Política

CPI ouve Hang sobre fake news, gabinete paralelo e morte da mãe na Prevent





A CPI da Covid ouve nesta quarta-feira (29) o empresário Luciano Hang, dono da varejista Havan, para esclarecer dúvidas referentes ao caso da Prevent Senior. Ele também será cobrado a responder questionamentos sobre disseminação de fake news e sua suposta participação no que tem sido chamado de "gabinete paralelo" —estrutura de assessoramento informal à Presidência da República durante a pandemia à revelia das orientações do Ministério da Saúde.

A Prevent é acusada de cometer uma série de irregularidades durante o ano de 2020, no auge da crise sanitária. Entre as quais: ocultar mortes por covid-19 e tentar produzir um estudo clandestino para supostamente criar argumentos em favor de medicamentos do chamado "kit covid".

 

Em depoimento à CPI nesta terça (28), a advogada Bruna Morato, representante legal de 12 médicos que fizeram denúncias contra a Prevent Senior, disse que a Prevent Senior e pessoas que integravam o chamado gabinete paralelo fizeram um "pacto" pró-hidroxicloroquina para evitar o estabelecimento de medidas de restrição social pelo país na pandemia.

Há expectativa nos bastidores da comissão de que o depoimento de Hang será tenso e marcado por disputas e provocações. Na segunda (27), o empresário postou um vídeo com ironia em relação à convocação para comparecer ao Senado. Ele aparece algemado e desafiou os parlamentares:

"Trabalho 24 horas por dia, então vou ter todo o tempo do mundo e, se por acaso não aceitarem o que vou falar, já comprei uma algema para não gastarem dinheiro. Vou entregar uma chave para cada senador e que me prendam", desafiou ele, em uma série de vídeos publicados no Instagram.

"Temos que ter muita tranquilidade para o depoimento de amanhã. Para todas as armadilhas que o depoimento de amanhã terá, pela característica do depoimento", afirmou o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

"Terá armadilhas do depoente e armadilhas dos colegas governistas para tentar, me permitam o termo, melar no final [os trabalhos da CPI]. Atrapalhar no final. Temos que ter serenidade para superar esses obstáculos. Será um depoimento como tantos outros que vocês acompanharam, mas precisaremos ter um pouquinho mais de cuidado para não recair em provocações."

Randolfe disse ainda esperar que Hang se comporte "conforme reza o Código de Processo Penal sobre depoimentos" e lembrou que o empresário não tem imunidade parlamentar.

As alegações contra a Prevent fazem parte de um dossiê entregue à CPI por um grupo de 12 médicos e ex-médicos da rede de hospitais da operadora. A empresa nega o teor das acusações, as quais define como "sistemáticas e mentirosas".

O nome de Hang, empresário declaradamente apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defensor do governo, é citado ao longo do dossiê obtido pela comissão.

De acordo com os denunciantes, a Prevent teria fraudado o atestado de óbito da mãe do dono da Havan, Regina Hang, que morreu em decorrência de complicações de covid-19. Ela se encontrava hospitalizada em uma unidade da rede, em São Paulo.

Após a repercussão, Hang disse ter "total confiança nos procedimentos adotados pela Prevent Senior" e afirmou que nunca ocultou o motivo da morte da mãe e que o episódio está sendo usado como "artifício político" pela CPI da Covid.

Regina morreu aos 82 anos em fevereiro de 2021 após ser internada com covid-19, mas o prontuário médico dizia que a morte foi em decorrência de uma pneumonia bacteriana.

Em nota enviada à imprensa, Hang afirmou que a "covid passou, mas ficaram as complicações por conta das comorbidades e, por isso, infelizmente ela se foi".

"Tenho total confiança nos procedimentos adotados pelo Prevent Senior e que tudo que era possível foi feito. Deixei claro a causa do falecimento de minha mãe em várias manifestações públicas e nas redes sociais, nunca foi segredo."

Fake news

Além das dúvidas que pairam sobre o caso da Prevent, Hang será pressionado durante o depoimento à CPI a explicar se houve, de fato, injeção de recursos financeiros para compartilhamento de fake news em blogs bolsonaristas.

Segundo documentos obtidos pela CPI e divulgados pela TV Globo na semana passada, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, acusado de espalhar fake news, conseguiu financiamento do empresário Luciano Hang graças à ajuda do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro.

Allan dos Santos, que é dono do canal conservador "Terça Livre", é investigado em dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) por disseminação de fake news e ameaça e incitação ao crime contra autoridades.

"Eu espero que ele [Hang] esclareça o papel dele no financiamento de fake news", afirmou o senador Randolfe Rodrigues.

- “Se vier brincar, vai se dar mal”, diz Otto Alencar sobre Luciano Hang na CPI

Dono das lojas Havan é acusado de pertencer ao chamado “gabinete paralelo”, grupo que aconselharia o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à pandemia de Covid-19 

O senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, afirmou, em entrevista à CNN nesta quarta-feira (29), que se o empresário Luciano Hang – dono das lojas Havan – for para “brincar” na comissão, “se dará mal”.

Hang é acusado de integrar o chamado “gabinete paralelo”, grupo que aconselharia o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à pandemia de Covid-19.

“Acho que [Luciano Hang] é realmente um empresário bem-sucedido, mas é também uma figura exótica. Ele disse que ia comprar algemas para dar aos senadores, brincando com o Senado. Não adianta chegar aqui vestido de verde, parecendo um papagaio. A CPI não é lugar de brincadeira. Se vier brincar aqui, vai se dar mal. Ele terá que responder as perguntas e terá que esclarecer, sobretudo, quando ele financiou e financia fake news para vários blogs bolsonaristas que agrediram as pessoas e fizeram ameaças a todos nós”, disse Otto.

O senador falou ainda que em momento algum os ataques os intimidaram. “Ora, se não vamos nos intimidar com Bolsonaro falando que o Exército é dele e botando o Exército como se fosse uma marca para intimidar as pessoas, nós vamos nos intimidar com blogueiros e com Luciano?”

‘Gabinete paralelo’

Segundo Otto, existe ligação entre um suposto gabinete paralelo com o Palácio do Planalto. Ele afirmou que a CPI tem provas disso.

“Todos esses negacionistas e defensores da hidroxicloroquina, temos provas que existiam uma ligação direta. Fizeram isso porque são desonestos com a ciência e medicina.”

O nome do dono da Havan foi citado durante o depoimento de Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior. A mãe do empresário, Regina Hang, de 82 anos, ficou internada em um dos hospitais que pertence à operadora de saúde.

Em um vídeo apresentado na CPI, Hang diz que se arrepende de não ter levado sua mãe para fazer o chamado “tratamento precoce”. Entretanto, um dossiê ao qual os senadores tiveram acesso aponta que Regina utilizou o “kit Covid” – composto por medicamentos sem eficácia comprovada – e repetiu o tratamento enquanto estava internada.

Após sua morte por complicações da doença, sua declaração de óbito teria sido fraudada pela Prevent Senior. Segundo o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), Hang pediu aos médicos que não revelassem que sua mãe fizera o “tratamento precoce” – o objetivo seria não desmoralizar publicamente o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina.

Hang informou em nota à imprensa que recebeu com “tranquilidade” a convocação para depor à CPI. Ainda afirmou que “será um prazer estar presente e falar de todo o trabalho que nós fizemos, visando ajudar no enfrentamento da pandemia”.

 

- CPI deve evitar dar palco a Hang para desinformar e impedir que cave prisão

 

O empresário e presidente da varejista Havan, Luciano Hang, ao lado do presidente Jair Bolsonaro - Reprodução/Facebook

O empresário e presidente da varejista Havan, Luciano Hang, ao lado do presidente Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

29/09/2021 08h55 

 

O relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros (MDB-AL), foi feliz ao comparar o empresário bolsonarista Luciano Hang ao Coringa interpretado por Joaquin Phoenix. O personagem folclórico que Hang incorpora equivale à máscara que encobre a psicopatia do Coringa.

No depoimento de hoje, a CPI precisa ter o cuidado de evitar dar palco a um dos piores personagens do bolsonarismo. Ele vai tentar desinformar. Hang tem sido investigado pelo financiamento de fake news e por ter difundido a farsa do tratamento precoce como figura de destaque do gabinete paralelo que aconselhou o presidente Jair Bolsonaro na pandemia.

Ele é um criminoso que tem prática parecida com a dos empresários da Prevent Senior. O dono da Havan trata seus funcionários como soldados e fez pressão para que aderissem a Bolsonaro em 2018. Nas lojas da Havan poderia ser adotado o lema nazista "lealdade e obediência" usado nos hospitais da Prevent Senior.

É bobagem dizer que Hang não deveria ter sido convocado para evitar dar palco a um negacionista. Ora, cabe aos senadores conduzir o depoimento para que o palhaço do bolsonarismo não roube a cena. É fundamental ouvir um empresário que está na linha de frente do obscurantismo que assolou o país nos últimos anos.

Não ouvir Hang equivaleria à decisão, que parece já tomada, de não chamar o ministro da Defesa, Braga Netto, para depor. Seria uma omissão vergonhosa de senadores que já foram tão a fundo na descoberta dos crimes de responsabilidade e delitos comuns de Bolsonaro e sua horda de bárbaros.

Em relação a uma eventual prisão, os senadores não deveriam descartá-la. O próprio Hang já fez piada no vídeo em que mostra uma algema e diz que daria uma chave para cada senador que quisesse prendê-lo no depoimento desta quarta-feira.

A depender do ritmo do depoimento, pode ser necessário dar-lhe voz de prisão, mas o embasamento da decisão deve ser mais bem fundamentado para impedir que, no fim do dia, ele saia pela porta dos fundos do Senado como aconteceu com Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde.

Cúmplices

Ao longo do dia de ontem, as redes sociais foram dominadas por comentários de democratas de pandemia surpresos com a gravidade do depoimento da advogada Bruna Morato, que representa um grupo de médicos que denuncia uma indústria da morte na Prevent Senior. Ora, quem poderia imaginar que eleger um fã do torturador Brilhante Ustra daria no que deu?

Trabalho adiante

Após o depoimento da advogada Bruna Morato, a CPI não pode encerrar os trabalhos a toque de caixa. Tem muita coisa para ser investigada.

 

Fonte: UOL - CNN Brasil com informações de Murillo Ferrari, da CNN, em São Paulo, e do Senado Federal