Saúde

Brasil supera hoje a marca de 100 milhões com imunização completa





Com quase 50% da população brasileira com o esquema de imunização completo, profissionais de saúde avaliam que ainda não é o momento de relaxar com medidas de proteção. Pandemia do novo coronavírus matou mais de 601 mil pessoas no país

O Brasil se aproxima de romper a barreira de 100 milhões de pessoas com o esquema completo de vacinação contra a covid-19. Ontem, o país chegou a 99.315.948 vacinados com as duas doses, ou a única, no caso da Janssen. Neste fim de semana, foram aplicadas mais de 1 milhão de doses ao dia, segundo dados do Localiza SUS, divulgados ontem. Mesmo que quase a metade da população brasileira esteja com o esquema de vacinação completo, ainda não é o momento de relaxar com as medidas de proteção. Afinal, a pandemia matou mais de 601 mil pessoas.

Cerca de 149,5 milhões de pessoas estão parcialmente imunizadas, ou seja, receberam pelo menos uma dose. Em relação ao total da população, este número equivale a 70,07%. Mesmo que os números sejam otimistas, ainda falta para atingir a chamada imunidade de rebanho. De acordo com o médico intensivista do Hospital Brasília Rodrigo Biondi, muitas pessoas já estão com a imunidade contra a doença enfraquecida devido ao tempo da última vacina.

“A maioria dos totalmente vacinados é de idosos, que já se imunizaram há algum tempo, e é como se eles não fizessem parte destes 100 milhões. Então, para considerar a imunidade de rebanho, deve ser quando há vacinação em massa de 70% a 80% da população com o esquema vacinal completo. Mesmo que esteja um pouco longe, existem alguns outros problemas relacionados (à imunidade de rebanho), como as variantes e, por mais que as vacinas disponíveis mostrem efetividade contra elas, nenhum imunizante é completamente eficaz”. “Outro fator que a gente precisa levar em consideração são os hospedeiros e a maioria é assintomáticos. São as crianças e os adolescentes que ainda têm esquema de vacinação tardio. Mesmo com estudos avançados para vacinar esta população, ainda há resistência”, disse.

O médico explica que, quando puder vacinar esta faixa etária, valerá a pena por dois motivos: existir mortalidade, mesmo que baixa, e porque eles são geralmente hospedeiros assintomáticos. “Crianças pequenas têm muito contato com as outras. É difícil ter distanciamento social e elas têm muito mais interação social do que os adultos. Então, quando elas estão em ambientes com maior proporção de contágio, elas podem pegar e contaminar um adulto”, explicou.

Contra máscaras
Recentemente, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga repudiou leis que obrigam o uso de máscaras. “Sou absolutamente contrário. O governo federal defende primeiro a dignidade da pessoa humana, a vida, a liberdade. Eu acho que uma lei para obrigar qualquer coisa é um absurdo, porque não funciona. Temos que fazer as pessoas aderirem às recomendações sanitárias”, disse.

A infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), aponta o contrário e, apesar da queda de casos, não é o momento de relaxar nas medidas de proteção. “No último ano, a gente já aprendeu a relaxar em muitas medidas que não são tão eficazes contra a pandemia, como por exemplo, lavar as compras e tomar banho toda hora que chegasse em casa. Então, já há um certo relaxamento. Mas, as outras medidas são simples, principalmente o uso de máscara.”

Segundo Ana Helena, é precoce pensar em tirar a obrigatoriedade da máscara. “Nos outros países, onde tiveram grandes surtos, já estão retirando as máscaras, mas porque tem um grande percentual de vacinação. Abolir outras medidas, como o uso da máscara e o distanciamento social, vão ser as últimas a serem feitas. A máscara é uma medida muito simples de ser utilizada e de ser seguida. Agora que a gente está começando a controlar a pandemia, um real controle de redução de casos para gente controlar, mas a gente tem ainda uma taxa de transmissão muito alta”, afirmou.

 

Queiroga vai ter que depor

 

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), reiterou a reconvocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à CPI. Aziz disse que Queiroga tem três pontos para esclarecer aos senadores: “O porquê houve a orientação para suspender a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos; como será a vacinação no próximo ano; e sobre o parecer da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sus (Conitec), a respeito de medicamentos sem comprovação científica, não ter saído até hoje”, elencou o senador. Aziz também garantiu que mesmo com a nova convocação do ministro da Saúde, o calendário da CPI não foi alterado e a votação do relatório deve ocorrer em 20 de outubro. 

Menor número de internados 

O estado de São Paulo registrou, no fim de semana, 4,23 mil pessoas internadas por covid-19, segundo boletim diário divulgado pelo governo. De acordo com o balanço, o número é o menor desde 5 de abril de 2020, ou seja, o menor dos últimos 18 meses. O indicador também ficou sete vezes menor que o reportado no pico da segunda onda da pandemia, que ultrapassou 31 mil pacientes com a doença. Do total de hospitalizados, 2.045 estavam ontem em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e 2.185 em enfermaria. A taxa de ocupação de leitos de UTI era de 38,7% na região da Grande São Paulo e 31,2% no estado.

OMS recomenda 3ª dose da vacina da Sinovac para idosos

A OMS anunciou nesta segunda-feira que está recomendando o uso de uma terceira dose da vacina da Sinovac para pessoas acima de 60 anos. A decisão foi anunciada depois de uma semana de reuniões nas quais especialistas avaliaram o impacto da imunização e a proteção garantida pelas vacinas. A Sinovac é a fabricante da CoronaVac, ao lado do Instituto Butantan.

A decisão ocorre depois que a direção da OMS havia feito um apelo para que países ricos não entrassem em uma campanha de distribuir uma terceira dose das vacinas, alegando que isso iria ampliar o desabastecimento nos países mais pobres. O apelo da OMS, porém, era válido apenas até o final de setembro.

Além da Sinovac, a OMS ainda recomenda uma dose extra para quem foi vacinado com a Sinopharm e pessoas imunodeprimidas.

"Para as vacinas inativadas Sinovac e Sinopharm, uma (terceira) dose adicional da vacina homóloga deve ser oferecida a pessoas com mais de 60 anos", disse o órgão de aconselhamento estratégico da OMS.

A decisão ocorre num momento em que indústria farmacêutica aponta que, menos de um ano e meio depois do início da vacinação contra a covid-19, o setor contará com uma produção em fevereiro de 2022 suficiente para abastecer com duas doses cada um dos habitantes do planeta. O aumento vertiginoso na produção, porém, não é garantia de que todos receberão doses, já que países ricos continuam numa acelerada campanha de compra de imunizante, desabastecendo dezenas de países mais pobres.

De acordo com dados da consultoria Airfinity, ligada ao setor industrial, a produção mundial chegou a 6,5 bilhões de doses até o início de outubro. Para o final do ano, serão 12 bilhões de doses fabricadas.

Segundo a previsão, o setor farmacêutico teria uma produção suficiente para garantir duas doses por cada uma das pessoas do mundo, com mais de 16 bilhões de fabricação, somando o acumulado de cada um dos meses desde dezembro de 2020. A capacidade de produção continuaria a se expandir, mas não há uma garantia de que ela seria plenamente usada, já que o mercado poderia começar a perder força.

De acordo com o setor privado, mesmo que as vacinas chinesas sejam retiradas da equação, a previsão é de que, entre maio e junho, haveria uma quantidade suficiente de doses no mundo para imunizar 70% de toda a população dos países em desenvolvimento e ainda assegurar uma terceira dose nos países ricos.

"De uma perspectiva de produção, vacinar o mundo passou a ser uma possibilidade em 2022", disse Rasmus Hansen, CEO da consultoria que trabalha em sintonia com as multinacionais do setor.

Segundo ele, a "grande surpresa" de fato da expansão de produção vem da China. Hoje, já são 3 bilhões de doses produzidas, praticamente metade de todos os imunizantes fabricados. A perspectiva aponta para uma expansão para um total de 6 bilhões de doses, o que significaria uma ampla capacidade de exportação.

Saúde ignorou pedido de investigação de contrato de R$ 1 bi em respiradores

O Ministério da Saúde contrariou recomendação da AGU (Advocacia-Geral da União) e não abriu nenhum processo administrativo para apurar as responsabilidades das empresas envolvidas no primeiro contrato bilionário assinado pela pasta durante a pandemia de covid-19.

A compra de 15 mil respiradores —que viriam de Macau (China), ao custo de R$ 1 bilhão— não se concretizou e os equipamentos não foram entregues. O dinheiro chegou, contudo, a ficar parado, reservado para o pagamento, entre abril e maio de 2020. O contrato estabelecia a abertura de um procedimento de punição em caso de descumprimento, mas até agora nada foi feito.

O principal responsável pela compra frustrada foi o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, que assinou o contrato. Procurado pelo UOL por meio de seu advogado, Dias não quis se manifestar. A pasta também não se pronunciou.

Dias é um dos alvos da CPI da Covid por suposta cobrança de propina e pressão para a compra de vacinas, que não foi concretizada. O ex-diretor chegou a ser detido durante a sessão de seu depoimento, acusado de mentir aos senadores.

UOL teve acesso ao processo administrativo que embasou o contrato dos 15 mil respiradores e também conversou com o intermediador da venda no Brasil, que deu sua primeira entrevista sobre o caso. A apuração mostra que o negócio tinha tudo para dar errado —e foi o que aconteceu.

Conflito de versões

De um lado, a Santos-Produtos do Brasil Companhia de Investimento e de Comércio, de Macau, diz que o Ministério da Saúde cometeu um "erro grosseiro" ao assinar o contrato com um representante que não tinha autorização da empresa para tal.

De outro, o intermediador, Donizete Faria Calil —um ex-dono de farmácias que diz atuar há dezenas de anos em Brasília com licitações—, rebate essa versão. Ele afirma que tinha sim autorização, mas se diz aliviado por nenhum pagamento ter se concretizado.

"Na verdade, eu não conhecia essa empresa. Fui pesquisar depois [da assinatura do contrato] e descobri que é de fundo de quintal. Seria um escândalo. Ainda bem que esse negócio 'gorou'."

CGU apontou irregularidades

Apontamentos feitos em maio do ano passado pela CGU (Controladoria-Geral da União) reforçam o caráter temerário do contrato.

Os técnicos ressaltaram que não havia sequer como "assegurar a existência da empresa contratada Santos-Produtos do Brasil" e a vinculação com os supostos representantes no país.

Essa ausência de documentação, segundo a CGU, poderia limitar a atuação do Ministério da Saúde em caso de problemas na execução do contrato. Na prática, foi isso que ocorreu: a compra fracassou e ninguém foi punido.

O órgão de controle destacou que, na proposta de preços recebida pela Saúde, havia inconsistências que não permitiam saber nem mesmo o tipo de respirador que seria fornecido. A imagem do produto enviada não correspondia ao modelo descrito no texto que a acompanhava.

Ainda assim, a proposta foi habilitada e, no dia 3 de abril de 2020, o contrato foi assinado.

A contratação foi feita sem licitação, com base na lei federal que permitiu a realização de compras emergenciais de insumos ligados ao combate da pandemia.

O Ministério da Saúde convocou as empresas interessadas em fornecer os respiradores em 26 de março. Nove empresas se apresentaram. Uma semana depois, em 3 de abril, Donizete Faria Calil assinou o contrato de R$ 1 bilhão. Seriam 15 mil ventiladores pulmonares a R$ 67 mil cada.

Intermediador aponta outro representante

Em entrevista ao UOL, Calil relatou que, em março, foi apresentado à Santos-Brasil por um representante da empresa em Curitiba chamado Luiz Roberto Araújo. Segundo Calil, Araújo acompanhou todo o processo, com ciência inclusive da assinatura do contrato.

Já Araújo —que disse à reportagem ser "engenheiro de negócios internacionais"— negou que tivesse relação oficial com a firma de Macau. "Apenas apresentei a empresa que tinha potencial de venda com quem tinha capacidade de representá-la no Brasil e com cadastro no Ministério da Saúde."

Calil diz que não tinha uma empresa que pudesse representar no Brasil a firma de Macau no negócio. Conta então que conseguiu uma parceria com a Biociência Produtos Científicos, cujos donos seriam antigos conhecidos em Brasília.

No contrato, Donizete Faria Calil aparecia como representante da Biociência que, por sua vez, representava a empresa de Macau Santos-Brasil.

Fundada em 1994, a Biociência não tinha grande expressão até aparecer no contrato bilionário dos respiradores. De 2016 a 2020, havia acumulado cerca de R$ 1,3 milhão em vendas para o governo federal, de equipamentos voltados para pesquisa, como microscópios.

A empresa tem como sócios José Fernandes Beserra e Wilson Souza e Silva. Este último foi eleito em 2012 prefeito de Novo Alegre (TO). Em 2020, foi candidato ao mesmo cargo, mas não conseguiu se eleger. Ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele se declarou pecuarista e informou um patrimônio de R$ 14,1 milhões.

A Biociência foi procurada pelo UOL por meio do telefone de sua sede, mas passou o contato de Donizete Faria Calil para que se pronunciasse.

Notificação extrajudicial

Na prática, o contrato dos respiradores não andou porque nada daquilo que estava previsto no papel aconteceu.

Uma garantia de R$ 50 milhões —como caução, fiança bancária ou seguro-garantia— nunca foi entregue. Os equipamentos previstos para chegarem em um mês também não foram apareceram.

Em 7 de maio, Roberto Dias cancelou os empenhos (reservas de pagamento) de R$ 1 bilhão para a Santos-Brasil.

UOL não localizou no processo administrativo o documento de rescisão do contrato. Não houve publicação em Diário Oficial.

No dia 12 de junho, o Ministério da Saúde recebeu da Santos-Brasil uma notificação extrajudicial alegando que Donizete Faria Calil e a Biociência não tinham poderes para ter assinado o contrato bilionário dos respiradores como seus representantes.

A empresa argumentou que a procuração dada a eles tinha apenas o poder de negociação e disse que não tinha autorizado a assinatura do contrato, do qual afirmou ter tido ciência apenas por reportagens na imprensa de Macau. A firma acusou a pasta de ter cometido um "erro grosseiro" ao não checar a documentação.

A dona da Santos-Brasil, Rita Botelho dos Santos, é uma empresária conhecida em Macau, principalmente por lidar com comércio exterior com países de língua portuguesa.

O escritório de advocacia WFCD Law, que representa a Santos-Brasil, rebateu a acusação de Donizete Faria Calil de que a empresa seria de "fundo de quintal".

"A empresa, até então, tinha contratos de exportação de produtos para Portugal. Não é fabricante, mas agente comercial de fabricantes de diversos produtos."

Multas, perda do direito de licitar e 'dor de cabeça'

No dia 30 de junho, o advogado da União Ronny Charles Lopes de Torres encaminhou a recomendação ao Ministério da Saúde pedindo para que fossem apuradas as responsabilidades das empresas envolvidas no contrato. Poderia haver sanções como multa ou a perda do direito de licitar com o governo.

"Faz-se necessária a abertura de processo administrativo para apuração dos fatos e eventual responsabilização, onde se dê oportunidade de defesa a todas as partes envolvidas."

A recomendação, porém, foi ignorada pela pasta. Tanto Donizete Faria Calil quanto a Santos-Brasil disseram que não foram mais questionados pelo Ministério da Saúde.

Calil disse acreditar, com sua "experiência em licitações", que a pasta compreendeu a situação difícil daquele momento de pandemia em que todos queriam respiradores "e o [Donald] Trump [então presidente dos EUA] comprou tudo". Por isso, na visão dele, não teria sido aberto nenhum procedimento de apuração.

Ele afirmou que um dia, quando tiver condições financeiras, pretende processar a Santos-Brasil pelo negócio fracassado.

"Na verdade, o maior prejudicado nisso fui eu, porque achei que ia ganhar uma comissão nisso. E acabou que aconteceu aquela coisa: sabe quando você dorme achando que amanhã vai pagar as contas e acorda no outro dia do mesmo jeito? Só tive dor de cabeça."

- Entenda como a Covid está afetando crianças e adolescentes

Casos de internações e óbitos estão em alta; por não estarem vacinadas, crianças dependem dos cuidados dos adultos para protegê-las

Com a variante Delta em expansão, a flexibilização das medidas de isolamento e sendo o público ainda excluído da vacinação, as crianças brasileiras estão mais expostas à Covid-19 agora do que no que especialistas consideram ter sido o auge da pandemia, entre março e abril deste ano.

O número de internações de crianças e adolescentes por Covid-19 em 2021 já ultrapassa o total de 2020 no Brasil. As mortes pela doença entre crianças e adolescentes até setembro também já superam as do ano passado.

Médicos e pesquisadores consultados pela CNN alertam que cabe aos adultos proteger essa população mais vulnerável para evitar uma explosão de casos e internações.

E que, embora a volta às aulas possa ser uma preocupação, são os familiares quem mais transmitem o coronavírus às crianças, principalmente durante reuniões e festividades.

“Depois de feriados sempre aumenta o número de casos de crianças com Covid. O que contribui para isso é que os pais se contaminam e levam o vírus para dentro de casa”, diz o infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, maior hospital pediátrico do país.

Segundo o infectologista, apesar de as crianças terem voltado às aulas, o maior risco de contaminação está mesmo em seus lares, pelo fato de os parentes terem passado a circular mais após a vacinação.

Essa percepção é compartilhada pelo infectologista Francisco Júnior, gerente-médico do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo. Ele afirma que mais de 80% dos casos de Covid em crianças vêm de alguém do núcleo familiar. “Tem sido muito raro o diagnóstico de Covid em crianças que relatam ter tido o contágio na escola”, diz.

Mais vulneráveis

Há diferentes indícios estatísticos de que as crianças e os adolescentes estão sofrendo mais agora com a doença do que em outros momentos da pandemia.

Na semana passada, o Ministério da Saúde divulgou um levantamento que mostrou que, entre janeiro e julho de 2021, 15.483 crianças de 0 a 9 anos foram internadas por Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2020, de abril a dezembro, foram 10.352 internações na mesma faixa etária.

Um outro recorte, feito pela agência CNN com base nos boletins epidemiológicos do próprio ministério, mostrou que o número de  internações por Covid de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos no Brasil em 2021 foi de 17.299 – um aumento de 18,2% em relação às 14.638 internações de 2020.

É sempre importante lembrar que o número ainda é relativamente pequeno quando se compara com adultos. Para pessoas acima dos 20 anos, já foram mais de 1 milhão de internações neste ano, contra 579.949 internações em 2020 (veja o infográfico).

Por fim, um outro dado que aponta para o aumento no número de internações de crianças e adolescentes por Covid é o que monitora os casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Uma das principais causas de internação por Covid é quando a infecção evolui para SRAG, caracterizada pela presença de desconforto respiratório e oxigenação baixa, que leva à necessidade de suporte de oxigênio.

Atualmente, cerca de 96% dos casos de SRAG são associados à Covid. Os demais têm relação com outros vírus respiratórios que voltaram a circular com força em algumas regiões do país, após a diminuição do isolamento social.

Dados do último Boletim Sivep-Gripe, da Fundação Oswaldo Cruz, divulgado na semana passada, mostram que as internações por SRAG associadas à Covid chegaram ao mais baixo patamar da pandemia no país.

Mas o mesmo boletim observou que entre crianças e adolescentes (de 0 a 9 anos e 10 a 19 anos) há uma estabilização dos casos “em patamar significativamente elevado quando comparados com o histórico da pandemia”, diz o relatório.

Em outras palavras, os casos entre crianças e adolescentes não sobem, mas também não caem como nas outras faixas etárias, o que pode indicar um reflexo da falta de proteção ao vírus visto nas outras faixas etárias vacinadas, segundo Marcelo Gomes, pesquisador em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador do Sivep-Gripe.

“Desde o final do ano passado, quando começamos a ter um relaxamento do comportamento, a nos expor muito mais, antes da volta das aulas presenciais, já víamos um aumento de casos em crianças. Com o retorno das aulas, vemos um aumento também nas internações”, alerta Gomes.

O pesquisador da Fiocruz aponta que os Estados Unidos já haviam dado uma amostra do que uma flexibilização em escala pode causar. “Os EUA mostraram ao mundo que as flexibilizações, associadas à recusa de adultos em tomar a vacina ou usar máscaras, expõem deliberadamente as crianças ao risco”.

Os EUA vivem uma explosão de casos e de internações de crianças por Covid, que aumentaram 240% desde julho.

Segundo Gomes, no entanto, o Brasil vive uma realidade distinta da americana, em que a variante Delta não teve consequências tão dramáticas. Mas o fenômeno pode se repetir aqui se as crianças não forem protegidas. E o número de internações de crianças por SRAG mostra isso.

De acordo com dados do Sivep-Gripe, em 2021, o país já apresentou picos nas médias de internação por Covid de jovens de zero a 18 anos maiores do que os picos de 2020.

“Tivemos uma proteção muito boa das crianças em 2020, e hoje a gente vê esse cenário distinto”, disse Gomes.

Arte internações crianças e adolescentes Covid-19Internações de crianças e adolescentes no Brasil em 2020 e 2021 / CNN Brasil

Outros vírus respiratórios 

Apesar de o número de internações estar em alta de acordo com os levantamentos, na prática, médicos ouvidos pela CNN percebem com mais clareza o aumento de diagnósticos de Covid-19 – mas nem sempre nas hospitalizações.

De todos os exames positivos para Covid realizados no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, atualmente 20% são de crianças e adolescentes, percentual maior do que no pico da pandemia, que foi de 14%.

“Esse patamar subiu porque há uma circulação maior dos adultos que convivem com elas, apesar de a Covid não se mostrar uma doença efetiva nessa população”, diz Linus Fascina, gerente-médico do Departamento Materno-Infantil do Einstein.

Mas, segundo Fascina, a maior parte das crianças que contrai Covid não precisa de internação. Entre as que precisam, não é necessariamente o coronavírus que causa a gravidade do quadro, mas sim a soma com outros vírus respiratórios.

Depois de mais de um ano com crianças reclusas em casa, alguns desses vírus respiratórios voltaram a circular com força e a predominar, competindo com o coronavírus.

Segundo Fascina, o rinovírus, os enterovírus e o vírus sincicial respiratório (VSR), além da própria influenza (gripe) estão causando o aumento de internações de crianças no geral.

Essa competição entre vírus pode ser ainda mais prejudicial para crianças mais novas, explica Fascina.

“Quando se tem doenças competindo, a criança volta a ter reações inflamatórias. Não se sabia como elas reagiriam e notamos que houve um incremento de internações de crianças em julho, agosto e setembro por quadros respiratórios, como bronquiolites desencadeadas por vírus”, diz.

No Einstein, desde o começo da pandemia até setembro deste ano, 150 crianças e adolescentes, de zero a 17 anos, foram internados com Covid-19. Destes, 54 em 2020 e 96 em 2021, e nenhuma morte foi registrada no hospital paulista nessa faixa etária.

Crianças com menos de 1 ano totalizaram o maior número de internações por idade, com 31 internações. Do total, crianças de zero a cinco anos foram as que mais precisaram ser hospitalizadas, com 77 internações em 2020 e 2021 somados.

No Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, a porcentagem de exames positivos para Covid em crianças está na casa dos 6%, enquanto no auge da pandemia chegou a 14%.

Desde o começo da pandemia, 1.600 crianças e adolescentes foram diagnosticados com Covid no Sabará Hospital Infantil. Destas, 218 foram internadas e um evoluiu a óbito, segundo o gerente-médico.

Por outro lado, no mesmo hospital, desde julho se registra um aumento de internações de crianças por doenças respiratórias não relacionadas à Covid, que está se mantendo em agosto e setembro, segundo Francisco Júnior.

“O número de diagnósticos de crianças com Covid aumentou, o que é esperado porque é a faixa etária que não está vacinada. Mas não temos observado aumento de internações por Covid no Sabará, e nem aumento de mortalidade”, diz.

Apesar de as crianças e adolescentes terem uma tendência menor de agravar e morrer por Covid do que os adultos, o que também preocupa os médicos é a incidência de casos em crianças muito pequenas, cujo sistema imunológico pode não ser capaz de combater a Covid associado ao outro vírus.

“A maioria das internações ocorre em crianças com menos de dois anos de idade”, diz Francisco Júnior.

Na sede do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, não se observa o aumento nos casos de Covid entre crianças, segundo a coordenadora da pediatria do hospital, Lucília Faria. Segundo ela, o Sírio da capital paulista teve 10 internações de crianças e adolescentes por Covid desde o começo da pandemia até setembro, destes dois quadros graves. Mas ambas melhoraram e receberam alta.

“No ano passado, com as medidas de isolamento social, escolas fechadas, a gente realmente teve uma queda muito importante nos quadros respiratórios nas crianças. E a partir do momento que se reduz essas medidas, com aberturas e as crianças voltando para a escola, a gente vê um aumento das doenças na faixa etária pediátrica, mas não observamos isso por aqui ainda”, diz Lucília.

Potencial da Delta preocupa pediatras

A variante Delta, mais transmissível, preocupa os especialistas.

“O poder de transmissão da Delta é mil vezes superior à cepa original. Se ela pode atingir os vacinados, imagina o que pode fazer com os não vacinados?”, disse Victor Horácio de Souza Costa Júnior, diretor do Pequeno Príncipe.

Segundo Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o país pode ter um aumento proporcional de casos de Covid entre as crianças justamente por causa da Delta, embora o avanço da vacinação ajude a barrar os casos graves e internações.

“Se tivermos uma explosão de casos da Delta, vai atingir especialmente as crianças. Se tiver outra onda por aqui, igual a de março, abril, não vamos ter somente 2% de crianças com Covid, vamos ter mais, porque os casos vão se concentrar nos não vacinados”, disse.

No entanto, o pediatra não vê a possibilidade de um aumento geral de casos e internações nos mais jovens por Covid, pois conforme cai o total de infectados com a vacinação contra Covid-19, isso também ajuda a diminuir a circulação do vírus no país.

“Para cada 100 casos de Covid na população brasileira, havia três crianças internadas, o equivalente a 3% antes da vacinação massiva. Agora, de 30 adultos, você terá três crianças, o que equivale a 30% – mas continuam sendo três crianças. Você aumenta proporcionalmente o número, mas não é um dado absoluto”, afirma.

Já para Gomes, da Fiocruz, a disseminação da Delta é um risco real para as crianças brasileiras, e o exemplo dos EUA deve servir de alerta.

“É natural que se observe um aumento significativo de casos nas crianças por elas não estarem vacinadas. Temos exemplo de outros países que sofreram com isso. A melhor saída é a gente se prevenir”, diz.

- O que fazer para proteger as crianças da Covid-19

Em tempo de reabertura, avanço da Delta e volta às aulas, crianças correm mais risco de contrair o vírus dos adultos

Evitar a exposição desnecessária de crianças à Covid-19 é a melhor forma de protegê-las contra os efeitos da doença, principalmente entre as não vacinadas, que não contam com a proteção que os imunizantes promovem.

Mas essa proteção se tornou mais desafiante neste momento, com o aumento das flexibilizações, do avanço da variante Delta e da volta às aulas no país, que tornam as pessoas não vacinadas mais vulneráveis.

Segundo especialistas consultados pela CNN Brasil, o risco de uma criança ser hospitalizada ou morrer por Covid é bem menor do que do adulto, por isso crianças de zero a 11 anos não estão sequer na fila da imunização.

O risco, embora mínimo, existe e deve ser minimizado, sobretudo porque o risco de internação e de morte por Covid-19 é muito maior entre os não vacinados.

Para evitar um cenário pior nas crianças não vacinadas, é fundamental que adultos que convivem com crianças se imunizem e mantenham as medidas de prevenção em casa, na escola e em outros locais por onde elas transitam, dizem os especialistas.

Vacinação e prevenção de adultos 

Para proteger as crianças do novo coronavírus, é essencial que os adultos, sobretudo os que convivem com elas, tomem as duas doses da vacina contra a Covid-19 e mesmo assim mantenham as medidas de prevenção contra o vírus.

Isso porque nenhuma vacina contra Covid previne totalmente a infecção pelo novo coronavírus e que ele seja transmitido para outras pessoas, alerta Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

/ CNN Brasil

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o distanciamento social, o uso de máscaras de tripla proteção (N95 ou PFF2), a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel antes de tocar o nariz, olhos e boca, juntamente com a vacinação, são as medidas mais eficazes para conter o novo coronavírus e suas variantes.

Outra forma importante é fazer o exame RT-PCR até o quinto dia de sintomas semelhantes ao da Covid-19, pois, detectada a doença, há possibilidade de isolar os infectados e evitar que a doença se espalhe.

“Mesmo os vacinados não podem deixar as medidas de prevenção contra Covid para evitar a infecção e, consequentemente, proteger outras pessoas”, disse Kfouri.

A diferença aqui é que os não vacinados, além de poderem ser contaminados, correm mais risco de ter a Covid grave porque não podem contar com a proteção realizada pelo imunizante

Renato Kfouri

Apostar em atividades essenciais

Para o Francisco Júnior, gerente-médico do Sabará Hospital Infantil, o momento atual ainda pede cautela quando o assunto é circular com crianças em locais fora de casa.

Para ele, um bom recurso é manter somente atividades essenciais com as crianças e evitar locais que podem ser visitados em outro momento, principalmente se envolver possíveis aglomerações.

“Temos que encarar essa pandemia como algo que ainda está evoluindo e temos que manter os cuidados”, afirma.

“Não é porque estou levando meu filho para a escola que vou levar ao clube, fazer uma festa para 200 pessoas. Ele está indo para a escola porque precisa de suporte educacional, emocional, precisa de socialização. É importante manter somente o que não dá para abrir mão”, orienta.

Para o infectologista pediátrico e vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, Victor Horácio de Souza Costa Júnior, é perceptível o aumento de casos e de internações de crianças após feriados, quando famílias se reúnem e transmitem a doença para outras pessoas, inclusive as crianças.

Depois de feriados sempre aumenta o número de casos em crianças e o que contribui para isso é que os pais se contaminam e levam o vírus para dentro de casa. Vejo como o maior fator de risco o ambiente domiciliar, como a falta de cuidados do portão de casa para fora

Victor Horácio de Souza Costa Júnior

Escola não é o problema

Para ambos os médicos, o retorno às aulas requer a manutenção das medidas preventivas contra a Covid-19, mas deve ser considerada uma atividade segura para as crianças no atual momento da pandemia.

“Vejo uma preocupação das escolas com os cuidados de protocolo, professores usando equipamentos de proteção e a política de higienização, o que faz a escola um ambiente seguro para a criança frequentar”, diz Costa Júnior.

“Apesar de tudo o que acontece no Brasil, há um esforço muito grande em fazer as crianças usarem máscaras tanto nas escolas privadas quanto nas públicas, o que é muito positivo”, diz o gerente-médico do Sabará.

Segundo ele, 80% dos casos de crianças com Covid-19 que ele observou no hospital foram de infecções causadas no ambiente familiar, não na escola.

Para a pediatra Lucília Faria, coordenadora do Departamento de Pediatria do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é fundamental manter as medidas de prevenção contra o novo coronavírus em casa e na escola para evitar uma nova necessidade de isolamento das crianças.

“Se a gente tiver um aumento nos casos e internações nas crianças vamos ter que dar um passo atrás e voltar as medidas de isolamento, o que para o desenvolvimento psicossocial das crianças é ruim. Mas é o que terá que ser feito até conseguirmos vacinar as crianças”, disse a pediatra do Sírio-Libanês.

Cuidados coletivos

Apesar de depender de ações individuais, os cuidados preventivos devem ser encarados como uma ação coletiva para, de fato, serem capazes de proteger as crianças, segundo o pesquisador em Saúde Pública, Marcelo Gomes, coordenador do Sivep-Gripe, da Fundação Oswaldo Cruz.

Segundo Gomes, as internações de crianças e adolescentes por Covid-19 vivem uma estabilização no país, mas, diferentemente dos adultos, em alguns estados ainda há uma leve tendência de aumento, justamente porque as crianças voltaram a ficar mais expostas.

Por isso, estamos em um momento que é crucial manter protocolos para evitar o contágio entre elas.

Este cuidar individual acaba tendo impacto nas crianças. Quando eu uso máscara, eu diminuo o risco de levar o vírus para casa e para minha criança e diminuo o risco dos meus filhos levarem para escola e expor seus colegas

Marcelo Gomes
- Quais são os sintomas da Covid e pós-Covid nas crianças

Entenda os principais sinais da doença nessa faixa etária e como ela pode se agravar

Como a Covid-19 se assemelha a outros vírus respiratórios, é impossível fazer o diagnóstico preciso sem o exame laboratorial para comprovação.

O exame padrão ouro para detecção do coronavírus é o RT-PCR, com uso de swab (aquele apetrecho que parece um cotonete gigante) inserido pelo nariz até o fundo da garganta, feito em laboratórios ou hospitais.

Como ele gera desconforto, nem sempre é uma opção para crianças muito pequenas. Alguns sintomas, no entanto, podem servir de alerta aos pais para relatar ao pediatra ou em uma unidade de saúde, diz o infectologista Francisco Júnior, gerente-médico do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo.

“Nas crianças, a Covid apresenta sintomas gastrointestinais, dor abdominal, com ou sem diarreia e febre prolongada. Já nos adolescentes, o quadro se assemelha à Covid no adulto, com estes sintomas e comprometimento pulmonar e baixa oxigenação”, diz.

Francisco Júnior

“Se houver confirmação de caso de Covid entre pessoas próximas ou se os sintomas persistirem, vale procurar auxílio médico”, alerta o infectologista do Sabará.

No quadro agudo de Covid, crianças e adolescentes podem apresentar taquicardia e febre. Já no pós-Covid, a criança apresenta febre, taquicardia, manchas pelo corpo e dificuldades respiratórias.

Sequelas cardíacas

A bebê Mariana Carneiro precisou ser internada aos 27 dias de vida, em novembro do ano passado, por causa do agravamento da Covid.

A filha da dona de casa Talissa Carneiro, 26, de Pinhais (PR), apresentou febre alta que não cessava com medicamentos e foi levada ao Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), onde exames comprovaram que ela e seu pai tinham contraído a Covid-19.

O pai teve contato com um funcionário infectado no trabalho, mas apresentou sintomas leves. Mariana, no entanto, desenvolveu alterações cardíacas, comprometimento dos pulmões e precisou ficar 10 dias internada.

“Mariana não precisou de suplementação de oxigênio e nem de terapia intensiva, mas desenvolveu alterações sanguíneas e uma pneumonia que comprometeu quase 25% de seus pulmões”

Talissa Carneiro

Depois da alta, foi detectada uma miocardite na criança, o que os médicos classificaram como uma sequela pós-Covid. Para tratá-la, Mariana toma remédios controlados e passa por consultas mensais com um cardiologista e um fisioterapeuta para fortalecer o músculo cardíaco.

“Ela ainda não está cem porcento, mas não fica mais cansada nas mamadas e não apresenta atraso no desenvolvimento”, diz Carneiro.

O pai de Mariana desenvolveu pressão alta após ter contraído a Covid e hoje toma remédio controlado, segundo a dona de casa.

Apesar dos avanços, a mãe de Mariana ainda não consegue saber se a sequela da filha é passageira ou se será permanente.

“Não sabemos quando ela ficará bem da miocardite, o quanto isso pode afetar o futuro dela”.

Atualmente, a família faz o que pode para manter os cuidados para evitar uma nova infecção em casa e proteger a filha com 10 meses de vida.

“A médica me falou que é imprescindível evitarmos um novo contágio porque a Mariana pode não resistir. Então, não saímos e meu marido desde então trabalha em casa. Eu não desejo a ninguém o que eu passei”, diz.

Causas das internações por Covid

De um modo geral, o que leva uma criança ou adolescente a ser internad