Política

Offshore está declarada e é administrada por gestor independente, diz Guedes





O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta 6ª feira (8.out.2021) que sua offshore nas Ilhas Virgens Britânicas está devidamente declarada à Receita Federal, é gerenciada por gestores independentes e que ele não tem nenhuma influência sobre as decisões de investimento dos recursos.

Guedes citou que as aplicações foram realizadas em 2014 e em 2015. Disse que depois não movimentou o dinheiro.“Não houve movimentação transfronteiriça”, declarou.“Offshores são legais. Foram declaradas”, afirmou.

“O resto é tudo barulho, e pode piorar na medida em que chegam as eleições, com ataques pessoais.”

As declarações foram em seminário on-line promovido pelo banco Itaú com investidores internacionais. Foi o 1º comentário público do ministro sobre a conta no exterior revelada pela série de reportagens Pandora Papers, uma parceria do Poder360 com o ICIJ.

Guedes é dono da offshore Dreadnoughts. Também participam da empresa a mulher, Maria Cristina Bolivar Drumond Guedes, e a filha, Paula Drumond Guedes.

A empresa no Caribe conta com um patrimônio de US$ 9,55 milhões (cerca de R$ 55 milhões). Segundo a Justiça, ter uma offshore não é ilegal, desde que a empresa e seu patrimônio tenham sido declarados à Receita Federal.

No evento, Guedes falou que perdeu muito mais dinheiro no Brasil do que o valor declarado na offshore com investimento que ele abdicou ao aceitar o cargo de ministro do governo. Ele disse que vendeu participações em projetos nas áreas de educação e saúde pelo valor aplicado –sem lucro.

“Você fala com bons amigos e sabe que vai haver bons IPOs [Oferta Inicial de Ações] e tudo. Eu vendi todos os meus trabalhos dos últimos 8 a 9 anos em private equity [participações privadas] criando grandes projetos para o Brasil em educação e saúde. Eu vendi tudo pelo valor de investimento sabendo que eu só iria receber agora”, afirmou.

O ministro disse que tomou a decisão para entrar no governo e evitar conflitos de interesse. “Perdi muito dinheiro registrado aqui exatamente para evitar problemas como esse. Tudo que estava ao meu alcance de investimento eu vendi pelo valor de investimento. Eu perdi muito mais do que o valor da companhia que está declarado legalmente lá fora. É permitido, não fiz nada de errado”, declarou.

A descoberta da empresa de Guedes aumentou a pressão sobre o ministro. Ele foi convocado pelo plenário da Câmara e por duas comissões para explicar a manutenção da offshore em seu nome depois de assumir o cargo.

“O dinheiro que está lá está sob gestores independentes e jurisdições que não tem nenhuma influência minha. Eu saí da gestão antes de vir para aqui [no ministério]. Dei todos os documentos para os fóruns corretos”.

Barulho da democracia

Guedes disse que a democracia brasileira faz mais barulho do que muitos outros países. Mas justificou que a economia irá crescer de qualquer forma no próximo ano porque as reformas estão caminhando no Congresso.

Guedes citou que a proposta de emenda constitucional que parcela precatórios (dívidas judiciais) e uma mudança no Imposto de Renda serão aprovadas pelo Legislativo nos próximos meses abrindo espaço no Orçamento para reforçar programas sociais.

O ministro afirmou que a recuperação econômica em 2021 está acontecendo muito rápido. Reafirmou a projeção de alta superior a 4,2% no Produto Interno Bruto para o ano.

“No Brasil vá aos fatos, não para o barulho –que é política”, declarou. “O Brasil está crescendo e criando empregos, isso é um fato”. 

Teto de gastos foi mal elaborado

O ministro afirmou que, apesar de positivo, o teto de gastos foi mal elaborado e acabou engessando a administração pública.

Na ocasião, Guedes reclamou que o Ministério da Economia não consegue utilizar recursos das reservas internacionais para fazer um aporte em outro banco, por causa da rigidez fiscal.

- Congresso aprova corte de R$ 635 mi da Ciência a pedido do Ministério da Economia

Recurso será redistribuído a outros ministérios, como os da Educação e Saúde; mudança afeta bolsas do CNPq

O Congresso Nacional aprovou projeto que retira R$ 635 milhões de recursos do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) para serem usados em outras áreas.

A medida, que representa um corte de 92% dos recursos destinados neste ano a bolsas e apoio à pesquisa, segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O projeto atendeu a um pedido da equipe econômica do governo federal. O Ministério da Economia solicitou a retirada para que pudesse abrir crédito suplementar a outras áreas.

Com a autorização do Congresso, R$ 150 milhões agora serão do Ministério do Desenvolvimento Regional para ações de proteção em áreas de risco.

Outros R$ 100 milhões serão para integralizar cotas de moradia do Fundo de Arrendamento Residencial. O Ministério da Educação vai receber R$ 107 milhões, para a concessão de bolsas de estudo no ensino superior. O Ministério da Saúde vai ficar com R$ 50 milhões, para o saneamento básico.

Outros R$ 2,2 milhões vão para obras de infraestrutura hídrica.

Para a ciência, ficarão apenas R$ 55 milhões —8% do previsto inicialmente. Parte do recurso retirado, cerca de R$ 63 milhões, será destinada exclusivamente para a produção de radiofármacos.

fabricação desses insumos foi interrompida no dia 20 de setembro por falta de recursos no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). O órgão enviou ofícios informando a interrupção no dia 14. O valor liberado pelo Congresso ainda é menor do que o necessário, já que a pasta solicitou R$ 89,7 milhões para manter a produção até dezembro.

“Dá-se com uma mão, para retirar com a outra. Nesse processo, agoniza a ciência nacional”, diz nota encaminhada ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), por oito entidades científicas.

Eles pedem que o corte seja revisto, já que, na sua visão, inviabiliza a ciência no país. Sem o dinheiro, poderá haver a perda de bolsas e a suspensão do Edital Universal do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), um dos mais importantes do Brasil.

O orçamento do CNPq vem caindo nos últimos 20 anos e chegou a R$ 1,2 bilhão em 2021, o menor valor desde 2001.

“Diziam que só nos tinham sobrado migalhas. Agora, decidiram levar embora até as migalhas. O pouco que tinha foi levado para outros ministérios”, diz Helena Nader, vice-presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências).

Fonte: Poder360 - Folha