Cotidiano

Exploração ilegal de área da Reserva Biológica por empresas de agronegócios preocupa especialistas





 

O Estado do Amapá conta atualmente com 8.507 estabele­cimentos agropecuários, que ocupam uma área to­tal de 1.506.294 hectares. De acordo com o Censo Agro 2017, houve um cres­cimento de 72% em com­paração aos dados apre­sentados no ano anterior.

Nesta semana, o Conse­lho Consultivo da Reserva Biológica do Lago Piratu­ba (Rebio) realizou uma reunião para tratar sobre a exploração ilegal de área no cerrado e entorno da Rebio do Lago Piratuba, no Amapá, por empresas de agronegócios. Na oca­sião, debateu-se aspectos ambientais, sociais e eco­nômicos relacionados ao espaço.

O momento contou com a presença de repre­sentantes do Ministério Público do Estado do Amapá (MP-AP), Instituto do Meio Ambiente e Or­denamento Territorial do Amapá (IMAP), Instituto de Estudos e Pesquisas da Amapá (IEPA), Federação de Agricultura e Pecuária do Amapá e Embrapa.

“Há problemas em gran­de parte do Brasil com o cultivo de grãos e no Ama­pá temos a possibilidade de encontrar soluções em conjunto, porque é uma cultura que está se insta­lando e é possível começar corretamente, dar conti­nuidade ao processo de conscientização e fazer com que todos os envolvi­dos e interessados assu­mam compromissos. O MP-AP é um braço de ação na sociedade, mas precisa de fundamentação técnica, haja vista que as discus­sões precisam ser efetiva­das. Não somos contra o desenvolvimento, entre­tanto é preciso controle e orientação por parte de todos”, disse Ivana Cei, promotora de Justiça.

Especialistas demonstra­ram preocupação em rela­ção ao plantio de soja no cerrado. Para Iraçu Colares, da Federação de Agricultu­ra e Pecuária do Amapá, o cerrado não é preparado para cultivo de alimentos, a não ser que seja tratado, o que acontece com o agro­negócio, que é uma opor­tunidade para o Amapá, podendo beneficiar tam­bém pequenos produtores e comunidades tradicionais.

Salustiano Vilar, do Insti­tuto de Estudos e Pesqui­sas da Amapá (IEPA), falou que no estado não é possí­vel implantar a cultura da soja igualmente no cerra­do, por ser uma vegetação fragmentada. A presidente do Conselho Consultivo da Rebio, Patrícia Pinha, por sua vez, falou sobre a ex­ploração sustentável no cerrado, com menos da­nos ambientais e mais re­torno econômico, como a produção para abastecer indústrias de cosméticos e farmacêuticas.

“Estamos nos propondo a trabalhar em conjunto para evitar problemas como na instalação das hidrelétricas, que por falta de entendi­mento causa hoje danos e foram judicializados. Os produtores precisam de pa­recer técnico e não podem ser criminalizados se não participam do processo. Empresários, ambientalis­tas e gestores têm que buscar entendimento, pois não é interessante inviabi­lizar a produção, mas é preciso responsabilidade e compromisso”, manifes­tou Ivana Cei.

No final da reunião, en­caminhou-se a apresenta­ção das demandas das ins­tituições ambientais para que o MP-AP emita Reco­mendação ao Estado e as providências comecem a ser tomadas.