Polícia

Caso Emily: soldado da PM que matou ex-companheira é indiciado por três crimes





 

De acordo com as investigações, o acusado teria usado técnicas de tiros aprendidas na corporação para cometer o crime. Julgamento poderá acontecer ainda este ano.

 

A Polícia Civil, através da Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM), concluiu o inquérito sobre a morte da cabo da Polícia Militar (PM), Emily Karine. A vítima foi executada pelo ex-companheiro, também da PM, soldado Kassio Mangas. O crime aconteceu no dia 13 de agosto, dentro da residência onde o casal morava, em Macapá.

Durante a coletiva de imprensa, realizada na última sexta-feira (24), a Polícia Civil informou que Kassio Mangas responderá três crimes na Justiça. De acordo com o inquérito, o soldado responderá pelos crimes de furto, por ter levado o celular da vítima após cometer o crime; fraude processual, por ter alterado a cena do crime ao levar as cápsulas que caíram da pistola ponto 40; e homicídio, sendo este com quatro qualificações.

A primeira é feminicídio, pois se aproveitou a situação da vítima ser mulher para cometer o ato; a segunda por motivo torpe, tendo em vista que, matou Emily por não ter aceitado o fim do relacionamento; a terceira por meio cruel, por ter utilizado arma de fogo e deixado a vítima agonizando; e a quarta qualificação por impedir chance de defesa da vítima, pelo fato de atirar contra Emily enquanto ela estava deitada na cama.

De acordo com a Polícia Civil, o inquérito é volumoso e criterioso. A parte pericial e a riqueza de detalhes nos depoimentos de testemunhas e familiares da vítima possibilitaram a conclusão das investigações.

Além disso, informações sobre horários obtidos das câmeras de segurança próximos a casa deles e a troca de mensagens, via WhatsApp, trocados por Kassio, com o celular de Emily, com uma colega da vítima mostram que ele já havia praticado o ato.

A delegada responsável pelo inquérito policial, Sandra Dantas, ressaltou que ainda há uma série de informações, provas materiais e mensagens e áudios de celular, que serão apresentados na Justiça.

Ela frisa que as investigações ainda continuam, mesmo que o inquérito já tenha sido concluído.

Durante a coletiva, a titular da DCCM informou que a perícia apontou que Emily Karine foi atingida por um quarto tiro, e não três como dito antes. O laudo mostra que foram três tiros sequenciais, acertando uma das pernas, abdômen e peito e um quarto disparo, que atingiu a cabeça da vítima.

Para Sandra Dantas não há dúvidas de que os disparos foram efetuados com técnicas de tiros, aprendidas dentro da corporação.

Julgamento

Nesta semana, a família de Emily Karine de Miranda Monteiro, cabo da Polícia Militar (PM) vítima de feminicídio, compareceu ao Ministério Público do Amapá (MP-AP) para uma reunião. Segundo Iaci Pelaes, titular da Promotoria Justiça do Tribunal do Júri, o encontro teve como objetivo colher informações complementares para subsidiar o oferecimento da denúncia. Kassio de Mangas dos Santos, ex- companheiro e autor dos disparos contra a vítima, confessou o crime e está preso. O julgamento do caso deve acontecer ainda este ano.

De acordo com os relatos da família para o órgão, as últimas palavras de Emily foram: “eu não quero morrer”. Oscarina Braga, avó da vítima, afirmou que viu quando Kassio estava saindo da casa. Ela chegou a perguntar o que ele havia feito com Emily. “Fique calma, não fiz nada. Agora, nós já estamos resolvidos”, disse o acusado.

“Nós precisamos trazer uma resposta para família, sociedade e principalmente para a cabo Emily. Nosso objetivo é buscar a prevenção e conscientização da sociedade como um todo, para que outras mulheres não venham a sofrer. Não podemos aceitar que mulheres continuem sendo vítimas nas mãos de homens”, disse o promotor.

“Repudiamos qualquer ato de violência. Não podemos aceitar crimes como o feminicídio em nossa sociedade. Vamos acompanhar o caso de perto e buscar a condenação do réu pela prática do feminicídio”, continuou. De acordo com a legislação brasileira, o feminicídio é o crime de assassinato de uma mulher cuja motivação envolve o fato de a vítima ser mulher.

Segundo histórico da polícia, Kassio Mangas já tinha antecedentes de violência doméstica. A primeira denúncia contra ele ocorreu em 2008, por ameaças de morte contra uma namorada. A segunda denúncia, realizada em 2016, o soldado teria jurado de morte a mulher com a arma do trabalho. A Polícia Civil informou que todos os casos levantados serão apresentados ao Judiciário.

Redação