Política

CPI da Covid: as previsões erradas de Osmar Terra sobre a pandemia





Deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) foi convidado a depor na CPI da Covid nesta terça (22/06) por ser próximo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e porque durante a comissão surgiram indícios de que ele faz parte do "gabinete paralelo" de aconselhamento de Bolsonaro durante a pandemia. 

A suspeita de que existe um gabinete paralelo surgiu na CPI quando o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que o presidente não se aconselhava com ele e deveria receber orientações de outras pessoas. 

Ao longo da CPI, foram sendo citados por depoentes nomes como a médica Nise Yamaguchi, o empresário Carlos Wizard e Osmar Terra. 

À CPI, Yamaguchi disse que fazia parte de um "conselho independente" para discutir a pandemia e confirmou encontros com o Planalto. Wizard foi convocado, mas está nos EUA não compareceu - e, segundo o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), pode sofrer condução coercitiva e apreensão de passaporte. 

Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), o problema não é o presidente se aconselhar com outros nomes que não o ministro, mas a postura negacionista das pessoas que fazem parte do grupo. 

"Não é crime ser negacionista nem defender coisas estúpidas, mas é crime fazer gestão pública com base nisso", afirmou o senador em entrevista à BBC News Brasil. "O problema não está em o presidente ter um assessoramento paralelo, o problema é esse assessoramento ser incompatível com a gestão do Ministério da Saúde."

Deputados na CPI da Covid

REUTERS/Adriano Machado

CPI coletou indícios de que Osmar Terra faz parte do 'gabinete paralelo' de aconselhamento durante a pandemia

Com formação em medicina, Terra é conhecido por suas opiniões pouco ortodoxas na área e por defender posições sem comprovação científica. Ele defende, por exemplo, o uso da cloroquina em pacientes com covid - sendo que não há evidências de que o remédio funcione contra a doença. 

Os senadores da CPI investigam se as políticas públicas promovidas pelo governo Bolsonaro foram influenciadas por conselhos do "gabinete paralelo" e por teses como as defendidas por Terra.

Terra chamou atenção no início da pandemia por minimizar sua gravidade e fazer previsões que depois se mostraram infundadas. Veja abaixo as previsões erradas do deputado sobre a pandemia. 

 

'Menor que o H1N1'

 

O deputado Osmar Terra em entrevista à TV Câmara

Reprodução/TV Câmara 

Osmar Terra disse à TV Câmara que a pandemia de coronavírus seria menor que a de H1N1

Em 18 de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considerava o coronavírus um problema grave e recomendava testes em massa para achatar a curva de contaminação, o deputado afirmou em entrevista à TV Câmara que a epidemia de coronavírus seria menos grave que a de H1N1. 

"Esta epidemia, na minha opinião, vai ser menor e com muito menos dano à população do que a epidemia de H1N1 por exemplo", disse ele, que defendeu a mesma coisa em sua página no Twitter no mesmo dia. 

Ele voltou a fazer essa afirmação em entrevista à Jovem Pan em 26 de março de 2020, na qual também defendeu o não fechamento do comércio e a não instituição de medidas de restrição de circulação e isolamento social. 

Osmar Terra nunca apresentou dados ou evidências que usou para fazer essa previsão, que se mostrou incorreta. 

A epidemia de H1N1 levou à contaminação confirmada de 53.797 pessoas entre 2009 e 2010 no país, segundo estudo do Instituto de Medicina Tropical da USP . 

A pandemia de coronavírus já teve mais de 17,7 milhões de casos e mais de 500 mil mortes no Brasil. 

 

O pico que nunca chega

 

Em 4 de abril de 2020, o deputado afirmou que o país estava sendo submetido a uma quarentena radical que não tinha efeitos e que o fim da pandemia seria naquele mês. 

O Brasil nunca teve uma quarentena de fato, nem mesmo políticas nacionais de restrição de circulação e isolamento social, como fizeram outros países. 

Ainda em abril de 2020, no dia 7, Osmar Terra disse ao programa do apresentador José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes, que o pico seria atingido em "no máximo duas semanas". 

Com o número de casos sempre aumentando, suas previsões foram se deslocando. 

Em 11 de maio, ele escreveu no Twitter que a curva de contaminação no Brasil "cai agora!". 

No dia seguinte, afirmou à CNN que a pandemia terminaria no início de junho. 

Diferente do que Osmar Terra dizia, a pandemia continua matando milhares de pessoas por dia no Brasil até hoje. Em junho de 2021, estamos na terceira onda de contaminação, segundo pesquisadores.

 

Imunidade de rebanho sem vacinas

 

Osmar Terra era um dos principais defensores da ideia de que era possível atingir imunidade de rebanho contra o coronavírus mesmo sem vacinas. 

A imunidade de rebanho é atingida, em tese, quando a maior parte de uma população está imunizada contra uma doença e o vírus não consegue mais circular. 

A tese de Osmar Terra, no entanto, era de que as pessoas que já contraíram a doença se tornariam imunes e seria possível atingir essa imunidade de rebanho sem a vacinação. 

Em 27 de maio de 2020, em entrevista ao canal Rede Vida, ele afirmou, sem mostrar evidências, que o vírus não sofreria mutações e não seria capaz de contaminar novamente quem já tinha sido contaminado. 

"Não, isso não existe em epidemia, num período curto de epidemia, senão a epidemia não acabava nunca", afirmou. 

Em entrevista à Jovem Pan em 13 de julho de 2020, Terra disse que a epidemia iria "acabar sem vacinas". 

No entanto, diversos estudos científicos já registraram casos que uma pessoa se contaminou pela segunda vez com covid-19. Além disso, com o descontrole da pandemia e o alto número de contaminações, surgiram diversas variantes diferentes da doença desde então. 

Em 12 de dezembro de 2020, o deputado continuava defendendo a tese de imunidade de rebanho sem vacinas. "É bem provável que em algumas semanas cheguemos a imunidade coletiva, ou imunidade de rebanho". 

 

'Não vai haver segunda onda no Amazonas' 

 

Duas mulheres abraçadas e chorando do lado de fora de hospital, com outras pessoas de máscara e ambulâncias ao fundo

Reuters

Manaus teve segunda onda de contaminações no início de 2021 um colapso no sistema de saúde local

Em 29 de setembro de 2020, o deputado afirmou à rádio gaúcha Spaço 100.9 FM que não haveria uma segunda onda de contaminação no Estado do Amazonas. 

"Agora inventaram que no Amazonas ia ter um novo surto, uma segunda onda, tudo uma bobagem, não vai ter", disse ele. 

A capital do Estado, Manaus, que já havia tido um alto número de contaminação e mortes em 2020, teve uma segunda onda de contaminações no início de 2021 e um colapso no sistema de saúde local, com pessoas morrendo por falta de oxigênio nos hospitais. 

 
Fonte: BBC News Brasil