1ª Leitura Sb 1,13-15;2,23-24 | Salmo: 29| 2ª Leitura: 2Cor 8,7.9.13-15| Evangelho: Mc 5,21-43
| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
Um padre antigo, muito santo, disse: – É impossível construir uma casa de cima para baixo; ela precisa ser erigida a partir do fundamento. Perguntaram-lhe: – Qual é o sentido dessa palavra? Ele lhes respondeu: – A pedra fundamental é o próximo, a fim de que o ganhes. Isso precisa estar no início, pois desse fato dependem todas as demais prescrições do Senhor.
No evangelho de Marcos deste 13º Domingo do Tempo Comum, encontramos Jesus “curando” uma mulher doente e uma criança considerada já morta. Logo pensamos em milagres, mas ao evangelista não interessam tanto o maravilhoso e o extraordinário. No final do trecho, o próprio Jesus pede que ninguém saiba do fato da menina. Bem diferente foi o caso da mulher, curada no meio da multidão que o comprimia. Para o evangelista Marcos, Jesus “ensina” mais com os gestos do que com as palavras. Cabe aos ouvintes da Boa Notícia reconhecer a mensagem e, mais uma vez, deixar-se envolver.
A primeira constatação é que Jesus não faz acepção de pessoas. Ele se solidariza com os sofredores e não escolhe a quem dar atenção e a quem não dar. Vale para Jairo, chefe da sinagoga. É um pai desesperado com uma filhinha gravemente enferma. Por causa das hemorragias, a mulher que o toca seria “impura” e, portanto, não devia tocar em ninguém e nem ser tocada. Mas ela confia e arrisca a reprovação de todos, até alcançar a roupa de Jesus. Assim, fica curada. No entanto, algo diferente aconteceu. Aquele não foi um empurrão qualquer ou um aperto casual. Foi uma decisão, uma escolha, uma expressão de fé nele, que Jesus reconhece e louva. A segunda consideração diz respeito àquela que hoje chamaríamos “propaganda”.
Jesus prefere ser caçoado que fazer uma demonstração pública de poder. O que ele quer ensinar é o amor às pessoas, o cuidado, a aproximação. No quarto da menina, ficam somente os pais e os três discípulos de sempre, testemunhas privilegiadas do novo que estava acontecendo.
Podemos dizer, simplesmente, que Jesus, na sua maneira de agir, é coerente com o que ensina, em palavras, em outros evangelhos. Por exemplo, em Mateus, sabemos que seremos julgados pelo bem feito aos necessitados, sem preferências ou discriminações. O amor verdadeiro é para todos os que precisarem, porque em todos os sofredores está chorando Jesus, mesmo que não o reconheçamos (Mt 25,31-46). Quando praticamos a esmola, a oração e o jejum, não devemos fazê-lo nas praças, nem mandar tocar a trombeta. A mão esquerda não deve saber o que faz a mão direita e nosso rosto deve manifestar a alegria de praticar o bem (Mt 6, 1-18).
Na dinâmica do evangelho de Marcos, tem, porém, algo mais: a fé e a esperança do pai Jairo e da mulher doente. Ambos procuram Jesus, o primeiro pedindo abertamente; a segunda, em silêncio, envergonhada pela sua situação. Não há como não pensar nas nossas orações e nos nossos pedidos. Alguns deles, sabemos, são estrondosos e fazem barulho, também nas nossas igrejas. Outros não, ficam escondidos no coração das pessoas. Acontece um diálogo secreto, na frente do Sacrário ou, talvez, de uma imagem, mas o pensamento é no Senhor, para que tenha misericórdia e venha nos socorrer.
O que não pode faltar nas nossas orações é a fé, porque sabemos que estamos falando com Alguém que nos escuta, Alguém que, com certeza, de uma maneira ou de outra, vai nos socorrer. Por isso, Jesus diz ao pai Jairo: “Não tenhas medo. Basta ter fé” (Mc 5,36). E à mulher que estava tremendo: “Filha, a tua fé te curou” (Mc 5,34). Como Deus faz isso? Através das pessoas de bom coração que não pensam somente nos seus interesses, no seu lucro ou na sua tranquilidade. São homens e mulheres que colocaram mesmo como pedra fundamental da própria vida o amor ao próximo. Escutam palavras semelhantes àquelas que disseram a Jairo: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” (Mc 5,35). Não, eles e elas não desistem. Sempre se deixam incomodar pelo sofrimento alheio, como Jesus.