Cotidiano

Haiti: após morte e prisão de suspeitos de matar presidente, polícia busca mentores de atentado





A polícia do Haiti matou quatro homens armados e prendeu outros seis suspeitos de participação no assassinato do presidente do país, Jovenel Moïse, ocorrido na quarta-feira (7/7). Mas a corporação afirma que ainda está procurando os mentores do crime. 

Entre os seis detidos, diz a polícia, há um cidadão americano. 

Nas ruas, a população foi instada a manter a calma depois de episódios de vandalismo, com carros incendiados. Isso aconteceu após um grupo de pessoas deter dois "estrangeiros", posteriormente entregues à polícia. 

O primeiro-ministro interino, Claude Joseph, disse à BBC que Moïse pode ter sido morto "porque estava lutando contra oligarcas no Haiti". 

O presidente foi assassinado a tiros em sua casa. Sua esposa, Martine, ficou gravemente ferida e foi levada de avião para a Flórida, nos Estados Unidos, para tratamento hospitalar. 

Joseph disse à BBC que "mercenários estrangeiros" realizaram o ataque. Os primeiros relatórios afirmavam que os agressores falavam inglês e espanhol — as línguas oficiais do Haiti são o francês e o crioulo. 

Joseph disse que Moïse vinha lutando contra alguns oligarcas haitianos. "Não sabemos se existe uma ligação entre esses oligarcas e os mercenários estrangeiros", afirmou. 

Moïse, de 53 anos, era profundamente impopular entre muitos haitianos e tinha diversos oponentes políticos. A empobrecida nação também foi atormentada por guerras entre gangues. 

Em uma coletiva de imprensa na tarde de quinta-feira (8/7), o chefe de polícia Léon Charles confirmou que seis suspeitos foram detidos, acrescentando: "Temos os agressores em mãos e estamos procurando os mandantes". 

Ele disse que a polícia "bloqueou os suspeitos quando eles saíram da cena do crime". Quatro deles foram mortos. 

Embora as ruas tenham permanecido razoavelmente calmas logo após o assassinato, a suspeita de envolvimento de estrangeiros aumentou a raiva entre a população. 

Charles pediu que as pessoas mantenham a calma e cooperem com a polícia. A declaração foi dada depois que uma multidão se reuniu em frente a uma delegacia na capital, Porto Príncipe, onde suspeitos estavam detidos. 

Depois, dezenas de haitianos apreenderam dois homens suspeitos de estarem envolvidos no crime. Imagens de vídeo mostraram a dupla, que parecia ter sofrido ferimentos, sendo levada por policiais armados em uma caminhonete. 

O cidadão americano preso era descendente de haitianos, disse o ministro das Eleições, Mathias Pierre. 

O Departamento de Estado dos Estados Unidos disse não poder confirmar se um cidadão americano foi detido no Haiti. 

Jovenel Moise

EPA

Jovenel Moïse foi morto durante ataque à sua residência em Porto Príncipe

 

Quem está no controle do país? 

 

A constituição haitiana diz que o presidente da Suprema Corte deve assumir no caso de uma vacância presidencial, mas essa autoridade morreu recentemente, vítima da covid-19. 

Depois disso, as emendas sugerem que o primeiro-ministro deve liderar o país. Ariel Henry foi nomeado na segunda-feira, dois dias antes do crime, como o novo primeiro-ministro, mas ainda não foi empossado. 

Ele insiste que deve ficar no comando do país. "É uma situação excepcional. Há um pouco de confusão. Eu sou o primeiro-ministro no cargo", disse Henry à agência de notícias AP. 

Já Claude Joseph, que ocupa o cargo interinamente, disse à BBC que ficou "intrigado" com a declaração de Henry. 

Na quinta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) deu uma declaração favorável à permanência de Joseph no cargo, de maneira interina. 

A enviada especial da ONU para o Haiti, Helen La Lime, disse que ele deve permanecer no cargo até que novas eleições possam ser realizadas ainda neste ano. 

Já os Estados Unidos disseram novamente na quinta-feira que as eleições deveriam ocorrer neste ano, com o porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmando que o novo pleito "facilitaria uma transferência pacífica de poder". 

Joseph disse que não se candidataria à Presidência. "Não estou aqui para ficar muito tempo. Precisamos realizar eleições. Não tenho uma agenda pessoal", afirmou. 

 

Como o ataque se desenrolou?

 

Carro pegando fogo em rua de Porto Príncipe

EPA

Vários carros foram incendiados nas ruas de Porto Príncipe após o assassinato

Assassinos fortemente armados invadiram a casa do presidente, localizada em uma área alta de Porto Príncipe, por volta da 1h da madrugada de quarta-feira. 

O vídeo divulgado após o tiroteio mostra homens fortemente armados, vestidos de preto, fingindo ser agentes de combate às drogas dos Estados Unidos. Eles gritavam: "Operações da DEA [departamento de drogas dos EUA], todos fiquem abaixados." 

Moïse foi morto no local. O corpo do presidente teve 12 ferimentos a bala, disse o magistrado Carl Henry Destin ao jornal Le Nouvelliste. 

O escritório e o quarto do presidente foram saqueados, e ele foi encontrado deitado de costas, coberto de sangue. 

Os três filhos do primeiro casal, Jomarlie, Jovenel Jr. e Joverlein, estão em um "local seguro", disseram as autoridades. 

Mesmo antes do assassinato do presidente Moïse, a situação no Haiti era marcada pela instabilidade: protestos nas ruas pediam a renúncia do mandatário. 

As eleições parlamentares deveriam ter sido realizadas em outubro de 2019, mas disputas políticas atrasaram o pleito, o que significa que Moïse estava governando por decreto.

Fonte: BBC News Brasil