Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Um simples obrigado





Reflexão para o Domingo do XXIV Domingo do Tempo Comum| 12 SET 2021 – Ano “B”

1ª Leitura Is 50,5-9a | Salmo: Sl 1142ª Leitura: Tg 2,14-18| Evangelho: Mc 8,27-35

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Para refletir: “Se Deus tivesse uma geladeira, penduraria a tua foto. Se estivesse no Facebook, com certeza a tua foto estaria lá. É ele que te envia as flores a cada primavera e um alvorecer a cada manhã. Cada vez que queres falar, ele te escuta. Ele pode habitar em cada parte do universo, mas preferiu o teu coração. Procura-o. Deus está apaixonado por ti. Ele não te prometeu dias sem sofrimentos, sorrisos sem tristezas, o sol sem a chuva. Deus te prometeu força em cada situação, consolação quando estiveres chorando e luz para acertar o caminho. E ele fica satisfeito com um teu simples: obrigado!”

No evangelho de Marcos, deste domingo, encontramos uma página bem conhecida. Jesus quer saber o que as pessoas, que estão ao seu redor, pensam dele. Acredito que não seja tanto uma questão de identidade, mas de honestidade. Ele não quer que todas aquelas pessoas o sigam – talvez com muitas expectativas – e depois digam que foram enganadas. Não seria justo. Não quer espalhar ilusões. Melhor esclarecer logo por onde o levarão as decisões que está tomando, os amigos que está frequentando, as infrações da Lei das quais está sendo continuamente acusado pelos escribas e fariseus. Tudo isso o levará à cruz. Jesus aceita que Pedro declare que ele é o Messias, mas deixa bem claro que o será de maneira muito diferente daquela que muitos interesseiros estão esperando. Será um “messias sofredor”. O caminho da vitória sobre o mal e a morte passará pelo escárnio e o fim vergonhoso na cruz.

Aquelas palavras: “que o Filho do Homem devia sofrer muito” (Mc 8,31) espantaram a Pedro e ainda espantam a todos nós. Parece um destino cruel, inevitável, incompreensível. Este é o pensamento humano, diz Jesus. Deus pensa diferente. Os discípulos demoraram, e nós também demoramos a entender que o amor poder levar até o desfecho de doar a própria vida. O pensamento humano é de conservação, lucro, egoísmo, interesse e vantagem. Ter prejuízo, “perder” algo (perder a própria vida?) é sinal de cálculos errados, de falhas no planejamento, de falta de esperteza ou, mesmo, de burrice. Um homem sabido nunca perde; sempre dá um jeito de se safar das circunstâncias adversas e sair vitorioso ou com o mínimo de danos.

Jesus pensava mesmo de maneira diferente. Pensava como Deus, não como os homens. Ele lança ainda um desafio para a nossa fé. As suas palavras soam como uma evidente contradição: como se pode “ganhar a vida” quando a estamos perdendo? Jesus não está falando de duas vidas diferentes, uma aqui na terra, que estaríamos perdendo, e uma no céu, que estaríamos ganhando. Não. Todos nós, mais ou menos conscientemente, passamos a vida gastando energias e correndo atrás de algum sonho, projeto ou ambição. Chamamos isso de felicidade, mas, quase sempre, buscamos bens materiais, posição social, a melhor acomodação possível para não ser incomodados pelos problemas dos outros. Jesus quer nos poupar da decepção final, porque nada, de tudo isso, durará para sempre. Ele nos propõe abraçar a causa do Evangelho como motivação e sentido da nossa existência humana, em tudo: no uso dos bens, nos afetos, na busca da justiça, da verdade e da paz.

Já sabemos que o tempo da nossa vida não será suficiente para ver a realização plena do seu Reino de amor, mas teremos a alegria de ter semeado bondade e alegria, misericórdia e fraternidade. Talvez tenhamos que reconhecer que não fizemos todo o possível para que este mundo novo acontecesse, mas ao menos não teremos o arrependimento de ter perdido tantas oportunidades de fazer o bem aos pobres, aos pequenos, aos sofredores que, com certeza, teremos encontrado nos caminhos da vida. Talvez experimentemos o remorso de ter promovido indiferença, exclusão, banalidade ou superficialidade. Assim a vida escorreu pelos dedos das nossas mãos, não ficou nada, a perdemos. Jesus não enganou ninguém, não mentiu, não escondeu nada e nem guardou para si a parte mais fácil e cômoda. Deu tudo de si, de graça, como somente Deus sabe fazer. Sempre. Ao menos um simples “obrigado” poderíamos dizer-lhe mais vezes.

  

Fonte: Diocese de Macapá