Junho já é o mês com mais doses aplicadas no Brasil de vacinas contra a covid-19. A marca de 25.789.025 milhões de doses foi atingida hoje, após 24 dias.
Até então, o mês em que mais se havia aplicado doses era abril, que registrou quase 24,7 milhões em 30 dias.
O levantamento do UOL usou como base os dados do consórcio de veículos de imprensa, obtidos nas secretarias estaduais da saúde, para monitoramento da pandemia do novo coronavírus.
Em junho, o Brasil viu o ritmo de vacinação acelerar, após ter tido queda de maio, decorrente de entregas frustradas, problemas de produção e atrasos no recebimento de insumos para a fabricação dos imunizantes.
Após atingir cerca 662,6 mil doses aplicadas por dia em maio, o país chegou a 1.074.543 neste mês, com cálculo feito até 24 de junho.
Em números absolutos, junho também foi o primeiro mês em que mais de 2,2 milhões de doses foram aplicadas em um único dia, marca alcançada em 17 de junho. Segundo o Ministério da Saúde, o país tem capacidade para vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia.
Hoje, o Brasil se aproximou da marca de 25 milhões de vacinados com duas doses contra a covid-19 com 24.968.144 imunizados. O número equivale a 11,79% da população do país.
Nas últimas 24 horas, 1.260.148 pessoas receberam a primeira dose contra o coronavírus. O total de imunizados nessa fase é de 32,33% da população brasileira, o que representa 68.465.736 de pessoas.
Alguns fatores podem ajudar a explicar como junho conseguiu registrar o recorde de hoje: flexibilização da fila de vacinação e a chegada de mais doses, de diferentes imunizantes.
No final de maio, o Ministério da Saúde, junto com estados e municípios, decidiu liberar a imunização por faixa etária ao mesmo tempo em que o restante do grupo prioritário estava sendo imunizado. Até então, para que as vacinas pudessem chegar à população em geral, era preciso esperar que todos os prioritários recebessem ao menos a primeira dose.
"A partir do momento que flexibilizou por idade, a gente evoluiu muito [no ritmo de vacinação]", diz o presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha, pontuando que, com os grupos prioritários, havia uma necessidade maior de documentação para que se pudesse vacinar, o que dificultava o avanço do programa de imunização.
"Junto com isso, tivemos um número maior de doses sendo distribuídas pelo ministério", lembra Cunha. Nos últimos meses, o país passou a contar com o adiantamento de parte das doses contratadas das vacinas da Pfizer e da Janssen.
Esse cenário permitiu que estados e municípios começassem a antecipar calendários de vacinação. Na segunda-feira (21), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, indicou haver a possibilidade de vacinar todos os adultos com a primeira dose até o final de setembro.
Antes, Queiroga apenas apontava que os brasileiros seriam vacinados até o fim do ano, sem fazer referência sobre o momento do esquema vacinal. Os governos locais, por sua vez, desde o início de junho, já apontavam que setembro poderia ser o mês com todos os adultos imunizados com a primeira dose.
"No final, a gente conseguiu unir tudo isso. A capacidade de vacinar, tendo mais vacina, e uma facilidade na burocracia, na logística de chamar a população [para os postos]", diz Cunha, que afirma ser possível vacinar todos os adultos com uma dose até o final de agosto, mas com a ressalva de que as entregas do Ministério da Saúde precisam se concretizar. "Estou mais otimista. Mesmo com o cronograma do ministério, que, antes, a gente colocava em dúvida."
Médico sanitarista e professor da Universidade Católica de Pernambuco, Tiago Feitosa de Oliveira avalia que, "apesar da melhora no ritmo de vacinação, ela ainda está aquém do necessário".
A gente precisaria vacinar em torno de 3 milhões de pessoas por dia para chegar a essa imunidade coletiva até o final do ano, incluindo uma cobertura de segunda dose que chegue a 70%.
Tiago Feitosa de Oliveira, médico sanitarista
Ele reforça que uma pessoa só é considerada imunizada após receber as duas doses. Apenas a vacina da Janssen utiliza só uma dose. "Em função da cobertura que a gente tem hoje ainda, entre 11% e 12% de segunda dose hoje no Brasil, é muito improvável que a gente chegue a essa imunidade coletiva até o final do ano", diz.
Mesmo com a previsão de mais doses, a campanha de imunização tem enfrentado problemas de quantidade insuficiente de imunizantes em algumas regiões neste momento, enquanto outras conseguem avançar. Outra questão que tem gerado preocupação é com a opção por escolha de uma vacina específica, como foi visto na retomada da campanha na capital paulista na quarta-feira (23).
Líder do movimento Unidos pela Vacina, a empresária Luiza Helena Trajano diz que "fica profundamente triste" com a situação, por ver pessoas que podem ser imunizadas e não querem agora, e pessoas que querem, mas não podem neste momento.
"Toda vacina é boa", conta, lembrando que recebeu a CoronaVac, rejeitada por alguns paulistanos nos postos de vacinação. "Por favor, chegou a sua vez, vá para o posto e tome a vacina."
Fonte: UOL