Cotidiano

CPI da Covid: baixa letalidade não é o mesmo que 'baixa mortalidade'; entenda afirmações sobre o Amapá





O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) tem usado a baixa taxa de letalidade do estado para argumentar a favor da cloroquina na CPI da Covid. De acordo a Vigilância em Saúde do Amapá, o estado não relaciona o uso de cloroquina como a baixa letalidade. Taxa de mortalidade é medida mais relevante para analisar controle da pandemia, diz especialista.

Amapá foi citado, desde 18 de maio, pelo menos 13 vezes na CPI da Covid, na maioria dos casos em discursos do senador bolsonarista Luis Carlos Heinze (PP-RS). Ele tem repetido ao longo dos dias que o estado tem a "menor letalidade do país" e que isso ocorre porque lá se adota o tratamento precoce com o uso de cloroquina. A afirmação de Heinze provocou na CPI uma discussão com o senador Randolfe Rodrigues (Rede), que disse que o parlamentar gaúcho estava "mentindo". 

Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) em pronunciamento à CPI da Covid — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) em pronunciamento à CPI da Covid — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado 

médica Nise Yamaguchi também citou o estado, dizendo erroneamente que ele tem "um dos menores índices do mundo de mortalidade” pela Covid-19. O Fato ou Fake, serviço de checagem de informações do grupo Globo, verificou que é falsa a afirmação de Nise Yamaguchi.

Sobre essa discussão é possível afirmar que: 

  1. O Amapá tem a menor letalidade do Brasil - mas não do mundo;
  2. O Amapá está em 12º entre os estados com a menor mortalidade - muito longe do 1º lugar;
  3. A cloroquina não tem nada a ver com o bom índice de letalidade, segundo órgão do próprio estado.

 

Sim, o AP tem a menor letalidade

 

De fato, o Amapá é o estado com a menor letalidade do Brasil. Isso significa que a proporção de pessoas que morrem em relação às pessoas diagnosticadas é relativamente pequena, como mostra o gráfico abaixo: 

O infectologista Christovam Barcellos, sanitarista da Fiocruz e coordenador do Monitora Covid-19, explica que o índice de letalidade está relacionado à capacidade que o sistema de saúde tem de recuperar quem é diagnosticado com a doença. "Essa medida mostra a capacidade do sistema de saúde de tratar e curar as pessoas", declarou. 

Ele afirma, porém, que esse não é o melhor indicador para medir o bom controle da pandemia

 

Taxa de mortalidade é a 12º do país

 

Segundo Barcellos, a taxa de mortalidade é um indicador mais adequado, porque mede o número de mortes proporcionalmente ao tamanho da população. Atualmente, o Amapá fica em 12º lugar, em um ranking da menor para a maior, com 202,5 mortes para cada 100 mil habitantes. 

Barcellos, da Fiocruz, pondera que a taxa de mortalidade do estado ainda é bastante alta se comparada com o restante do país. 

"A taxa de transmissão ainda está alta, de 0,97, e isso acontece por falta de aconselhamento à população e de campanhas que são de responsabilidade do sistema de saúde", diz o infectologista. Neste caso, cada 100 pessoas infectadas contaminariam outras 97. 

 

Cloroquina não teve efeito sobre a letalidade

 

De acordo com o superintendente da Vigilância em Saúde do Amapá, Dorinaldo Malafaia, o Amapá não relaciona o uso de cloroquina como a taxa de 1,53% de letalidade. As medidas tomadas pela gestão estadual, segundo o gestor, foram as reconhecidas pela ciência. 

"Nós não estabelecemos essa ligação [de que a cloroquina foi responsável pela redução da letalidade]. As medidas que o Estado tomou para diminuição de casos e tratamento são as medidas reconhecidas pela ciência: isolamento social, lockdown, expansão de leitos, autonomia de oxigenoterapia a partir de três usinas de oxigênio, compra de medicamentos de UTI e ampliação de leitos", afirmou.

Fonte: G1 Amapá