Política

Resposta de Bolsonaro sobre suposta propina e vacinas tem inconsistências





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta 2ª feira (12.jul.2021), pela 2ª vez, que a acusação de propina na compra de vacinas contra covid-19 não se sustenta. O chefe do Executivo, porém, mais uma vez recorreu a uma justificativa com inconsistências para defender o governo.

São duas as acusações:

  • Caso Covaxin: o governo federal teria sido informado em agosto de 2020 que a Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, estimava preço de 100 rúpias por dose (cerca de US$ 1,34). Em fevereiro de 2021, o Ministério da Saúde comprou 20 milhões de unidades da vacina por US$ 15 a dose. Na época, uma reportagem do Estado de São Paulo afirmou que o governo adquiriu os imunizantes por um preço 1000% maior. O valor de 100 rúpias por dose, no entanto, jamais foi usado em nenhuma negociação da Bharat Biotech
  • Caso Dominghetti: o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti Pereira, suposto representante da empresa norte-americana Davati Medical Supply, disse que Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde, pediu o acréscimo de US$ 1 por cada dose de vacina da AstraZeneca que oferecera.

Bolsonaro, no entanto, mistura os 2 casos. Eis o que disse o presidente nesta 2ª, a apoiadores no Palácio do Planalto:

Agora, para comprar 400 milhões de doses (Caso Dominghetti), com 1.000% de propina (Caso Covaxin), não é? A imprensa toda disse isso aí: ‘Olha, vai comprar vacina com 1.000%’. A US$1 cada vacina (Caso Dominghetti), que seria a corrupção, a propina… daria US$ 400 milhões… 400 milhões de doses (Caso Dominghetti) vezes 1.000% (Caso Covaxin) e vezes R$ 5, daria 280… em torno de R$ 250 bilhões. Que propininha para um cabo da PM, hein? Só quem acredita nisso? Só aqueles 3 patetas da comissão: Renan [Calheiros], Omar [Aziz] e o saltitante [referência que Bolsonaro faz ao senador Randolfe Rodrigues]. A história está bem clara. Só não enxerga quem não quer”.

Na última semana, em sua live semanal, Bolsonaro também usou a mesma linha de defesa para minimizar as acusações na CPI (Comissão de Inquérito Parlamentar). Chegou, contudo, a outro valor final. Disse que eram 400 milhões de doses (Caso Dominghetti) com sobrepreço de 1.000% (Caso Covaxin). Citou o “preço tabelado” de US$ 15 (o preço da Covaxin já com suposto sobrepreço). Afirmou que, com o sobrepreço de 1.000%, o valor passaria a ser de US$ 150, multiplicou por 5 (dólar x real) e chegou à soma de R$ 300 bilhões.

No Caso Dominghetti, o total de doses prometidas pela Davati alcançaria 400 milhões. Seriam, portanto, US$ 400 milhões em propina pela autorização do negócio. Em sua versão, o cabo da PM diz ter se reunido no Ministério com Dias e o então secretário-executivo da pasta, Élcio Franco Filho. A oferta da Davati de venda de cada dose por U$ 3,5 foi mantida, o que resultaria em um gasto público de US$ 1,4 bilhão. Com a propina, chegaria a US$ 1,8 bilhão. Com o dólar cotado a R$5,23, o valor final chegaria a R$9,41 bilhões. Não R$ 250 bilhões como diz o presidente.

Já no Caso Covaxin, a questão suscitada pelos irmãos Miranda é o sobrepreço por dose da vacina indiana e a pressão interna para agilizar o negócio. A mídia local indica que o governo indiano pagou entre 206 e 295 rúpias por dose. Pela cotação de março, isso equivale a faixa de R$ 15,70 a R$ 23,15. O Ministério da Saúde pagaria pelo menos 249,6% mais caro que a Índia, considerando esses valores.

Nestas reportagens sobre o Caso Covaxin e o Caso Dominghetti, estão expostos os detalhamentos de cada um e o que dizem os citados.

Fonte: Poder360