Política

Guedes volta atrás em fala sobre prorrogação do auxílio emergencial





Ministro da Economia afirmou, durante evento na manhã desta sexta-feira (1º/10), que João Roma, da Cidadania, iria estender o benefício. Mais tarde, disse ter trocado "Auxílio Brasil" por "auxílio emergencial" 

O Ministério da Economia negou nesta sexta-feira (1º/10) uma fala do ministro Paulo Guedes sobre a prorrogação do auxílio emergencial. Segundo a pasta, o benefício não será estendido. 

Guedes afirmou hoje cedo, durante evento no Palácio do Planalto, que o ministro da Cidadania, João Roma, iria estender o benefício

Após a fala sobre a prorrogação e diante da repercussão rápida no mercado financeiro, o ministro esclareceu que trocou "Auxílio Brasil", o novo programa social que vai substituir o Bolsa Família, por "auxílio emergencial", o benefício concedido durante a pandemia.

- CPI: Renan diz que Bolsonaro estará no relatório como não investigado

O senador e relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou hoje que o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estará no relatório final da comissão, mesmo sem o chefe do Executivo constar na lista de investigados.

Tem muita gente investigada e tem muita gente também que constará no relatório sem que tenha sido elevada à condição de investigado. Caso típico para citar um exemplo é o do presidente da República, pelas digitais, participação, omissão, pela forma como deixou de comprar na hora certa as vacinas. Pelo crime que significou ele não responder às ofertas da Pfizer, do Butantan, da OMS, que dariam naquela oportunidade quase 170 milhões de doses de vacina.Renan Calheiros em entrevista à GloboNews

O relator explicou que, até o momento, a CPI já tem 34 pessoas investigadas diretamente e que outras não foram colocadas como investigadas porque a partir dessa classificação é possível que a pessoa solicite a concessão de Habeas Corpus junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). Com isso, "a pessoa, se quiser, poderá ficar calada sobre qualquer coisa que o incrimine e isso dificulta a condução do interrogatório".

"Então, fomos colocando as pessoas como investigados na medida em que não havia mais nenhuma dúvida com relação a sua participação."

Calheiros destacou que as relações e compra de milhões de doses da vacina indiana Covaxin por parte do governo federal, mesmo sem a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é um "escárnio", visto que o governo Bolsonaro ignorou as ofertas das vacinas de outros fabricantes que já estavam com os testes em humanos avançados.

"Uma coisa dessa [omissão na compra de vacina] precisa ser investigada, como está sendo, e ser exemplarmente punida. Porque o Brasil pagou o preço dessa irresponsabilidade em vida. Do ponto de vista da CPI, nós vamos responsabilizar os agentes públicos, inclusive o presidente da República e vamos responsabilizar também o Estado."

O senador ainda explicou que o relatório da comissão, previsto para ser votado no próximo dia 20, trará o estabelecimento de diretos para que os familiares de vítimas da covid-19 sejam ressarcidos pelo Estado, que deverá se responsabilizar "diretamente pela maneira como tratou os seus cidadãos".

De acordo com o parlamentar, a comissão já está mobilizando a Defensoria Pública da União e dos estados para elas começarem a ajuizar as ações.

Mensagens de Bolsonaro estarão no relatório

À emissora, Calheiros confirmou a informação divulgada pelo jornal O Globo de que mensagens enviadas por Bolsonaro em sua lista de transmissão do WhatsApp serão anexadas ao relatório.

Segundo o jornal, Bolsonaro escreveu "jovens morrendo com a Pfizer" no mesmo dia em que o Ministério da Saúde voltou a recomendar a vacinação de adolescentes em território nacional.

O jornal apontou que a mensagem foi enviada para os contatos do chefe do Executivo e fazia referência a um vídeo no qual uma comentarista de televisão falava da morte de adolescentes após a vacinação. No entanto, os jovens não haviam sequer sido vacinados contra a covid-19.

São mensagens criminosas. Que estimulam as pessoas a não cumprirem as leis. Eles fazem isso e ainda alegam que fazem em defesa da liberdade de opinião. Isso não é liberdade de opinião nenhuma, porque o custo disso vem em vidas.

- Michelle Bolsonaro agiu para beneficiar aliados na obtenção de crédito, diz revista

A primeira-dama Michelle Bolsonaro ajudou aliados da família Bolsonaro a ter preferência na obtenção de créditos emergenciais com juros baixos por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A lista dos beneficiados foi divulgada pela revista Crusoé.

De acordo com a reportagem, esquema era organizado pela primeira-dama em conjunto com o presidente da Caixa Econômica FederalPedro Guimarães. Empresas interessadas procuraram por Michelle Bolsonaro, que enviou as listas ao gestor da Caixa, que atendia a demanda imediatamente. As operações se deram em uma agência da Caixa na cidade de Taguatinga (DF).

O esquema foi descoberto no sistema de controle interno da Caixa, e chamou a atenção do sistema por fugir do procedimento normal de operações de crédito do banco. Além disso, o esquema viola o princípio da impessoalidade ao dar preferência a pessoas específicas próximas da cúpula de poder.

Nova Lei de Improbidade deve livrar Lira de processos na Justiça

Após fazer alterações no texto enviado pelos deputados, o Senado devolveu esta semana à Câmara o projeto de lei  que dá nova redação, mais flexível, à atual Lei de Improbidade Administrativa, em vigor desde 1992. Durante a discussão no Senado, parlamentares se mostraram incomodados com o fato de que a proposta, além de aliviar atos ilícitos de agentes públicos em todo o país, poderia beneficiar diretamente o seu principal articulador: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) reclamou que poderia estar votando algo "direcionado"; Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que a proposta, se aprovada, poderia afastar o Congresso do cidadão comum e levar ao arquivo 40% dos casos de improbidade. Já  o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apelidou o dispositivo de "in dubio, pro Lira", um trocadilho com in dubio, pro reo  (na dúvida, em favor do réu), que norteia o direito penal brasileiro.

Lira responde a dois processos por improbidade administrativa por sua atuação como deputado federal e estadual e, em ambos os casos, o texto da nova lei poderia beneficiá-lo por conta da chamada "prescrição intercorrente", quando vence um determinado prazo para que o Judiciário analise o caso.

A nova redação garante que "a ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei prescreve em oito anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência". Caso haja morosidade do Judiciário em analisar o caso, o prazo cai pela metade.  O texto diminui muito o poder da lei, que atualmente permite que a ação seja apresentada até cinco anos após o final do mandato - hoje não há, na Lei, menção à prescrição no meio do processo.

Lira tem, contra si, duas frentes abertas no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por atos de improbidade administrativa: uma envolve sua participação em um esquema de suposto desvio de verbas públicas na Assembleia Legislativa de Alagoas, onde foi deputado entre os anos de 2003 e 2006. O presidente da Câmara é acusado de ter comandado, na época, uma operação de redução da folha salarial para obter empréstimos bancários.

O então deputado estadual foi condenado em segunda instância pelo crime de improbidade administrativa e foi obrigado a devolver R$ 182 mil aos cofres públicos, mas recorreu à corte superior, que ainda não julgou o caso.

O segundo caso, mais complexo e famoso, envolve sua citação no esquema de corrupção da Petrobras, desbaratado pela Operação Lava Jato. Lira é suspeito de ter comandado uma negociação entre uma empresa que fornecia fornos à refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, e agentes públicos, movimentando R$ 1,9 milhão em 2011. Por conta disso, o partido de Lira, o PP, garantiu que Paulo Roberto Costa fosse mantido na direção da estatal. O caso também tramita no STJ, pendente de julgamento.

O advogado Willer Tomaz, que defende Lira, disse ao Congresso em Foco que as ações contra Lira estão suspensas. "Todas as ações de improbidade que tramitam em face do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, estão suspensas por determinação do Supremo Tribunal Federal justamente pela fragilidade dos elementos de prova, questão que, inclusive, já foi devidamente encerrada na seara criminal pela inexistência de quaisquer indícios de autoria ou de materialidade", afirmou. Caso a nova lei seja aprovada, a suspensão deve resultar em arquivamento.

Procurado pela reportagem por meio de sua assessoria de imprensa, Arthur Lira não se pronunciou sobre o assunto. O espaço permanece aberto para os esclarecimentos do deputado.

De acordo com o coordenador legislativo Lucas Brandão, os casos de Lira estão em uma estatística apresentada por Alessandro Vieira em plenário durante a votação do projeto da nova Lei de Improbidade. Segundo o senador, que é delegado de polícia, se o projeto for aprovado como está hoje, quatro em cada dez processos serão arquivados por conta da nova redação sobre prescrição intercorrente. O dado, apresentado pelo senador, tem origem incerta - acredita-se que o número tenha sido apresentado ao Legislativo pelo Ministério Público.

O advogado Fernando Neisser considerou que, apesar de mais brandas que a sua versão anterior, a nova proposta de Lei de Improbidade Administrativa em gestação no Congresso Nacional pode sim trazer avanços à administração pública. Especializado no tema da improbidade, Neisser encampa o argumento de que a lei atual, com sua rigidez, causa o chamado "apagão das canetas", termo usado para se referir ao receio de gestores públicos e servidores em função com poder de se responsabilizar por decisões que, no futuro, podem ser vistas como ilegais.

Em sua visão, a atual redação permite distorções. Ele cita algumas delas como exemplo: uma ação de improbidade aberta até 13 anos após o fato; o Ministério Público pode pedir multas em valor livre, de dezenas de vezes o valor do salário do acusado; o acusado precisa constituir uma defesa própria, que não pode ser da prefeitura ou do estado; e seus bens, se forem bloqueados pelo juiz, podem ficar assim por anos até o julgamento. Ao final, caso seja considerado inocente, o MP não precisa pagar os custos do processo

Também há uma notória diferença entre fatos ocorridos em cidades grandes e pequenas, observa o advogado. "Existe uma visão equivocada da magistratura de que, se uma cidade é pequena, o prefeito sabe de tudo e é responsável por tudo o que acontece", pondera. Como juízes tem metas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de casos a serem julgados, casos como estes acabam indo para o fundo da fila. "Ninguém pode viver com a espada em cima de sua cabeça indefinidamente", conclui o advogado. "Se o Estado tem algo contra uma pessoa, ele tem de agir."

Fonte: Correio Braziliense - UOL - Congresso em Foco