O plano deve ser anunciado pelo presidente Joe Biden no encontro do G7 no Reino Unido nesta semana, segundo o Washington Post, que divulgou primeiro a informação. Quando embarcou no avião oficial com destino à Europa nesta quarta-feira (8), Biden disse aos repórteres que faria nos próximos dias o anúncio de uma estratégia global de vacinação.
Os EUA devem comprar as doses a preço de custo, de acordo com o New York Times. As primeiras 200 milhões de vacinas seriam distribuídas ainda neste ano, e 300 milhões até a metade do ano que vem.
O coordenador da resposta da Casa Branca ao coronavírus, Jeffrey Zients, disse em comunicado nesta quarta que Biden usaria o ritmo da vacinação no próprio país para "reunir as democracias do mundo para resolver esta crise globalmente, com os EUA liderando o caminho para criar um asernal de vacinas que serão fundamentais em nossa luta global contra a Covid-19".
Segundo o Washington Post, a Casa Branca e a farmacêutica não comentaram a informação.
A inciativa faz parte dos esforços da gestão democrata para responder às cobranças por ajuda robusta ao programa de imunização de países sem acesso à quantidade necessária de doses para suas populações. Apesar de volumosa, a compra está longe das 11 bilhões de doses que a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima serem necessárias para vacinar o mundo.
Os EUA já tinham prometido compartilhar mais de 20 milhões de doses de vacina até o fim de junho. O número se soma aos 60 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca que a Casa Branca já havia se comprometido a distribuir, totalizando 80 milhões de doses a serem enviadas pelos americanos ao exterior.
Na semana passada, o governo detalhou parte do plano e disse que vai enviar, inicialmente, 6 milhões de doses para o Brasil e para outros países da América Latina. O compartilhamento será feito via Covax, iniciativa vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS) para a distribuição de doses a nações em desenvolvimento, e ainda não há detalhes oficiais sobre o número de imunizantes que o Brasil vai receber.
Como as vacinas doadas exigem duas doses, o total que chegará neste primeiro momento à América Latina e Caribe será suficiente para imunizar 3 milhões de pessoas —a região tem mais de 438 milhões de habitantes.
Apesar da situação grave da pandemia no Brasil, o país não entrou na lista dos que vão receber imunizantes por distribuição direta bilateral, caso da Índia e do México.
Na primeira parte do plano dos EUA para distribuição global dos imunizantes, 25 milhões de vacinas serão enviadas para o exterior. Destes, cerca de 75%, ou 19 milhões de doses, serão distribuídos via Covax, de acordo com a participação de cada país no consórcio, enquanto 25% serão distribuídos diretamente pelos EUA para outros países.
Pelo Covax, serão cerca de 6 milhões de doses para a América Latina e o Caribe, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Peru, Equador, Paraguai, Bolívia, Guatemala, El Salvador, Honduras, Panamá, Haiti e República Dominicana, entre outros países da comunidade caribenha; 7 milhões para países do Sul e do Sudeste da Ásia, como Índia, Tailândia, Laos e Vietnã; e 5 milhões para a África, em nações que, segundo a Casa Branca, serão selecionadas junto à União Africana.
Os outros 6 milhões de doses para fechar a conta da remessa inicial serão compartilhados diretamente com países que, ainda de acordo com o comunicado, "estão passando por surtos", como Índia e México. Apesar da situação grave da pandemia no Brasil, a Casa Branca não cita o país nesta distribuição direta bilateral —o Brasil tem participação pequena no Covax por decisão do governo Jair Bolsonaro.
Assim como ocorreu com o acesso a respiradores e máscaras ao longo da pandemia, há uma desigualdade na distribuição das vacinas. Os países que tinham mais recursos e poder na geopolítica global chegaram primeiro e reservaram para si a maior parte dos imunizantes disponíveis. As primeiras compras foram feitas pelos EUA e pelo Reino Unido em maio de 2020, quando as vacinas ainda estavam em desenvolvimento.
Os Estados Unidos, por exemplo, têm quantidade suficiente para vacinar três vezes sua população, e o Canadá comprou 10 doses por habitante. Enquanto isso, países como Serra Leoa, Mali e Camarões não imunizaram nem 1% de seus moradores.
O cenário é o que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, definiu, em maio, como "apartheid das vacinas". Adhanom, que também classificou a situação como um "fracasso moral catastrófico", fez um apelo para que os países doem parte de seus excedentes ao Covax. O anúncio dos EUA veio algumas semanas após a declaração do diretor-geral.
Hoje, mais de 2,2 bilhões de doses já foram aplicadas no mundo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins (EUA). Até esta terça (8), 808,9 milhões dessas doses haviam sido aplicadas pela China, líder no número total, seguida por EUA, que já administrou 303,9 milhões, Índia, com 233,7 milhões, e Brasil, com 74,5 milhões, de acordo com o Our World in Data.
Em relação à população, dados do New York Times mostram no topo de doses aplicadas por 100 habitantes os Emirados Árabes Unidos (137), Israel (117) e Bahrein (113) —enquanto os EUA apresentam índice de 92, e o Brasil, 35.
Fonte: Folha de São Paulo