O Amapá foi citado, desde 18 de maio, pelo menos 13 vezes na CPI da Covid, na maioria dos casos em discursos do senador bolsonarista Luis Carlos Heinze (PP-RS). Ele tem repetido ao longo dos dias que o estado tem a "menor letalidade do país" e que isso ocorre porque lá se adota o tratamento precoce com o uso de cloroquina. A afirmação de Heinze provocou na CPI uma discussão com o senador Randolfe Rodrigues (Rede), que disse que o parlamentar gaúcho estava "mentindo".
Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) em pronunciamento à CPI da Covid — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
A médica Nise Yamaguchi também citou o estado, dizendo erroneamente que ele tem "um dos menores índices do mundo de mortalidade” pela Covid-19. O Fato ou Fake, serviço de checagem de informações do grupo Globo, verificou que é falsa a afirmação de Nise Yamaguchi.
Sobre essa discussão é possível afirmar que:
De fato, o Amapá é o estado com a menor letalidade do Brasil. Isso significa que a proporção de pessoas que morrem em relação às pessoas diagnosticadas é relativamente pequena, como mostra o gráfico abaixo:
O infectologista Christovam Barcellos, sanitarista da Fiocruz e coordenador do Monitora Covid-19, explica que o índice de letalidade está relacionado à capacidade que o sistema de saúde tem de recuperar quem é diagnosticado com a doença. "Essa medida mostra a capacidade do sistema de saúde de tratar e curar as pessoas", declarou.
Ele afirma, porém, que esse não é o melhor indicador para medir o bom controle da pandemia.
Segundo Barcellos, a taxa de mortalidade é um indicador mais adequado, porque mede o número de mortes proporcionalmente ao tamanho da população. Atualmente, o Amapá fica em 12º lugar, em um ranking da menor para a maior, com 202,5 mortes para cada 100 mil habitantes.
Barcellos, da Fiocruz, pondera que a taxa de mortalidade do estado ainda é bastante alta se comparada com o restante do país.
"A taxa de transmissão ainda está alta, de 0,97, e isso acontece por falta de aconselhamento à população e de campanhas que são de responsabilidade do sistema de saúde", diz o infectologista. Neste caso, cada 100 pessoas infectadas contaminariam outras 97.
De acordo com o superintendente da Vigilância em Saúde do Amapá, Dorinaldo Malafaia, o Amapá não relaciona o uso de cloroquina como a taxa de 1,53% de letalidade. As medidas tomadas pela gestão estadual, segundo o gestor, foram as reconhecidas pela ciência.
"Nós não estabelecemos essa ligação [de que a cloroquina foi responsável pela redução da letalidade]. As medidas que o Estado tomou para diminuição de casos e tratamento são as medidas reconhecidas pela ciência: isolamento social, lockdown, expansão de leitos, autonomia de oxigenoterapia a partir de três usinas de oxigênio, compra de medicamentos de UTI e ampliação de leitos", afirmou.
Fonte: G1 Amapá