Cultura

Reflexão para o 12º Domingo Comum





Logo, o medo, as amarguras de uma vicissitude desgovernada, nada deve e pode nos tirar a paz e enfraquecer nossa paciência, já que sabemos em quem confiamos, no Deus Conosco, Jesus Cristo.

Fonte: Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

O Evangelho extraído de Marcos 4, 35-41 nos recorda bastante nossa vida de hoje, principalmente, quando começa a falar da forte ventania – vv. 37 e 38.

Vivemos tempos muito difíceis, além da situação de escassez e que vive boa parte da população, o desemprego é uma atroz realidade, famílias inteiras indo morar nas ruas porque não têm como pagar o aluguel, muitas empresas falindo, lojas comerciais sendo fechadas, a população passando fome e tendo outras necessidades, casas de saúde com suas unidades de tratamento intensivo lotadas, pessoas morrendo sem o atendimento hospitalar necessário e sem o amparo afetivo de seus queridos além de vermos milhares de mortos diários, dentre os quais alguns da mesma família. Pessoas queridas, amigos, familiares, artistas, religiosos, sacerdotes, empresários, pessoas comuns, jovens, profissionais, todas essas categorias e muito mais sendo sepultadas sem velório, sem a despedida de seus entes queridos, sem serviço religioso, urnas funerárias contendo sacos de plástico com corpos de pessoas amadas. Aí perguntamos, onde está Deus? “ ...na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro” como está escrito no versículo 38? Essa pergunta onde está Deus, o Papa Bento XVI a fez quando, em Auschwitz, no dia 22 de abril de 2010, comentava os horrores do genocídio originado com o Holocausto Judeu.

A culpa está na população? mas esta já está bastante sacrificada e acostumada a pagar os desmandos de outros. Vai para o trabalho em ônibus e metrôs superlotados, com tantas notícias falsas já não sabe em quem acreditar e chega a duvidar até da proteção fornecida pela vacina, e vê sua população mais adequada para o trabalho, ficar doente e morrer porque não teve acesso às vacinas, sim, vivemos um tempo caótico, onde as trevas rondam nossas barcas e os ventos fortes e as tempestades nos aterrorizam.

E gritamos por Deus como fizeram os discípulos na barca. O Papa já implorou bastante a misericórdia de Deus e a intercessão da Virgem, idem nossos líderes religiosos cristãos ou não. Todos clamam ao Supremo Poder.

A ciência ‘faz das tripas o coração’, podemos dizer.

O que está acontecendo?

Ao mesmo tempo em que clamamos ao Senhor que nos livre do mal, sabemos que desde o início, com o pecado de Adão e Eva, nosso mundo foi subvertido e, com ele, a imperfeição entrou no mundo originário do caos. Se quisermos olhar por outro modo, esse caos está desaparecendo também com a ação do ser humano, quando Deus não só viu que tudo era bom, mas deu ao Homem a tarefa de transformar, de dominar o criado e, o domínio das forças da natureza está dentro dessa tarefa, confiada por Deus à criatura feita à sua imagem e semelhança.

De qualquer modo, o Senhor está conosco, dormindo ou não, isto é, aparentemente permitindo que os ocorrências e fatos sigam o seu curso.

Mas o Senhor nos dá a sua paz, é o que vemos quando ele dá ordens ao vento e ao mar – cfr v. 39 e sucede uma grande calmaria.

Por outro lado, a pergunta dos discípulos, “quem é este”? já está respondida na primeira leitura Jó 38, 1.8-11, quando os limites do mar são colocados por Deus. E aí vale a pena abrirmos um espaço para citarmos não apenas Jó, mas de modo especial sua tão famosa paciência. Jó foi um homem justo que perdeu o que possuía, filhos, bens, humilhado pela mulher e amigos, perdeu tudo, menos a fé. Deus tem o poder de prevalecer sua vontade acima de todas as dominações.

Nossa paciência deve se originar da fé no poder do Senhor. Ele é Deus! Não estamos em uma “canoa furada”; pelo batismo nos entregamos a Ele. Mesmo que haja vítimas e elas existem, não serão eternamente vítimas, o Senhor tem poder não só de dar a vida, mas de dá-la novamente, de ressuscitar. Ele é o Senhor da Vida, não nos esqueçamos. Mesmo a paciência que possuo, não é um fruto meu, de meu trabalho psicológico, mas sim, graça, dom, presente de Deus. É manifestação Dele em mim.

O que Ele não quer é que sintamos medo, pois isso seria falta de confiança NELE, em Seu poder. Exatamente o sentimento oposto, o amor, a certeza de que nada nos acontecerá para sempre, já que somos amados por Ele, deveria dominar nossa vida, deveria nos fortalecer.

Na segunda leitura, 2 Coríntios 5, 14-17, temos a revelação do amor de Deus por nós, quando um morreu por todos, para que os vivos não vivam mais para si, mas para Cristo que morreu e ressuscitou por todos. E Paulo adianta que não conhecemos ninguém segundo a natureza humana, pois conhecemos Cristo segundo o espírito, logo se alguém está em Cristo é nova criatura e o mundo velho despareceu. “Tudo agora é novo.”

Logo, o medo, as amarguras de uma vicissitude desgovernada, nada deve e pode nos tirar a paz e enfraquecer nossa paciência, já que sabemos em quem confiamos, no Deus Conosco, Jesus Cristo.