Cotidiano

CPI cancela convocação de médico e ouvirá representante do CNS na segunda





Senadores resolveram substituir o pneumologista Carlos Carvalho por Nelson Mussolini, representante do CNS

A CPI cancelou a ida do médico Carlos Carvalho para a oitiva de segunda-feira (18). No lugar do pneumologista, os senadores vão ouvir o representante do Conselho Nacional de Saúde, Nelson Mussolini.

Carvalho, que estava convocado, foi responsável pela elaboração de um estudocom parecer contrário ao uso de medicamentos ineficazes contra a Covid-19. O estudo seria avaliado pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) na semana passada, mas foi retirado da pauta.

Durante reunião da manhã, o senador Randolfe Rodrigues apresentou questionamentos para não convocar o médico, com quem se reuniu no último sábado. Randolfe e Aziz definiram trocar o nome de Carvalho pelo de Mussolini ainda nesta manhã.

Aziz confirmou ainda a presença de outros sete depoentes na segunda: Mayra Pires Lima, enfermeira em Manaus; Geovana Dulce e Katia Shirlene Castilho dos Santos, órfãs da COVID; Rosane Brandão, viúva da COVID; Jarquivaldo Bites Leite e Marcio Antonio, vítimas da COVID; e Antonio Carlos Costa, da ONG Rio de paz.

O relatório, do senador Renan Calheiros, será votado na próxima quarta-feira (20) e deve contar com o pedido de indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por homicídio. Renan também vai solicitar o indiciamento dos três filhos mais velhos do presidente, Flávio, Carlos e Eduardo.

- Aziz sobre CPI acusar Bolsonaro de genocídio: 'Vou ter que ser convencido'

Em entrevista ao UOL News na manhã de hoje, o senador e presidente da CPI da Covid Omar Aziz (PSD-AM) falou sobre a reta final do relatório produzido por Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão.

O relator pretende pedir o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por homicídio. Aziz disse que precisa ser convencido para acusar Bolsonaro.

"Vou ter que ser convencido de que Bolsonaro cometeu o crime de genocídio. Nós demos o prazo até o dia 15 desse mês, que é hoje, para o Renan fizesse o relatório, com auxílio de pessoas qualificadas. Se for colocar o presidente como genocida, eu queria saber qual foi o genocídio. Todos sabem das minhas divergências com o presidente, mas eu não posso ir além. Eu tenho que ter essa cautela, eu não vejo, só se alguém me convencer desse crime", disse o senador, sem explicar contra quem seria o genocídio apontado no relatório.

Questionado se o general Walter Braga Netto entraria no relatório, Aziz disse que "se pudesse, adiaria o final da CPI para ouvi-lo". 

"Se eu pudesse adiaria o final da CPI para ouvir do Braga Netto quem produziu aquele decreto para mudar a bula da cloroquina. Eu gostaria de fazer apenas uma pergunta para ele: quem teve e quem redigiu o decreto? Não foi o senhor, porque o senhor não entende nada de saúde. Não importa se é general ou coronel, precisa ser investigado do mesmo jeito", afirmou.

"O nome dele precisa estar no relatório. O gabinete paralelo tinha a participação dele, com certeza absoluta. Se o gabinete paralelo existiu, Braga Netto estava junto. Ele não estava fora disso não", completou.

O senador ainda comentou sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro, que disse que chora no banheiro em casa. 

"Tem pessoas que choram de alegria, pessoas que choram de tristeza e eu espero que o presidente esteja fazendo um choro de autocrítica", finalizou Aziz.

- Relatório da CPI deve pedir indiciamento de Bolsonaro por 11 crimes

O relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), pedirá que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seja indiciado por 11 crimes em seu parecer. A informação foi confirmada pelo Poder360, depois de revelada pela GloboNews. A previsão é de que o relatório seja aprovado pela comissão em 20 de outubro.

Eis a lista dos crimes que devem ser imputados ao presidente:

  • Crime de epidemia com resultado de morte;
  • Crime de infração a medidas sanitárias preventivas;
  • Crime de emprego irregular de verba pública;
  • Crime pela incitação ao crime;
  • Crime de falsificação de documentos particulares;
  • Crime de charlatanismo;
  • Crime de Prevaricação;
  • Crime de genocídio de indígenas;
  • Crime contra a humanidade;
  • Crime de responsabilidade;
  • Crime de homicídio comissivo por omissão no enfrentamento da pandemia.

A CPI foi criada em 27 de abril deste ano para investigar as ações do governo federal durante a pandemia e os repasses de verbas federais para Estados e municípios.

Depois de aprovado, o relatório da comissão é encaminhado ao Ministério Público, que decide como proceder em seguida. Em teoria, pode abrir investigações, indiciar personagens ou não fazer nada.

- Relatório da CPI da Pandemia já supera mais de 1.200 páginas

A minuta do relatório da CPI da Pandemia foi entregue ao relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), nesta quinta-feira (14). O texto organizado por técnicos tem mais de 1.200 páginas e foi dividido em dois volumes encadernados pelo Senado, em capa azul. A CNN registrou em fotos a capa desses textos, no momento em que foram concluídos.

Diante do tamanho do relatório, Calheiros não pretende ler tudo, deve focar em três capítulos finais, que incluem as conclusões das investigações e a lista de crimes que serão imputados aos acusados.

Calheiros tem sido procurado por senadores, juristas e entidades com sugestões. Nesta sexta-feira, a cúpula da CPI vai se reunir em torno do texto. Cópias da versão final do relatório vão ser entregues em papel e, também, digitalmente aos parlamentares da comissão e aos não-membros mais ativos, até terça-feira (19), quando o texto será apresentado por Calheiros à comissão.

Entre as sugestões finais, faltam algumas contribuições, como as da bancada feminina.

- “Nada vai prosperar”, diz Flávio Bolsonaro sobre relatório da CPI da Covid

 

O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) disse nesta 6ª feira (15.out.2021) que o relatório final da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado é cheio de “baboseira” e que os 11 crimes que devem ser imputados a seu pai no texto final não devem prosperar na PGR (Procuradoria Geral da República). Deu a declaração em entrevista à CNN Brasil.

 

“Essa é uma peça política. Como o Renan [Calheiros] é muito próximo do Lula e do PT, ele já tenta usar isso como instrumento pra tentar desgastar o presidente Bolsonaro pra 2022″, disse o senador. “Como ele [Renan Calheiros] tem coragem de dizer de genocídio indígena?”

 

Os crimes que devem ser imputados ao presidente da República são:

 

  • Crime de epidemia com resultado de morte;
  • Crime de infração a medidas sanitárias preventivas;
  • Crime de emprego irregular de verba pública;
  • Crime pela incitação ao crime;
  • Crime de falsificação de documentos particulares;
  • Crime de charlatanismo;
  • Crime de Prevaricação;
  • Crime de genocídio de indígenas;
  • Crime contra a humanidade;
  • Crime de responsabilidade;
  • Crime de homicídio comissivo por omissão no enfrentamento da pandemia.

 

A CPI foi criada em 27 de abril deste ano para investigar as ações do governo federal durante a pandemia e os repasses de verbas federais para Estados e municípios.

 

Depois de aprovado, o relatório da comissão é encaminhado ao Ministério Público, que decide como proceder em seguida. Em teoria, pode abrir investigações, indiciar personagens ou não fazer nada.

 

O advogado criminalista e mestre em Direito Penal Econômico e Compliance pelo IDP Bernardo Fenelon disse ao Poder360 que, mesmo que os pedidos de indiciamento sejam aceitos pela PGR, Bolsonaro ainda não sofreria as sanções cabíveis.

 

“Nesse momento, ainda que haja o indiciamento de Jair Bolsonaro pelos crimes de charlatanismo, crimes contra a humanidade e homicídio comissivo por omissão no enfrentamento da pandemia, por exemplo, o Presidente só poderia vir a ser preso após condenação transitada em julgado.”

 

Os senadores governistas da CPI criticam a politização da comissão, que dizem ser usada como espaço para atacar o presidente Jair Bolsonaro. O grupo deve produzir um relatório próprio com a sua versão dos fatos para contrapor o que será apresentado por Renan Calheiros (MDB-AL).

 

Em nota à imprensa divulgada mais tarde nesta 6ª feira (15.out), Flávio Bolsonaro disse que o relatório de Renan é uma “alucinação” e um desrespeito com as 600 mil vítimas da pandemia no Brasil.

 

Leia a íntegra da nota do senador:

 

O relatório do senador Renan Calheiros é uma alucinação, não se sustenta e é um desrespeito com as quase 600 mil vítimas da Covid que esperavam algo de útil da CPI. Trata-se apenas de uma peça política para agradar ao PT e para tentar desgastar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. As acusações contra mim e contra o governo não têm base jurídica e sequer fazem sentido. É preciso lembrar que todas as vacinas aplicadas no País, sem exceção, foram compradas pelo governo Bolsonaro. E que, apesar da CPI insistir no rótulo de negacionista, foi o governo Bolsonaro que aplicou mais de 254 milhões de doses de vacina, distribuiu 300 milhões de doses aos Estados e que por conta desse esforço alcançou 65% da população adulta totalmente imunizada, até o momento.

 

Além disso, foi Bolsonaro que garantiu oxigênio e dezenas de milhares de leitos de UTI em todo o Brasil para fazer frente a pandemia.

 

Se não fosse Bolsonaro, que por meio do auxílio emergencial, transferiu R$ 335,6 bilhões e atendeu 68 milhões de brasileiros, o País teria se transformado num caos.

- Renan diz que amizade com Lula não tira legitimidade da CPI

A poucos dias da entrega do relatório final da CPI da Covid, a mesa de trabalho do seu relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), está repleta de pilhas de papel com versões preliminares do texto. 

O documento final deverá ser divulgado na segunda-feira (18/10). Envolto em contradições, Renan Calheiros é conhecido tanto pela sua habilidade política quanto por ter sido alvo de acusações de corrupção. 

Na relatoria da CPI, Renan Calheiros voltou a atrair as atenções da opinião pública atuando como o investigador principal das condutas do governo federal em relação ao enfrentamento à epidemia em um país onde mais de 600 mil pessoas morreram vítimas da covid-19.

Em entrevista à BBC News Brasil, Renan acusa Bolsonaro de genocídio contra os povos originários e de envolvimento na disseminação de notícias falsas sobre a doença. 

A BBC News Brasil procurou a assessoria de comunicação da Presidência da República para se pronunciar sobre as declarações de Renan Calheiros, mas nenhuma resposta foi enviada. Caso o Planalto se manifeste, este texto será atualizado.

Por outro lado, Calheiros admite ser amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece como favorito a vencer as eleições de 2022 segundo pesquisas de intenção de voto mais recentes, mas o senador nega que essa proximidade tire legitimidade da CPI.

"Eu sou amigo dele porque eu já fui quatro vezes presidente do Senado Federal, uma parte dessas vezes em governos do presidente Lula, mas eu tenho uma boa convivência com todos os setores da política nacional. Mas o que cabia a mim naquela oportunidade era fazer o filtro, né? Evitar que a CPI entrasse na antecipação dessa disputa presidencial", disse.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - O relatório final da CPI vai indiciar o presidente Jair Bolsonaro? Em caso positivo, por quais crimes?

Renan Calheiros - Sem dúvida nenhuma. Nós vamos indiciar o presidente em função do objetivo da própria CPI. Ela se instalou pela necessidade de se dar uma resposta à sociedade sobre de que forma o presidente da República participou ou não, se é responsável ou não pelo agravamento do número de mortes no Brasil e a conclusão da comissão é de que ele é, sim, responsável e tem que ser indiciado por tudo isso. 

A perspectiva é que nós utilizemos 11 tipos penais de crimes diferentes em função das condutas do presidente da República. São vários crimes. Crimes comuns, crimes contra a vida, crimes contra a saúde pública, crimes de responsabilidade e crimes contra a humanidade.

BBC News Brasil - E a CPI vai indiciar os filhos do presidente?

Calheiros - Nós estamos também estudando a perspectiva em função do elenco probatório que a CPI teve acesso de fazer o indiciamento de três dos filhos do presidente da República.

Senador Renan Calheiros

Rogerio Verçoza e Wellington Almeida/BBC

'A conclusão da comissão é de que ele (Jair Bolsonaro) é, sim, responsável e tem que ser indiciado por tudo isso', diz Calheiros sobre as conclusões da CPI a respeito do papel de Bolsonaro no agravamento da pandemia no país

Calheiros - O deputado (Eduardo Bolsonaro), o senador (Flávio Bolsonaro) e o vereador (Carlos Bolsonaro).

BBC News Brasil - Por quais crimes eles serão indiciados?

Calheiros - Pelo envolvimento nas fake news, nas negociações das vacinas. Na negociação da Pfizer, a CPI constatou que, numa dessas reuniões, o vereador Carlos Bolsonaro, que não tinha nada a ver com o governo federal, nem tão pouco com negociação de vacina, teve participação. 

E também (estudamos o indiciamento) por advocacia administrativa e por outros crimes mais que restaram comprovados em função da investigação.

BBC News Brasil - Uma das frentes de investigação da comissão foi sobre a divulgação de notícias falsas. Qual foi a participação do presidente Bolsonaro e dos seus filhos? Houve alguma participação do presidente Bolsonaro nesse mecanismo?

Calheiros - Sem dúvida que houve. Havia uma cadeia, uma rede. À medida em que Bolsonaro postava alguma coisa, as pessoas veiculavam aquilo, impulsionavam, sustentavam de alguma forma, geralmente, por meio de fake news. 

No caso da Prevent Senior, por exemplo, eles fizeram um estudo, um experimento com humanos que foram transformados em cobaias para o tratamento precoce sem o consentimento das famílias. Antes do final desse experimento, o presidente da República publicou um resultado que seria do estudo e ensejou um efeito inverso e contraditório porque o obrigou a Prevent Senior a fraudar documentos e informações para dar coerência aos números fraudulentos, falsificados que foram postados pelo Presidente da República. Então ele tem digitais em muitos momentos desse processo de fake news e em outros momentos da investigação.

'Ele (Bolsonaro) fez questão de deixar suas digitais em todos os momentos do enfrentamento à pandemia', declara Calheiros à BBC News Brasil

BBC News Brasil - Na sua avaliação, o presidente agiu dessa forma porque estava mal assessorado ou de forma intencional?

Calheiros - Evidente que agiu de forma intencional porque, com relação às vacinas, ele não só recusou as ofertas da Pfizer, da OMS (Organização Mundial da Saúde) através do consórcio Covax Facility e do (Instituto) Butantan, mas ele defendia a imunização de rebanho. 

Ele defendia aglomeração para que o vírus caminhasse livremente e elevasse o contágio da população e, em elevando o contágio da população, como consequência, nós tivéssemos, ele uma imunização natural. Ele defendia que as pessoas não usassem máscara. Ele ameaçou até utilizar um decreto para impedir as decisões dos Estados e municípios reafirmadas pelo Supremo Tribunal Federal. 

Ele fez questão de deixar suas digitais em todos os momentos do enfrentamento à pandemia. O que aliás, de certa forma repetiu, nos últimos dias, quando foi a Nova York a ONU, né? E lá na sua intervenção, no seu pronunciamento, ele praticamente refez tudo que tinha feito também ultimamente.

BBC News Brasil - O presidente e seus apoiadores criticam o trabalho da CPI sob o argumento de ela não conseguiu produzir soluções para alguns dos problemas que o Brasil enfrentava e ainda enfrenta no combate à pandemia como a questão da vacinação. Como o senhor responde a essas críticas?

Calheiros - Isso é um despropósito. Quando nós instalamos a comissão o Brasil tinha míseros 6% de vacinação completa de brasileiros. E hoje nós chegamos quase a 50%. A agilização da vacinação foi, sem dúvida nenhuma, uma das consequências da instalação e dos trabalhos da CPI.

BBC News Brasil - O governo agora afirma que o sucesso, se é que se pode falar dessa forma, ou a velocidade com a qual a vacinação no Brasil tem se dado é um exemplo de êxito do governo. Isso não esvazia o argumento da CPI de que o governo falhou?

Calheiros - Absolutamente (não), porque a CPI demonstrou o contrário. Ela comprovou que enquanto o governo não levava em consideração as ofertas de vacina da Pfizer, da OMS, do Butantan, o que significariam, na prática, 170 milhões de doses, uma grande parte delas que seria utilizada ainda no ano que passou, o governo surpreendentemente priorizava a aquisição de vacina a feita com lobistas, atravessadores que fizeram negociatas com o dinheiro do povo enquanto a população morria. 

O Brasil simplesmente deixou de ser um dos primeiros países a vacinar no mundo e perdeu tempo. E a comissão parlamentar de inquérito levantou números e informações que demonstram sobejamente que muitas dessas mortes que aconteceram no Brasil eram evitáveis sobretudo se nós tivéssemos, na hora certa, adquirido as vacinas e feito a imunização.

Presidente Jair Bolsonaro

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Presidente Jair Bolsonaro deve ser indiciado por genocídio contra os povos indígenas, defende Calheiros

BBC News Brasil - O senhor defende o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por genocídio contra as populações indígenas. Alguns especialistas afirmam que para configurar genocídio seria necessário comprovar o dolo. Que evidências a CPI conseguiu coletar até o momento que comprovem o dolo do presidente em relação a essa acusação?

Calheiros - Em função da complexidade das investigações, nós antecipamos o debate com juristas de várias correntes sobre a utilização dos tipos penais e todos os juristas são unânimes em afirmar que, pelo menos em relação aos povos originários, houve crime de genocídio, sim, e tudo isso está comprovado em ações do governo, em atos normativos do próprio governo.

BBC News Brasil - Recentemente, o senhor classificou o presidente Bolsonaro como um "mercador da morte". Do ponto de vista prático, que motivos o presidente teria pra boicotar o combate à covid dentro do seu próprio governo?

Calheiros - Deixa eu te falar... o (termo) "mercador da morte" é porque ele foi por 28 anos parlamentar e ele se notabilizou exatamente pela sua compulsão de morte. Ele chegou a defender o extermínio de 30 mil brasileiros para fazer um equilíbrio populacional e chegou a sugerir a morte do presidente da República de então, Fernando Henrique Cardoso. 

Então, o que o teria levado a não comprar as vacinas? Em primeiro lugar, porque ele não acreditava na eficácia das vacinas. Nós temos mais de 200 vídeos em que ele desmerece a vacina e a sua eficácia. Ele jogava o terror, apavorava a população. Ele dizia que se o homem tomasse vacina, afinaria a voz. Se a mulher tomasse a vacina, criaria pelos e que cada um que tomasse viraria jacaré.

BBC News Brasil - Corrupção foi um dos principais braços de investigação da CPI, entretanto, até o momento, a CPI não conseguiu comprovar de forma cabal o pagamento de propina em nenhum dos contratos analisados, especialmente em relação às vacinas. A CPI falhou ao mostrar que não houve corrupção nesses contratos?

Calheiros - Como não? A CPI demonstrou, só com relação à Covaxin, mais de 20 irregularidades. Chegou ao ponto de, em função da investigação, a Bharat Biotech suspender o credenciamento da Precisa Medicamentos alegando a falsificação de documentos. 

A Precisa foi indicada por pedido do Bolsonaro ao primeiro-ministro da Índia (Narendra Modi) e por indicação do líder do seu governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros. Nós comprovamos tudo verdadeiramente em todas as etapas da investigação.

BBC News Brasil - Mas nenhuma dessas irregularidades remonta pagamento de propina ou corrupção...

Calheiros - Isso porque setores do Estado impediram o pagamento, mas a Precisa chegou a pedir um adiantamento que não estava previsto no contrato para ser pago em paraíso fiscal. O setor técnico do Ministério da Saúde é quem impediu que isso acontecesse. Então, a CPI comprovou tudo e o governo se recusava a desfazer o contrato. 

Com relação ao pagamento, para você cometer o crime, não precisa culminar com o pagamento, com o recebimento da propina. O crime se verifica nas outras etapas da sua preparação.

Senador Renan Calheiros

Rogerio Verçoza e Wellington Almeida/BBC

'Há uma óbvia a ligação da Prevent Senior com o gabinete paralelo, que era uma espécie de gabinete das sombras que se formou para dar consultoria ao presidente da República nessa coisa do negacionismo e da imunização natural, de rebanho', diz Renan

BBC News Brasil - O argumento de que o "Estado funcionou" não pode ser usado pelo presidente Bolsonaro pra dizer que na sua gestão não foram permitidos atos de corrupção?

Calheiros - Não. É o contrário. A pessoa que inviabilizou o pagamento foi ter uma conversa com o presidente da República, nunca negada, e denunciou a corrupção na Covaxin.

BBC News - O senhor está se referindo aos…

Calheiros - Aos irmãos Miranda (o deputado Luis Miranda e seu irmão, o funcionário do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda). Estou citando exatamente o caso dele (Luis Ricardo) que impediu o pagamento da antecipação dos recursos da compra da Covaxin. 

E o presidente da República nunca negou essa conversa. Pelo contrário. Bolsonaro falou, em entrevista no Rio Grande do Sul, da existência dessa conversa e isso caracteriza crime de prevaricação porque ele estava obrigado a investigar e não fez nada. A CPI chegou a ter 78% de aprovação da sociedade. Isso é único. Se nós não tivéssemos investigado, é evidente que nós não chegaremos jamais a essa situação.

BBC News Brasil - A principal crítica dos senadores governistas em relação à CPI da Covid é o fato de que o comando da comissão barrou investigações de casos de corrupção que ocorreram nos estados. O senhor é pai de um governador (Renan Filho, governador de Alagoas) e também já foi alvo de inúmeras investigações de corrupção e, ainda que o senhor não tenha sido condenado, a CPI não perde legitimidade por não ter avançado nessa seara?

Calheiros - Não, porque a CPI sempre quis avançar. O problema é que o Senado Federal não tem competência para investigar os Estados. O presidente da República fez, no início da CPI, um telefonema o senador (Jorge) Kajuru dizendo que estava pedindo para ele investigar os Estados que era uma maneira de diluir a sua responsabilidade. O STF, provocado pelos Estados, entendeu e decidiu que não caberia ao Senado Federal e portanto à CPI, a investigação de Estados e municípios.

BBC News Brasil - Mas a CPI também foi aberta para apurar os casos de corrupção ocorridos nos estados e, claramente, ao longo das sessões, a CPI se focou no governo federal e acabou deixando isso de lado…

Calheiros - Não é que deixou de lado. É que não tinha competência para investigar. Tanto que não colocamos nem no plano de trabalho porque o STF decidiu, logo no primeiro governador que iríamos investigar, que o Senado não poderia fazê-lo porque essa competência era das assembleias legislativas e não do Senado Federal.

BBC News Brasil - Em vários momentos da CPI o senhor ligou os escândalos da Prevent Senior ao governo federal. Que evidências concretas a comissão conseguiu coletar que liguem o que acontecia na Prevent Senior ao governo?

Calheiros - É porque há uma óbvia a ligação da Prevent Senior com o gabinete paralelo, que era uma espécie de gabinete das sombras que se formou para dar consultoria ao presidente da República nessa coisa do negacionismo e da imunização natural, de rebanho. 

Eles despachavam com presidente diariamente e, pior: estabeleciam prioridades nas políticas públicas. Coisas que nem o Ministério da Saúde (fazia). E esse gabinete atuou diretamente através das pessoas mais proeminentes no experimento com humanos da Prevent Senior. 

E o presidente da República patrocinou, publicou os números, fez fake news. Então, tem uma evidente ligação e é essa ligação que foi comprovada e será investigada.

BBC News Brasil - Em declarações públicas, o senhor reitera sua confiança de que o procurador-geral da República, Augusto Aras, vai dar o devido encaminhamento a esse relatório. Nos bastidores, porém, é sabido que a CPI procura alternativas para não depender apenas dele para que as conclusões do relatório se transformem em ações. Não há uma contradição nisso?

Calheiros - Absolutamente (não). Tanto que nós já decidimos que só vamos mandar para o PGR aquilo que for compatível com o foro especial. Por exemplo: o presidente da República vai ter os seus indiciamentos apreciados pelo PGR. Ministros de Estado também, mas ex-ministros como (Eduardo) Pazuello, não.

BBC News Brasil - Mas essa não é justamente uma forma de evitar que o relatório seja encaminhado diretamente à PGR?

Calheiros - No seu todo... porque a PGR não tem competência pra isso. E nós vamos manter a mobilização da sociedade para cobrar um encaminhamento compatível com tudo o que foi investigado. 

Essa investigação se fez à luz do dia, com a participação da imprensa, da sociedade, das redes sociais. Então claro que com a aprovação popular, com o fôlego que se empreendeu durante a investigação, um trabalho desses não pode ser substituído por um despacho de um procurador-geral. E nós estamos também encaminhando o aperfeiçoamento institucional. 

Estamos propondo também que em casos de CPI não seja apenas o PGR que trate do arquivamento ou não dessa questão, mas que a decisão dele, em caso de arquivar, seja submetida a uma comissão dentro do próprio órgão.

BBC News Brasil - Mas esse mecanismo que a comissão pretende sugerir não vai o poder do PGR e não está sendo feito justamente por conta de um ambiente de desconfiança sobre a real intenção do atual procurador-geral da República?

Calheiros - Não, evidentemente que não é isso. É você não permitir que um trabalho coletivo parlamentar, uma investigação, seja substituído por um parecer de um procurador mandando que se arquive tudo o que se investigou. Isso não é nem justo do ponto de vista do Parlamento e nem da própria investigação que tem poderes judiciais.

BBC News Brasil - De zero a dez, quanto o senhor confia que o procurador-geral da República vá dar o encaminhamento devido a esse relatório?

Calheiros - Não se trata de confiar. O meu papel como relator da CPI é cobrar que isso verdadeiramente aconteça. Ele prestou um juramento no Senado, né? E nós esperamos que a sua função seja cumprida com o que há de mais legítimo do ponto de vista da correção, da presteza, em função daquilo que a sociedade quer evidentemente que ele faça. 

Nós temos que manter esse grau de mobilização. É o que nos resta fazer e mandar os outros aspectos da investigação para outras instâncias do Ministério Público Federal.

BBC News Brasil - A CPI vai encaminhar esse relatório ao Tribunal Penal Internacional ou essa ideia não será posta em prática?

Calheiros - Vai ser posta em prática em relação aos crimes contra a humanidade. Porque os crimes contra a humanidade não fazem parte da legislação brasileira. Então nós vamos, na sequência, fazer uma representação ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

BBC News Brasil - Quais crimes específicos?

Calheiros - Nós temos muitos aspectos, né? Efetivamente, tudo que agravou esse morticínio... das mortes evitáveis que não foram evitadas exatamente porque o presidente da República se despojou do poder constitucional, do dever do cargo que exercia. 

Então, será por tudo isso que culminar e caracterizar essa circunstância de crime contra a humanidade. E faremos essa representação, sim, e vamos pessoalmente entregar essa representação ao corregedor do Tribunal Penal Internacional.

Ex-presidente Lula

Reuters

Renan afirma que avisou a Lula que eles só conversariam ao fim da comissão para evitar, segundo o senador, 'a materialização dessa narrativa dos bolsominions de que essa CPI poderia ter a interferência'

BBC News Brasil - O senhor é um parlamentar de oposição ao governo Bolsonaro. Ao mesmo tempo, é próximo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece, neste momento, como favorito às eleições de 2022, segundo as pesquisas de intenção de voto mais recentes. O fato de o senhor ser próximo ao ex-presidente Lula não tira um pouco da sua legitimidade nessa CPI?

Calheiros - Quando eu fui indicado para ser relator da CPI, eu telefonei ao presidente Lula e disse assim: "Olha, presidente, nós só vamos conversar depois que concluirmos os trabalhos da comissão exatamente porque eu não porque eu não quero, de forma nenhuma, contribuir com a materialização dessa narrativa dos bolsominions de que essa CPI poderia ter a interferência, por exemplo, do presidente Lula". 

Eu sou amigo dele porque eu já fui quatro vezes presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional. Uma parte dessas vezes em governos do presidente Lula, mas eu tenho uma boa convivência com todos os setores da política nacional. 

Mas o que cabia a mim naquela oportunidade era fazer o filtro, né? Evitar que a CPI entrasse na antecipação dessa disputa presidencial. Então eu me dou bem com ele. Sempre me dei bem com ele, mas também me dou bem com outros setores da política.

 

Fonte: CNN Brasil - Poder360 - UOL - BBC News Brasil