Cotidiano

A decisão do presidente da China que pode afetar todo o planeta





É uma decisão que pode causar impacto em todo o planeta. 

O presidente da China, Xi Jinping, anunciou nesta semana, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, que seu país deixará de participar da construção de usinas a carvão no exterior.

"A China aumentará o apoio a outros países no desenvolvimento de energia verde e (de baixa emissão) de carbono, e não construirá novos projetos de energia movidas a carvão no exterior", disse o presidente em um vídeo pré-gravado.

A mudança pode prejudicar o desenvolvimento futuro do carvão no mundo: mais de 70% das usinas a carvão do mundo atualmente construídas dependem de fundos chineses, de acordo com dados do International Green Finance Institute, com sede em Pequim, divulgados pela Bloomberg.

Em 2020, o presidente chinês já havia anunciado que planejava tornar a China um país neutro em carbono até 2060 e, em seu discurso na ONU na quarta-feira (22/09), prometeu acelerar os esforços nesse sentido.

"Isso requer um trabalho muito árduo e faremos todos os esforços para atingir esses objetivos", enfatizou.

O compromisso da China surge a poucas semanas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que será realizada em novembro em Glasgow e que buscará ampliar os objetivos do Acordo de Paris sobre o Clima.

As declarações de Xi foram celebradas por diferentes organizações ambientalistas, embora eles insistam na necessidade de medidas no próprio país asiático, principal poluidor do mundo.

 

Reações

 

Rapaz andando em rua na China e, ao fundo, é possível ver fumaça saindo de fábrica

Reuters

Mesmo após anúncio do presidente, futuro das usinas a carvão da China ainda são incógnita

O anúncio da China ocorre após outras promessas semelhantes da Coreia do Sul e do Japão e depois de pressão da comunidade internacional.

A organização ambiental internacional 350.org disse, de acordo com a agência AFP, que o anúncio de Xi foi "enorme" e que poderia significar uma "mudança radical".

Este ano já havia sinais dessa virada: a China, que costumava financiar usinas movidas a carvão em outros países por meio de sua iniciativa Nova Rota da Seda, não financiou nenhuma nos primeiros seis meses do ano. Essa foi a primeira vez que isso aconteceu, segundo a Bloomberg.

Helen Mountford, vice-presidente de clima e economia do World Resources Institute, chamou isso de "um ponto de inflexão histórico para acabar com o combustível fóssil, o mais sujo do mundo", de acordo com a AFP.

"A promessa da China mostra que está sendo fechada a irrigação do financiamento público internacional para o carvão", disse ela.

Manish Bapna, presidente do grupo de defesa ambiental Conselho de Defesa de Recursos Naturais (NRDC, na sigla em inglês), disse em um comunicado que este "é um grande passo à frente na longa marcha global em direção a um mundo mais saudável, seguro e próspero".

"Ao cancelar planos de construir dezenas de usinas termelétricas a carvão, a China está tomando uma decisão forte em direção a um futuro mais limpo no exterior. Isso abre a porta para ambições climáticas mais ousadas da China e de outros países importantes, internamente e no exterior", acrescentou.

 

Dúvidas

 

Apesar da boa recepção da mensagem de Xi, não está claro o que acontecerá com os projetos já em andamento ou já acordados.

Xi também não se referiu às usinas a carvão do país asiático, outra grande preocupação com a saúde do planeta. O carvão é a principal fonte de energia do país há décadas e seu uso está aumentando.

Na verdade, em agosto, o governo chinês estava construindo novas usinas em mais de 60 locais em todo o país. Muitas regiões têm até mais de uma.

O enviado especial dos EUA sobre o clima, John Kerry, disse durante uma recente visita à China que construir mais usinas a carvão "representa um desafio significativo aos esforços mundiais para lidar com a crise climática".

XI Jinping no palanque, com bandeira atrás

Getty Images

Declarações de Xi foram celebradas por diferentes organizações ambientalistas, mas elas cobram medidas no próprio país asiático, principal poluidor do mundo

A China argumentou que tem o direito de fazer o que os países ocidentais fizeram no passado: liberar CO2 para desenvolver sua economia e reduzir a pobreza.

Como resultado desse consumo, as emissões de carbono do gigante asiático não são apenas enormes e crescentes, mas superam as de outros países.

As emissões por pessoa no país asiático são cerca de metade das dos Estados Unidos, mas sua enorme população de 1,4 bilhão e seu crescimento econômico explosivo colocaram a China à frente de qualquer outro país. A China se tornou o maior emissor de CO2 do mundo em 2006 e agora é responsável por mais de um quarto da produção global de gases de efeito estufa do planeta.

Os especialistas concordam que, se a China não fizer grandes reduções na liberação de poluentes no meio ambiente, o mundo não poderá vencer a luta contra as mudanças climáticas.

 

Outros anúncios

 

Enquanto isso, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, prometeu dobrar o financiamento do país para os estados mais afetados pelas mudanças climáticas.

"Isso tornará os Estados Unidos um líder no financiamento público para o clima", disse Biden em seu primeiro discurso como presidente dos Estados Unidos na Assembleia da ONU.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que estava "animado" por "importantes" anúncios da China e dos EUA, mas que muito mais é necessário para combater as mudanças climáticas.

De acordo com um relatório da ONU sobre as mudanças climáticas divulgado em agosto de 2021, as emissões contínuas de gases do efeito estufa podem romper um importante limite de temperatura em pouco mais de uma década. Os autores também mostram que um aumento do nível do mar de cerca de dois metros até o final deste século "não pode ser descartado".

 

- Afeganistão: instituições denunciam violação dos direito das mulheres

FILE PHOTO: Afghan women wait to receive free wheat donated by the Afghan government during a quarantine, amid concerns about the coronavirus disease (COVID-19) in Kabul

Os talibãs estão cometendo graves violações dos direitos humanos contra as mulheres e jovens em Herat, no oeste do Afeganistão, denunciaram hoje (23) a Human Rights Watch (HRW) e a Universidade Estadual de San José (SJSU, a sigla em inglês).

Segundo a HRW e o Instituto de Direitos Humanos da SJSU, desde que assumiram o controlo da cidade, em 12 de agosto de 2021, os talibãs em Herat negam às mulheres a liberdade de movimento fora de suas casas, impõe códigos de vestuário obrigatórios, restringem severamente o acesso ao emprego e à educaçã, além do direito à reunião pacífica.

As mulheres de Herat disseram às duas organizações que as suas vidas foram completamente destruídas no dia em que os talibãs assumiram o controle da cidade.

Essas mulheres trabalhavam fora de casa ou eram estudantes, desempenhavam funções ativas e frequentemente de liderança em suas comunidades.

Elas afirmaram que estão enfrentando problemas econômicos devido à perda de rendimento e à incapacidade de trabalhar.

As mulheres em Herat foram das primeiras a organizar protestos em defesa dos seus direitos, depois de os talibãs assumirem o controle de Cabul e de grande parte do país.

Poucos dias após a tomada de Herat pelos talibãs, um grupo de mulheres pediu para se reunir com os líderes locais a fim de discutirem seus direitos e, vários dias depois, puderam encontrar-se com um representante do grupo islâmico.

No entanto, o representante do novo governo foi inflexível e disse às mulheres para parassem de insistir na questão dos direitos e que, se apoiassem o grupo no poder, seriam recompensadas com anistia total pelas atividades anteriores, talvez até conseguissem cargos no governo.

Após as manifestações em Herat, os talibãs proibiram protestos que não tinham aprovação prévia do Ministério da Justiça em Cabul. Determinaram que os organizadores incluíssem informações sobre o propósito de quaisquer protestos e as frases a serem usadas em quaisquer solicitações ao ministério.

As mulheres entrevistadas pela HRW e pela SJSU manifestaram preocupação especial com o fato de os talibãs imporem novamente a política de exigir que tenham como companhia um `mahram` [familiar masculino] sempre que saírem de casa, como os talibãs fizeram quando estiveram no poder anteriormente, entre 1996 e 2001.

Essa exigência afastou as mulheres da vida pública, isolou-as da educação, do emprego e da vida social, e dificultou a obtenção de cuidados de saúde, tornando-as completamente dependentes de membros da família do sexo masculino e impedindo-as de escapar caso sofressem abusos em casa.

Zabiullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, disse, em entrevista em Cabul no último dia 7, que estar acompanhado por um `mahram` só seria necessário para viagens de mais de três dias, não para atividades diárias, como ir ao trabalho, escola, compras, consultas médicas e outras necessidades.

No entanto, as autoridades talibãs em Herat não têm sido consistentes na execução dessa política.

A Human Rights Watch e o Instituto de Direitos Humanos SJSU fizeram entrevistas detalhadas por telefone com sete mulheres em Herat, incluindo ativistas, educadoras e estudantes universitárias sobre as suas experiências desde que os talibãs assumiram o controle da cidade. Todas elas falaram sob condição de anonimato, temendo pela sua segurança.

Os talibãs voltaram ao poder em praticamente todo o Afeganistão em agosto, quando tomaram a capital, Cabul.

Fonte: BBC News Brasil - Agência Brasil