Política

Citado em depoimentos, coronel Blanco depõe à CPI da Pandemia





Tenente-coronel da reserva, Marcelo Blanco teria participado do jantar em Brasília onde houve suposto pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina

CPI da Pandemia ouve nesta quarta-feira (4) o ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Marcelo Blanco. Exonerado da pasta em janeiro, o tenente-coronel da reserva teria participado de um jantar ocorrido em um restaurante localizado dentro de um shopping de Brasília em 25 de fevereiro.

Nesse encontro, segundo o revendedor de vacinas e cabo da Polícia Militar, Luiz Paulo Dominghetti, houve a proposta de pagamento de propina de US$ 1 por dose na comercialização da vacina AstraZeneca. A Davati Medical Supply negociava a venda de 400 milhões de doses do imunizante.

O representante da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho, havia mencionado que foi alertado por Dominghetti sobre um suposto "comissionamento": "A informação que veio a mim não foi propina, ele [Dominguetti] usou comissionamento. Se referiu ao comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Marcelo Blanco [ex-assessor de Dias] e da pessoa que o tinha apresentado a Blanco, de nome Odilon", afirmou Carvalho à CPI no dia 15 de julho.

No depoimento, Blanco negou as acusações. "Eu jamais fiz pedido de comissionamento ou qualquer tipo de vantagem. Isso aí é absolutamente desconectado da realidade", declarou.

Blanco afirmou que tentou apenas viabilizar uma agenda oficial de Dominghetti, representante da Davati Medical Supply – que se apresentava como Air Supply –, com o Ministério da Saúde, e que não facilitou as negociações. 

Acompanhe o resumo da CPI da Pandemia: 

  • Blanco: 'Jamais fiz pedido de comissionamento ou qualquer vantagem' 

O coronel da reserva negou que tenha pedido "comissionamento ou qualquer tipo de vantagem" durante as negociações de compra dos imunizantes contra Covid-19. "Eu jamais fiz pedido de comissionamento ou qualquer tipo de vantagem. Isso aí é absolutamente desconectado da realidade", disse.

Blanco repetiu que tentou apenas viabilizar uma agenda oficial de Dominghetti, representante da Davati Medical Supply – que se apresentava como Air Supply –, com o Ministério da Saúde. Segundo Dominghetti, o suposto pedido de propina de US$ 1 por dose partiu de Roberto Dias, então diretor do departamento de logística da pasta. Dias nega. 

O representante oficial da Davati, Cristiano Carvalho, afirmou em depoimento na CPI que foi alertado por Dominghetti sobre um pedido de "comissionamento" na compra dos imunizantes da farmacêutica inglesa.

  • Blanco diz que não atuou na Saúde após exoneração; senadores rebatem

Durante as perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL), o coronel da reserva Marcelo Blanco afirmou que não atuou no Ministério da Saúde após sua exoneração, publicada em 19 de janeiro. 

O encontro no restaurante Vasto, em Brasília, ocorreu no dia 25 de feveiro. Segundo Blanco, o encontro tratou apenas de um pedido de agenda formal no Ministério da Saúde, na qual ele afirmou que não estava presente. 

"Ele disse que gostaria de ter uma agenda oficial. Quando eu soube que Roberto estaria no Vasto eu sugeri: eu te apresento e você faz o pedido da sua agenda", disse. Os senadores que compõem a comissão rebateram as falas de Blanco.

  • Blanco diz que sabia que Roberto Dias estava no jantar em restaurante

O depoente afirmou que soube da ida do então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, ao restaurante Vasto, em Brasília. Foi nesse encontro, em 25 de fevereiro, que teria acontecido o pedido de propina de US$ 1 por dose de vacinas, segundo o depoimento de Dominghetti. 

Segundo Blanco, Dias o contou sobre a ida ao restaurante acompanhado de um amigo, identificado como José Ricardo Santana, em uma conversa informal. Dominghetti, segundo Blanco, pedia uma agenda no Ministério da Saúde e o coronel tentava viabilizar o encontro e levou o revendedor de vacinas até lá. 

"Eu não falei que foi um encontro casual, eu sabia que o Roberto [Dias] estava lá. Posso ter sido inconveniente de aparecer com Dominghetti lá? Posso", disse Blanco. Em 7 de julho, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, depôs à CPI – na ocasião, ele afirmou que o encontro com o amigo era para "tomar um chopp" e não combinou nada com Blanco e Dominghetti. Dias também negou o suposto pedido de propina. 

"O encontro foi marcado entre mim e meu amigo, marcado por telefone. Não combinei encontro com outras pessoas além dessa. Muito provavelmente o coronel Blanco soube por alguma mensagem ou ligação. Eu estava na mesa quando coronel Blanco chega e me apresenta Dominghetti, falamos sobre futebol, e ele então introduziu o assunto de vacina e, posteriormente,  eu pedi a agenda formal no Ministério", disse Dias durante seu depoimento. 

Dias e Dominguetti tiveram novo encontro no dia seguinte à ida ao restaurante – 26 de fevereiro – já no Ministério da Saúde.

  • Coronel Blanco: comecei a falar com Dominghetti em fevereiro sobre venda ao mercado privado

O ex-assessor do Ministério da Saúde, coronel Marcelo Blanco, afirmou em sua fala inicial que o revendedor de vacinas e cabo da Polícia Militar, Luiz Paulo Domighetti, o procurou no início de fevereiro e trocou mensagens com ele sobre a venda "em pronta entrega" de vacinas para o mercado privado. 

No dia 23 de fevereiro, Blanco e Dominghetti continuam trocando mensagens sobre o setor privado. Ele exibiu áudios sobre as negociações. O jantar no restaurante de Brasília acontece no dia 25 – é nessa data que Dominghetti diz ter recebido o pedido de propina de US$ 1 dólar por dose de vacinas.

"A gente percebeu um primeiro movimento do Parlamento pra debater essa pauta queríamos apenas construir um modelo de negócios. Queriamos desenhar uma estratégia visando esse mercado. Não queria negociar nada sem embasamento legal, apenas queria ter algo desenhado", disse. 

Segundo Blanco, Dominghetti foi apresentado a ele por uma pessoa chamada Odilon. "Um desses representantes, Odilon, me informou em janeiro de 2021 que uma empresa americana tinha 400 milhões de doses da astrazeneca e me apresentou Dominguetti como representante da empresa."

Blanco foi exonerado do Ministério da Saúde em janeiro, e as conversas com Dominghetti aconteceram em fevereiro. Segundo ele, as conversas tratavam apenas sobre venda para o mercado privado. 

  • CPI inicia oitiva de coronel Blanco; Aziz lê habeas corpus concedido pelo STF 

O ex-assessor do Ministério da Saúde, coronel Marcelo Blanco já está diante dos senadores da CPI da Pandemia – ele chegou ao Senado por volta das 9 horas.

Antes de conceder a palavra ao depoente, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), leu um habeas corpus, concedido pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite que Blanco silencie diante de perguntas que possam incriminá-lo. 

"Quero ler aqui para os advogados de defesa o agravo que recebemos do STF no caso da Emanuele, e que serve também pra outros casos. É uma decisão do Fux. Queria também pedir aos advogados que não fiquem soprando respostas como aconteceu ontem", disse Aziz. 

O coronel Blanco foi citado em outros depoimentos prestados à CPI durante as onze primeiras semanas de trabalho da comissão e na oitiva desta terça-feira (3). A convocação de Blanco foi solicitada pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Blanco também é nome presente no depoimento do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. 

Dias, que chegou a ser preso por mentir à CPI, afirmou, inicialmente, que seu encontro com Dominguetti e Blanco no restaurante em Brasília foi casual, mas depois assumiu – a partir de áudios exibidos na comissão – que o coronel da reserva sabia que ele estaria no local.

Já o representante oficial da Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, que se apresentou à CPI em 15 de julho, disse que Dominguetti usou o termo “comissionamento” quando se referiu à reunião onde teria sido feito o pedido de propina.

"A informação que veio a mim não foi 'propina', ele [Dominguetti] usou 'comissionamento'. Se referiu ao comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Marcelo Blanco [ex-assessor de Dias] e da pessoa que o tinha apresentado a Blanco, de nome Odilon", disse.

O depoente desta terça-feira (3), o reverendo Amilton Gomes de Paula, afirmou que se encontrou pessoal com o então secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, em 12 de março, mas negou que coronel Blanco estivesse presente nesta reunião. Franco foi reconvocado pela CPI para um novo depoimentoainda sem data definida.

Fonte: CNN Brasil