Cotidiano

Manifestantes pró-Bolsonaro invadem Esplanada com apoio da PM





A Polícia Militar do Distrito Federal limitou-se a dizer que a fala de manifestantes pró-Bolsonaro de que contavam com o apoio da Polícia Militar do DF na manifestação seria "fake news". Ao Congresso em Foco, o governador Ibaneis Rocha (MDB) disse achar a fala dos manifestantes "estranha", uma vez que não haveria acordo para que os veículos dos manifestantes estivessem na Esplanada dos Ministérios, fechada para o trânsito desde o final do domingo. O governador também negou ter sido consultado e disse que a culpa seria de sua secretaria.

Seja lá quem for o culpado, caminhões, ônibus e motor-homes, de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro que vieram para as manifestações desta terça-feira (7), invadiram uma área fechada para o tráfego em frente ao Congresso Nacional e ao Palácio do Itamaraty, onde devem se concentrar os atos em favor do presidente e contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

Os vídeos de apoio à entrada dos manifestantes na área, que teve o tráfego fechado por segurança, começaram a aparecer no final da tarde dessa segunda-feira (6) em grupos de mobilização bolsonaristas. Em um deles, três pessoas dizem ter acabado de sair de um encontro com o comando da PM brasiliense.

"A polícia Militar está nos apoiando totalmente, abrindo os caminhos - e inclusive fará segurança para nós todos", diz um dos participantes do vídeo, que é interrompido por outro: "Entraremos na Esplanada às 19h. Todos vão entrar às 19h na Esplanada, autorizados pela Polícia Militar do GDF, com toda a escolta, para que os caminhões, ônibus e motor-homes se alojem na Esplanada de forma organizada." 

Em outro vídeo, um homem que se diz se chamar Bruno Madeira de Carvalho, vindo do interior de São Paulo, manda ameaças ao STF enquanto ônibus passam ao fundo, provavelmente em direção à região central de Brasília. "Vamos arrancá-los daí, pelo bem de nossa liberdade e da nossa nação", diz um exasperado Bruno, antes de encerrar com o slogan presidencial de Jair Bolsonaro. 

Por conta do clima de animosidade sem precedentes nesta manifestação, o Governo do Distrito Federal havia anunciado na noite de domingo (5) o fechamento do tráfego da Esplanada dos Ministérios, cortando o principal acesso ao Congresso, ao Palácio do Planalto e ao STF.

Segundo Ibaneis Rocha, o objetivo era "proteger todos os que se manifestam de forma ordeira", e por isso não havia acordo entre o secretário de segurança pública do DF, Júlio Danilo Souza Ferreira, a polícia militar e os manifestantes para que o local fosse tomado por veículos novamente. A própria polícia negou haver qualquer acordo e, ao ser confrontado com o vídeo, chamou apenas de "fake news".

Não demoraram muito e vídeos começaram a provar que a ocupação do local está acontecendo. O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) foi um dos que estavam no local:

Ao ser confrontado com as imagens e vídeos, o governador Ibaneis Rocha assumiu ao Congresso em Foco que a Secretaria de Segurança Pública do DF havia mudado o entendimento.  "A Secretaria ajustou o ingresso de alguns veículos, nos mesmos moldes das outras manifestações. Nada de novo", minimizou o governador que fez questão de dizer que a decisão de um orgão subordinado à ele foi tomada sem o seu conhecimento. " Eu não autorizei ou desautorizei nada. Sigo os protocolos da Secretaria de Segurança. Nem todas as decisões passam por mim."

Durante a entrevista o governador chegou a dizer que segue orientações técnicas e toma decisões com base neles. O que não teria acontecido nesse caso. "Não fui consultado sobre o assunto. Se eles liberaram é porque tem segurança que nada demais ocorrerá na manifestação." 

A manifestação desta terça-feira deve ser a maior em volume no governo de Jair Bolsonaro, que tentará usar dos atos em Brasília e São Paulo para demonstrar força. Os apoiadores defendem pautas antidemocráticas e mesmo golpistas, como o fechamento do STF e a destituição de ministros que, em sua visão, seriam desfavoráveis ao bolsonarismo. Mais cedo, líderes de 26 países indicaram o receio de uma "insurreição" ser motivada pelos atos presidenciais.

Tropa de choque da PM está de prontidão para conter manifestantes

A PM está preparada para uma manifestação na Esplanada com 100 mil pessoas nesta terça-feira

"Vamos garantir a segurança dos Três Poderes acima de tudo. Queremos garantir também o direito à liberdade de expressão, mas dentro do que foi acordado nas reuniões que ocorreram nas últimas semanas com as lideranças dos manifestantes", afirmou o coronel Jorge Eduardo Naime, chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar (DOP).

O coronel acredita que, nas próximas horas, tudo estará dentro da normalidade para que a manifestação ocorra de forma pacífica e democrática . Mas alerta: “Não será permitida, de forma alguma, a aproximação da Praça dos Três Poderes.” A tropa de choque está acionada para conter “os dissidentes”. Ele está negociando com os que chamou de “dissidentes” por terem invadido no início da noite a Esplanada dos Ministérios fora do horário combinado. A entrada só seria permitida a partir de meia-noite e seguindo os critérios definidos pela PM.

Conforme o planejamento, os manifestantes não poderiam passar da Avenida José Sarney, mas eles avançaram até a Alameda das Bandeiras, em frente ao Congresso. Está sendo negociado para que ocorra o recuo. A área permitida para manifestação era entre a altura do Museu da República e a Avenida José Sarney.

Previsão de 100 mil pessoas

A PM está preparada para uma manifestação com 100 mil pessoas nesta terça-feira (7/9). Já para a Torre de TV, onde está prevista a manifestação da oposição, a expectativa é de que reúna entre 2 mil e 5 mil pessoas. Foram cadastrados 21 movimentos pró-Bolsonaro. E apenas três de oposição.

O coronel Naime explicou que o procedimento adotado para organização para as manifestações desta terça é o mesmo adotado no que ocorreu em maio, organizado pelo do setor agrícola, que também tinha grande quantidade de caminhões. Segundo a PM, é uma minoria dos manifestantes que descumpriu o acordo. A grande maioria não avançou e continua respeitando o que foi acordado. Não foi necessário ainda o emprego da força. "Queremos evitar o confronto. Vamos sempre negociar de forma pacífica até onde possível", reforçou o coronel.

Consumo de álcool

Está sendo necessário acalmar os ânimos de manifestantes embriagados. Segundo a PM, é perceptível que houve consumo elevado de bebidas alcoólicas. Os caminhões serão conduzidos pela própria PM para que não saiam da rota pré-definida. "De forma alguma, a PM estará conivente com qualquer excesso ou qualquer atitude fora do planejado assinado pelas lideranças dos movimentos. Isso vale para todos”, reforçou o coronel Naime.

Atualização

Até que os manifestantes retirem os veículos da frente do Ministério das Relações Exteriores e recuem na Esplanada, o restante dos participantes da mobilização não poderão adentrar a via como estava programado para começar a partir da meia noite.

A barreira de contenção na alça leste da Rodoviária foi restabelecida , com bloqueios de concreto para impedir a entrada de mais veículos. Segundo a PM-DF, a maior parte da manifestação prevista ainda não se aproximou da Esplanada.

Caminhões e manifestantes forçaram no início da noite a entrada na região. A PM teria autorizado desde que seguissem as regras definidas em acordo prévio na Secretaria de Segurança do DF. No entanto , foram descumpridas. Os manifestantes seguiram rumo ao STF, o que estava proibido.

Fontes da PM informaram que a única forma de conter os manifestantes naquele momento seria “no tiro”. E que , para evitar um confronto precipitado, decidiram deixar passar no primeiro bloqueio para conter no segundo, mais adiante, antes de chegarem à Praça dos Três Poderes.

Fonte: Congresso em Foco - Correio Braziliense