Política

Datafolha: Metade dos brasileiros diz acreditar que Bolsonaro pode dar golpe





Apoio à democracia segue alto, 51% afirmam temer ditadura, e maioria vê agenda bolsonarista e Poderes como risco

Para 50% dos brasileiros, a retórica golpista de Jair Bolsonaro pode se tornar realidade e existe a chance de o presidente tentar um golpe de Estado.

A agenda antidemocrática de seus apoiadores é percebida assim pela maioria, assim como ações dos três Poderes são vistas como ameaças.

O apoio à democracia, por sua vez, segue sólido: 70% dos ouvidos pelo Datafolha de 13 a 15 de setembro dizem crer que o sistema é o melhor para o país, o segundo maior nível da série histórica iniciada em 1989. Já o contingente que admite a ditadura como opção está no menor patamar, 9%.

O temor de que o Brasil volte a ser uma ditadura, como foi sob os militares de 1964 a 1985 ou com Getúlio Vargas de 1937 a 1945, é o mais alto desde que o Datafolha começou a questionar isso, em fevereiro de 2014: 51%, ante 45% que dizem não acreditar no risco e 5% que não sabem dizer.

O instituto ouviu 3.667 pessoas em 190 municípios, e o levantamento tem margem de erro de dois pontos para mais ou menos.

Os achados do Datafolha ocorrem na semana seguinte ao maior tensionamento institucional do governo Bolsonaro, que é marcado por desafios do chefe do Executivo a outros Poderes desde o começo, com picos em 2020 e uma crise colocada neste ano —com episódios como a tentativa de restaurar o voto impresso —derrubada na Câmara.

Num movimento que remonta às franjas dos atos que pediam o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2015 e 2016, agora são majoritárias nas manifestações pró-governo pedidos diversos de golpe e intervenção militar.

No 7 de Setembro, o presidente levou milhares às ruas e pregou desobediência ao Supremo Tribunal Federal, além de enunciar uma cantilena de ameaças ao Judiciário. Caminhoneiros convocados por ele ameaçaram invadir a corte e paralisar o país.

Dois dias depois, temendo os efeitos da ultrapassagem de linha vermelha e os efeitos sobre sua precária governabilidade, Bolsonaro novamente recuou.

Entre os 50% que dizem acreditar que ele pode dar um golpe, ou no caso um autogolpe contra outras instituições já que está instalado no poder, 30% afirmam crer muito na hipótese. Já 45% dizem achar que o presidente nada fará e 6% não sabem opinar.

Desde que era um obscuro deputado federal, o capitão reformado Bolsonaro é um apologista do regime militar implantado em 1964. Já disse que o maior erro da ditadura no Brasil foi não ter matado tanto quanto a chilena, 30 mil pessoas, e declarou na campanha de 2018 que seu herói era o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

No poder, moderou um pouco o tom, ainda que seu Ministério da Defesa tenha emitido notas chamando 1964 de marco democrático por ter, segundo ele, barrado o comunismo —sem citar a censura e a repressão. Em seu entorno, dos filhos ao ministro Paulo Guedes (Economia), evocações de atos repressores como o AI-5 estão presentes.

Bolsonaro passou a aventar que podia "jogar fora das quatro linhas da Constituição" no seu embate com o Supremo. 

Segundo o Datafolha, houve uma queda de cinco pontos no apoio à democracia desde a pesquisa anterior, em junho de 2020, que migraram para a fatia dos que se dizem indiferentes. Já a admissão da ditadura seguiu em baixa, oscilando de 10% para 9%.

O maior temor é entre quem reprova o governo, que perfazem 53% da amostra: para 70%, há risco. Já os mais ricos (71%) e os empresários (78%) descartam a hipótese.

Na série iniciada em 1989, o ponto mais baixo de suporte à democracia ocorreu em fevereiro de 1992, quando 42% diziam achar o sistema o melhor. O apoio agora sobe conforme a escolaridade e a instrução do entrevistado.

O apoio à democracia já é significativo entre os que ganham até 2 salários mínimos (51% da amostra), em 64%, chegando a 87% entre os 10% que ganham acima de 5 mínimos. Da mesma forma, é de 57% entre os 33% com ensino fundamental, indo a 89% entre os 21% que têm curso superior.

O risco de ver o país sob regime ditatorial, por sua vez, cresceu na percepção dos entrevistados desde o levantamento passado sobre isso, em junho de 2020: passou de 46% para 51%, enquanto a despreocupação refluiu de 49% para 45%. Cinco por cento não sabem dizer.

Dizem temer mais a volta da ditadura os mais jovens (59%) e quem reprova Bolsonaro (56%). Já não veem a hipótese os mais velhos (49%), quem aprova o presidente (58%) e os mais ricos (67%).

E onde tais riscos residem? Aqui há uma visão com nuances. Se as pautas bolsonaristas são lidas como ameaças à democracia, o mesmo é notado nas ações dos três Poderes, com preponderância natural do Executivo.

​Em relação aos Poderes, a leitura de que o Executivo constitui ameaça à democracia é compartilhada por 71% —para 37%, bastante. O índice cai para 40% entre os 22% que aprovam Bolsonaro no geral.

O Legislativo também é visto como um perigo à democracia para uma fatia semelhante, 69%, embora desses 45% vejam apenas "um pouco" disso. Entre os apoiadores de Bolsonaro, como seria previsível, isso sobe para 74%.

Mais evidente da penetração das ideais do presidente entre quem o apoia é a avaliação do Judiciário como ameaça. É a menor entre os três Poderes, em ainda altos 63%, mas isso sobe para 79% entre quem acha Bolsonaro ótimo ou bom.

- Datafolha: Para 76%, Bolsonaro deve sofrer impeachment se desobedecer a Justiça

Ameaça feita pelo presidente nos atos do 7 de Setembro constitui crime de responsabilidade

Durante o grande ato de cunho golpista que convocou para o feriado do 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não iria cumprir quaisquer ordens judiciais do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Se ocorrer, isso constitui crime de responsabilidade, passível de processo de impeachment. Os brasileiros concordam majoritariamente com isso: para 76% deles, a abertura deve ocorrer se Bolsonaro fizer o prometido.

É o que mostra o Datafolha, em pesquisa nacional feita em 190 cidades com 3.667 eleitores de 13 a 15 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Acreditam que o presidente não deveria ser punido nessas circunstâncias 21% dos ouvidos, e 3% não souberam opinar.

Num dia em que participou de dois grandes protestos golpistas contra o Supremo (particularmente Moraes, o relator do inquérito das fake news que pode causar problemas para o presidente, sua família e apoiadores), Bolsonaro desfiou um rosário de ameaças.

Primeiro, em Brasília, disse que o presidente do Supremo, Luiz Fux, deveria enquadrar Moraes, sob pena de ver uma intervenção em seu poder. Em São Paulo, à tarde, exortou a desobediência judicial.

"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor ​Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", afirmou Bolsonaro na avenida Paulista.

São mais incisivos acerca do golpismo da fala os jovens de 16 a 24 anos (86% defendem o impeachment no caso), os mais pobres (82%) e, claro, aqueles que reprovam o presidente (94%).

Já são mais tolerantes com o desrespeito legal os mais ricos (32% não veem necessidade de um processo), empresários (39%) e, também de forma mais óbvia, os que aprovam o desempenho presidencial (59%).

O 7 de Setembro foi o auge de uma crise institucional provocada durante meses por Bolsonaro, e gerou reações. Inicialmente retóricas, elas ganharam corpo na forma de movimentação de atores políticos em torno da possibilidade de um impeachment.

Bolsonaro recorreu então ao ex-presidente Michel Temer (MDB), que o ajudou a confeccionar uma nota de recuo em que não retirava a discordância de Moraes, mas dizia que suas palavras duras eram resultado do "calor do momento" e que o ministro era um "jurista e professor" (e não "canalha" que havia proferido).

"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", disse Bolsonaro, para quem quis acreditar —basicamente o centrão, que sustenta o governo e tem as chaves da abertura de um processo de impeachment nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Isso dito, é certeza na classe política que a moderação bolsonarista é transitória, ainda mais com o agravamento da situação econômica e o aumento da rejeição do presidente, como o Datafolha atestou, o que dificulta sua tentativa de reeleição no ano que vem.

- Com 290 mil comprimidos em estoque, Exército não distribuiu cloroquina em 2021

De setembro ao final de dezembro de 2020, governo federal distribuiu 482 mil doses do medicamento para tratar pacientes em estado grave de Covid-19

Exército Brasileiro revelou à CNN que, sem demanda de Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, não houve distribuição de cloroquina 150 mg ao longo deste ano. O Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) informa também que constam 290 mil comprimidos do medicamento armazenados no Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEX), no Rio de Janeiro.

Entre os meses de setembro e final de dezembro de 2020, o governo federal distribuiu 482 mil doses do medicamento para tratar pacientes em estado grave de Covid-19. O remédio tem ineficácia cientificamente comprovada contra o novo coronavírus.

Em fevereiro, o Ministério da Saúde afirmou que o governo federal não ampliou a produção de cloroquina, tampouco a de hidroxicloroquina. No ano de 2020, 19 unidades de saúde de municípios do Rio de Janeiro devolveram 19 mil comprimidos de cloroquina enviados pelo governo federal ao estado. O total corresponde a quase metade dos 42 mil comprimidos recebidos pelas unidades de saúde.

Segundo o Exército informou à reportagem, em maio, estavam registrados 298.090 comprimidos de cloroquina em estoque. Questionado, na época, sobre uma redução na quantidade dos medicamentos em comparação com o mês de março (317 mil comprimidos), foi explicado que é devido ao “fornecimento da capacidade prevista para as Regiões Militares”.

Em divulgação nas redes sociais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), em março do ano passado, era explicado que o medicamento estava aprovado para casos graves da doença e que o Ministério da Defesa anunciava o aumento da produção do medicamento nos três laboratórios das Forças Armadas. No mesmo período, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendia o uso em reunião do G-20.

Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), documentos obtidos pela CNNmostram que, entre abril e agosto, o Ministério da Saúde solicitou aos militares 1,5 milhão de comprimidos de cloroquina para serem distribuídos às Secretarias Estaduais de Saúde. O objetivo do envio dos medicamentos era para “combater a pandemia Covid-19” com base no número de casos suspeitos em cada estado.

Em setembro de 2020, a CNN revelou que o Exército pagou preços superfaturados em insumos para a fabricação da cloroquina. Um contrato a que a reportagem teve acesso mostra que o LQFEX gastou R$ 782,4 mil com a matéria-prima necessária para a produção da cloroquina, pagando 167% acima do valor de mercado — uma compra que foi sinalizada como suspeita pelo Escritório de Contabilidade Geral Federal.

Na época, o Exército não contestou formalmente esse aumento do valor da compra e só cobrou explicações por escrito à empresa depois da negociação, já finalizada, ter virado alvo de uma investigação no Tribunal de Contas da União (TCU). A justificativa dada foi de que os preços subiram por causa das oscilações da taxa de câmbio e do aumento da demanda internacional.

Consulado da China pede “medidas concretas” de proteção após ataque no Rio

Depois de sofrer um ataque, o Consulado da China no Rio de Janeiro pediu uma “investigação minuciosa” sobre o caso por parte das autoridades brasileiras. Também afirmou neste sábado (18.set.2021) esperar “medidas concretas” de proteção dos diplomatas chineses.

“Esperamos e temos a convicção de que o governo brasileiro tomará medidas concretas para proteger esta missão consular e seu pessoal, como prevê a Convenção de Viena sobre Relações Consulares, garantindo a segurança e a integridade das instalações e de seu pessoal.”

Eis a íntegra da declaração do Consulado chinês sobre o caso.

A Convenção de Viena, da qual o Brasil é signatário, estipula que diplomatas e consulados precisam ser protegidos pelo país anfitrião. No caso, o governo brasileiro precisa atuar para proteger a integridade do Consulado e os servidores chineses.

O atentado se deu às 21h48 da noite de 5ª feira (16.set) e foi filmado por câmaras de segurança do prédio do Consulado no Rio. Um homem de roupas pretas pegou uma bomba do bolso e arremessa em direção ao edifício. Não houve feridos.

As investigações estão sob responsabilidade da 10ª Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro, em Botafogo. Foram feitos exames periciais pelo Instituto de Criminalística e pelo Esquadrão Antibomba.

A polícia está ouvindo testemunhas do caso. Segundo a corporação, agentes também requisitaram e analisam imagens de câmeras de monitoramento que registraram a ação para identificar o autor.

O Consulado afirmou neste sábado (18.set) que o atentado foi “um grave ato de violência”. Disse ainda que está mantendo comunicação com as autoridades brasileiras para que um episódio similar não aconteça novamente.

“O desenvolvimento sem sobressalto das relações sino-brasileiras corresponde aos interesses essenciais dos dois países. Não terá sucesso qualquer conspiração de pouquíssimas pessoas em destruir a amizade China-Brasil.”

A xenofobia contra a China também foi citada como uma preocupação pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que divulgou uma nota de repúdio sobre o atentado. Leia a íntegra da nota (46 KB).

A Ordem considerou o ato como uma agressão ao Estado chinês, e ressaltou que representações da China em outros locais do Brasil também se tornaram alvos de “ameaças e atitudes xenofóbicas, sobretudo após o advento da pandemia da covid-19”.

A OAB afirmou também que é necessário que as autoridades brasileiras façam um trabalho de prevenção contra esse tipo de crime. Citou a possibilidade de o preconceito “macular as relações diplomáticas entre o Brasil e a China”.

Fonte: Folha - CNN Brasil - Poder360