Europa e Ásia vivem uma crise energética e EUA ainda precisa resolver conflito do teto da dívida

Apesar das boas notícias sobre as vacinas contra a Covid-19, uma recuperação econômica sólida e um otimismo aparentemente ilimitado em Wall Street, não estamos nem perto de ter resolvido os problemas.

A cadeia de abastecimento global está um desastre. A Europa e a Ásia estão enfrentando uma escassez de energia potencialmente paralisante. E o impasse partidário do governo dos Estados Unidos em relação ao teto da dívida está longe de estar resolvido.

Tudo isso coloca a economia global em um aperto do qual não estaremos livres tão cedo.

“Há tanta incerteza hoje quanto havia em março de 2020, quando a pandemia estava começando”, disse Mike O’Rourke, estrategista-chefe de mercado da Jones Trading. A única diferença agora, diz ele, é que os investidores estão nadando em um dinheiro fácil que lhes permite ignorar as más notícias.

Caos na cadeia de suprimentos

O governo Biden está fazendo o que pode. Na quarta-feira, a Casa Branca anunciou uma “corrida de 90 dias” para desobstruir o congestionamento dos portos, colocando o porto de Los Angeles em funcionamento 24 horas por dia e incentivando o setor privado a expandir suas operações noturnas.

A mudança para o horário integral, porém, é algo simples, disse Geoff Freeman, CEO da Consumer Brands Association. Os portos no exterior operam dessa forma há meses.

O problema é muito mais profundo do que esses gargalos. Os motoristas de caminhão, por exemplo, estão sendo muito procurados em quase todos os lugares, tanto quando os caminhões, que dependem de chips de computador, que têm – como você pode imaginar – uma fila de espera para entregas até o fim dos tempos.

A maioria dos executivos financeiros espera que os problemas de abastecimento durem até pelo menos 2022, se não mais tarde, de acordo com uma pesquisa divulgada na quinta-feira pela Duke University.

Preços em alta

Tudo isso está elevando os preços. Não é preciso um Ph.D em economia para perceber isso, e mesmo assim os banqueiros centrais e economistas ainda continuam chamando os aumentos de “transitórios”.

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, já usou tanto o termo que ele praticamente perdeu todo o significado.

Na quarta-feira, a declaração oficial do Fed foi: “A equipe continua esperando que o aumento da inflação neste ano se mostre transitório.” No mesmo dia, o governo divulgou dados mostrando que o índice de preços ao consumidor do país subiu 5,4% em setembro em relação ao ano anterior.

A linha “transitória” do Fed parece muito otimista para pessoas cujo trabalho é manter a inflação em torno de 2%.

Como se tudo isso não fosse difícil o suficiente para os consumidores, o inverno está chegando no hemisfério norte e o mundo está enfrentando uma escassez aguda de energia.

As famílias americanas podem esperar gastar 54% mais com propano, 43% mais com óleo para aquecimento doméstico, 30% mais com gás natural e 6% mais com aquecimento elétrico, disse a Agência de Informação de Energia dos Estados Unidos na quarta-feira.

Os aumentos são ainda mais dramáticos na Europa, onde os preços da eletricidade no atacado aumentaram 200% em relação à média de 2019, de acordo com a Comissão Europeia. Os preços do carvão na China estão em níveis recordes e blecautes para conservar energia já começaram.

E apenas para manter as coisas interessantes, os legisladores dos EUA estão flertando com um desastre financeiro.

O presidente Biden assinou na sexta-feira uma suspensão do teto da dívida de curto prazo, evitando um calote iminente da dívida dos EUA. Mas o Tesouro diz que o acordo só levará o país até 3 de dezembro, estabelecendo mais um confronto para republicanos e democratas.

É difícil calcular o quão devastador seria um calote. A perda de milhões de empregos anularia todos os ganhos que o mercado de trabalho obteve desde o choque da pandemia e os mercados de crédito paralisariam. Os pagamentos dos funcionários federais, os benefícios do Medicare [programa de plano de saúde do governo dos EUA] , os salários de militares e outras contas seriam suspensas.

“Ninguém seria poupado”, disse Maya MacGuineas, presidente do Comitê para um Orçamento Federal Responsável, à CNN no mês passado. “Seria um desastre auto-imposto do qual não nos recuperaríamos, e em um momento em que nosso papel no mundo já está sendo questionado.”

Cegueira em Wall Street

Diante de tanto risco, você pode se perguntar por que Wall Street parece tão despreocupada. Apesar da volatilidade recente, o S&P 500, a medida mais ampla das bolsas de Nova York, subiu mais de 18% neste ano.

Os investidores odeiam a incerteza, mas amam mais o dinheiro fácil. “São US$ 10 trilhões de estímulo fiscal e monetário injetados em uma economia de US$ 22 trilhões”, disse O’Rourke, da Jones Trading.

Todo esse dinheiro neutralizou os sinais que os investidores poderiam receber de que o problema está acontecendo.

“Há muita liquidez e todos se sentem tão confortáveis com isso que estão ignorando as notícias e os riscos, por enquanto”, disse O’Rourke. “Mas é improvável que ignorem para sempre.”

Isso porque o Fed planeja começar a pisar no freio em suas políticas de dinheiro fácil, provavelmente no mês que vem.

O medo de ficar de fora é outro sentimento poderoso que mantém os mercados de ações em alta. Os investidores estão bem cientes de que a festa não pode durar para sempre, então eles vão enlouquecer enquanto podem.

Estamos em uma “bolha enorme”, de acordo com O’Rourke. E é difícil, senão impossível, prever quando ela vai estourar.

Fonte: Poder360 - CNN Brasil