Política

Imprensa internacional repercute discurso de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU





Publicações pelo mundo destacaram - além do discurso - a passagem "conturbada" da comitiva brasileira em Nova York, com protestos e jantares na calçada 

Tradicionalmente, o representante brasileiro inicia o discurso no salão da Assembleia-Geral da ONU e, como esperado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ganhou destaque nos principais meios de comunicação do mundo não só por sua fala na reunião, mas também pela passagem de sua comitiva por Nova York, com polêmicas que vão desde os jantares realizados no lado externo dos restaurantes ao encontro com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

A opção do presidente em seguir a afirmar que não tomou vacina contra a Covid-19 foi o tema mais abordado pela imprensa internacional, além da sua defesa em relação à política do governo para o meio ambiente, tudo isso  em meio a protestos que apontam contrariedade em sua fala.

Confira como repercutiram os principais veículos da mídia internacional:

  • CNN Internacional

“Isolado, mas desafiador”, destaca a CNN Internacional ao divulgar que Bolsonaro trouxe à ONU a discussão sobre como lidar com a pandemia e os desafios do clima.

A publicação afirmou que o discurso de Bolsonaro foi realizado com serenidade e chegou a ser “monótono”. A CNN destacou que ele apresentou, em seu discurso, “um novo Brasil cuja credibilidade foi recuperada no mundo”, mas, muito diferente do país devastado pelo coronavírus sob seu comando e fustigado pelos incêndios na Amazônia”.

A CNN destacou ainda que “o líder populista conservador se ateve a provocações estabelecidas sobre questões sociais e pandêmicas, repetidamente aludindo à importância da “família tradicional” e criticando as medidas de restrições adotadas na pandemia”.

  • Agência Reuters

A Reuters apontou que Bolsonaro disse estar comprometido com a proteção do meio ambiente, mas que o discurso não convence os ativistas.

“O líder de extrema direita, que pressionou para abrir mais a floresta amazônica para a mineração e agricultura, foi criticado no país e no exterior pelo aumento do desmatamento sob seu governo. Mas ele tentou desviar as críticas na terça-feira, dizendo à ONU que seu governo estava levando a sério a proteção da Amazônia”, escreveu a agência de notícias.

  • The New York Times

O jornal norte-americano também ressaltou o tom “desafiador” do discurso e apontou que o presidente, não vacinado, recuou contra as críticas em sua fala na ONU.

“O presidente Jair Bolsonaro do Brasil deu início à Assembleia-Geral das Nações Unidas na terça-feira, defendendo o uso de drogas ineficazes para tratar o coronavírus e resistindo às críticas ao desempenho ambiental de seu governo”, escreveu o NYT.

“A história e a ciência responsabilizarão todos”, destacou o jornal sobre a fala de Bolsonaro, acrescentando que sua forma de lidar com a pandemia no maior país da América do Sul foi amplamente criticada.

A decisão de Bolsonaro de não ser vacinado contra o coronavírus teve destaque na publicação.

“Foi um momento constrangedor durante uma reunião com o primeiro-ministro Boris Johnson da Grã-Bretanha, que saudou a vacina AstraZeneca, que foi desenvolvida na Universidade de Oxford. Seu status de não vacinado causou problemas logísticos para encontrar um lugar para comer em Nova York, onde os restaurantes exigem que os clientes mostrem prova de vacinação”.

  • The Guardian

O jornal britânico The Guardian foi duro e classificou o discurso do presidente brasileiro como “cheio de mentiras”.

“Jair Bolsonaro, disse à assembleia-geral das Nações Unidas que veio para apresentar “um novo Brasil, com sua credibilidade restaurada perante o mundo. Mas em um discurso de 12 minutos, no qual o populista de extrema direita pregou remédios não comprovados da Covid, denunciou medidas de contenção do coronavírus e propagou uma sucessão de distorções e mentiras descaradas sobre a política brasileira e o meio ambiente, Bolsonaro fez pouco para reparar a reputação internacional de seu país”, afirmou a publicação.

  • The Washington Post

“O Bolsonaro não vacinado do Brasil”, destacou o jornal norte-americano Washington Post, que criticou a conduta anti-vacinal do presidente brasileiro em seu discurso na ONU.

“Bolsonaro foi acusado de alimentar o sentimento anti-vacinal e diz que não precisa ser vacinado porque se recuperou de um leve caso de covid-19 no ano passado”.

Apesar de ter dedicado apenas uma pequena parte de seu discurso à pandemia, segundo a publicação, a presença de Bolsonaro traz muita discussão sobre tema; pelo fato de ele “ter quebrado as regras da ONU que pediam por todos aqueles que entraram no Salão da Assembleia-Geral ser totalmente vacinado sob um sistema de honra”, disse o jornal.

  • Al Jazeera

O Al Jazeera, do Oriente Médio, trouxe um tom mais ameno ao destacar o discurso de Jair Bolsonaro na ONU nesta terça-feira.

A publicação destaca que Bolsonaro afirmou estar comprometido com a proteção ambiental, mas não deixou de destacar a devastação da Amazônia para abrir espaço para a mineração e a agricultura.

“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro disse à Assembleia Geral das Nações Unidas que as leis ambientais de seu país deveriam servir de modelo para o mundo, reforçando o compromisso de seu governo com a eliminação do desmatamento ilegal. O líder de extrema direita, que pressionou para abrir mais a floresta amazônica para mineração e agricultura, foi criticado por aumentar o desmatamento sob seu governo”, destacou o Al Jazeera.

  • Clarín

O diário argentino Clarín disse que Bolsonaro trouxe em seu discurso apontamentos contra o ex-presidente Lula em discurso na ONU. “O Brasil estava à beira do socialismo”, reiterou o Clarín sobre o contexto de Bolsonaro.

“Em um breve discurso, ele falou sobre os investimentos feitos em energias renováveis. E se referiu à pandemia, defendendo “a relação entre médicos e pacientes” e rejeitando restrições como a aplicação de passaportes de saúde. Por outro lado, Bolsonaro defendeu o uso de medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus, atribuiu o aumento da inflação às quarentenas e sustentou que não há corrupção em seu governo, investigado pelo escândalo de tentativa de compra fraudulenta de vacinas”, escreveu a publicação argentina.

O Clarín também destacou a passagem da comitiva presidencial em Nova York, classificando como “repleta de conflitos” e com ênfase aos gestos obscenos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, contra manifestantes.

“Além disso, o presidente brasileiro é o único integrante do G-20 não vacinado em Nova York, o que lhe trouxe problemas logísticos”, destacou o Clarín.

  • El País

O periódico espanhol El País fez uma das análises mais duras da imprensa internacional sobre a postura de Bolsonaro nos dias que antecederam a abertura da Assembleia-Geral da ONU.

O jornal foi além da crítica ao presidente e direcionou-se também à demais políticos brasileiros, afirmando que “não é só culpa do Bolsonaro que o mundo zombe do Brasil”.

Para a publicação, as desculpas políticas para não abrir um processo contra o presidente são “ridículas, além de perigosas”.

“As imagens patéticas que chegam de Nova York e mostram o presidente Jair Bolsonaro comendo pizza na rua porque não pode entrar em um restaurante porque não está vacinado, e sua entrada no hotel pela porta dos fundos por medo de encontrar jornalistas. Eles viajaram o mundo e são uma vergonha para o país”, escreveu o El País.

“Não importa mais o que Bolsonaro possa dizer em seu discurso inaugural na ONU. Essas imagens já disseram tudo. Parecem ser bananeiros e não o quinto maior país do planeta e o coração econômico da América Latina”, acrescentou.

  • Bloomberg

Para o Bloomberg, Bolsonaro busca melhorar a imagem prejudicada do Brasil na ONU, e adotou um tom “moderado” em seu discurso.

“O líder conservador destacou os esforços para abrir a economia brasileira ao investimento estrangeiro, defendendo sua política ambiental e seu histórico durante a pandemia. Durante seu discurso, ele insistiu no uso de medicamentos “off-label” contra a Covid, criticando as autoridades de saúde que são contra o que ele descreve como um “tratamento precoce” contra o vírus”, analisou a publicação.

Em sua reportagem, o Bloomberg também destacou que, em Nova York, Bolsonaro foi “agredido” pelo prefeito Bill de Blasio por não ter sido vacinado e mais de uma vez foi recebido por um pequeno, mas barulhento, grupo de manifestantes.

  • La Gaceta

O jornal argentino trouxe a leitura de que Bolsonaro, em seu discurso, apresentou a batalha cultural à esquerda e ao globalismo, afirmando sem complexos que seu país hoje tem “um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus forças armadas, valoriza a família e deve lealdade ao seu povo”.

Bolsonaro foi o primeiro líder político a falar perante o fórum das Nações Unidas, abertura em que o presidente apresentou “um novo Brasil” desde que assumiu a presidência em janeiro de 2019, com “credibilidade já recuperada” depois de “estar” à beira do abismo do socialismo.”

A publicação também disse que Bolsonaro afirmou que apoia a vacinação contra o coronavírus, mas se opõe ao passaporte de saúde ou a qualquer obrigação relacionada à vacina.

Bolsonaro se autoincriminou na ONU, diz Miguel Reale Jr

Auxiliar jurídico da CPI da Covid-19 e coautor do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff,o professor Miguel Reale Júnior acredita que o presidente Jair Bolsonaro foi orientado por algum jurista ao defender o tratamento precoce em seu discurso na Assembleia da ONU. Para Reale, no entanto, a estratégia pode surtir efeito contrário ao esperado.

Na avaliação do jurista, ao defender o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19 na ONU, Bolsonaro confessou os crimes pelos quais é investigado na CPI do Senado. “Era uma confissão. Ele confessa que usava cloroquina, que mandava cloroquina e ainda vai ao púlpito da ONU fazer campanha da cloroquina. Reforça o crime catalogado na nossa legislação como charlatanismo”, disse Reale ao Congresso em Foco.

O jurista entende que Bolsonaro usou a defesa do tratamento precoce no discurso em Nova York na tentativa de se defender previamente em futuros processos: seja em ações políticas diante do Congresso, seja em processos penais diante do Judiciário.

“Ingenuamente, ele tenta manter o mesmo discurso e a defender seus atos como uma antecipação da defesa em um processo de impeachment”, explica o jurista. Na avaliação de Reale, Bolsonaro procurou mostrar na ONU que estava convencido de que combatia a pandemia da melhor forma possível. “O que ele quer mostrar é que não agiu com dolo, porque estava convicto de que a cloroquina fazia bem, e pergunta como que os outros países não a aceitam”.

Para o especialista em direito penal, a tática adotada pelo presidente pode não gerar o resultado esperado em futuros processos. “É uma tática ingênua, porque a cloroquina tinha recebido a reprovação, por exemplo, do conselho de medicina da França, da Organização Mundial da Saúde, e também da Organização Panamericana de Saúde, bem como de todos os cientistas brasileiros que vieram aos meios de comunicação alertar para esse risco. Ele insiste em defender pontos indefensáveis, se preparando para dizer que agiu de boa-fé”, afirma.

Reflexo da política interna

Além de correr o risco de ter seu discurso visto no Congresso como uma forma de se autoincriminar, o jurista considera que a fala de Bolsonaro ainda pode trazer complicações para o presidente caso ele venha a responder futuramente no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Reale e um grupo de juristas entregaram parecer à CPI semana passada em que defende, entre outras coisas, que Bolsonaro seja investigado pelo tribunal internacional por crimes contra a humanidade. “Acredito que ele deva responder por conta de crime contra a humanidade, conforme o artigo 7º do Estatuto de Roma”, defende.

Esforço eleitoral

Quem também avaliou o discurso de Bolsonaro foi a jurista Helena Lobo da Costa. Apesar de não enxergar o pronunciamento do presidente como uma forma de autoincriminação ou de defesa prévia, ela concorda com Reale quanto aos objetivos eleitorais do discurso. “Foi um discurso voltado aos seus próprios eleitores, pessoas que ainda acreditam naquilo que ele fala. Ele falou de Sete de Setembro, desmatamento, muita coisa que não tem a ver com a CPI. Mas ele continua insistindo nas práticas equivocadas”, explica a jurista, coautora do parecer entregue à comissão.

Para Miguel Reale, os interesses eleitorais de Bolsonaro ao falar na ONU se manifestam até mesmo ao tratar de assuntos econômicos. “Ele não acredita no que defende. Ele estava fazendo o que lhe era conveniente para tentar amenizar danos eleitorais”.

Helena da Costa ainda alerta para os riscos que a postura do presidente cria para a imagem do Brasil no exterior. “A insistência dele em levar esse discurso para um ambiente onde ele sabia que não iria receber nenhuma adesão coloca o Brasil em uma posição inclusive vexatória diante da comunidade internacional”.

- Em termos de corrupção, voltamos aos anos 90

Senador Alessandro Vieira, estrela da CPI da Covid-19 e candidato a presidente em 2022, fala que os processos contra corruptos novamente “não passam do STJ” e lastima Bolsonaro

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) esteve na Live de Poder. Em cerca de 35 minutos, o muito objetivo senador, que é neófito na política – elegeu-se a partir do curso de formação de lideranças Renova –, explicou as principais vertentes de sua plataforma presidencial em 2022, entre muitos outros assuntos.

Sobre a plataforma, ele falou em três eixos, um deles voltado para o que chamou de “integridade”, que passa pela retomada do processo de combate à corrupção deixado de lado nos últimos anos; outro eixo com foco em educação – e a ideia é dar escala para projetos vencedores de educação pelo Brasil; e finalmente quer uma agenda social a partir de políticas fiscais responsáveis.

O senador, que durante 17 anos atuou na Polícia Civil do Sergipe, chegando ao cargo de direção – de onde acabou afastado por determinação do ex-governador Jackson Barreto, implicado em investigações feitas pelo futuro senador –, falou também que no tema do combate à corrupção, o Brasil “voltou aos anos 90”, com os processos novamente a não passar do STJ.

Joyce repercutiu a tarde tenebrosa na CPI da Covid, de que Vieira se tornou uma das estrelas, apesar de ser suplente. Nesta terça, a senadora Simone Tebet foi chamada de “descontrolada” pela testemunha do dia, o ministro da CGU, Wagner Rosário. Aproveitando o tema, Vieira falou que montar equipes com mulheres é fundamental, já que elas ajudam até na diminuição da corrupção, “segundo alguns estudos”.

Numa hipótese entre Lula e Bolsonaro em 2022 – ele optou pelo último contra Fernando Haddad em 2018 –, ele não declinou preferência, mas deixou claro que o atual presidente é uma ameaça à democracia e representa “atrasos civilizatórios”. Também falta ao presidente, segundo o parlamentar, “vontade de trabalhar”. “Deve ser o presidente que menos trabalhou na história”.

Ele se arrepende do voto em Bolsonaro. 

Vieira elogiou muito os deputados Tabata Amaral e Felipe Rigoni (ambos do PSB), que também se elegeram a partir de processo pedagógico-político do Renova e dividem gabinete com o senador – ele reportou na live uma economia, com essa estrutura, de R$ 2 mi até agora.

Fonte: Congresso em Foco - UOL - CNN Brasil