Política

Aziz discute com Marcos Rogério após citação a 'gabinete digital paralelo'





O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), protagonizou um bate-boca hoje na sessão após o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) citar um suposto "gabinete digital paralelo" da CPI que, segundo ele, repassa documentos sigilosos a internautas.

Aziz rebateu o comentário e afirmou ser uma decisão da CPI tornar público alguns documentos. "Tudo chegava aqui como sigiloso e aquelas coisas que a CPI decide que não sigilosas podem chegar na mão de quem quiser".

Em seguida, o presidente passa a criticar a defesa do colega ao governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Onde você não vê corrupção, a gente vê corrupção passiva. Onde você não vê administração caótica, eu vejo, o Brasil está vendo. Todos que sentaram aqui, Elcio Franco, Pazuello, Roberto Dias e outras pessoas do Ministério da Saúde mostram quem estava conduzindo a maior crise de saúde do mundo."Presidente da CPI, Omar Aziz, ao senador governista Marcos Rogério

A CPI da Covid ouve hoje o coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde apontado como possível elo entre a empresa Davati Medical Sypply e a pasta.

O militar está sendo cobrado a dar explicações sobre como ocorreu a aproximação entre o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, vendedor da Davati, e o ex-diretor de logística do ministério Roberto Dias.

Blanco diz que relação com Dominghetti visava mercado privado

Em depoimento hoje à CPI da Covid, o tenente-coronel Marcelo Blanco afirmou que projetava uma "parceria comercial" com o cabo da Polícia Militar mineira Luiz Paulo Dominghetti para vender vacinas contra o coronavírus ao mercado privado.

Na versão da testemunha, fora este o motivo pelo qual ele levou o PM —que se apresentava como lobista da empresa americana Davati Medical Supply— a um jantar com Roberto Dias, então diretor de logística do Ministério da Saúde, em 25 de fevereiro, no restaurante Vasto, em Brasília.

Foi durante o encontro, descrito por Dias à CPI como um simples happy hour, que o ex-servidor teria, de acordo com Dominghetti, solicitado propina.

A vantagem ilícita teria a seguinte finalidade: levar adiante um acordo entre a Davati e o governo brasileiro para a aquisição de suposto lote de 400 milhões de doses da AstraZeneca. O ex-diretor do ministério nega ter cometido qualquer ilegalidade. Não há provas de que o crime tenha realmente ocorrido. Mesmo assim, Dias foi exonerado do cargo logo depois que o relato de Dominghetti foi publicado originalmente pelo jornal Folha de S.Paulo, em 29 de junho.

Blanco é cobrado pelos senadores do CPI a explicar as circunstâncias de sua relação com Dominghetti. O policial mencionou o depoente como um dos personagens que abriram as portas do Ministério da Saúde para a negociação com a Davati.

Durante a oitiva, o militar confirmou ter atuado como uma ponte entre as partes, mas com uma ressalva: o objetivo era apenas orientar o revendedor quanto aos trâmites comerciais. Ele também negou ter oferecido facilidades aos ofertantes da vacina e/ou solicitado algum tipo de comissão pelo trabalho de intermediação.

Blanco explicou que, de forma privada, nutria o interesse em explorar o potencial mercado de comercialização de vacinas com empresas e seus respectivos donos —embora não existisse perspectiva, à época, de tramitação de um projeto de lei com esse objetivo no Congresso Nacional (ou seja, autorizar legalmente a venda de imunizantes ao setor privado).

O depoente rebateu e citou uma reportagem publicada na imprensa em janeiro, um mês antes do jantar entre Dias e Dominghetti, que já indicava a possibilidade de que o tema poderia ensejar mobilizações favoráveis e contrárias em relação às atividades do Legislativo nacional.

"Eu prospectava na figura do Dominguetti que ele poderia ser um possível parceiro comercial da iniciativa privada. É uma coisa absolutamente distante da outra", disse Blanco ao colegiado, na tentativa de dissociar os seus interesses privados das negociações entre Davati e Ministério da Saúde.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), respondeu então que o coronel havia feito "lobby" e cometido potenciais crimes relacionados a intermediação de interesses. "Não, senhor. Não fiz lobby", retrucou a testemunha.

Fonte: UOL