Política

Proximidade entre atos pró e contra Bolsonaro preocupa autoridades





A proximidade entre apoiadores e manifestantes contrários ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos atos previstos para amanhã, no feriado de 7 de setembro, dia da Independência, em algumas capitais preocupa as autoridades quanto à segurança dos participantes. Em Brasília, três quilômetros separam os dois atos; já em São Paulo, serão quatro quilômetros entre um protesto e outro.

Apoiadores do presidente costumam defender pautas antidemocráticas, como o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e intervenção militar. Desta vez, não deve ser diferente, mas com um agravante que também virou aflição para governadores, principalmente João Doria (PSDB), em São Paulo: a possibilidade de pessoas irem armadas à avenida Paulista, onde está marcado o ato bolsonarista.

Doria alertou outros governadores para esse cenário, que ele caracterizou como "gravíssimo". A adesão de policiais militares de folga e da reserva ao ato preocupa a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que montou um "esquema especial de segurança" para os atos.

Segundo a pasta, serão 3.600 policiais militares deslocados para os dois protestos. "Para garantir a segurança nas duas manifestações serão mobilizados PMs de batalhões territoriais e especializados, com apoio de 1.473 viaturas, 60 cavalos e 4 drones. Participarão da operação equipes dos Comandos de Policiamento da Capital, de Trânsito, de Choque, do Corpo de Bombeiros ), além do CavPM [comando de aviação] que apoiará com dois helicópteros Águia", afirmou a secretaria em nota.

A PM diz que, horas antes do início das concentrações, todos os carros de som a serem utilizados serão vistoriados por agentes. Antes de os manifestantes entrarem nos atos, também haverá revista feita por PMs, de acordo com a Secretaria da Segurança.

Qualquer tipo de armamento está proibido — a regra vale para PMs de reserva ou em folga. "Entre os itens que não poderão ser usados estão armas brancas e de fogo, bastões, fogos de artifício, sinalizadores e drones. Quem estiver na posse destes materiais será conduzido à delegacia para o registro de um termo circunstanciado", diz a secretaria.

O ato contrário a Bolsonaro vai acontecer no Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista, a partir das 14h, com prazo de término às 17h, conforme acordado com a Polícia Militar. Já os apoiadores do presidente se reunirão na avenida Paulista a partir das 11h, com término do ato marcado para as 18h.

Há expectativa de que o presidente saia de Brasília e compareça ao ato paulista durante a tarde, como ele mesmo disse em entrevista à Rádio Jornal Pernambuco, em 26 de agosto.

"Pretendo. sim, participar do evento na Paulista, onde devo chegar por volta das 15h30. Aí sim um pronunciamento mais demorado. Falar com a população e também demonstrar para o mundo o quanto o governo está preocupado com o seu futuro", afirmou o presidente, que na sexta voltou a radicalizar seu discurso, fazendo nova ameaça ao STF, dizendo que os atos serão um "ultimato" para dois ministros da Corte.

Brasília

A Esplanada dos Ministérios, na capital federal, terá um perímetro de isolamento a fim de garantir a segurança dos prédios do Congresso Nacional e do Supremo.

Apesar do plano de isolamento, na noite desta segunda (6) apoiadores de Bolsonaro furaram o bloqueio policial montado na Esplanada dos Ministériose, sem aparente oposição, tomaram a via, chegando perto da Praça dos Três Poderes — esta sim, com segurança reforçada.

Apoiadores do governo, que devem estar em maioria, de acordo com previsão da polícia, ocuparão a Esplanada e caminharão em direção à praça dos Três Poderes (onde ficam o Congresso e o Supremo). Já manifestantes que compõem o chamado Grito dos Excluídos (movimentos sociais, partidos de esquerda e outros) vão se concentrar na região da Torre de TV, na região central do Plano Piloto.

A segurança em toda a capital será reforçada pelo governo local, que destinará um contingente de 5.000 agentes policiais para a cobertura dos atos. O governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou ponto facultativo nesta segunda-feira no Distrito Federal, a fim de tentar evitar aglomerações. Além disso, o trânsito será fechado e a fiscalização de protocolos sanitários em atividades comerciais, reforçada.

"A Polícia Militar do Distrito Federal realizará linhas de revistas pessoais e bloqueios nas principais vias da Esplanada dos Ministérios e proximidades da Torre de TV", informou a Secretaria de Estado da Segurança, em nota.

"Também será proibido acessar as áreas em que serão realizadas as manifestações portando objetos pontiagudos, garrafas de vidro, hastes de bandeiras e outros materiais que coloquem em risco a segurança de manifestantes e população. Também fica restrita a utilização de drones sem autorização no espaço aéreo da Esplanada."

Em entrevistas na última semana, Bolsonaro também afirmou que, antes de embarcar para São Paulo, vai ao ato na Esplanada, onde deve discursar. Sua passagem pelo protesto acontecerá depois de receber autoridades no Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe do Executivo. No local, ele acompanhará a solenidade de hasteamento da bandeira (com início a partir das 8h). Não há previsão de discurso do presidente no evento.

Quantos grupos em cada ato

Em São Paulo, 34 grupos favoráveis ao presidente e nove contrários estão organizando as manifestações. Na última semana, eles se reuniram com o comando da Polícia Militar para registrar compromissos com a segurança e com a duração dos protestos.

Já em Brasília, segundo governo do Distrito Federal, 16 grupos políticos se cadastraram para a realização de manifestações — 13 são favoráveis a Bolsonaro e três são contrários.

Para evitar que haja aproximação entre militâncias rivais, a PM pretende posicionar agentes ao longo de toda a Esplanada, onde o trânsito será interrompido, e reforçar o efetivo perto das sedes dos Poderes. A praça dos Três Poderes permanecerá fechada durante todo o dia.

"Brasília é palco de grandes manifestações e a Esplanada dos Ministérios tem a vocação de receber essas manifestações. Nós recebemos inúmeros protestos ao longo do ano", afirmou o delegado Júlio Danilo, secretário da Segurança Pública.

Será realizada uma barreira de revista no espaço entre a concentração dos manifestantes e o acesso à Esplanada. A vistoria visa impedir a entrada de objetos que possam ser utilizados como arma branca — como garrafas de vidro e pedaços de ferro ou madeira. Álcool líquido também não será permitido (apenas álcool gel).

O trabalho envolverá o efetivo das polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros, Departamento de Trânsito, do Departamento de Estradas e Rodagem e dos fiscais do DF Legal, que vão coibir a venda de comida e bebidas por ambulantes.

Estados do Nordeste

Pelo Nordeste, região onde Bolsonaro encontra menor apoio popular, atos a favor e contra o presidente estão convocados em todas as capitais.

Em Pernambuco, o governo realizou reuniões com os representantes dos movimentos em busca de uma "convivência pacífica entre os manifestantes".

"As forças de segurança, de forma integrada, estão atentas para garantir o exercício da democracia de forma ordeira. A Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social estará acompanhando os atos para assegurar que servidores públicos da segurança atuem dentro da técnica, legalidade, da prevenção à violência e proteção do cidadão", diz nota do governo estadual.

Na Bahia, a Secretaria da Segurança informou que "monitora os atos previstos com o objetivo de garantir o direito democrático de manifestação, bem como a ordem e o direito de ir e vir dos baianos."

No momento dos atos, o Centro Integrado de Comunicações deve reunir as forças de segurança, "que realizarão o monitoramento das manifestações ao longo do dia, para agilizar a tomada de decisões e o acionamento de equipes, caso seja necessário."

No Ceará, uma das preocupações é com a participação de militares em ato. Tanto que a Procuradoria de Justiça Militar e Controle Externo da Atividade Policial Militar recomendou aos comandantes-gerais da PM e do Corpo de Bombeiros que atuem para prevenir a participação de seus integrantes em protestos.

A preocupação foi compartilhada, inclusive, em carta assinada dia 25 de agosto, na qual os governadores dos nove estados pediram à sociedade e às instituições "atitude firme" em defesa da "legalidade" e da "paz."

STF e Congresso

O STF informou que decretou ponto facultativo hoje a fim de "facilitar os preparativos de segurança". Também não será permitida a presença da imprensa ou de quaisquer outros visitantes no prédio da Corte.

O Senado disse também ter decretado ponto facultativo nesta segunda. A Câmara dos Deputados afirmou que o planejamento é sigiloso,

Bolsonaro estimula a divisão, o ódio e a violência, em vez de somar, diz Lula

Declarações foram dadas pelo ex-presidente em pronunciamento sobre o 7 de setembro; veja vídeo

ex-presidente Lula (PT) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "estimula a divisão, o ódio e a violência" em vez de somar. As declarações foram dadas em pronunciamento do petista sobre o dia 7 de setembro, divulgado nas redes sociais.

"O 7 de setembro é um dia de compartilhar nossas conquistas: a melhoria da qualidade de vida e o crescimento que colocou o Brasil entre as seis maiores economias do mundo. Mesmo nos momentos difíceis era o dia de levar uma mensagem de fé e esperança na construção de um país soberano e mais justo, um Brasil verdadeiramente independente", diz Lula em vídeo (veja abaixo).

Ele segue afirmando que o papel de um Presidente da República é o de "manter acesa a confiança no presente e no futuro, mostrar que é possível superar os obstáculos". "Especialmente neste 7 de setembro de um ano tão difícil, era de se esperar um gesto assim de quem está governando o país", afirma Lula.

O petista também diz que era de se esperar que, no dia 7 de setembro, Bolsonaro confortasse as famílias vítimas da epidemia da Covid-19 e anunciasse um "plano para garantir vacina para todos, pondo fim a essa angústia que a população está vivendo".

"Mas ao invés de anunciar soluções para o país, o que ele faz nesse dia é chamar as pessoas para a confrontação, é convocar atos contra os poderes da República, contra a democracia que ele nunca respeitou. Ao invés de somar, estimula a divisão, o ódio e a violência. Definitivamente não é isso que o Brasil espera de um presidente", segue o ex-presidente. ​

"Basta sair na rua para ver que o brasileiro está sentindo na pele a destruição do país", continua Lula.

Ele diz ainda que a "fome, a pobreza, o desemprego e a desigualdade não são mandamentos divinos". "São resultados de erros que nós podemos e devemos corrigir para mudar essa situação. Mudar com coragem, com confiança na nossa gente e com democracia sempre. Eu sei que a vida nunca foi tão dura para a imensa maioria do nosso povo, mas eu aprendi a acreditar sempre na força dos brasileiros e das brasileiras", finaliza.

Leia a transcrição do pronunciamento do ex-presidente Lula:

"Meus amigos e minha amigas, tive a honra de presidir o Brasil durante oito anos. A cada 7 de setembro, eu procurava trazer uma mensagem de esperança para o povo brasileiro. Recordo que muitas vezes anunciei boas notícias nessa data, porque o Brasil naquele tempo era um país em que a vida das pessoas estava mudando para melhor.

A cada dia mais empregos eram criados, o salário crescia, os jovens negros e filhos de trabalhadores chegavam à universidade. As oportunidades se abriam para quem precisava ter uma chance. Um passo de cada vez, mas sempre seguindo em frente. O 7 de setembro é um dia de compartilhar nossas conquistas: a melhoria da qualidade de vida e o crescimento que colocou o Brasil entre as seis maiores economias do mundo. Mesmo nos momentos difíceis, era o dia de levar uma mensagem de fé e esperança na construção de um país soberano e mais justo, um Brasil verdadeiramente independente. 

Porque este é o papel de um Presidente da República: manter acesa a confiança no presente e no futuro, mostrar que é possível superar os obstáculos. Um presidente tem de saber somar forças e governar com esse sentimento permanente, porque é dele que vem o exemplo para o país. 

Meus amigos e minhas amigas, especialmente neste 7 de setembro de um ano tão difícil, era de se esperar um gesto assim de quem está governando o país. Que ele desse uma palavra de solidariedade às famílias vítimas da pandemia e viesse anunciar um plano para garantir a vacina para todos, pondo fim a essa angústia que a população está vivendo. Era de ser esperar dele um plano para gerar empregos que desse um alento aos trabalhadores, que viesse dizer que a Petrobras vai voltar a vender gasolina pelo custo real e não mais pelo preço do dólar, porque foi essa política errada que fez disparar o preço dos combustíveis.

Que apresentasse medida para baixar o preço dos alimentos, para garantir um mínimo de dignidade a quem está na fila do osso. Mas ao invés de anunciar soluções para o país, o que ele faz nesse dia é chamar as pessoas para a confrontação, é convocar atos contra os poderes da República, contra a democracia que ele nunca respeitou.

Ao invés de somar, estimula a divisão, o ódio e a violência. Definitivamente não é isso que o Brasil espera de um presidente. Meus amigos e minhas amigas, eu não preciso dizer os números do custo de vida, do desemprego, da falta de investimento, da pandemia, da fome que voltou ao Brasil. Basta sair na rua para ver que o brasileiro está sentindo na pele a destruição do país. 

Mas hoje eu estou aqui para dizer que apesar de tudo o Brasil tem jeito. Que é possível, sim, criar emprego novamente, que o salário deve crescer e ganhar a corrida contra a inflação, que é possível produzir comida saudável a preço justo para colocar na mesa das famílias outra vez. Porque o nosso povo tem toda a capacidade de recuperar esse país, de fazer o Brasil voltar a crescer e proporcionar vida com qualidade para todos. 

Meus amigos e minhas amigas, o Brasil andou para trás porque o governo federal parou de investir no crescimento e nos programas que ajudam o povo. Cortaram as verbas das escolas, dos hospitais, da agricultura familiar, encolheram o Bolsa Família. E nenhum país do mundo, nenhum, vai para frente sem investimento público. Pararam as obras que geram emprego e fazem a economia crescer e, ao mesmo tempo, continuaram cobrando cada vez mais imposto do pobre do que dos ricos. 

São essas injustiças que nós precisamos enfrentar novamente para colocar o Brasil de pé. Por isso, venho dizendo que a solução para o país é colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda. 

Meus amigos e minhas amigas, a fome, a pobreza, o desemprego e a desigualdade não são mandamentos divinos. São resultados de erros que nós podemos e devemos corrigir para mudar essa situação. Mudar com coragem, com confiança na nossa gente e com democracia sempre. Eu sei que a vida nunca foi tão dura para a imensa maioria do nosso povo, mas eu aprendi a acreditar sempre na força dos brasileiros e das brasileiras. 

E neste 7 de setembro, eu quero deixar registrado uma mensagem de esperança. É preciso continuar lutando para superar esse momento, como superamos tantas outras críticas no passado. Tenho fé que vamos reconstruir este país com justiça, soberania e oportunidades para nós, para nossos filhos e nossos netos. Acreditem: o Brasil tem jeito. Muito obrigado e viva o 7 de setembro!"

Fonte: UOL - Folha