Política

Bolsonaro critica Doria por dança em protesto na Paulista: 'Coisa ridícula'





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comentou as manifestações que pediam seu impeachment e aconteceu ontem. Ele ironizou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que foi filmado dançando no evento da Avenida Paulista, em São Paulo.

"Você viu o Doria dançando ontem? Que coisa ridícula", falou o presidente a um apoiador em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília.

Ele também minimizou os protestos que foram organizados pelo MBL (Movimento Brasil Livre), chamando a atenção para a pequena adesão: "Quatro presidenciáveis ali e não botou ninguém na Paulista".

Bolsonaro, provavemente, se referiu a Doria e ao ex-ministro da Saúde Luís Henrique Mandetta (DEM), ao ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e ao fundador do partido Novo João Amoêdo, que vêm sendo cotados como nomes da dita terceira via para a disputa da presidência em 2022.

No entanto, além deles, participaram da manifestação ainda os senadores e pré-candidatos Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS).

Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo, o protesto de ontem reuniu cerca de 6 mil pessoas. O público foi muito menor do que o da manifestação do dia 7 de setembro, que reuniu por volta de 125 mil apoiadores de Bolsonaro no mesmo local.

Grande parte da esquerda foi às ruas contra Bolsonaro no mesmo dia 7 de setembro, quando 15 mil pessoas se reuniram no Vale do Anhangabaú, na capital paulista. Setores da esquerda não aderiram aos atos de domingo, que também eram contrários ao ex-presidente Lula.

Atos esvaziados de domingo aumentam pressão sobre terceira via

Como primeiro teste para uma terceira via, os protestos do domingo (12) mostraram que ainda há um longo caminho para que o centro e a direita construam um nome capaz de fazer frente a Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Lula. Caminho esse que passa, inclusive, pela capacidade de mobilização de militância.

Ao contrário do que ocorreu em 2016, os atos convocados pelo MBL, Vem pra Rua e pelo Livres resultaram em fotos esvaziadas de público e com baixa adesão de congressistas. Parlamentares e políticos ouvidos pelo Congresso em Foco fazem avaliações diferentes sobre o que aconteceu, mas concordam que o maior desafio para construção da tão propagada "frente ampla" é o diálogo.

De acordo com uma liderança de centro-esquerda que optou por falar em reserva, a falta de consenso entre a oposição foi o principal fator para afastar os parlamentares que fizeram um cálculo político “frio” e escolheram não participar. Outro aspecto, acrescenta, esteve na convocação do ato por movimentos alheios às lideranças políticas tradicionais. “O domingo mostrou a dificuldade de uma terceira via. Mas creio que o principal problema [que causou o esvaziamento] foi ser um ato convocado por movimentos e não por partidos, o que tem uma consequência e mostra essa dificuldade de mobilização da direita não bolsonarista”, comentou.

Vice-líder do PSD na Câmara, o deputado Fábio Trad (MS) também entende que “a forma” como o ato foi concebido gerou esse esvaziamento, apesar de ter considerado a manifestação positiva. “Eu me preocuparia se esse esvaziamento fosse em virtude da causa, mas não foi. A causa em si une a grande maioria dos brasileiros, que é o não ao Bolsonaro com críticas ao governo dele. Mas o esvaziamento se deu em virtude de aspectos políticos relacionados à forma. A oposição está dividida. Uns pensam em Lula, outros que há de haver outras vias e há um ressentimento do PT pela postura do MBL e do Vem pra Rua”.

De acordo com o parlamentar, porém, independente do saldo do domingo, “um nome de terceira via existe e é real”. Ele defende que os atuais nomes postos se exponham, como fizeram no dia 12, mas também que as conversas e articulações sejam intensificadas. “Precisamos intensificar os debates, massificar a exposição e procurar na medida do possível manter sempre juntos esses nomes para que a população tenha mais possibilidade de identificar quem é capaz de integrar mais. Não é possível ter receio de se expor agora”, completou.

O PSD tem trabalhado para viabilizar a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, atualmente no DEM. A sigla chegou a fazer um convite formal para que o parlamentar se filie, mas ele ainda não respondeu. Pacheco ainda avalia os efeitos de uma eventual fusão entre o DEM e o PSL. Pouco a pouco, Pacheco, que foi alçado ao comando do Senado com a bênção do presidente da República, Jair Bolsonaro, dá sinais mais evidentes de que tem gostado da ideia de sair candidato e aumentado o tom, ainda que ao estilo mineiro, sobre as escaladas de Bolsonaro contra a democracia e independência entre os poderes.

O DEM, porém, mantém o olhar sobre o ex-ministro da Saúde Luís Henrique Mandetta, que participou dos atos deste domingo em São Paulo.

Mandetta foi um dos possíveis presenciáveis a discursar no ato em São Paulo. Além dele, também tiveram tempo de fala Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

PT e Psol

No sábado (11) o PT e o Psol divulgaram uma nota na qual afirmam que, mesmo "com o interesse comum de oposição a Bolsonaro" não iriam participar das manifestações do 12 de setembro. "Saudamos todas as manifestações Fora Bolsonaro, esclarecendo que o PT não participou da organização nem da convocação de ato que já estava marcado para este domingo, 12. Reafirmamos que o PT luta contra Bolsonaro, seu governo e suas políticas neoliberais, vinculando sempre a luta pelo impeachment a luta pelos direitos do povo brasileiro", consta no documento.

No domingo, na Avenida Paulista, o MBL inflou um boneco gigante na qual aparecia a imagem de Lula vestido de presidiário e abraçado com Bolsonaro usando uma camisa de força. Durante a semana, integrantes do movimento e políticos que prometiam participar dos atos repetiam a frase “nem Lula, nem Bolsonaro”.

De acordo com o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS), os protestos do domingo tiveram um foco desvirtuado, o que afastou a esquerda tradicional. “O foco de ontem era a terceira via e eles colocaram a crítica de Bolsonaro e Lula no mesmo nível. Nossa preocupação agora é nos organizarmos para o início de outubro em um ato que unifique o país e a esquerda e com programa e pelo impeachment de Bolsonaro”, comentou.

Ainda de acordo com ele, existe espaço para a construção de uma frente ampla, desde que o diálogo afine as estratégias. “Pode ter o compartilhamento de palanque, mas esse não era o objetivo do MBL. Todos os que vierem para a rua para dizer fora Bolsonaro estão juntos”, acrescentou.

Fonte: UOL - Congresso em Foco