Política

Ministros do TSE avaliam hipótese de Bolsonaro ficar inelegível





Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) discutem uma estratégia jurídica que pode deixar o presidente Jair Bolsonaro inelegível para a eleição de 2022.

O cerco judicial está se fechando a partir de um inquérito administrativo instaurado no TSE em resposta a uma transmissão ao vivo realizada pelo presidente, em julho, acusando o tribunal, sem provas, de fechar os olhos para evidências de manipulação em urnas eletrônicas.

Na visão desses magistrados, a depender do que acontecer e o tom adotado por Bolsonaro em seus discursos, os atos de 7 de Setembro poderão fornecer ainda mais provas contra o chefe do Executivo.

O entendimento prévio é de que, uma vez configurado algum crime, o presidente poderá ter sua candidatura negada pela Justiça Eleitoral no ano que vem.

A estratégia da inelegibilidade é discutida nos bastidores para ser usada apenas em caso extremo, de risco efetivo de ruptura institucional, uma vez que, na avaliação de políticos, iniciar agora um processo de impeachment, a um ano e dois meses das eleições, seria tão traumático quanto inviável.

Na ocasião em que foi aprovada a investigação no TSE, também foi determinado o envio de notícia-crime contra o presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF), que foi aceita e incorporada ao inquérito das fake news.

Apesar de a discussão sobre o cerco jurídico avançar nos bastidores, a medida que pode dar base a uma eventual inelegibilidade de Bolsonaro é reconhecida pelos próprios ministros como pouco convencional.

A Justiça Eleitoral nunca havia aberto ação parecida, por isso o discurso adotado é de que a alternativa só seria acionada em caso concreto de risco à ordem constitucional. Por outro lado, um ministro do TSE argumenta, em caráter reservado, que nunca houve um ataque tão frontal ao sistema eleitoral como agora e que, por isso, é preciso reagir.

Ameaçados de forma reincidente por Bolsonaro, essa foi a infantaria que os integrantes das mais altas Cortes da Justiça brasileira encontraram para preparar o contragolpe. "Se você quer paz, se prepare para a guerra", disse Bolsonaro na quarta-feira, em cerimônia da Marinha no Rio.

Na sexta, mantendo o tom de ameaça, o presidente garantiu que os atos de 7 de Setembro serão um "ultimato" a ministros do STF.

Os principais alvos de Bolsonaro são Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, atual presidente do TSE, autores de decisões recentes que desagradaram ao Palácio do Planalto, como a prisão de bolsonaristas.

Em resposta às ameaças de Bolsonaro, o presidente do STF, Luiz Fux, fez um duro discurso na quinta-feira, ao afirmar que a Corte não vai tolerar ataques à democracia, em referência aos atos do dia 7. "Num ambiente democrático, manifestações públicas são pacíficas; por sua vez, a liberdade de expressão não comporta violências e ameaças", disse.

Bolsonaro pretende discursar no feriado pela manhã, em Brasília, e seguir com comitiva para fazer o mesmo em São Paulo, à tarde.

PGR

Diferentemente de investigações criminais contra Bolsonaro em curso no Supremo, o inquérito administrativo no TSE é considerado uma alternativa mais viável por não depender exclusivamente de denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), comandada por Augusto Aras.

Neste caso, além do Ministério Público Federal (MPF), partidos políticos possuem legitimidade para oferecer representação contra a candidatura do presidente; e será o próprio TSE quem julgará esses pedidos. O único requisito é que apresentem provas de que Bolsonaro cometeu crimes eleitorais.

O inquérito administrativo é comandado pelo corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Luis Felipe Salomão, e atualmente está na fase da coleta de provas.

Ele é chamado de "Plano C" por aqueles que conhecem o seu teor, justamente por reunir evidências que podem ser usadas por partidos para contestar o registro da candidatura de Bolsonaro.

A apuração compõe o cerco judicial com outras duas ações de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE, além de quatro inquéritos no STF que apuram crimes comuns do presidente.

O foco da investigação eleitoral é constatar se Bolsonaro praticou "abuso do poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos e propaganda extemporânea".

A lei que regula os registros de candidatura afirma que serão inelegíveis os candidatos que "tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral", com condenação em processo que investigue "abuso de poder econômico e político". Caso o plano seja colocado em prática, Bolsonaro ficaria impedido de disputar eleições por oito anos.

Rubens Beçak, professor de direito constitucional e eleitoral da Universidade de São Paulo (USP), avalia que o teor subjetivo da lei de inelegibilidade ao definir condutas abusivas permite a interpretação formulada por membros do TSE.

Ele pondera que sua aplicação é temerária por não haver precedentes e abrir espaço para contestações. "Dá muito mais higidez ao processo a participação do PGR, mas existe essa outra interpretação e ela parece muito plausível. Quem está pensando em fazer o inquérito pelo TSE, provavelmente, está pensando em dar uma rapidez maior e afastar a influência política do PGR recém reconduzido", afirmou. "Seria um procedimento completamente heterodoxo, porque isso nunca aconteceu dessa forma. Isso vai criar um precedente tremendo para que possa ser usado contra outros presidentes candidatos à reeleição. Dá um poder desproporcional à Justiça Eleitoral."

Fake news

Parte dos ministros do STF avaliam que o inquérito das fake news também poderia ser um caminho para frear Bolsonaro por possuir amplo potencial incriminatório, mas o entendimento é de que é nula a possibilidade de Aras apresentar denúncia contra o presidente.

O atual PGR já expressou nos bastidores o desejo de ocupar uma vaga no STF e, caso seja mantida a fidelidade a Bolsonaro, poderá ser ele o escolhido para substituir o ministro Ricardo Lewandowski ou a ministra Rosa Weber a partir de 2023, na eventual reeleição do presidente da República.

Na vaga aberta neste ano, Aras foi preterido por André Mendonça, que agora enfrenta a resistência de senadores para tomar posse do cargo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: UOL

 

Em encontro de direita, Bolsonaro compromete-se com evento pacífico 

Se algo de violento ou inconstitucional acontecer no dia Sete de Setembro, um compromisso assumido pelo presidente Jair Bolsonaro em discurso neste sábado durante o CPAC Brasil 21, um encontro de direita promovido pelo Instituto Conservador-Liberal, estará quebrado. O presidente reforçou junto à plateia presente que estará nos eventos tanto em Brasília quanto em São Paulo. E disse que os atos serão pacíficos e que ele atuará dentro das “quatro linhas da Constituição”. Mas disse que exigirá também que os representantes dos demais poderes atuem da mesma forma.

“Não jogaremos fora das quatro linhas da Constituição. Mas não admitiremos que outros joguem fora das quatro linhas”, disse Bolsonaro. “Somos pacíficos. Nunca invadimos nem invadiremos nenhum prédio”, afirmou também o presidente.

As frases de Bolsonaro em seu discurso, na verdade, são respostas a frases ditas por outras pessoas que o apoiam. Ou respostas a ele mesmo. Quem falou na possibilidade de invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) durante os atos marcados para o Dia da Independência foi o cantor sertanejo Sergio Reis. No mesmo dia, em motociata em Caruaru (PE), Bolsonaro mencionou ameaça de "ruptura institucional". E menos de 24 horas antes do discurso feito neste sábado, na sexta-feira (3), o próprio Bolsonaro afirmou em Tanhaçu, na Bahia, onde dava início a uma obra ferroviária: “Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição. Mas, se alguém quiser jogar fora das quatro linhas, nós mostraremos que podemos fazer também”. E, há um mês, ele também já tinha feito a mesma ameaça de jogar “fora das quatro linhas da Constituição”.

O discurso feito por Bolsonaro no evento conservador funciona, assim, como baliza estabelecida por ele mesmo com relação aos temores sobre as manifestações do Sete de Setembro. Bolsonaro chegou ao evento acompanhado de ministros e ex-ministros. Estavam ao seu lado, entre outros, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura; Damares Alves, da Mulher; João Roma, da Cidadania; Onyx Lorenzoni, do Trabalho, e Gilson Machado, do Turismo. Os ex-ministros do Meio Ambiente Ricardo Salles e das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Também presente o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo. Sobre o último, o presidente não lembrava do seu nome. Mesmo com um assessor soprando no seu ouvido, Bolsonaro chamou-o primeiro de “negão” e depois de “Sergio Sampaio”.

Bolsonaro fez críticas ao ex-ministro da Saude Luís Henrique Mandetta e devolveu provocação feita pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ), que fez uma piada homofóbica contra ele. "Rodrigo Maia, depois que foi trabalhar com o Doria, começou a defender a pauta LGBT. Aquele gordinho nunca me enganou", afirmou. Maia tornou-se recentemente secretário no governo de João Doria, em São Paulo. Bolsonaro também chamou no discurso Doria de "calcinha apertada".

O presidente reconheceu diversos problemas por que passa o país neste momento: inflação, preço alto da energia e dos combustíveis, crise hídrica. “O que acontece com esse povo que continua acreditando na gente?”, perguntou. E, como resposta, recorreu à passagem bíblica que usa desde a campanha –  “A verdade vos libertará” – e acrescentou com o mote que leva para as manifestações que marca para a próxima terça-feira: “O que faz um povo perecer é a falta de liberdade”, afirmou. “Mais importante do que a vida é a liberdade”.

Disse que os atos da próxima terça-feira não serão a favor de um político ou contra alguém, mas a favor do que ele chama de defesa da liberdade. Que, segundo ele, vem sendo ameaçada pela atitude de “um ministro” do Supremo. Ele não citou o nome do ministro Alexandre de Moraes, que conduz o inquérito sobre os atos antidemocráticos. “Eu simplifico o que é poder moderador: poder moderador é o povo”, disse ele.

“Está em discussão a liberdade de expressão”, discursou. “O que vai fazer o país voltar à normalidade é a atuação de todos vocês”.

Ao afirmar que estará tantos no ato de Brasília quanto no de São Paulo, Bolsonaro convidou também seus demais ministros, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e os ministros do STF. “Será uma festa da democracia”, disse ele. Segundo a página do YouTube por onde o evento foi transmitido, havia cerca de 24 mil pessoas assistindo ao discurso, em média.

Fonte: Poder360