Política

Relatório da CGU aponta desperdício de dinheiro no Ministério da Saúde





Mais de 30 toneladas de medicamentos foram descartadas, o que equivale a aproximadamente R$ 170 milhões

Um relatório da Controladoria Geral da União (GCU) apontou casos de desperdício de dinheiro público no Ministério da Saúde ao longo de 2020. Foi apontada a ausência de comprovantes de entrega de quase 5 mil respiradores. Os equipamentos foram comprados, mas não havia clareza para onde eles teriam ido. A CGU investigou a fim de buscar o destino de cada um e não soube apontar o recebimento de 336. O prejuízo para os cofres públicos foi estimado em R$ 18 milhões.

Também houve falhas de controles internos para a gestão de estoques de insumos e medicamentos, o que levou à inutilização de 30 toneladas de medicamentos que valem cerca de R$ 170 milhões. Segundo o documento, R$ 21 milhões foram gastos com a destruição de itens que foram incinerados ou extraviados, inclusive vacinas como a pentavalente e a tríplice viral.

No relatório, a CGU afirma que já tinha feito alertas ao ministério sobre alguns processos na tentativa de evitar prejuízos. O documento será enviado ao Tribunal de Contas, órgão responsável por fiscalizar o governo.

CNN procurou o Ministério da Saúde para pedir esclarecimentos, mas ainda não teve retorno.

- Omissão de mortes, cobaias, fraudes: as suspeitas contra a Prevent Senior

Desde o início da pandemia de covid-19, a Prevent Senior deixou de ser um convênio conhecido apenas por ser um plano de saúde voltado para idosos.

A empresa, fundada há 24 anos pelos irmãos Eduardo e Fernando Parrillo, foi alvo de preocupação das autoridades de saúde desde os primeiros casos de infecção pelo Sars-Cov-2 no Brasil. Agora teve um dos seus representantes indagado pela CPI da Covid, no Senado Federal, sobre suspeitas de usar pacientes como cobaias e de fraude em atestados de óbito.

No ano passado, os hospitais da Prevent Senior foram os primeiros a serem acionados para internações e casos de covid-19 no país. Cinco das sete primeiras mortes no país em razão da covid ocorreram em hospitais do grupo, conforme divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde à época.

Omissão e desorganização

Em março de 2020, quando os casos começaram a aumentar, a Prefeitura de São Paulo abriu investigação contra a rede de hospitais por ela supostamente não ter comunicado o governo de São Paulo do teste positivo de covid-19 em um paciente no momento do diagnóstico. O estado só soube depois que a pessoa morreu.

A prefeitura manteve a cobrança de informações e o respeito a protocolos de isolamento dos pacientes no hospital. Fiscalização feita pelo município e pelo governo estadual encontrou superlotação e desorganização em um hospital do grupo na capital paulista. Nessa época, ao menos oito colaboradores da Prevent foram internados em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Em vídeo veiculado no dia 31 de março, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chamou a atenção para o alto nível de transmissão e mortes de covid-19 dentro de hospitais da rede.

O 'kit covid'

Médicos da Prevent Senior recorreram à prescrição de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença, como hidroxicloroquina e ivermectina, por meio do chamado "kit covid" —tratamento até hoje defendido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Pela mesma razão, a empresa se tornou alvo da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo.

Na semana passada, uma reportagem publicada pela GloboNews, com documentos obtidos por meio da CPI da Covid, apontou que a Prevent Senior atuou junto ao governo federal na disseminação desses medicamentos, segundo relatos de médicos e ex-médicos do grupo.

Ainda segundo a denúncia, a Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que, sem conhecimento, participaram de um "estudo" para testar a eficácia da hidroxicloroquina e da azitromicina contra a covid.

Outras reportagens da revista Piauí e do jornal O Estado de S. Paulo, respectivamente, apontaram que a Prevent omitiu nos atestados de óbito que as mortes do médico negacionista Anthony Wong e de Regina Hang, mãe de Luciano Hang, ocorreram por causa da covid-19.

Em depoimento à CPI da Covid, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, confirmou que houve orientação para que médicos modificassem o CID (Código de Diagnóstico) de pacientes que deram entrada com covid-19 após 14 ou 21 dias. Todas as outras acusações foram negadas por Batista Júnior.

Em entrevista ao UOL News, o procurador-geral de Justiça do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) Mario Sarrubbo disse que a atuação do MP deve ser "cirúrgica" na investigação das supostas falsidades em declarações de óbito.

"Nós não podemos ser afoitos, mas temos que dar uma resposta rápida para a população, até para que se preserve a empresa, é uma empresa grande, que gera muitos empregos, nós temos que ser cirúrgicos", afirmou. 

'Denúncias são mentirosas', diz Prevent

Em nota, a Prevent Senior afirma repudiar "denúncias sistemáticas, mentirosas e reiteradas que têm sido feitas por supostos médicos que, anonimamente, têm procurado desgastar a imagem da empresa usando primordialmente a GloboNews e, posteriormente, a CPI da Pandemia. Em decorrência disso, está tomando as medidas judiciais cabíveis para investigar todos os responsáveis por denunciação caluniosa (e outros crimes) sejam investigados e punidos".

"Os médicos da empresa sempre tiveram a autonomia respeitada e atuam com afinco para salvar milhares de vidas. Importante lembrar que números à disposição da CPI demonstram que a taxa de mortalidade entre pacientes de covid-19 atendidos pelos nossos profissionais de saúde é 50% inferior às taxas registradas em São Paulo", disse a empresa.

Fonte: CNN Brasil - UOL