Cultura

Visita de detentos no Vaticano: cada um se sentiu único diante do Papa, afirma capelão





Francisco recebeu a visita inusitada de um grupo de presos do cárcere de Rebibbia, um dos principais de Roma, ganhou uma cesta de pães fresquinhos e o agradecimento pessoal de cada um. Da outra parte, a emoção dos detentos que receberam um abraço do Pontífice: "ele foi ao encontro de cada um, não esperou que nos movêssemos. Pode parecer banal, mas me fez lembrar a 'Igreja em saída’, que vai ao encontro das pessoas”, disse o capelão, o Pe. Moreno Versolato.

Fonte: Giampaolo Mattei, Salvatore Cernuzio e Andressa Collet - Vatican News

 

O Papa Francisco recebeu a visita de cerca de 15 detentos na manhã desta segunda-feira (21) que fazem parte do terceiro instituto do cárcere de Rebibbia, uma das principais prisões de Roma. O encontro foi logo cedo da manhã e o Pontífice ganhou uma cesta com pães fresquinhos, produzidos por eles na noite anterior, na oficina de padaria criada em pleno lockdown e em forma de agradecimento a Francisco "pelo dom da esperança que está oferecendo a nós, detentos".

O Pe. Moreno Versolato, religioso dos Servos de Maria e capelão daquele complexo do Rebibbia, não escondeu a emoção pelo encontro ao descrever que foi uma experiência muito importante para a comunidade carcerária presente no Vaticano e formada por detentos, direção, magistrados, agentes penitenciários e educadores: “é extraordinário que aqui, vivam hoje, junto aos presos, uma experiência de beleza que é uma ‘escola de vida’ para todos", comentou o sacerdote. Isso porque os próprios detentos “cresceram em periferias degradadas ou talvez venham de países distantes... Em resumo, eles tiveram, desde a infância, uma outra ‘escola’...".

O capelão, então, disse que agradeceram pessoalmente o afeto do Papa às pessoas encarceradas, uma “proximidade que ele nos mostra continuamente e em diferentes ocasiões". Uma gratidão também “às orações e pedidos às autoridades políticas para que mudem cada vez mais as condições de detenção, especialmente onde a dignidade da pessoa é constantemente violada".

O abraço como resposta do Papa

Num clima bem familiar, o Papa confiou ao grupo a atenção às pessoas que vivem a experiência da reclusão, recordando as visitas que fazia às prisões na Argentina, além de assegurar orações também pelos familiares. Segundo o capelão, Francisco também encorajou todos “a não ter medo de enfrentar este período da nossa vida. Porque, como disse ele, é apenas um tempo, uma parte da vida, portanto, enfrentem com coragem”.

O Pe. Moreno contou que a visita durou cerca de meia hora, mas, em momentos, assim, “não é o tempo que conta, mas a proximidade, a acolhida que o Papa reservou para nós. Ele recebeu cada prisioneiro com um abraço e um aperto de mão, depois se deixou envolver com as selfies, porque todos queriam imortalizar o momento com o próprio celular. Ele nos disse que ainda está em contato com os detentos de uma prisão em Buenos Aires que conhecia, aos quais disse que telefona a cada quinze dias. Já os nossos detentos contaram que sempre lembram dele com carinho, rezando por ele todos os domingos na celebração da missa".

O que mais os detentos disseram sobre essa conversa com o Papa?

R – “Eles estavam muito entusiasmados, muito felizes e impressionados com a simplicidade com que o Santo Padre os recebeu. Acima de tudo, se surpreenderam com o fato de o Papa ter reservado um momento pessoal para cada um deles. Ficamos num semicírculo, todos juntos, e o Papa foi apertar a mão de cada um. Não esperou que viéssemos até ele, mas ele veio até nós. Pode parecer um gesto simples, banal, mas para mim veio em mente aquela ‘Igreja em saída’ da qual sempre fala. Uma Igreja que vai ao encontro das pessoas, da "pessoa", porque realmente hoje cada um de nós se sentiu único diante do Papa. Cada um de nós sentiu essa relação um a um”.

A visita aos Museus do Vaticano

Em seguida à visita ao Papa na Casa Santa Marta, o grupo foi recebido pela diretora dos Museus do Vaticano, Barbara Jatta, que disse: "estas galerias são a casa de todos. Aqui, cada um, com a própria sensibilidade, pode compreender ‘algo’ que vale para a sua vida e pode torná-la melhor. Hoje os Museus do Vaticano se oferecem aos detentos e àqueles que os acompanham como uma inspiração à beleza que toca a alma no seu profundo".

Neste período de pandemia, comenta o Pe. Moreno, esse tipo de visita tem ainda mais significado porque “os prisioneiros sofreram muito com o isolamento e a marginalização devido à impossibilidade de abraçar os entes queridos". São situações extremas, realmente "no limite", finaliza ele, sendo fácil ceder à tentação de dar lugar ao conflito e à raiva.