Cultura

Dom Odilo: Tão sublime Sacramento





A Eucaristia é para nós o sinal do próprio Jesus Cristo, Filho de Deus, no meio da humanidade. Não apenas de sua presença, mas de sua Pessoa.

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo metropolitano de São Paulo

A celebração festiva da Solenidade de Corpus Christi, pelo segundo ano consecutivo, fica prejudicada por causa da pandemia de COVID-19. Neste ano, além de tudo, a quinta-feira de Corpus Christi não é feriado civil em São Paulo, uma vez que este já foi antecipado para janeiro passado. De toda maneira, as procissões e aglomerações são ainda desaconselhadas por causa das situações de risco que poderiam gerar para a saúde da população.

Nem por isso, porém, o significado religioso e a solenidade litúrgica deixam de ser celebrados pela Igreja. Nas paróquias e igrejas haverá celebrações solenes da Eucaristia, momentos eucarísticos para a adoração e o louvor a Deus por “tão sublime Sacramento”. A solenidade anual tem o objetivo de destacar a importância da Eucaristia na vida da Igreja e de cada cristão, e de manifestar o testemunho público da fé católica naquilo que o Sacramento da Eucaristia representa para nós.

Antes de tudo, a Eucaristia é para nós o sinal do próprio Jesus Cristo, Filho de Deus, no meio da humanidade. Não apenas de sua presença, mas de sua Pessoa. Na Última Ceia, quando instituiu o rito eucarístico, com pão e vinho, palavras e gestos, Jesus recomendou que esse rito fosse celebrado para sempre – “Em memória de mim” (cf. Lc 22,19). No sentido bíblico, “fazer em memória” é uma expressão densa de significados e não se refere apenas à mera lembrança de algo ou alguém do passado, mas é como trazer para o presente uma realidade, para torná-la presente outra vez e para se inserir nela.

É por isso que, na celebração do Sacramento da Eucaristia, nós não apenas fazemos a memória de quem Jesus foi, do que Ele fez, ensinou e significou no passado, mas o celebramos como realmente presente para nós hoje. Ao mesmo tempo, colocamo-nos diante daquilo que celebramos como diante de algo que diz respeito a nós também. O Evangelho é proclamado a nós agora; e, como testemunhas, proclamamos nossa fé na Paixão e Morte redentoras e anunciamos a Ressurreição de Jesus. Agradecidos, vamos à ceia do Senhor e recebemos o Pão da Vida, como outrora os apóstolos o receberam das próprias mãos do Senhor. Celebrando a Eucaristia, proclamamos nossa esperança na participação plena no banquete da vida eterna e somos fortalecidos para cumprir nossa missão de testemunhas do Evangelho em nossa vida diária.

Não é sem razão que a Igreja ensina que a Eucaristia contém em si todo o bem da Igreja, porque ela é o Sacramento do próprio Jesus Cristo e de tudo o que Ele é e representa para a Igreja e a humanidade. Ele é o Filho de Deus, Salvador, vindo ao nosso encontro com o poder de Deus para nos salvar e mostrar a misericórdia e a benevolência de Deus para conosco. Jesus Cristo é a expressão máxima do amor e da misericórdia de Deus para conosco. Por isso, a Eucaristia também é chamada “Sacramento do Amor”. Ele é “palavra da salvação” para nós, proclamada com abundância na celebração eucarística. Ele é o caminho, a verdade e a vida e, se por ele andarmos durante a vida, teremos certezas e caminharemos seguros.

A Solenidade de Corpus Christi, neste ano, não poderá ser celebrada com as manifestações públicas de nossa fé em “tão sublime Sacramento”, como seria nosso desejo. Mas isso não impede que tenhamos missas em nossas igrejas e que delas participemos ao longo do dia, quer presencialmente, quer pelas mídias e meios de comunicação, que as transmitem em abundância. Podemos, também, passar algum tempo em silenciosa oração diante do Santíssimo Sacramento exposto nas igrejas, fazendo uma profunda e demorada ação de graças, renovando pessoalmente nossa fé na Eucaristia. Aconselho especialmente a ler de maneira pausada o capítulo 17 do Evangelho de São João, que traz a grande oração de Jesus após a Última Ceia e antes de sofrer a Paixão.

Neste ano, em vista da persistente situação de pandemia, podemos lembrar, em nossa missa e oração diante da Eucaristia, a condição de tantos doentes e pessoas que sofrem os seus efeitos. Lembrando que Eucaristia e caridade fraterna sempre estão unidas, podemos recolher alimentos para os numerosos pobres de nossa cidade. Com toda certeza, mesmo não podendo preparar os tradicionais tapetes coloridos pelas ruas nem fazer nossas procissões eucarísticas, a festa de Corpus Christi não precisa ficar vazia. Será uma celebração feita de maneira diferente, sem perder o significado e sem deixar de ser uma bela manifestação de nossa fé eucarística.

Fonte: O São Paulo - Vatican News