Política

Bolsonaro: quem já contraiu covid está mais imune do que o vacinado





Declaração do presidente não tem respaldo científico. Ele disse ainda, de forma errônea, que o uso de máscara no trânsito pode levar a acidentes por inalação de CO2. Por fim, alfinetou o governador de São Paulo, João Doria

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta quinta-feira (17/06), em live nas redes sociais, que contrair o vírus da covid-19 é mais eficaz do que tomar a vacina contra a doença. A declaração do presidente não tem respaldo científico.

"Eu já me considero, eu não me considero não, eu estou vacinado, entre aspas. Todos que contraíram o vírus estão vacinados, até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou o vírus para valer. Então, quem contraiu o vírus, não se discute, esse está imunizado", alegou Bolsonaro.

O chefe do Executivo mencionou novamente que encomendou para o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um estudo para desobrigar o uso de máscaras no país para vacinados e pessoas já acometidas pelo vírus. "A questão da vacina, né? Eu estou dando exemplo. Depois que a última pessoa se vacinar, eu me vacino. Tá? Enquanto isso, eu continuo tranquilo na minha. Inclusive, encomendei um estudo para o ministro Queiroga, da Saúde, para desobrigar o uso da máscara por quem porventura já tenha sido infectado ou vacinado. Quem está contra, é negacionista, não acredita na vacina", acrescentou.

Ao Correio, o infectologista Alexandre Cunha, coordenador científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, rebateu as falas de Bolsonaro. Ele afirma que não há embasamento científico nas declarações do presidente. Mesmo quem contraiu a doença, afirma Cunha, precisa tomar a vacina.

"A fala do presidente não é verdadeira. Depende do grau da doença, e essa imunidade é transitória. Não  dura tempo suficiente. A gente tem que ter cuidado porque, às vezes, após contrair o vírus, algumas pessoas ficam com uma falsa sensação de segurança. Não ha subsídio científico para fazer esse tipo de afirmação que Bolsonaro fez. As pessoas que tiveram covid grave concentram maior número de anticorpos, mas não significa que estão 100% protegidas e não precisam das medidas preventivas. Além disso, elas podem transmitir a covid-19. Tomar a vacina é o método mais eficaz, mesmo para quem teve a doença", alertou o infectologista.

CO2

O presidente disse ainda, de forma errônea, que o uso de máscara no trânsito pode levar a acidentes por  inalação de CO2. Ele aproveitou para alfinetar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

"Olha o que eu vi em SP. Inacreditável. Vi, ao longo do caminho, pelo menos dois painéis luminosos escrito o seguinte:  “Use máscara. Sujeito a multa". Ué, São Paulo está multando quem está dentro do seu carro sem máscara ou está dentro do carro com sua esposa, seu esposo? Seja lá quem for. Vai ser multado por causa disso? Não tem limite arrecadatório o governo de São Paulo, que, durante a pandemia aumentou o ICMS de praticamente tudo de seu estado", disparou Bolsonaro. O presidente foi multado ao participar, sem máscara, de motociata no último fim de semana.

"Eu vetei o uso de máscaras. Vetei mesmo, depois o Congresso derrubou o veto. Eu estava prevendo exatamente coisa como isso daí", continuou Bolsonaro.

Foi então que o chefe do Executivo relacionou o uso da máscara a acidentes por inalação de carbono. "Eu acho que, não sei, tem algum médico aqui? O CO2 não leva ao sono? Não ajuda o sono? O cara está com a máscara, o carro está fechado respirando ali, quer dizer, vai ter uma oxigenação menor ao seu corpo, não precisa ser médico para dizer isso daí. Isso pode levar a acidente", comentou o presidente.

O infectologista Alexandre Cunha também apontou erros nas falas do chefe de governo. "Para dar sono, teria que ter um nível altíssimo de gás carbônico, coisa que não acontece com o uso de máscara. Não há informações cientificas para afirmar isso. Sabemos que o uso de máscara não leva a essa alteração e não causa narcose, que seria intoxicação por gás carbônico. Não é o caso, definitivamente", concluiu.

 

Fonte: Correio Braziliense